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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Reabsorção de circunstâncias: notas sobre a relação entre o processo de escrever ego-histórias e o senso de tomar um país como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo

1) Certo está Ortega y Gasset, quando diz que um homem só pode ser definido pelo que ele é em suas circunstâncias.

2) O que é o homem senão a criatura que foi criada à imagem e semelhança de Deus, a ponto de ser a primazia da Criação? O que são as circunstâncias senão o meio social onde ele vive, como seu país, sua cidade, sua família, seus amigos e sua Igreja?

3) É certo que o mundo não está prontinho, moldado para que ele tome o país onde se vive como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo. Mas, se ele não se revestir de Cristo - de verdadeiro Deus e de verdadeiro Homem -, então como ele vai absorver estas circunstâncias de tal maneira a produzir ego-histórias tão necessárias para estimular os outros a tomarem o país como um lar em Cristo, a ponto de se imaginarem na mesma situação onde este se encontra, a ponto de sentirem o mesmo dilema que ele?

4.1) Uma vez que essa pequena autobiografia epistemológica é produzida para melhor explicar um pensamento filosófico em Deus fundado - que são as ego-histórias - o maior desafio do leitor que deseja imitar Ortega y Gasset é reabsorver suas circunstâncias pessoais tendo por modelo um caminho epistemológico previamente produzido, fundado numa experiência de vida que foi vivida antes da sua, mas que se mantém compatível com a realidade atual.

4.2) Isso certamente te forçará a uma releitura, a ponto de você perceber as nuances que haviam na época de Ortega y Gasset e o que há nos tempos atuais, o que certamente forçará a uma atualização constante dessa tradição de percorrer esses mesmos caminhos, observando o que havia antes, o que há hoje e o que haverá depois, na geração seguinte e em cada geografia onde se realizou este esforço filosófico.

5.1) Trata-se de uma espécie de trail blazing filosófico - escrevendo ego-histórias, você está sendo pioneiro em coisas que talvez jamais haviam sido exploradas antes, uma vez que dentro das suas circunstâncias de vida você é soberano, já que esta experiência de vida dificilmente será repetida. E a verdadeira ciência está em obter experiências que dificilmente se repetem porque cada vida humana é única, já que cada ser foi criado por Deus com muito amor.

5.2.1) É mais ou menos como se fazia viagem nos tempos antigos - enquanto não chegamos ao nosso destino, o saber, nós podemos observar o que iremos encontrar ao longo do caminho. O que se encontra ao longo do caminho não só pode como deve ser registrado, se ele nos causar uma impressão que nos leve a ainda mais conhecimento, a ponto de ganharmos ainda mais a amizade com Deus. E isso é realmente importante. 
 
5.2.2) Este mar só pode ser navegado para quem vive a vida sob a misericórdia de Deus - não pode ser feito por quem age como a Espanha: cheio de si e sem mandato do Céu, pois os mares só são livres com o intuito de servir a Cristo em terras distantes, tal como foi estabelecido em Ourique. Por isso, eles estão fechados para quem age com fins egoísticos, já que a pessoa conservará o que conveniente e dissociado da verdade.

5.2.3) Este mar não se navega com intuito de se buscar a si próprio - isso é sinal de vanglória. Você precisa saber quem você é - e para saber quem você é, você precisa estar diante de Deus contando tudo o que você descobriu, além da forma como você descobriu o que estava antes encoberto. Quanto mais você descobre, quanto mais você medita sobre como se descobre, mais Deus te conta sobre você, como pescador de homens e de idéias. E isso se dá através de constante confissão, seja no diário, seja no confessionário. Não há outro caminho.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2020.

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