1) Antes de Adam Smith demonstrar que a verdadeira riqueza de uma nação livre não está concentrada nas mãos de um príncipe, mas, sim, distribuída nas mãos de um povo, era comum o comércio ser usado como uma forma de criar vínculos de servidão e vassalagem, através da economia de patrocínio.
2.1) Digamos que um príncipe fosse muito rico e quisesse demonstrar seu poder apoiando e protegendo cidades-Estado cuja economia gravitasse em torno do artesanato. Ele costumava fazer uma demanda em grande quantidade - se ela não fosse satisfeita, a cidade ficaria sem o auxílio militar desse príncipe, a ponto de correr o risco de ser invadida pelos inimigos.
2.2.1) Toda a economia dessa cidade era organizada e direcionada para atender às necessidades desse príncipe tal como um verdadeiro esforço de guerra, pois sua liberdade dependia da força dessas armas. Assim o trabalho era feito de modo a se pagar a um tributo em razão da segurança oferecida por esse príncipe, uma vez que ele garantia a liberdade desse povo através da força de suas armas, uma vez que sua autoridade aperfeiçoava a liberdade de muitos.
2.2.2) A entrega do trabalho de um ano em bens de luxo ao príncipe era obrigação de fazer porque se fundava numa lei que anunciava uma oferta pública que era feita à cidade revelando uma demanda real, um privilégio temporário que só ela podia preencher. O dinheiro que o príncipe pagava de recompensa pelo serviço prestado era usado para patrocinar as artes e o desenvolvimento econômico e artístico da cidade, se fosse bem usado. Tratava-se de economia de patrocínio porque o príncipe via os habitantes dessa cidade-Estado como seus súditos, como seus protegidos.
3.1) Esse tipo de economia, que cria esquemas de vassalagem que fazem com que uma cidade se sujeite ao poder de um príncipe, tende a concentrar muito poder em poucas mãos.
3.2) Se esse homem não for a encarnação da própria virtude, do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, isso tenderá a ser uma tirania, tal como havia no Egito Antigo, onde o comércio de grãos fez com que todos ficassem reféns do Egito de alguma forma - e nesse ponto a economia de patrocínio vira economia política de propaganda; se esse homem for a encarnação do Cristo, do Faraó definitivo, então a monarquia de direito divino - onde Deus reina absolutamente sobre tudo e sobre todos através da figura de seu vassalo, que é o rei de uma nação - será o melhor dos governos, pois distribuirá os elementos da aristocracia a todas as três classes da sociedade - clero, nobreza e povo - a ponto de as três em concórdia serem a personificação da própria trindade, posto que a verdade constitui o fundamento da liberdade.
3.3.1) Por isso, que as sociedades das épocas mais antigas apostavam suas fichas na formação do caráter das futuras gerações, de modo a formar homens cada vez mais santos e virtuosos, capazes de amar e rejeitar aquilo que Cristo amou e e rejeitou.
3.3.2) Assim, a vida dos cidadãos seria mais tranqüila, mais estável uma vez que a ascensão do melhor, do mais virtuoso estaria garantida. Bem ao contrário dos modernos, onde a ascensão de um sujeito virtuoso através do voto se dá através da mais pura sorte, tal como se deu com o Bolsonaro.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2020 (data da postagem original).
Nenhum comentário:
Postar um comentário