Pesquisar este blog

sexta-feira, 18 de julho de 2025

A Tributação na Monarquia Brasileira: entre o centralismo paterno e o territorialismo municipalista

Introdução

A tributação na Monarquia não pode ser compreendida apenas como um mecanismo de arrecadação financeira, mas como uma expressão concreta da relação política e espiritual entre o monarca e seus súditos. Diferentemente das repúblicas modernas, onde o imposto é muitas vezes visto como um ônus impessoal, no contexto da Monarquia Católica — tal como vivida no Império do Brasil — o imposto de renda representa um ato de prestação de contas de um filho ao seu pai espiritual e político: o monarca, vassalo de Cristo, aquele que governa nos méritos do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

O imposto de renda e a relação paterno-filial com o Monarca

Na Monarquia Brasileira, de cunho centralista, a tributação direta da renda encontra respaldo na natureza vertical da autoridade real. O imperador não é um mero administrador, mas o pai da pátria, o guardião da unidade espiritual e moral do povo. Assim, ao declarar seus rendimentos, o súdito não apenas cumpre uma obrigação civil, mas reafirma sua lealdade à ordem que provém de Deus.

O monarca, sendo vassalo de Cristo conforme o milagre de Ourique, possui autoridade sagrada para proteger seus súditos dos abusos dos poderes inferiores, especialmente através do Poder Moderador, aquele que garante a harmonia entre os poderes constitucionais e evita o desequilíbrio que hoje corrompe as repúblicas.

O territorialismo municipalista da tradição portuguesa

Por outro lado, a tradição lusa, especialmente sob a influência de um sistema de povoamento municipalista, adotou em muitos casos uma forma de tributação territorialista. Isso se justifica pelo fato de que a relação entre os diversos territórios do Reino — e, mais tarde, do Império — não era de homogeneidade, mas de diferença ordenada.

Na lógica tradicional portuguesa, a igualdade entre os súditos não significava tratamento uniforme, mas o reconhecimento das desigualdades legítimas oriundas de suas realidades geográficas, culturais e econômicas. Assim, a tributação devia respeitar essas desigualdades, tratando os desiguais na medida de sua desigualdade, tal como recomendava Aristóteles e Santo Tomás de Aquino.

A unidade monárquica e a diversidade provincial

A grande extensão territorial do Brasil, somada ao desejo natural das províncias por certa autonomia administrativa, tornava o sistema territorialista mais coerente com a realidade do Império. A unidade política não dependia da uniformidade tributária, mas do fato de todas as províncias compartilharem o mesmo soberano: um monarca católico, vassalo de Cristo, cuja autoridade unificava as diferenças sem destruí-las.

Esse sistema, enraizado na tradição de D. Afonso Henriques, rei ungido por Deus após a batalha de Ourique, implica que a tributação no Brasil monárquico deveria servir antes à ordem e à paz do Reino do que ao financiamento cego de estruturas burocráticas.

Conclusão

A lógica tributária da Monarquia Brasileira só pode ser compreendida à luz da espiritualidade cristã e da tradição política portuguesa. O imposto de renda, quando existe, deve refletir a relação de filiação espiritual entre o povo e seu rei. Já a tributação territorialista, por sua vez, expressa a realidade concreta das províncias e o respeito às suas diversidades. Ambas as formas encontram harmonia na figura do monarca cristão, aquele que, como D. Pedro II, é sustentáculo da unidade sem eliminar a legítima diversidade.

Notas de Rodapé

  1. A referência ao milagre de Ourique remonta ao ano de 1139, quando D. Afonso Henriques teria visto Cristo em uma visão antes da batalha contra os mouros, o que lhe conferiu legitimidade divina para fundar o Reino de Portugal.

  2. A concepção de "desiguais tratados como desiguais" encontra eco na Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino (II-II, q. 61), onde se distingue justiça comutativa da distributiva.

  3. O Poder Moderador, previsto na Constituição do Império do Brasil de 1824, era entendido como a instância que harmonizava os conflitos entre os três poderes, em analogia com a alma racional que governa o corpo.

Bibliografia Inicial

  • AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2002.

  • ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

  • GURGEL, Rodrigo. Escola de Homens. São Paulo: Edições Vida Nova, 2018.

  • LIMA, Oliveira. O Império Brasileiro. Brasília: Senado Federal, 1997.

  • MONTEIRO, Tobias Barreto. História do Império. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1921.

  • SARAIVA, José Hermano. História Concisa de Portugal. Lisboa: Publicações Europa-América, 1993.

O imposto de renda como ato poético: a confissão fiscal sob a Monarquia Cristã

Resumo

Este artigo reflete sobre a diferença substancial entre o ato de declarar imposto de renda numa monarquia cristã e numa república secular. Propõe-se que, sob o Império do Brasil — herdeiro espiritual da tradição portuguesa fundada no milagre de Ourique —, o tributo adquire um caráter de prestação moral, confissão pública e confirmação da ordem justa. Em contraste, sob a república burocrática e positivista, o imposto se torna frio, contábil e desumanizador. O texto argumenta que apenas dentro de uma monarquia legítima, fundamentada nos méritos de Cristo e sustentada pelo Poder Moderador, o ato tributário revela sua verdade como poiesis social.

1. Introdução

Dentre os inúmeros atos que um cidadão realiza ao longo da vida, poucos parecem tão áridos quanto a declaração do imposto de renda. Na república moderna, este rito anual é reduzido a um dever contábil, imposto por um Estado que não é pai, mas carcereiro. No entanto, à luz da tradição monárquica cristã, este mesmo ato pode adquirir um significado radicalmente diferente: a prestação de contas a um soberano legítimo, que, como vassalo de Cristo, exerce o poder em nome do bem comum.

2. A Monarquia como ordem providencial

Desde o milagre de Ourique, no qual D. Afonso Henriques ouviu de Cristo o chamado para fundar um reino, a monarquia portuguesa foi concebida como uma missão espiritual: proteger o povo, expandir a fé e manter a unidade^1. O Brasil, como desdobramento desse projeto, herdou essa missão. Dom Pedro II, em seu reinado, encarnou essa continuidade histórica, sendo não apenas chefe de Estado, mas pai da nação.

A monarquia, segundo Burke, “é a mais poética de todas as instituições políticas”^2. Ela estabelece uma relação viva entre o governante e o governado — uma relação que é mais do que contrato: é aliança. Por isso, a tributação sob o Império do Brasil não deveria ser entendida como extorsão, mas como manifestação de pertença a uma ordem superior.

3. O imposto como ato de confissão pública

Ao declarar o imposto de renda sob a autoridade de um imperador — vassalo de Cristo e guardião da justiça —, o cidadão reconhece a fonte legítima de poder. O tributo deixa de ser apenas uma transferência de recursos e se torna um testemunho do que faço e deixo de fazer diante do soberano. A tradição cristã sempre viu o rei como ministro da justiça de Deus^3, e o ato fiscal, nesse contexto, torna-se um gesto de consciência.

O imposto é então comparável à confissão: revela o trabalho realizado, as posses adquiridas e os bens administrados, tudo isso dentro da ordem moral. É um exame de consciência público, perante aquele que, ungido pelo dever do Poder Moderador, vela pela justiça e equilibra os poderes.

4. A frieza republicana

A república, fundada sobre os escombros da monarquia e imersa no positivismo jurídico, rompe esse laço sagrado. O Estado moderno já não é expressão do bem comum, mas instrumento de vontade partidária e interesse ideológico. A cobrança de tributos sob tal regime é desprovida de beleza, de justiça e de proporção.

Na linguagem contábil da Receita Federal, o cidadão não é mais sujeito moral, mas contribuinte. A declaração do imposto torna-se então um ato coercitivo, despersonalizado, submetido ao terror fiscal do Leão, símbolo de força bruta e não de realeza legítima.

5. O Poder Moderador e a proteção contra os maus governos

O Poder Moderador, tal como estabelecido na Constituição do Império de 1824, era a instância espiritual da política brasileira^4. Não servia para governar diretamente, mas para impedir que as paixões humanas corrompessem o governo. Ele representa o freio último ao arbítrio dos poderes e garante a unidade nacional.

Sob este regime, o imposto de renda é um ato de confiança: o povo oferece parte de seus frutos ao soberano, confiando que este os empregará com sabedoria, nos méritos de Cristo. A beleza dessa relação é visível: trata-se de uma poesia em ato, como dizia o autor deste ensaio.

6. Conclusão: conhecer a verdade, viver a beleza

A monarquia cristã revela o sentido histórico das coisas porque se ancora na verdade. Ao conhecer a verdade sobre a ordem política, reconhece-se que o imposto pode ser uma forma de serviço, não de servidão; uma manifestação de liberdade ordenada, não de submissão fiscal.

Por isso, afirmar que a declaração do imposto de renda é bela sob a monarquia e fria sob a república não é exagero, mas expressão de uma verdade que une teologia, história e filosofia política. É reconhecer que a beleza da ordem justa não está na forma do formulário, mas no coração daquele que oferece, sabendo que sua oferta se insere num projeto de salvação comum.

Referências

  1. COSTA, A. C. Ourique: Mito e História. Lisboa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2004.

  2. BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

  3. SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q. 96-97. Trad. Frei Leonardo. São Paulo: Loyola, 2005.

  4. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil (1824). Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 18 jul. 2025.

Territorialismo Fiscal e Distributivismo Cristão: por uma Renda Universal de Cidadania sem espoliação

A proposta de uma renda universal de cidadania, hoje associada a utopias tecnocráticas e redistributivismo estatal, tinha, em suas origens, um espírito bem diferente daquele que se vê nas democracias centralizadas contemporâneas. Quando Thomas Paine a propôs, no final do século XVIII, os Estados Unidos ainda não haviam adotado o imposto de renda (este só veio com a Emenda XVI, em 1913). A ideia de Paine se fundava numa lógica pré-centralizadora, territorialista e de cunho profundamente republicano — uma república de cidadãos livres, não de súditos tributados à revelia.

É nesse ponto que regimes de tributação territorialista, como o do Paraguai moderno, revelam uma grande vantagem civilizacional: não espoliam seus cidadãos com base na origem ou na residência, mas apenas quanto ao que é efetivamente gerado dentro do território. Isso torna possível conceber uma república distributivista, tal como imaginada por G.K. Chesterton e Hilaire Belloc, na qual ninguém seria espoliado por ninguém. A justiça tributária estaria fundada em relações comunitárias de lealdade e subsidiariedade, não no confisco arbitrário.

Esse ideal distributivista rejeita tanto o coletivismo estatizante quanto o capitalismo plutocrático. Ele parte do princípio de que as pessoas devem amar e rejeitar as mesmas coisas, sob um mesmo fundamento em Cristo, na conformidade com o Todo que é Deus. Isso se opõe frontalmente à lógica revolucionária moderna, herdeira da Inglaterra de Henrique VIII, onde a dissolução dos mosteiros deu origem a uma classe aristocrática proprietária sem espírito de serviço, abrindo caminho para o capitalismo especulativo e a injustiça institucionalizada.

Nas palavras de Belloc, “o capitalismo é a degradação da propriedade privada”, pois rompe com o princípio cristão de que a propriedade serve à santificação do homem, e não à sua escravização. Já Chesterton dizia que “democracia significa governo por aqueles que têm as ferramentas”, não por uma elite jurídica ou financeira que tudo controla.

A crítica distributivista ao centralismo moderno faz, portanto, muito mais sentido quando reconectada às raízes espirituais do Ocidente cristão. A proposta de uma renda cidadã em um regime fiscal territorialista não é uma esmola estatal, mas sim um reconhecimento prático de que o capital legítimo é aquele que se funda no trabalho, na cultura e na santidade, conforme ensinava Leão XIII na Rerum Novarum.

Numa república onde a tributação se orienta territorialmente e não universalmente, a renda universal poderia ser uma distribuição justa dos frutos do território comum, sem recorrer ao confisco do patrimônio pessoal ou à vigilância fiscal totalitária. Assim, o modelo distributivista se torna exequível, pois os meios e os fins estão em harmonia com a lei natural e divina.

Bibliografia

  • PAINE, Thomas. Agrarian Justice. 1797.

  • CHESTERTON, G.K. The Outline of Sanity. London: Methuen, 1926.

  • BELLOC, Hilaire. The Servile State. London: T. N. Foulis, 1912.

  • LEÃO XIII. Rerum Novarum. 1891.

  • MARITAIN, Jacques. Cristianismo e Democracia. Paulus, 2005.

  • GURGEL, Rodrigo. A Arte de Ler. É Realizações, 2012.

  • KUEHNELT-LEDDIHN, Erik von. Liberty or Equality. Front Royal: Christendom Press, 1993. 

Notas de rodapé

  1. A tributação territorialista é aquela que incide apenas sobre rendimentos produzidos dentro das fronteiras nacionais, ao contrário da tributação mundial, em que o Estado exige tributos sobre rendimentos obtidos em qualquer parte do mundo por seus cidadãos.

  2. No Paraguai, por exemplo, os dividendos recebidos do exterior não são tributados, o que o torna atrativo para investidores e emigrantes estratégicos.

  3. Thomas Paine, em Agrarian Justice, defendia que cada cidadão deveria receber uma compensação pela perda do acesso à terra comum — uma antecipação moral da renda básica, mas sem dependência estatal centralizadora.

  4. Chesterton e Belloc, ao promoverem o distributivismo, não buscavam redistribuir rendas à força, mas restaurar a pequena propriedade como base da liberdade cristã.

  5. A dissolução dos mosteiros por Henrique VIII, a partir de 1536, expropriou a Igreja e redistribuiu as terras a nobres aliados da Coroa, quebrando o vínculo entre fé, cultura e economia local. 

O Brasil Republicano e a perversão dos institutos da Monarquia

Resumo

Este artigo analisa criticamente a estrutura do Estado brasileiro após a Proclamação da República (1889), com foco na apropriação indevida de institutos herdados da Monarquia. Argumenta-se que, ao esvaziar os fundamentos morais e simbólicos dessas instituições, o Brasil Republicano converteu mecanismos de ordem em instrumentos de opressão. A análise é enriquecida com comparações a modelos fiscais e institucionais de países como Paraguai, Estados Unidos, França, Polônia e Hungria, além de fundamentação na tradição católica e constitucional monárquica do século XIX.

1. Introdução

A tradição política brasileira foi brutalmente interrompida com a queda da Monarquia e a instalação do regime republicano, em 1889. A despeito das promessas de modernização, o novo regime herdou a estrutura institucional do Império, mas sem conservar seu princípio espiritual e moral. O resultado foi a perversão dos institutos monárquicos, que passaram a servir a fins contrários àqueles para os quais foram concebidos.

2. A tributação monárquica: prestação de contas de um filho à pátria-mãe

Na Monarquia, o súdito é visto como filho da pátria, e o soberano, como pai do povo. Tal concepção tem raízes bíblicas, patrísticas e escolásticas, sendo retomada por pensadores como Plínio Salgado (1935), que via o rei como síntese viva da autoridade moral da nação.

O fisco, nesse contexto, não é confisco nem opressão, mas um instrumento de solidariedade e manutenção da ordem. Conforme destaca João Camilo de Oliveira Torres:

“A monarquia é uma instituição baseada na tradição e no costume, e nela o povo vê no rei a encarnação da continuidade, da estabilidade e da justiça” (TORRES, 1965, p. 123).

Sob o Império, o cidadão brasileiro devia tributo por vínculo espiritual e moral: contribuía com a manutenção de uma casa comum, um corpo político hierárquico, mas orgânico.

3. A inversão republicana: o confisco travestido de legalidade

Com a Proclamação da República, os vínculos orgânicos foram substituídos por relações puramente contratuais e burocráticas. Contudo, o Estado republicano brasileiro manteve muitos dos mecanismos imperiais — entre eles, a arrecadação — mas sem o princípio moral que a justificava. O resultado foi um sistema opressivo, centralizador e ilegítimo, onde o Estado cobra como pai, mas governa como padrasto.

A Constituição de 1988 consolidou essa perversão ao constitucionalizar um modelo de Estado fiscal onipresente, que tributa não apenas a produção territorial, mas também a renda mundial dos seus cidadãos — algo que apenas regimes imperiais e estados ideologizados praticam.

4. O exemplo do Paraguai: uma república territorial legítima

O Paraguai, em contraste, aplica um modelo tributário mais fiel ao espírito republicano moderno. Lá, tributa-se o que é produzido no território nacional, independentemente da nacionalidade do produtor. O governo não cobra como se fosse pai moral, mas como gestor do solo nacional.

Esse modelo é transparente, previsível e favorável ao investimento estrangeiro, sendo um exemplo de como um país pode exercer soberania fiscal sem se tornar totalitário. A lógica paraguaia é semelhante à dos Estados Unidos, antes da criação do imposto de renda permanente em 1913: o tributo estava ligado à jurisdição territorial, não à moralidade cidadã.

5. A confusão entre chefia de Estado e chefia de governo: o caminho para o totalitarismo

A monarquia distingue claramente chefe de Estado (o rei) e chefe de governo (o ministro). O rei, símbolo da continuidade e da unidade nacional, atua como poder moderador, garantindo o equilíbrio entre os demais poderes. Essa separação protege o povo contra o arbítrio das maiorias, das facções e das paixões partidárias.

No Brasil republicano, tal separação inexiste. O presidente da república é chefe de governo e chefe de Estado. Essa concentração de funções, denunciada por Benjamin Constant já no século XIX¹, conduz à hipertrofia do Executivo e à criação de um Estado-personalidade, no qual o governante se considera encarnação da pátria.

A atual estrutura política brasileira, como observa Francisco Weffort (1989), mistura carisma pessoal com autoridade institucional, produzindo governos que confundem mandato com missão histórica, e lei com vontade pessoal.

6. Comparações Internacionais: onde forma e substância se alinham (ou não)

6.1. Estados Unidos

Os EUA adotam a tributação mundial da renda, como o Brasil, mas o fazem com base em um ethos fundacional quase religioso, derivado do protestantismo cívico. Lá, a cidadania é um compromisso moral com a Constituição, o que justifica (ainda que questionavelmente) a cobrança de impostos a cidadãos no exterior. Porém, esse modelo tem sido alvo de críticas e evasão em massa (cf. GREEN, 2018).

6.2. França

A França pós-revolucionária tentou substituir o rei pelo Estado laico centralizador. O resultado foi a estatização do poder espiritual, com o Leviatã republicano ocupando o lugar do soberano. Assim como no Brasil, a chefia de Estado e governo são confundidas na figura do presidente, que pode nomear o premier sem consulta direta ao povo.

6.3. Polônia e Hungria

Estes países, após libertarem-se do comunismo, restauraram a dignidade simbólica do Estado sem reincidirem no totalitarismo. Na Hungria, por exemplo, o primeiro-ministro Viktor Orbán afirma que o Estado deve se basear na "tradição cristã e patriótica da nação", buscando reconstituir uma autoridade moral legítima, mesmo sob forma republicana (ORBÁN, 2018). Já a Polônia reconhece o papel da Igreja como mediadora moral, o que impede a dissolução total da ordem simbólica.

7. Conclusão

O Brasil Republicano é, essencialmente, uma farsa institucional. Apropriou-se dos institutos da Monarquia, como o fisco, a autoridade simbólica e a centralidade do Estado, mas os utiliza para fins espúrios e ideológicos, desprovidos de moralidade pública.

O resultado é um Estado que cobra como se fosse pai, mas governa como tirano; que exige sacrifício, mas não oferece proteção; que oprime em nome da liberdade e corrompe em nome da legalidade.

A esperança de restauração nacional passa, necessariamente, por recuperar os princípios morais que fundamentavam a Monarquia, seja pela revalorização dos símbolos, seja pela separação entre Estado e governo, seja pela tributação justa e territorial. É preciso reconciliar forma e substância, autoridade e serviço, governo e bem comum.

Bibliografia

  • GREEN, Andrew. Taxing the American Emigrant. New York: Global Policy Institute, 2018.

  • ORBÁN, Viktor. State of the Nation Address 2018. Budapeste: Governo da Hungria, 2018.

  • SALGADO, Plínio. O Rei dos Reis. São Paulo: Editora Voz do Oeste, 1935.

  • TORRES, João Camilo de Oliveira. Interpretação da Realidade Brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.

  • WEFFORT, Francisco. Formas do Estado autoritário no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

Notas de rodapé

  1. Benjamin Constant, em suas reflexões sobre o poder monárquico moderador, argumentava que a chefia de Estado deveria ser neutra, isenta e permanente, de modo a garantir o equilíbrio entre os poderes (CONSTANT, Benjamin. Princípios de Política, 1815).

quarta-feira, 16 de julho de 2025

San Myshuno e a geografia sentimental dos pequenos negócios: uma simulação cristã da nacionidade em rede

Resumo

Este artigo propõe uma leitura simbólica e estratégica do universo de The Sims 4, em particular da cidade de San Myshuno, à luz de conceitos contemporâneos como a "conectografia" e a "riqueza das redes", mas também de noções tradicionais como a "geografia sentimental" de Plínio Salgado e o ideal de serviço a Cristo em terras distantes estabelecido na simbologia de Ourique. A análise sugere que os jogos de simulação, quando atravessados por experiências existenciais e intelectuais do jogador, podem converter-se em formas sofisticadas de arte eletrônica textual, inspirando novas formas de criação cultural e pedagógica.

1. Introdução

O universo de The Sims 4, especialmente quando enriquecido com expansões como Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business) e Escapada da Neve, permite ao jogador uma experiência de simulação da vida que vai muito além do entretenimento. Neste contexto, San Myshuno surge como um ambiente multifacetado de trocas, feiras e convivência multicultural que remete, paradoxalmente, tanto à conectividade globalizada quanto à construção local de vínculos afetivos e espirituais

2. O mercado como encontro entre redes e sentimentos

San Myshuno é a metrópole por excelência dentro do mundo de The Sims 4, abrigando festivais, feiras, mercados de pulgas e eventos culturais. Ali, a instalação de barraquinhas de venda de comidas de outras culturas (inclusive as da expansão Escapada da Neve) permite ao jogador vivenciar o que Yochai Benkler (2006) chamou de “riqueza das redes”¹ — um modelo econômico baseado na colaboração, no compartilhamento de conhecimento e na multiplicação de vínculos produtivos entre indivíduos.

Essa lógica das conexões, também chamada por Parag Khanna de “conectografia”², é aqui reencontrada numa dimensão afetiva que ecoa a Geografia Sentimental de Plínio Salgado³, onde o território não se define apenas por linhas no mapa, mas pelos vínculos espirituais e de pertencimento que os indivíduos constroem com os lugares.

3. Nacionidade Cristã e O Ideal de Ourique

A construção de pequenos negócios por meio dos vínculos com os habitantes da Avelândia do Norte — região inserida por outra expansão do jogo — revela uma nova forma de "nacionidade", fundada não por uma ideia abstrata de pátria, mas pelo serviço concreto a Cristo nas relações humanas cotidianas. Tal vocação está em sintonia com o ideal cristão que emerge da simbologia de Ourique, onde o chamado à missão transcende fronteiras e toma o mundo como campo de serviço espiritual⁴.

Neste contexto, o restaurante que o jogador adquire pode ser sede de um pequeno negócio familiar, onde a divisão de tarefas é pensada a partir das vocações pessoais de cada personagem. Ao evitar a terceirização do trabalho e engajar os próprios membros da casa — por exemplo, o protagonista na cozinha e Summer como anfitriã — a simulação realiza, ainda que de modo virtual, uma ética do trabalho e do cuidado que se opõe à lógica fria e impessoal da gestão capitalista moderna.

4. Arte Eletrônica Textual: simulação como criação cultural

Ao combinar suas experiências em The Sims 4 com um repertório intelectual sólido e coerente, o jogador transforma o jogo em um meio de criação cultural autêntica. O que se produz não é um gráfico nem uma imagem, mas um texto simbólico, cuja base é a vida simulada, mas cujos efeitos reverberam na consciência e no imaginário real.

Esta forma de expressão pode ser considerada uma nova vertente da arte eletrônica textual, onde a simulação não é fim, mas meio para a elaboração de pensamentos, sistemas simbólicos e propostas de mundo. Assim, a experiência no jogo pode inspirar a criação de outros simuladores de vida — não mais apenas jogos, mas verdadeiros laboratórios de civilização, política, religiosidade e economia.

5. Conclusão

A cidade fictícia de San Myshuno, quando reconfigurada à luz de conceitos filosóficos, econômicos e espirituais, revela-se mais que um cenário de jogo: torna-se metáfora de um mundo onde redes, afeto, missão e negócios coexistem. Por meio da simulação, o jogador não apenas sonha com uma nova forma de vida, mas a ensaia, constrói e comunica — abrindo caminhos para uma pedagogia do espírito através do entretenimento digital.

Referências

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. New Haven: Yale University Press, 2006.

  2. KHANNA, Parag. Connectography: Mapping the Future of Global Civilization. New York: Random House, 2016.

  3. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental. São Paulo: Editora das Américas, 1956.

  4. OLIVEIRA, José Pedro. Ourique: Milagre e Fundamento. Lisboa: Paulus, 2003.

Notas de Rodapé

¹ Benkler entende que as redes descentralizadas de produção e colaboração, como ocorre nas economias digitais, substituem o modelo tradicional industrial. San Myshuno espelha isso por permitir que o próprio jogador produza, venda e aprenda receitas sem uma estrutura hierárquica externa.

² Parag Khanna introduz o conceito de “conectografia” para enfatizar como as conexões (vias, cabos, redes, fluxos) redefinem o poder no mundo moderno, superando as fronteiras estatais.

³ A geografia sentimental salgadiana vê o território nacional como expressão dos afetos, da cultura e da religião do povo. Em The Sims, esta dimensão é simulada por meio das interações familiares, festivais e feiras locais.

⁴ Segundo a tradição de Ourique, Dom Afonso Henriques consagrou o novo reino a Cristo após vitória milagrosa. Este ato funda não apenas uma monarquia, mas uma missão: servir a Cristo nas nações — missão que o jogador simula ao construir laços e negócios em terras “estrangeiras” como San Myshuno. 

A geografia sentimental da missão: San Myshuno, a riqueza das conexões, e a vocação de servir a Cristo em terras distantes, ainda que sem sair de casa

Resumo:

A  cidade fictícia de San Myshuno, no jogo The Sims 4, revela-se um espaço simbólico de simulação social, econômica e espiritual, onde o jogador, ao gerir negócios locais, feiras culturais e relações interpessoais, pode aplicar conceitos de conectividade global, economia colaborativa e identidade afetiva. Este artigo analisa a simulação da geografia afetiva e das redes econômicas, articulando autores como Plínio Salgado, Yochai Benkler e Parag Khanna, e vinculando essas ideias ao impulso espiritual de servir a Cristo em terras distantes, como proposto no Milagre de Ourique.

1. Introdução

A experiência de jogo em The Sims 4, especialmente com as expansões Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business) e Vida em San Myshuno, permite mais do que entretenimento: constitui um espaço simbólico de gestão das relações, dos recursos e das vocações. A simulação possibilita, entre outras coisas, articular uma microeconomia baseada em vínculos afetivos, numa geografia marcada pela diversidade e pela conectividade — ou seja, uma síntese entre a Geografia Sentimental (Salgado, 1935) e a Conectografia (Khanna, 2016).

2. A riqueza das conexões em San Myshuno

Yochai Benkler, em The Wealth of Networks, propõe uma lógica econômica que emerge da colaboração distribuída e das redes sociais digitais. Em San Myshuno, cidade multicultural e central no jogo, o jogador pode abrir feiras, instalar barraquinhas e aprender receitas de várias partes do mundo — inclusive pratos típicos de Mt. Komorebi, do Festival da Juventude, ou alimentos obtidos através de favores prestados em Avelândia do Norte. A simulação da troca de serviços, bens e cultura remete diretamente ao modelo de rede de Benkler¹.

Além disso, a expansão Do Ócio ao Negócio permite que esses serviços componham pequenos negócios — com a vantagem de serem familiares, ou seja, onde a economia não está separada da cultura ou da fé.

3. A geografia do afeto como base da economia espiritual

Plínio Salgado, em sua Geografia Sentimental², afirma que o amor à terra, às pessoas e às tradições é o que funda a verdadeira pátria. No jogo, isso se concretiza ao transformar uma barraca de kombucha, um restaurante ou uma feira local em espaço de vínculo comunitário. O restaurante familiar não é uma empresa anônima, mas um lugar onde o próprio jogador cozinha, sua esposa acolhe os visitantes e os garçons da antiga gestão continuam no emprego — honrando a tradição, a lealdade e o nome familiar.

Esse tipo de empresa remete à vocação espiritual cristã: "servir a Cristo em terras distantes", como ensinado desde Ourique. Em outras palavras, a expansão territorial do negócio e da cultura não visa o lucro desalmado, mas a concretização do mandamento do amor ao próximo, por meio do serviço e do bom uso dos talentos³.

4. San Myshuno como lugar da nacionidade

Parag Khanna, ao propor a ideia de conectografia⁴, nos mostra como a geografia hoje se organiza menos por fronteiras fixas e mais por redes de conexões: rotas comerciais, digitais, culturais. No jogo, San Myshuno é esse ponto de encontro: feiras culturais de diversas partes do mundo, redes de troca de saberes culinários, e a presença ativa do jogador como criador e mantenedor de um ecossistema.

Esse espaço simulado espelha a ideia de uma “nacionidade nascida do amor” — uma identidade que não se define pela exclusão ou nacionalismo, mas pela decisão espiritual de servir a um bem maior, em consonância com a verdade e a liberdade cristãs.

5. Conclusão

The Sims 4, ao permitir a simulação de negócios baseados em relações afetivas, redes de trocas culturais e trabalho vocacional, oferece uma poderosa ferramenta pedagógica. Nele, convergem a conectografia global, a geografia sentimental e o chamado espiritual de Ourique. O resultado é um modelo econômico alternativo, fundado não apenas em eficiência, mas em amor, verdade e serviço.

Referências Bibliográficas

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. New Haven: Yale University Press, 2006.

  2. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.

  3. PAPA LEÃO XIII. Rerum Novarum. Encíclica sobre a condição dos operários. 1891.

  4. KHANNA, Parag. Connectography: Mapping the Future of Global Civilization. New York: Random House, 2016.

  5. MAXIS. The Sims 4 [Jogo eletrônico]. Redwood City: Electronic Arts, 2014 (e expansões até 2025).

Notas de Rodapé

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks, p. 3-4.

  2. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental, p. 22.

  3. Cf. Rerum Novarum, §19.

  4. KHANNA, Parag. Connectography, p. 19-21.

San Myshuno como capital do empreendedorismo artesanal: kombucha, cultura e o poder do pequeno negócio

Em um mundo cada vez mais urbano e dinâmico, San Myshuno se apresenta como o território ideal para o empreendedor que deseja transformar talento artesanal em patrimônio sólido. Com a expansão Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business), as possibilidades de autogestão, aprendizagem cultural e exploração econômica local se multiplicam, tornando essa cidade o epicentro do empreendedorismo de base criativa no universo de The Sims 4.

I. A Velha Fábrica de Sal: o Imóvel-Coração do Negócio

No mapa imobiliário de San Myshuno, destaca-se a rara e cobiçada Velha Fábrica de Sal, um imóvel horizontal (não-apartamento) no valor de §113.378. Em uma cidade dominada por arranha-céus e apartamentos compactos, essa propriedade representa liberdade arquitetônica e estratégica, servindo como:

  • Sede de produção artesanal de kombucha;

  • Espaço de eventos e degustações;

  • Centro de aprendizado e desenvolvimento de receitas culturais;

  • Ponto de venda autogerido no coração das feiras urbanas.

Com uma infraestrutura de 3 quartos e 2 banheiros, o lote é ideal para uma microindústria familiar de bebidas fermentadas, preservando a estética artesanal enquanto se insere num fluxo urbano de alta rotatividade.

II. Kombucha como ativo estratégico

A produção de kombucha, embora simples, é uma verdadeira mina de ouro no contexto das feiras e festivais de San Myshuno. Quando vendida diretamente pelo criador, sem intermediários, ela alcança altíssima margem de lucro, principalmente se for:

  • Produzida em massa com múltiplos tonéis;

  • Aperfeiçoada com ingredientes exóticos adquiridos nos festivais;

  • Comercializada com narrativa de “produto local com alma”.

Além disso, ao residir na cidade, o jogador pode usar as barraquinhas públicas nas praças sem pagar taxa de vendedor, maximizando os lucros e mantendo total controle sobre a identidade da marca. 

III. A cidade das feiras: escola permanente de sabores

San Myshuno não é apenas um ponto de venda — é uma escola viva de sabores e culturas. Os festivais oferecem a chance de experimentar e aprender receitas de diversas partes do mundo. Isso gera duas vantagens-chave:

  1. Aquisição de receitas exclusivas (como curry, pho, ramen, tagine etc.);

  2. Diversificação de produtos a partir de um portfólio multicultural.

Com isso, a kombucha artesanal pode ganhar versões inspiradas em diferentes tradições culinárias, transformando o pequeno negócio em um centro de inovação gastronômica urbana.

IV. Do Ócio ao Negócio: estrutura e crescimento sustentável

Com a expansão Do Ócio ao Negócio, é possível registrar legalmente o negócio, dar-lhe um nome, criar uma marca, aplicar estratégias de marketing, abrir lojas, fazer entregas e até contratar aprendizes. As combinações possíveis incluem:

  • Clube de Assinatura: entregas mensais de sabores variados de kombucha;

  • Eventos Temáticos: festivais de sabor realizados na Velha Fábrica;

  • Cursos e Degustações: monetização da experiência, não só do produto;

  • Turismo Culinário Local: integrar seu negócio à malha cultural da cidade.

Com isso, o investimento inicial se torna uma plataforma escalável, que pode ser replicada em outros mundos ou integrada com negócios paralelos (cafeterias, estufas, mercados de bairro).

V. Conclusão: a virtude da pequena escala em alta rotatividade

Com apenas §59.846 no bolso, o empreendedor que deseja trilhar este caminha está a meio caminho de realizar um sonho estratégico: comprar um imóvel singular em uma das cidades mais vivas e dinâmicas de The Sims 4 e usá-lo para transformar uma prática artesanal simples — a produção de kombucha — em um império cultural, gastronômico e autônomo.

San Myshuno não apenas oferec o palco ideal para isso como também os instrumentos: público diversificado, eventos semanais, incentivos culturais e um cenário legal favorável à criatividade com propósito.

Ao alinhar produção artesanal, apreço pela cultura urbana e estratégia de negócios sustentável, o pequeno empreendedor em The Sims 4 realiza um feito que muitos no mundo real também almejam: viver da própria vocação com liberdade e impacto real no território onde habita.