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sábado, 2 de julho de 2016

Respondendo a algumas objeções

As formas monárquicas geralmente transformam a política num tipo de religião, como bem observou Eric Voegelin. Sou passadista e reconheço as contribuições da família real para este país - contudo [referindo-se ao Italo Lorenzon], você pede aos seus amigos Objeções. 

1) Os povos latino-americanos possuem uma tradição do líder salvador muito forte como bem observada por Joseph Campbell e penso que a Monarquia pode acentuar o populismo causado por este tipo de "carga cultural marcante". A sociedade civil possuí fortes valores liberais e conservadores, mas a grande maioria não é afeita à ideia de identidade, soberania e unidade.

2) Eu levo em consideração o que temos por maioria de agrupamento de interesses, mentalidades, cultura. As coisas são formatadas à partir daí no momento e não o contrário - se não fosse feito dessa forma, teríamos uma Guerra Civil pipocando com toda sorte de grupos e células com causas diversas. Tertuliano, Platão, Aristóteles, Thomas Paine, Tocqueville, Burke apontam análises negativas acerca do período monárquico.

Aleksander Costa Pinto


1) Certa ocasião, o colega Italo Lorenzon fez uma enquete na sua timeline, de modo a encontrar argumentos racionais contra a monarquia. O argumento mais relevante levantado foi um que foi apontado por Eric Voegelin, dizendo que a monarquia tende a uma teocracia política.

2) A teocracia política está no fato de se tomar o país como se fosse uma segunda religião, a ponto de esmagar a religião verdadeira. E essa mentalidade começa a partir do ponto em que o rei tem o corpo temporal e o corpo espiritual da nação, tal como foi apontado em Kantorowicz.

3) Se o rei tem o corpo espiritual e temporal da nação, então a nação, para ser grande, precisa ir em busca de si mesma, seja por meio da conquista militar, seja pela formação de impérios comerciais. Exemplos de impérios que foram aos mares em busca de si mesmos: a Espanha, a Holanda e a França - e todos eles não foram bons colonizadores, como Portugal o foi, por força de Ourique.

4) Se o rei tem o corpo espiritual e temporal da nação, o rei, como no Japão, é tomado como se fosse um Deus vivo. Ele terá poderes absolutos - e o pecado se instalará nessa terra até tornar-se uma república, tal como nós a temos. Eis o absolutismo, pois o Rei, dentro dessa mentalidade, vai se proclamar dizendo que é o Senhor dos Senhores e não o servo dos servos. É por conta disso que considero D. João II o exemplo oposto daquilo que foi D. Afonso Henriques. D. João II é o arquétipo do príncipe de Maquiavel, cuja doutrina causa uma verdadeira confusão demoníaca, tal como Olavo provou em seus textos mais recentes.

5) Essa doutrina dos dois corpos do rei serviu de base para Lutero proclamar o princípio de que o povo deve seguir a religião de seu príncipe (um príncipe, uma religião => Estado tomado como se fosse religião, coisa que é conservada conveniente e dissociada da verdade). Não é à toa que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele - e países cujos reinos adotaram a doutrina de Lutero são essencialmente ateus, como a Suécia ou a Inglaterra. Além disso, é fato provado que os protestantes, sobretudo os luteranos, elegeram Hitler na Alemanha.

6) Eric Voegelin era um autor protestante - sua análise sobre a monarquia estava influenciada por conta de sua visão de mundo e também porque ele sentiu na pele o nazismo, daí o seu pessimismo, pois não acreditava em fraternidade universal. Se ele fosse um autor católico, ele teria uma visão de mundo mais parecida com a dos tomistas.

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