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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Do empréstimo de livros físicos como investimento na atividade econômica organizada de um digitalizador - considerações sobre isso

1) Vamos supor que eu peça a um amigo tantos reais emprestado de modo a comprar um livro A. Esse livro seria digitalizado e o dinheiro arrecado com a venda de edições digitais desse livro seria usado para pagar os juros que são devidos a esse investimento que ele me fez. Para que o pessoal não venha a me chamar de pirata, considere que o livro é antigo e o autor tem mais de 70 anos de falecido - portanto, livre de direitos autorais.

2) Em contraproposta, o amigo não tem o dinheiro demandado, mas empresta um livro B nessas condições que falei. Digitalizado o livro, o exemplar é devolvido. E uma vez feitas as vendas do livro digital, uma parte do que é arrecadado é dada para o meu amigo na qualidade de cômodos da coisa digitalizada, uma vez que o livro B deu causa para minha atividade econômica organizada, a ponto de servir de investimento. E a todo investimento cabe juros, por ser justamente produtivo.

3.1) No mundo da digitalização, o investimento no trabalho do digitalizador se dá na forma de dinheiro ou na forma de coisas, no caso os livros. 

3.2) O livro emprestado facilita meu trabalho de ganhar dinheiro - tenho só o trabalho de digitalizar; o dinheiro emprestado leva a ter de planejar a aquisição do material qualidade, a ponto de escolher o melhor material com o menor custo possível. Por envolver toda uma operação mais complexa, os juros devidos em razão do tempo e do trabalho gasto tenderão a ser mais altos, em razão do custo de oportunidade.

3.3) Por essa razão, um empréstimo de coisa infungível nunca é gratuito. Trata-se de um investimento fundado na qualidade pessoal do digitalizador. Esse empréstimo deve ser pago com honras - por isso, uma parte da venda dos e-books é devida na forma de juros, pois acessório segue a sorte do principal.

3.4) Uma vez paga a dívida, os lucros auferidos da venda do livro B, se forem acumulados, servir-me-ão de base para comprar o livro A. E quando começar a vender cópias digitalizadas do livro A elas gerarão juros sobre capital próprio, visto que a cópia digital do livro B é parte do meu acervo, de minha propriedade.

4.1) Eis a economia fundada na fungibilização do que antes era infungível, como um livro antigo.

4.2) Para quem trabalha com design, para quem vive de copiar coisas, o empréstimo nunca será gratuito. O empréstimo de coisa a ser copiada e que vai ser vendida na forma de digital é uma forma de investimento. Como se deu coisa em vez de dinheiro, é uma dação de investimento.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2020 (data da postagem original).

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