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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Notas sobre o auto-retrato

1) Em tempos de Cristianismo, o auto-retrato era pintado e o artista tinha que ter muito senso de si mesmo, de modo a se guiar esteticamente e retratar a si próprio da melhor maneira possível.

2) Ele olhava a si próprio como a imagem e semelhança de Deus. E esses retratos de si próprio, quando olhados por essa via, faziam as pessoas admirarem a pessoa pelo que ela era e pelo que ela fazia. Eram coisas eventuais e reservadas.

3) Em tempos online, em tempos já descristianizados, o auto-retrato é uma idolatria de si mesmo: como todos têm a sua própria verdade, o que o retrato mostra é só a projeção de uma alma vazia e doente - e a distribuição dessa imagem torna isso um hábito banal tão vazio quanto a imagem produzida.

4) Outro fator importante, que torna o hábito do auto-retrato ser o oposto à prática dos grandes pintores medievais e renascentistas, está no fato de que a câmera digital tornou a fotografia algo banal, a ponto de deixar de ser uma arte. Não é preciso mais senso de estética ou de proporções, de modo a retratar a si mesmo. O grotesco da sua alma será retratado e distribuído. E se isso for vazado, será aproveitar-se da própria torpeza, tal como ocorreu com a Carolina Dieckmann.

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