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sábado, 2 de maio de 2015

Sobre o real sentido da aliança do altar com o trono

Eis uma dúvida de um leitor: 

A liberdade "com Cristo, em Cristo e somente por Cristo" não seria incompatível com separação da Igreja com o Estado e com Capitalismo de Estado, nos moldes da Coréia do Sul e com as políticas de governança na internet? Isso seria mau e prejudicial? Se sim, como combater?
1) O sentido da separação do Estado e da Igreja implica que não devemos divinizar um rei, tal como há no Faraó, no tempo de Moisés, em O Êxodo. Isso significa que o rei não tem os dois corpos: o corpo temporal e o corpo espiritual, concentrados em sua única pessoa. A concentração de poderes levaria fatalmente a que o país seja tomado como se fosse religião e a fugir da conformidade com o Todo que vem de Deus, pois o Rei será tomado como um Deus e a ser tomado como se fosse um ídolo - já que sua autoridade decorrerá do nada, da pura e simples dominação.

2) A prerrogativa do Rei não nasce do nada, pois a liberdade não nasce do nada e não vai para o nada - o Reí é escolhido por Deus, de modo a servir bem seu povo, de modo a que ele se mantenha conforme o Todo que vem de Deus e somente de Deus.

3) A autoridade do rei deriva da autoridade de Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida. Se a autoridade do rei é comissionada à autoridade de Cristo, então tudo o que decorrer do Rei terá fundamento no Senhor. 

4) O rei é servo dos servos, pois ele deve ser o primeiro a servir a Cristo perante o seu povo, pois é o primeiro cidadão, o que deve dar o exemplo, de modo a que o país seja tomado como um lar em Cristo. E ao servir seu povo retamente, ele pode ser tomado como o senhor dentre os senhores de seu povo, posto que foi testado e aprovado, por conta do tempo e da experiência.

5) Se o Rei é patriarca no campo local, temporal, o Bispo é patriarca no campo espiritual e universal. O local deve servir à universalidade - e é crucial que haja uma aliança do altar com o trono, pois a natureza das duas autoridades se funda em Cristo e cada uma tem suas próprias características.

Debate que se seguiu depois:

Róger Badalum: Para validar esta teoria, você teria de explicar porque a Espanha faz parte dos PIGS.

José Octavio Dettmann:

1) O que sei é que a Espanha hoje passa por um sério problema de legitimidade.

2) Franco colocou um usurpador no lugar do verdadeiro Rei. E esse usurpador defende idéias liberais. D. Juan Carlos I era liberal e seu filho, Felipe VI, defendeu uma monarquia laica, fundada numa liberdade para o nada.

3) Só por esse fundamento esse rei não tem autoridade nenhuma, pois o país historicamente foi fundado a partir da escolha de ser conforme o Todo que vem de Deus e parte da cristandade européia. E a base toda da União Européia foi fundada de modo a se dar as costas para Cristo. Por isso que esses países todos, que são monarquias corrompidas, são totalitários, pois estão todos contaminados pelas idéias da Revolução Francesa, na liberdade voltada para o nada.

Róger Badalum: Se o problema da Espanha é que Franco colocou um usurpador liberal no lugar do Rei, isso não invalidaria a tese de Monarquia?

José Octavio Dettmann:

1) A verdadeira teleologia das coisas não pode ser perdida - do contrário, ela edificará liberdade para o nada.

2) A monarquia só pode ser alterada ou abolida se a finalidade para a qual foi instituída não for justa ou se corrompeu de tal forma a que ela não tenha mais finalidade alguma perante a eternidade.

3) O que é bom, conforme o Todo que vem de Deus, não se corrompe. A teleologia da monarquia espanhola é boa e tem uma história de bons serviços prestados ao seu povo.

3) Na verdade, quem deve rodar são os usurpadores, no caso todos aqueles que regem o país desde Juan Carlos I.

4) Quando se tira um usurpador e se coloca um rei de modo a servir a Cristo, a teleologia da monarquia espanhola acaba sendo restaurada, pois o poder moderador será exercido com justiça.

5) Quando se coloca um usurpador, os institutos da monarquia ficam pervertidos, de modo a edificar uma liberdade para o nada, base para a mentalidade revolucionária - e esse instituto pode ser abolido, se as coisas não fizerem sentido. E só uma tradição sistemática de reis corrompidos é que dará causa ao fundamento de que a monarquia espanhola - este espectro edificado por Juan Carlos I - é um atraso e isso acaba sendo estendido a monarquia verdadeira, por confusão.

6) Quando se estuda a história de um povo, no caso o povo espanhol, nós perceberemos que a monarquia foi criada de modo a servir a Cristo, na circunstância européia. Só um povo que não conhece sua origem e não sabe para onde vai é que pode dizer que monarquia é atraso.

7) O que se tem na Espanha é um espectro de monarquia, fora da sua real finalidade.

8) Essa monarquia do usurpador deve ser abolida, o quanto antes - e no lugar, a verdadeira - que foi edificada após a queda de Granada, em 1492 - deve ser restaurada.

9) O que é atraso de vida é viver sob a regência de um usurpador, uma vez que a tirania é monarquia corrompida, fora da sua real teleologia. E é isso que ocorre na Espanha.

Róger Badalum: É. De fato estamos entre tiranos e monarquias corrompidas. O x da questão agora seria como lidar com o capitalismo de estado, nos moldes da Coréia do Sul e com suas políticas de governança na internet.

José Octavio Dettmann:

1) O capitalismo de Estado gera uma coisa: impessoalidade. E a resposta à impessoalidade pede pessoalidade.

2) Só com uma base cristã é que teremos a verdadeira pessoalidade. Um indivíduo bem formado, responsável, que serve a Deus e à confiança de seus semelhantes é que pode fazer frente ao mal. Mas é preciso que o mundo seja povoado de gente assim.

3)  Por isso que a vida real, em comunidade, se faz muito necessária. É esse senso de comunidade que precisa ser restaurado.

4) Hoje em dia, o termo está sendo usado para o nada, para justificar algo desordenado e impessoal, que são as favelas.

5) Tiranias corruptas e monarquias corrompidas estão sempre aliadas a oligarcas, que tomam o país onde se reina o Deus do Dinheiro como se fosse religião. Enfim,  o que há nas duas Coréias dão dois nacionalismos, voltados para o nada. Um edificado no Deus do dinheiro, tal como há no Japão e em Hong Kong, e o outro é o totalitário, onde tudo está no Estado e nada fora do Estado - e um serve à existência do outro. E a solução para isso é cristianismo, pois não há outra saída. A reunificação da Coréia pede Cristianismo.

Róger Badalum: Acho que fechou a questão! Parabéns! Vou refletir muito sobre tudo isto!

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