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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Notas sobre nacionidade e o problema da forma canônica de se ler uma obra literária

1) Certa ocasião, eu estava jogando Civilization 5 e obtive um trecho de uma grande obra literária. Trata-se de um destaque do livro O último dos moicanos.

2) Li o trecho no original em inglês - é de uma beleza impressionante e que cheguei a pensar: "para compreender as obras da literatura estrangeira, devo tomar os países que a produziram como um lar em Cristo. Dessa forma, devo ler aquela obra consoante ao espírito da sociedade que produziu tal obra, da mesma forma como devo ler a Bíblia em consonância com o espírito que a produziu, de modo que ela seja corretamente compreendida, o que me leva a uma forma canônica de ler aquela obra, o que me pede conhecimento de história e de sociologia daquela sociedade que produziu tal obra".

3.1) Normalmente, quando tomo contato com as obras, eu já tomo contato com elas já traduzidas para o português, adaptadas para os filmes, consumidas por um público cuja cultura não tem nada a ver com o espírito criador dessas obras, a ponto de ficar totalmente alheio da experiência nacional ou abraçar uma experiência substituta, a ponto de ser uma colônia de outro povo e querer cada vez mais ser americano, por conta da aparente prosperidade material que tem lá - o que caracteriza ato de apatria, uma vez que essa realidade nos é servida a partir de uma ordem jurídica e econômica onde a liberdade e a verdade estão em divórcio permanente.

3.2.1) Eis no que dá a cultura de massa - ela leva à migração dos símbolos. Eu jamais poderei compreender a história desse livro sem compreender a sociedade colonial americana da época da guerra dos 7 anos, esse fato que precipitou a Independência dos Estados Unidos e A Revolução Francesa.

3.2.2) A necessidade de compreensão desses fatos históricos e da sociedade daquela através do estudo da História e da sociologia me levará a um estudo literário proveitoso, o que me poderá me servir de base para tomar aquela sociedade como um lar em Cristo, quando o chão no Brasil me faltar.

4.1) Da mesma forma, os filmes no cinema: eu só comecei a me interessar por filmes americanos dentro do contexto americano, como forma de estudar a sociedade americana, pois assistir a filme americano dentro de um contexto brasileiro como produto de consumo, como produto de entretenimento é alienação - por isso que nunca gostei de ver filmes como meu pai gosta, pois a pessoa fica exposta a toda sorte propaganda subliminar. É este tipo de coisa que faz de uma pessoa um crítico de arte, pois ela estuda a história de um povo através de suas grandes obras de arte.

4.2) É exatamente este tipo de coisa que separa homens de meninos - é a partir do estudo dessa arte que reparamos se a sociedade ali retratada espelha a realidade ou aquilo é propaganda de uma comunidade imaginada, destinada a promover a vanguarda revolucionária, na forma de uma arte moderna, como aconteceu em 1922 aqui no Brasil.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2020.

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