1) No tempo da democracia ateniense, a única maneira de você garantir lisura na ordem democrática era na base do sorteio. Como qualquer um poderia ser sorteado, então havia a consciência pública de que seria uma desonra para si e para todos os que decorrerem desse sorteado a questão de alguém recursar o encargo para o qual foi chamado. Eis o sentido da política enquanto vocação.
2) A democracia ateniense funcionava porque não se conhecia os fundamentos lógicos da probabilidade ou da possibilidade, coisa que se desenvolveu a partir do tempo da Revolução Francesa.
3) Se já existe uma fórmula lógica para se medir a probabilidade de A, e não B, ser escolhido, então os conchavos e todos os arranjos políticos são feitos de modo a se corromper esse sorteio - e a democracia ateniense se tornará uma completa utopia, pois acabará se tornando demagogia, pois as famílias mais ricas e mais ilustres manipularão o sorteio de modo a que seus asseclas sejam sempre escolhidos. E a política enquanto vocação terminava sempre virando fisiologia.
4) Um outro fator promove a corrupção: a impessoalidade. Como ninguém conhece ninguém, então a crença na fraternidade universal não existe. Como não existe essa crença, então não há a eterna vigilância. E a cidade acaba sendo religião de Estado na mesma proporção em que a família, no Direito Romano, se funda por conta do culto doméstico a um deus qualquer comandado pelo pater familias. Dito dessa forma, sem o cristianismo, o modelo greco-romano serve de base para o totalitarismo - e é precisamente isso que os modernos quiseram copiar, ao descristianizar a sociedade.
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