1) Em Direito, costumamos dizer que o flagrante é quando vemos que as coisas estão a falar por si mesmas, pois o crime cometido recentemente é como um incêndio está a arder de maneira evidente a todos, pedindo para este ser apagado e ter seus danos reparados.
2) Quando Cristo foi crucificado, a injustiça de sua condenação ardeu de maneira flagrante um dia. Hoje em dia, essa chama só pode ser vista por quem tem olhos capazes de ver o que não pode ser visto: a chama invisível, que permanece acesa.
3) Quando percebemos a fumaça da boa razão, ela é como o metanol - essa chama é invisível. E ao contrário do metanol, em que sentimos as queimaduras, a dor de Cristo só pode ser percebida se sentimos a dor junto com Ele na Cruz. Por isso mesmo, desenvolver a compaixão é desenvolver a sensibilidade para coisas que não podemos ver e que não estão neste mundo sensível, mas no inteligível.
4) Se a sensatez é o órgão da alma, da inteligência que detecta a fumaça da boa razão, então a compaixão é a o aprimoramento da capacidade de sentir a dor, de modo que possamos sentir a dor do outro, coisa que você não pode sentir fisicamente, mas que é fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus.
5) Se houvesse uma cultura de compaixão, ainda que a chama dos crimes já tivesse reduzido tudo a ruínas e escombros, a chamada invisível decorrente do cometimento do crime seria conhecida, pois todos saberiam que ela existe e que não pode ser desprezada, por estar eternamente acesa, a ponto de não prescrever. E ela só pode ser conhecida de maneira mediata, por meio da memória histórica, pois fatos que não são esquecidos não passam impunes. E essa consciência, portanto, que precisa ser semeada.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2018.
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