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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

A Era da Espionagem Espacial

(0:00) Em 2023, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou um plano ambicioso para lançar (0:06) mil satélites na próxima década. No mesmo período, o Escritório Nacional de Reconhecimento, (0:11) que opera os satélites espiões dos Estados Unidos, planeja quadruplicar o tamanho de sua frota, (0:18) que hoje em dia não passa de algumas dezenas de satélites. O governo dos Estados Unidos pode (0:23) expandir sua frota tão rapidamente porque os satélites se tornaram muito mais baratos para (0:28) fabricar e muito mais fáceis de lançar o espaço.

Muitos desses novos satélites são destinados à (0:34) vigilância. E com todos esses novos olhos no céu, os Estados Unidos serão capazes de manter o que é (0:40) conhecido como uma capacidade de olhar constante. No jargão da comunidade de inteligência, isso (0:46) significa que você pode observar alvos 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem nunca piscar.

(0:53) Essa habilidade vai dar para os Estados Unidos acesso a vastas quantidades de dados transmitidos (0:59) do espaço. Enquanto isso, avanços em inteligência artificial, Big Data e computação em nuvem vão (1:06) ajudar a processar todas essas informações e sinalizar o que realmente os seres humanos (1:11) têm que revisar ou prestar atenção. (1:24) Esse é um excelente investimento porque quando você compra a Tech T-shirt, ela dura muito.

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(2:42) Insider ROCK15. Vamos voltar para o vídeo. (2:44) Ao permitir que os americanos rastreiem movimentos de tropas e posicionamento de armas com fidelidade em tempo real, a próxima geração de vigilância baseada no espaço poderia oferecer oportunidades sem precedentes para deter e interromper tentativas de iniciar uma guerra de surpresa.

(3:01) Por exemplo, os sistemas de hoje atualizam suas imagens menos frequentemente, abrindo uma porta para perder desenvolvimentos cruciais, mas adquirir esses sistemas de vigilância superpotentes também introduz novos riscos. (3:16) Tantos satélites enviando tanta informação de volta à terra podem sobrecarregar o sistema, sobrecarregando os oficiais com decisões sem fim e abrindo a porta para se criar uma situação de micromanagement geral de absolutamente tudo que acontece no mundo. (3:48) Se os adversários adquirirem essas tecnologias, eles podem ameaçar a liberdade de ação que é muito valorizada pelo exército dos Estados Unidos, tornando ainda mais difícil para as tropas americanas ou grupos de defesa americanos, como os Estados Unidos.

(4:03) Ou seja, uma expansão massiva da vigilância baseada no espaço vai moldar como o exército dos Estados Unidos opera ao redor do mundo e quanto antes o governo americano se preparar para esse futuro, melhor para eles. (4:18) O desejo por inteligência em tempo real é tão antigo quanto as guerras e sempre houve um grande foco em coletar o máximo de informações possíveis e entregar essas informações àqueles que precisam delas o mais rápido possível, os tomadores de decisão. (4:33) Batedores da cavalaria durante a Guerra Civil americana poderiam reunir inteligência tática sobre o inimigo, mas eles só podiam relatar o que aprenderam após uma longa viagem de volta do território inimigo.

(4:45) Hoje, há um problema diferente. Um drone de vigilância moderno pode transmitir imagens quase que instantaneamente para seus usuários, mas perder acontecimentos-chave no território inimigo se não tiver posicionado diretamente sobre o alvo. (5:01) Os ativos de inteligência baseados no espaço enfrentaram restrições semelhantes de tempo e escala.

(5:09) O Projeto Corona, o primeiro sistema de satélites peão da CIA, podia fotografar o território soviético e retornar cápsulas de filme para a Terra, mas o tempo desde a coleta até a exploração era de semanas. (5:23) Na década de 1970, o advento de satélites do tamanho de um ônibus escolar que podiam transmitir imagens digitais de volta aos usuários resolveu a restrição de tempo, mas foram implantados em números relativamente limitados. (5:38) O punhado de satélites que os Estados Unidos podiam se dar ao luxo de lançar o espaço ainda deixava grandes lacunas na cobertura.

(5:45) Hoje, de acordo com fontes públicas como sites de rastreamento espacial, o Pentágono e a comunidade de inteligência podem operar aproximadamente meia dúzia de satélites que detectam comprimentos de onda de luz visível infravermelho e meia dúzia de satélites de radar que podem ver à noite através das nuvens. (6:05) Esses sistemas aéreos custam pelo menos centenas de milhões de dólares cada. (6:11) Embora capazes de coletar e transmitir prontamente a inteligência de alta qualidade, não há o suficiente deles para resolver o problema de escala, porque nem todos os pontos de interesse podem ser observados ao mesmo tempo.

(6:23) Os Estados Unidos efetivamente olham para a Terra através de uma espécie de conjunto de canudinhos, muito apurados, mas também muito escassos. (6:32) Uma convergência de tecnologias avançadas como foguetes reutilizáveis, semicondutores cada vez menores e inteligência artificial de alta potência está rapidamente tornando possível para os Estados Unidos obter a tal capacidade de observação constante. (6:48) O custo de lançamentos de foguetes caiu drasticamente desde os dias do programa do ônibus espacial da NASA, caindo de cerca de US$ 55 mil por quilo para US$ 2.500 por quilo do que é lançado no espaço.

(7:03) Graças à miniaturização dos semicondutores, o tamanho do que pode ser lançado também diminuiu. (7:09) Satélites com capacidades avançadas de coleta de inteligência podem ser tão pequenos quanto uma caixa de pão ou uma mochila. (7:16) Enquanto isso, a inteligência artificial possibilitou a colaboração entre humanos e máquinas com algoritmos de computador, vasculhando rapidamente dados e identificando peças relevantes de informação para os analistas.

(7:30) Empresas privadas de lançamento de satélites, como a SpaceX e a Rocket Lab, aproveitaram essas tecnologias para construir o que são denominadas mega constelações, (7:40) nas quais centenas de satélites trabalham juntos para fornecer inteligência ao público, empresas e organizações não-governamentais. (7:49) Algumas dessas empresas podem entregar inteligência fresca de quase qualquer ponto do globo dentro de 30 minutos após um pedido. (7:57) Por exemplo, a empresa Planet orbita cerca de 200 satélites do tamanho de uma caixa de pão que registram imagens da Terra inteira todos os dias.

(8:06) Cada satélite pode tirar 10 mil fotos por dia fotografando uma área equivalente ao tamanho do México. (8:12) Quando um balão espião chinês sobrevoou os Estados Unidos no início de 2023, a empresa de inteligência artificial Synthetic vasculhou rapidamente o banco de dados da Planet em busca de imagens da viagem do balão da China. (8:26) Os algoritmos de aprendizado de máquina da Synthetic conseguiram identificar o caminho do balão, rastreando-o até um possível local de lançamento na ilha de Hainan, (8:36) no sul da China.

(8:37) Humanos nunca poderiam ter realizado essa tarefa nesse intervalo de tempo. (8:41) À medida que o setor privado continua a avançar, o governo dos Estados Unidos está tentando acompanhar através dos seus planos ambiciosos para expandir rapidamente o número de satélites no espaço na próxima década. (8:52) O Departamento de Defesa imagina um mundo onde não há lacunas para cobertura, independente do tempo, 24 horas por dia.

(8:59) A quadruplicação da frota de satélites do Escritório Nacional de Reconhecimento entregaria 10 vezes mais imagens do que hoje. (9:07) Além disso, tanto o Pentágono quanto o Escritório Nacional de Reconhecimento planejam usar a coleta comercial para aumentar suas capacidades. (9:16) No agregado, essa arquitetura vai permitir ao governo observar mais coisas em mais lugares, sem nunca desviar o olhar.
(9:23) Com o atual punhado de satélites requintados do governo, pode levar dias para um determinado satélite passar novamente pelo mesmo ponto na Terra. (9:32) Uma mega constelação de centenas ou milhares de satélites seria capaz de transmitir constantemente informações sobre um alvo, sem nunca ter que desviar o olhar. (9:42) Com essa capacidade, os Estados Unidos precisariam fazer menos escolhas sobre quais alvos observar, não tendo que priorizar certas observações em detrimento de outras.

(9:52) Eles poderiam observar objetos em locais sem perder o rastro, permitindo que algoritmos, analistas de inteligência e oficiais encarregados de selecionar alvos (10:02) identificassem padrões da vida cotidiana e, assim, o que constitui atividade normal e anormal. (10:09) Um olhar ininterrupto poderia observar tudo, desde os cercados onde os submarinos de mísseis balísticos nucleares da China são mantidos, (10:18) até instalações da Guarda Revolucionária do Irã que podem ameaçar as tropas dos Estados Unidos no Iraque e na Síria. (10:25) Hoje, esses tipos de padrões não podem ser constantemente observados, e mudanças críticas podem ser perdidas se um satélite não estiver sobrevoando o ponto de interesse no momento exato.

(10:36) Quando combinamos esses satélites com a próxima geração de armas hipersônicas que os Estados Unidos estão testando e implementando, (10:43) esses novos satélites vão permitir que o exército americano ataque alvos de longo alcance em curto prazo e com menos risco para os seus soldados. (10:54) No total, esses satélites possibilitariam uma coordenação sem precedentes entre os serviços militares, (11:01) bem como com aliados em operações de combates complexas, informando sistemas de comando e controle avançados e baseados em dados. (11:10) Tanto a China quanto a Rússia aproveitam um ambiente de informação instável e manipulável de hoje para ameaçar o território de oponentes regionais mais fracos.

(11:19) Sistemas de observação constante podem fornecer cobertura suficiente para antecipar seus atos de agressão. (11:25) Por sinal, só de deixar claro que possui essas capacidades tecnológicas poderia servir como meio de dissuasão, tornando mais difícil para os outros países lançarem ataques surpresas. (11:37) Mas novas oportunidades também trazem novos perigos.

(11:40) A dependência excessiva da tecnologia de observação constante pode criar maus hábitos. (11:46) O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro demonstrou as armadilhas de depender de tecnologia avançada. (11:52) Por anos, Israel sempre usou um sistema de vigilância de alta tecnologia para observar sua fronteira com a faixa de Gaza.

(11:58) Mas a tecnologia deu aos líderes israelenses uma falsa confiança e sensação de segurança, (12:05) contribuindo para a decisão de redistribuir soldados israelenses que monitoravam Gaza para a Cisjordânia. (12:13) Uma dependência excessiva da inteligência coletada no espaço pode levar o governo dos Estados Unidos a cometer erros semelhantes. (12:20) Além disso, os sistemas habilitados por inteligência artificial que vão processar todos os novos dados também podem cometer erros.

(12:28) E se um objeto percebido como um lançador de mísseis móvel for, na verdade, um engodo realista. (12:34) Ou pior, um ônibus civil. (12:36) Por outro lado, e se um sistema de inteligência artificial de alguma forma falhar em sinalizar o desdobramento de um lançador de mísseis nucleares móveis para análise humana? (12:47) Ter acesso a esse tipo de informação também pode moldar a forma como o governo dos Estados Unidos funciona e toma decisões importantes de segurança nacional.

(12:55) Acesso a um suprimento quase inesgotável de inteligência pode levar ao micromanagement dos assuntos de segurança nacional do dia a dia, bem como crises agudas. (13:07) O Departamento de Defesa também vai precisar aceitar o risco de que a China e a Rússia também adquiram essas tecnologias. (13:14) Operações militares e de inteligência sensíveis dos Estados Unidos poderiam ser expostas ao escrutínio público, interrupção e falha.

(13:22) Conceitos de combate que enfatizam a dispersão de forças que estão ganhando força em todo o exército americano podem ser tornados menos eficazes se ficar mais difícil esconder o movimento das tropas. (13:35) O conceito de operações de base avançada expedicionária do corpo de fuzileiros navais, por exemplo, pede a dispersão de unidades de fuzileiros por ilhas remotas para atacar navios chineses com mísseis de longo alcance em caso de guerra. (13:51) E se a China pudesse empregar essa vigilância constante no Pacífico Ocidental e as suas ilhas, ela poderia rastrear o movimento dessas forças dos Estados Unidos e os ativos que as reabastecem.

(14:04) A China pode já estar pronta para implementar essas capacidades. (14:08) A empresa Tianwang Satellite Technology está orbitando uma mega constelação própria que até 2030 deverá ser capaz de fotografar qualquer ponto da Terra a cada 10 minutos. (14:19) Dado a difícil separação ou distinção entre os setores público e privado na China, é razoável a gente esperar que o exército chinês tenha acesso confiável à coleta de Tianwang.

(14:32) Mas a gente precisa falar também do fator mais perigoso de todos, que são os sistemas de observação constante podendo representar um risco de escalada nuclear. (14:42) A China e a Rússia já se irritam com as vantagens dos Estados Unidos na coleta de inteligência, regularmente assediando voos de inteligência americanos e até se aproximando e apontando lasers para satélites de inteligência dos Estados Unidos. (14:56) Sistemas de observação constante poderiam aumentar a percepção de intrusão à medida que seus santuários geográficos se tornam menos seguros.

(15:06) Essas percepções seriam especialmente sensíveis em relação a lançadores móveis de mísseis nucleares. (15:12) Mísseis móveis são uma capacidade de segundo ataque, famoso Second Strike Capability, particularmente eficaz. (15:20) O que significa que eles dão a um país a chance de responder a um ataque nuclear com um contra-ataque nuclear porque são difíceis de encontrar e difíceis de serem destruídos antecipadamente.

(15:34) Caso os satélites dos Estados Unidos alcancem esse poder de cobertura total, eles vão poder rastrear mísseis nucleares móveis desde o momento em que deixam o quartel até quando chegam a um novo local de lançamento. (15:49) No evento de uma crise nuclear, essa capacidade de vigilância poderia causar uma instabilidade estratégica. (15:55) Tanto a China como a Rússia poderiam até lançar mísseis em resposta a uma ameaça percebida ao seu dissuador de segundo ataque.

(16:05) Ou seja, se China e Rússia perceberem que essa capacidade de monitoramento constante fosse possível identificar onde está a sua arma de dissuasão de segundo ataque, de Second Strike, (16:20) eles poderiam usar como resposta um lançamento nuclear. (16:25) Pelo menos os Estados Unidos devem esperar que a China e a Rússia desenvolvam contramedidas sofisticadas e táticas para proteger esses ativos móveis. (16:36) O exército dos Estados Unidos, por sua parte, também deve lidar com como operar sob condições de observação constante.

(16:41) O luxo da superioridade militar esmagadora em conflitos pós-Guerra Fria causou a atrofia de longo prazo das capacidades dos Estados Unidos em camuflagem, ocultação e negação. (16:53) Com os avanços na coleta de inteligência baseada no espaço se movendo mais rápido do que nunca, não há tempo a perder.

Professor HOC

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