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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Territorialismo Fiscal e Distributivismo Cristão: por uma Renda Universal de Cidadania sem espoliação

A proposta de uma renda universal de cidadania, hoje associada a utopias tecnocráticas e redistributivismo estatal, tinha, em suas origens, um espírito bem diferente daquele que se vê nas democracias centralizadas contemporâneas. Quando Thomas Paine a propôs, no final do século XVIII, os Estados Unidos ainda não haviam adotado o imposto de renda (este só veio com a Emenda XVI, em 1913). A ideia de Paine se fundava numa lógica pré-centralizadora, territorialista e de cunho profundamente republicano — uma república de cidadãos livres, não de súditos tributados à revelia.

É nesse ponto que regimes de tributação territorialista, como o do Paraguai moderno, revelam uma grande vantagem civilizacional: não espoliam seus cidadãos com base na origem ou na residência, mas apenas quanto ao que é efetivamente gerado dentro do território. Isso torna possível conceber uma república distributivista, tal como imaginada por G.K. Chesterton e Hilaire Belloc, na qual ninguém seria espoliado por ninguém. A justiça tributária estaria fundada em relações comunitárias de lealdade e subsidiariedade, não no confisco arbitrário.

Esse ideal distributivista rejeita tanto o coletivismo estatizante quanto o capitalismo plutocrático. Ele parte do princípio de que as pessoas devem amar e rejeitar as mesmas coisas, sob um mesmo fundamento em Cristo, na conformidade com o Todo que é Deus. Isso se opõe frontalmente à lógica revolucionária moderna, herdeira da Inglaterra de Henrique VIII, onde a dissolução dos mosteiros deu origem a uma classe aristocrática proprietária sem espírito de serviço, abrindo caminho para o capitalismo especulativo e a injustiça institucionalizada.

Nas palavras de Belloc, “o capitalismo é a degradação da propriedade privada”, pois rompe com o princípio cristão de que a propriedade serve à santificação do homem, e não à sua escravização. Já Chesterton dizia que “democracia significa governo por aqueles que têm as ferramentas”, não por uma elite jurídica ou financeira que tudo controla.

A crítica distributivista ao centralismo moderno faz, portanto, muito mais sentido quando reconectada às raízes espirituais do Ocidente cristão. A proposta de uma renda cidadã em um regime fiscal territorialista não é uma esmola estatal, mas sim um reconhecimento prático de que o capital legítimo é aquele que se funda no trabalho, na cultura e na santidade, conforme ensinava Leão XIII na Rerum Novarum.

Numa república onde a tributação se orienta territorialmente e não universalmente, a renda universal poderia ser uma distribuição justa dos frutos do território comum, sem recorrer ao confisco do patrimônio pessoal ou à vigilância fiscal totalitária. Assim, o modelo distributivista se torna exequível, pois os meios e os fins estão em harmonia com a lei natural e divina.

Bibliografia

  • PAINE, Thomas. Agrarian Justice. 1797.

  • CHESTERTON, G.K. The Outline of Sanity. London: Methuen, 1926.

  • BELLOC, Hilaire. The Servile State. London: T. N. Foulis, 1912.

  • LEÃO XIII. Rerum Novarum. 1891.

  • MARITAIN, Jacques. Cristianismo e Democracia. Paulus, 2005.

  • GURGEL, Rodrigo. A Arte de Ler. É Realizações, 2012.

  • KUEHNELT-LEDDIHN, Erik von. Liberty or Equality. Front Royal: Christendom Press, 1993. 

Notas de rodapé

  1. A tributação territorialista é aquela que incide apenas sobre rendimentos produzidos dentro das fronteiras nacionais, ao contrário da tributação mundial, em que o Estado exige tributos sobre rendimentos obtidos em qualquer parte do mundo por seus cidadãos.

  2. No Paraguai, por exemplo, os dividendos recebidos do exterior não são tributados, o que o torna atrativo para investidores e emigrantes estratégicos.

  3. Thomas Paine, em Agrarian Justice, defendia que cada cidadão deveria receber uma compensação pela perda do acesso à terra comum — uma antecipação moral da renda básica, mas sem dependência estatal centralizadora.

  4. Chesterton e Belloc, ao promoverem o distributivismo, não buscavam redistribuir rendas à força, mas restaurar a pequena propriedade como base da liberdade cristã.

  5. A dissolução dos mosteiros por Henrique VIII, a partir de 1536, expropriou a Igreja e redistribuiu as terras a nobres aliados da Coroa, quebrando o vínculo entre fé, cultura e economia local. 

O Brasil Republicano e a perversão dos institutos da Monarquia

Resumo

Este artigo analisa criticamente a estrutura do Estado brasileiro após a Proclamação da República (1889), com foco na apropriação indevida de institutos herdados da Monarquia. Argumenta-se que, ao esvaziar os fundamentos morais e simbólicos dessas instituições, o Brasil Republicano converteu mecanismos de ordem em instrumentos de opressão. A análise é enriquecida com comparações a modelos fiscais e institucionais de países como Paraguai, Estados Unidos, França, Polônia e Hungria, além de fundamentação na tradição católica e constitucional monárquica do século XIX.

1. Introdução

A tradição política brasileira foi brutalmente interrompida com a queda da Monarquia e a instalação do regime republicano, em 1889. A despeito das promessas de modernização, o novo regime herdou a estrutura institucional do Império, mas sem conservar seu princípio espiritual e moral. O resultado foi a perversão dos institutos monárquicos, que passaram a servir a fins contrários àqueles para os quais foram concebidos.

2. A tributação monárquica: prestação de contas de um filho à pátria-mãe

Na Monarquia, o súdito é visto como filho da pátria, e o soberano, como pai do povo. Tal concepção tem raízes bíblicas, patrísticas e escolásticas, sendo retomada por pensadores como Plínio Salgado (1935), que via o rei como síntese viva da autoridade moral da nação.

O fisco, nesse contexto, não é confisco nem opressão, mas um instrumento de solidariedade e manutenção da ordem. Conforme destaca João Camilo de Oliveira Torres:

“A monarquia é uma instituição baseada na tradição e no costume, e nela o povo vê no rei a encarnação da continuidade, da estabilidade e da justiça” (TORRES, 1965, p. 123).

Sob o Império, o cidadão brasileiro devia tributo por vínculo espiritual e moral: contribuía com a manutenção de uma casa comum, um corpo político hierárquico, mas orgânico.

3. A inversão republicana: o confisco travestido de legalidade

Com a Proclamação da República, os vínculos orgânicos foram substituídos por relações puramente contratuais e burocráticas. Contudo, o Estado republicano brasileiro manteve muitos dos mecanismos imperiais — entre eles, a arrecadação — mas sem o princípio moral que a justificava. O resultado foi um sistema opressivo, centralizador e ilegítimo, onde o Estado cobra como pai, mas governa como padrasto.

A Constituição de 1988 consolidou essa perversão ao constitucionalizar um modelo de Estado fiscal onipresente, que tributa não apenas a produção territorial, mas também a renda mundial dos seus cidadãos — algo que apenas regimes imperiais e estados ideologizados praticam.

4. O exemplo do Paraguai: uma república territorial legítima

O Paraguai, em contraste, aplica um modelo tributário mais fiel ao espírito republicano moderno. Lá, tributa-se o que é produzido no território nacional, independentemente da nacionalidade do produtor. O governo não cobra como se fosse pai moral, mas como gestor do solo nacional.

Esse modelo é transparente, previsível e favorável ao investimento estrangeiro, sendo um exemplo de como um país pode exercer soberania fiscal sem se tornar totalitário. A lógica paraguaia é semelhante à dos Estados Unidos, antes da criação do imposto de renda permanente em 1913: o tributo estava ligado à jurisdição territorial, não à moralidade cidadã.

5. A confusão entre chefia de Estado e chefia de governo: o caminho para o totalitarismo

A monarquia distingue claramente chefe de Estado (o rei) e chefe de governo (o ministro). O rei, símbolo da continuidade e da unidade nacional, atua como poder moderador, garantindo o equilíbrio entre os demais poderes. Essa separação protege o povo contra o arbítrio das maiorias, das facções e das paixões partidárias.

No Brasil republicano, tal separação inexiste. O presidente da república é chefe de governo e chefe de Estado. Essa concentração de funções, denunciada por Benjamin Constant já no século XIX¹, conduz à hipertrofia do Executivo e à criação de um Estado-personalidade, no qual o governante se considera encarnação da pátria.

A atual estrutura política brasileira, como observa Francisco Weffort (1989), mistura carisma pessoal com autoridade institucional, produzindo governos que confundem mandato com missão histórica, e lei com vontade pessoal.

6. Comparações Internacionais: onde forma e substância se alinham (ou não)

6.1. Estados Unidos

Os EUA adotam a tributação mundial da renda, como o Brasil, mas o fazem com base em um ethos fundacional quase religioso, derivado do protestantismo cívico. Lá, a cidadania é um compromisso moral com a Constituição, o que justifica (ainda que questionavelmente) a cobrança de impostos a cidadãos no exterior. Porém, esse modelo tem sido alvo de críticas e evasão em massa (cf. GREEN, 2018).

6.2. França

A França pós-revolucionária tentou substituir o rei pelo Estado laico centralizador. O resultado foi a estatização do poder espiritual, com o Leviatã republicano ocupando o lugar do soberano. Assim como no Brasil, a chefia de Estado e governo são confundidas na figura do presidente, que pode nomear o premier sem consulta direta ao povo.

6.3. Polônia e Hungria

Estes países, após libertarem-se do comunismo, restauraram a dignidade simbólica do Estado sem reincidirem no totalitarismo. Na Hungria, por exemplo, o primeiro-ministro Viktor Orbán afirma que o Estado deve se basear na "tradição cristã e patriótica da nação", buscando reconstituir uma autoridade moral legítima, mesmo sob forma republicana (ORBÁN, 2018). Já a Polônia reconhece o papel da Igreja como mediadora moral, o que impede a dissolução total da ordem simbólica.

7. Conclusão

O Brasil Republicano é, essencialmente, uma farsa institucional. Apropriou-se dos institutos da Monarquia, como o fisco, a autoridade simbólica e a centralidade do Estado, mas os utiliza para fins espúrios e ideológicos, desprovidos de moralidade pública.

O resultado é um Estado que cobra como se fosse pai, mas governa como tirano; que exige sacrifício, mas não oferece proteção; que oprime em nome da liberdade e corrompe em nome da legalidade.

A esperança de restauração nacional passa, necessariamente, por recuperar os princípios morais que fundamentavam a Monarquia, seja pela revalorização dos símbolos, seja pela separação entre Estado e governo, seja pela tributação justa e territorial. É preciso reconciliar forma e substância, autoridade e serviço, governo e bem comum.

Bibliografia

  • GREEN, Andrew. Taxing the American Emigrant. New York: Global Policy Institute, 2018.

  • ORBÁN, Viktor. State of the Nation Address 2018. Budapeste: Governo da Hungria, 2018.

  • SALGADO, Plínio. O Rei dos Reis. São Paulo: Editora Voz do Oeste, 1935.

  • TORRES, João Camilo de Oliveira. Interpretação da Realidade Brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.

  • WEFFORT, Francisco. Formas do Estado autoritário no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

Notas de rodapé

  1. Benjamin Constant, em suas reflexões sobre o poder monárquico moderador, argumentava que a chefia de Estado deveria ser neutra, isenta e permanente, de modo a garantir o equilíbrio entre os poderes (CONSTANT, Benjamin. Princípios de Política, 1815).

quarta-feira, 16 de julho de 2025

San Myshuno e a geografia sentimental dos pequenos negócios: uma simulação cristã da nacionidade em rede

Resumo

Este artigo propõe uma leitura simbólica e estratégica do universo de The Sims 4, em particular da cidade de San Myshuno, à luz de conceitos contemporâneos como a "conectografia" e a "riqueza das redes", mas também de noções tradicionais como a "geografia sentimental" de Plínio Salgado e o ideal de serviço a Cristo em terras distantes estabelecido na simbologia de Ourique. A análise sugere que os jogos de simulação, quando atravessados por experiências existenciais e intelectuais do jogador, podem converter-se em formas sofisticadas de arte eletrônica textual, inspirando novas formas de criação cultural e pedagógica.

1. Introdução

O universo de The Sims 4, especialmente quando enriquecido com expansões como Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business) e Escapada da Neve, permite ao jogador uma experiência de simulação da vida que vai muito além do entretenimento. Neste contexto, San Myshuno surge como um ambiente multifacetado de trocas, feiras e convivência multicultural que remete, paradoxalmente, tanto à conectividade globalizada quanto à construção local de vínculos afetivos e espirituais

2. O mercado como encontro entre redes e sentimentos

San Myshuno é a metrópole por excelência dentro do mundo de The Sims 4, abrigando festivais, feiras, mercados de pulgas e eventos culturais. Ali, a instalação de barraquinhas de venda de comidas de outras culturas (inclusive as da expansão Escapada da Neve) permite ao jogador vivenciar o que Yochai Benkler (2006) chamou de “riqueza das redes”¹ — um modelo econômico baseado na colaboração, no compartilhamento de conhecimento e na multiplicação de vínculos produtivos entre indivíduos.

Essa lógica das conexões, também chamada por Parag Khanna de “conectografia”², é aqui reencontrada numa dimensão afetiva que ecoa a Geografia Sentimental de Plínio Salgado³, onde o território não se define apenas por linhas no mapa, mas pelos vínculos espirituais e de pertencimento que os indivíduos constroem com os lugares.

3. Nacionidade Cristã e O Ideal de Ourique

A construção de pequenos negócios por meio dos vínculos com os habitantes da Avelândia do Norte — região inserida por outra expansão do jogo — revela uma nova forma de "nacionidade", fundada não por uma ideia abstrata de pátria, mas pelo serviço concreto a Cristo nas relações humanas cotidianas. Tal vocação está em sintonia com o ideal cristão que emerge da simbologia de Ourique, onde o chamado à missão transcende fronteiras e toma o mundo como campo de serviço espiritual⁴.

Neste contexto, o restaurante que o jogador adquire pode ser sede de um pequeno negócio familiar, onde a divisão de tarefas é pensada a partir das vocações pessoais de cada personagem. Ao evitar a terceirização do trabalho e engajar os próprios membros da casa — por exemplo, o protagonista na cozinha e Summer como anfitriã — a simulação realiza, ainda que de modo virtual, uma ética do trabalho e do cuidado que se opõe à lógica fria e impessoal da gestão capitalista moderna.

4. Arte Eletrônica Textual: simulação como criação cultural

Ao combinar suas experiências em The Sims 4 com um repertório intelectual sólido e coerente, o jogador transforma o jogo em um meio de criação cultural autêntica. O que se produz não é um gráfico nem uma imagem, mas um texto simbólico, cuja base é a vida simulada, mas cujos efeitos reverberam na consciência e no imaginário real.

Esta forma de expressão pode ser considerada uma nova vertente da arte eletrônica textual, onde a simulação não é fim, mas meio para a elaboração de pensamentos, sistemas simbólicos e propostas de mundo. Assim, a experiência no jogo pode inspirar a criação de outros simuladores de vida — não mais apenas jogos, mas verdadeiros laboratórios de civilização, política, religiosidade e economia.

5. Conclusão

A cidade fictícia de San Myshuno, quando reconfigurada à luz de conceitos filosóficos, econômicos e espirituais, revela-se mais que um cenário de jogo: torna-se metáfora de um mundo onde redes, afeto, missão e negócios coexistem. Por meio da simulação, o jogador não apenas sonha com uma nova forma de vida, mas a ensaia, constrói e comunica — abrindo caminhos para uma pedagogia do espírito através do entretenimento digital.

Referências

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. New Haven: Yale University Press, 2006.

  2. KHANNA, Parag. Connectography: Mapping the Future of Global Civilization. New York: Random House, 2016.

  3. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental. São Paulo: Editora das Américas, 1956.

  4. OLIVEIRA, José Pedro. Ourique: Milagre e Fundamento. Lisboa: Paulus, 2003.

Notas de Rodapé

¹ Benkler entende que as redes descentralizadas de produção e colaboração, como ocorre nas economias digitais, substituem o modelo tradicional industrial. San Myshuno espelha isso por permitir que o próprio jogador produza, venda e aprenda receitas sem uma estrutura hierárquica externa.

² Parag Khanna introduz o conceito de “conectografia” para enfatizar como as conexões (vias, cabos, redes, fluxos) redefinem o poder no mundo moderno, superando as fronteiras estatais.

³ A geografia sentimental salgadiana vê o território nacional como expressão dos afetos, da cultura e da religião do povo. Em The Sims, esta dimensão é simulada por meio das interações familiares, festivais e feiras locais.

⁴ Segundo a tradição de Ourique, Dom Afonso Henriques consagrou o novo reino a Cristo após vitória milagrosa. Este ato funda não apenas uma monarquia, mas uma missão: servir a Cristo nas nações — missão que o jogador simula ao construir laços e negócios em terras “estrangeiras” como San Myshuno. 

A geografia sentimental da missão: San Myshuno, a riqueza das conexões, e a vocação de servir a Cristo em terras distantes, ainda que sem sair de casa

Resumo:

A  cidade fictícia de San Myshuno, no jogo The Sims 4, revela-se um espaço simbólico de simulação social, econômica e espiritual, onde o jogador, ao gerir negócios locais, feiras culturais e relações interpessoais, pode aplicar conceitos de conectividade global, economia colaborativa e identidade afetiva. Este artigo analisa a simulação da geografia afetiva e das redes econômicas, articulando autores como Plínio Salgado, Yochai Benkler e Parag Khanna, e vinculando essas ideias ao impulso espiritual de servir a Cristo em terras distantes, como proposto no Milagre de Ourique.

1. Introdução

A experiência de jogo em The Sims 4, especialmente com as expansões Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business) e Vida em San Myshuno, permite mais do que entretenimento: constitui um espaço simbólico de gestão das relações, dos recursos e das vocações. A simulação possibilita, entre outras coisas, articular uma microeconomia baseada em vínculos afetivos, numa geografia marcada pela diversidade e pela conectividade — ou seja, uma síntese entre a Geografia Sentimental (Salgado, 1935) e a Conectografia (Khanna, 2016).

2. A riqueza das conexões em San Myshuno

Yochai Benkler, em The Wealth of Networks, propõe uma lógica econômica que emerge da colaboração distribuída e das redes sociais digitais. Em San Myshuno, cidade multicultural e central no jogo, o jogador pode abrir feiras, instalar barraquinhas e aprender receitas de várias partes do mundo — inclusive pratos típicos de Mt. Komorebi, do Festival da Juventude, ou alimentos obtidos através de favores prestados em Avelândia do Norte. A simulação da troca de serviços, bens e cultura remete diretamente ao modelo de rede de Benkler¹.

Além disso, a expansão Do Ócio ao Negócio permite que esses serviços componham pequenos negócios — com a vantagem de serem familiares, ou seja, onde a economia não está separada da cultura ou da fé.

3. A geografia do afeto como base da economia espiritual

Plínio Salgado, em sua Geografia Sentimental², afirma que o amor à terra, às pessoas e às tradições é o que funda a verdadeira pátria. No jogo, isso se concretiza ao transformar uma barraca de kombucha, um restaurante ou uma feira local em espaço de vínculo comunitário. O restaurante familiar não é uma empresa anônima, mas um lugar onde o próprio jogador cozinha, sua esposa acolhe os visitantes e os garçons da antiga gestão continuam no emprego — honrando a tradição, a lealdade e o nome familiar.

Esse tipo de empresa remete à vocação espiritual cristã: "servir a Cristo em terras distantes", como ensinado desde Ourique. Em outras palavras, a expansão territorial do negócio e da cultura não visa o lucro desalmado, mas a concretização do mandamento do amor ao próximo, por meio do serviço e do bom uso dos talentos³.

4. San Myshuno como lugar da nacionidade

Parag Khanna, ao propor a ideia de conectografia⁴, nos mostra como a geografia hoje se organiza menos por fronteiras fixas e mais por redes de conexões: rotas comerciais, digitais, culturais. No jogo, San Myshuno é esse ponto de encontro: feiras culturais de diversas partes do mundo, redes de troca de saberes culinários, e a presença ativa do jogador como criador e mantenedor de um ecossistema.

Esse espaço simulado espelha a ideia de uma “nacionidade nascida do amor” — uma identidade que não se define pela exclusão ou nacionalismo, mas pela decisão espiritual de servir a um bem maior, em consonância com a verdade e a liberdade cristãs.

5. Conclusão

The Sims 4, ao permitir a simulação de negócios baseados em relações afetivas, redes de trocas culturais e trabalho vocacional, oferece uma poderosa ferramenta pedagógica. Nele, convergem a conectografia global, a geografia sentimental e o chamado espiritual de Ourique. O resultado é um modelo econômico alternativo, fundado não apenas em eficiência, mas em amor, verdade e serviço.

Referências Bibliográficas

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and Freedom. New Haven: Yale University Press, 2006.

  2. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.

  3. PAPA LEÃO XIII. Rerum Novarum. Encíclica sobre a condição dos operários. 1891.

  4. KHANNA, Parag. Connectography: Mapping the Future of Global Civilization. New York: Random House, 2016.

  5. MAXIS. The Sims 4 [Jogo eletrônico]. Redwood City: Electronic Arts, 2014 (e expansões até 2025).

Notas de Rodapé

  1. BENKLER, Yochai. The Wealth of Networks, p. 3-4.

  2. SALGADO, Plínio. Geografia Sentimental, p. 22.

  3. Cf. Rerum Novarum, §19.

  4. KHANNA, Parag. Connectography, p. 19-21.

San Myshuno como capital do empreendedorismo artesanal: kombucha, cultura e o poder do pequeno negócio

Em um mundo cada vez mais urbano e dinâmico, San Myshuno se apresenta como o território ideal para o empreendedor que deseja transformar talento artesanal em patrimônio sólido. Com a expansão Do Ócio ao Negócio (Hobbies & Business), as possibilidades de autogestão, aprendizagem cultural e exploração econômica local se multiplicam, tornando essa cidade o epicentro do empreendedorismo de base criativa no universo de The Sims 4.

I. A Velha Fábrica de Sal: o Imóvel-Coração do Negócio

No mapa imobiliário de San Myshuno, destaca-se a rara e cobiçada Velha Fábrica de Sal, um imóvel horizontal (não-apartamento) no valor de §113.378. Em uma cidade dominada por arranha-céus e apartamentos compactos, essa propriedade representa liberdade arquitetônica e estratégica, servindo como:

  • Sede de produção artesanal de kombucha;

  • Espaço de eventos e degustações;

  • Centro de aprendizado e desenvolvimento de receitas culturais;

  • Ponto de venda autogerido no coração das feiras urbanas.

Com uma infraestrutura de 3 quartos e 2 banheiros, o lote é ideal para uma microindústria familiar de bebidas fermentadas, preservando a estética artesanal enquanto se insere num fluxo urbano de alta rotatividade.

II. Kombucha como ativo estratégico

A produção de kombucha, embora simples, é uma verdadeira mina de ouro no contexto das feiras e festivais de San Myshuno. Quando vendida diretamente pelo criador, sem intermediários, ela alcança altíssima margem de lucro, principalmente se for:

  • Produzida em massa com múltiplos tonéis;

  • Aperfeiçoada com ingredientes exóticos adquiridos nos festivais;

  • Comercializada com narrativa de “produto local com alma”.

Além disso, ao residir na cidade, o jogador pode usar as barraquinhas públicas nas praças sem pagar taxa de vendedor, maximizando os lucros e mantendo total controle sobre a identidade da marca. 

III. A cidade das feiras: escola permanente de sabores

San Myshuno não é apenas um ponto de venda — é uma escola viva de sabores e culturas. Os festivais oferecem a chance de experimentar e aprender receitas de diversas partes do mundo. Isso gera duas vantagens-chave:

  1. Aquisição de receitas exclusivas (como curry, pho, ramen, tagine etc.);

  2. Diversificação de produtos a partir de um portfólio multicultural.

Com isso, a kombucha artesanal pode ganhar versões inspiradas em diferentes tradições culinárias, transformando o pequeno negócio em um centro de inovação gastronômica urbana.

IV. Do Ócio ao Negócio: estrutura e crescimento sustentável

Com a expansão Do Ócio ao Negócio, é possível registrar legalmente o negócio, dar-lhe um nome, criar uma marca, aplicar estratégias de marketing, abrir lojas, fazer entregas e até contratar aprendizes. As combinações possíveis incluem:

  • Clube de Assinatura: entregas mensais de sabores variados de kombucha;

  • Eventos Temáticos: festivais de sabor realizados na Velha Fábrica;

  • Cursos e Degustações: monetização da experiência, não só do produto;

  • Turismo Culinário Local: integrar seu negócio à malha cultural da cidade.

Com isso, o investimento inicial se torna uma plataforma escalável, que pode ser replicada em outros mundos ou integrada com negócios paralelos (cafeterias, estufas, mercados de bairro).

V. Conclusão: a virtude da pequena escala em alta rotatividade

Com apenas §59.846 no bolso, o empreendedor que deseja trilhar este caminha está a meio caminho de realizar um sonho estratégico: comprar um imóvel singular em uma das cidades mais vivas e dinâmicas de The Sims 4 e usá-lo para transformar uma prática artesanal simples — a produção de kombucha — em um império cultural, gastronômico e autônomo.

San Myshuno não apenas oferec o palco ideal para isso como também os instrumentos: público diversificado, eventos semanais, incentivos culturais e um cenário legal favorável à criatividade com propósito.

Ao alinhar produção artesanal, apreço pela cultura urbana e estratégia de negócios sustentável, o pequeno empreendedor em The Sims 4 realiza um feito que muitos no mundo real também almejam: viver da própria vocação com liberdade e impacto real no território onde habita.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Estratégia e Antecipação: por que usei o cartão da minha mãe no Prime Day

Na superfície, pode parecer que eu ultrapassei um limite ao usar o cartão da minha mãe para efetuar a compra de livros — especialmente porque essa compra foi feita fora do “dia autorizado”, o dia 21. Mas há uma lógica mais profunda por trás da minha decisão, uma lógica que se revela quando se compreende a dinâmica dos programas de pontos e a inteligência estratégica necessária para maximizá-los.

Durante o Prime Day, cada real gasto na Amazon brasileira estava rendendo quatro pontos. Em outras palavras, ao gastar cerca de R$ 500,00, eu garantiria mais de dois mil pontos. São pontos que, futuramente, poderão ser turbinados a seis vezes ou mais, especialmente durante campanhas promocionais como a Black Friday de 2025.

Não se trata apenas de uma compra: trata-se de investimento, de visão de longo prazo. Não conseguir efetuar a transação com meu próprio cartão naquele momento foi um obstáculo técnico — mas não um impeditivo estratégico. Recorrer ao cartão da minha mãe foi um meio prudente para garantir o bônus do dia. Era o Prime Day. Esperar até o dia 21 seria perder uma oportunidade rara.

Minha mãe, no calor do momento, pode ter se chateado. E é compreensível: o gesto parecia uma quebra de rotina, talvez até uma invasão. Mas, quando os resultados se apresentarem com clareza — quando aqueles pontos forem multiplicados, convertidos em cashback, em livros gratuitos, em liberdade financeira — ela verá que não se tratou de desrespeito, mas de uma aposta estratégica feita com racionalidade.

Na Black Friday de 2025, esses mais de dois mil pontos acumulados se tornarão a base de uma operação muito maior. Com a função “turbo” de programas como Livelo, será possível multiplicar esses pontos por seis e ainda parcelar o custo do turbinamento em 10 vezes sem juros.

Ou seja: o que parecia uma compra impulsiva feita no cartão alheio, na verdade foi uma jogada calculada — o uso de uma janela de oportunidade para maximizar os benefícios e garantir um futuro de compras mais vantajosas, mais inteligentes, e mais sustentáveis.

Se há uma lição aqui, ela é esta: o tempo certo é mais importante do que a data fixa. E quando a oportunidade aparece, é preciso agir — com responsabilidade, sim, mas também com coragem e visão de futuro.

Do Prime Day à Tríplice Fronteira: como a cultura digital e a elisão fiscal financiam a soberania do indivíduo

Resumo

Este artigo apresenta uma estratégia jurídica e logística por meio da qual um cidadão brasileiro transforma compras online realizadas em datas promocionais em meios de circulação interestadual e internacional, utilizando a Zona Franca de Manaus como espaço de elisão fiscal e Tabatinga como base de operações. Através de ações coordenadas envolvendo cashback, milhas aéreas, direito autoral, domínio público e backup de mídias físicas, descreve-se um itinerário legal que permite o exercício de uma liberdade fundada na lei, na técnica e na cultura digital.

1. Introdução

A crise do Estado moderno como ente centralizador impõe ao indivíduo criativo o desafio de preservar sua soberania por meios legítimos. Enquanto a maioria encara o consumo digital de forma passiva, existem caminhos que, fundados no conhecimento das leis e nas oportunidades do mercado, transformam atos cotidianos em formas superiores de ação.

Este trabalho relata uma dessas ações, onde o consumo inteligente de jogos eletrônicos, aliado a programas de cashback, milhas e zonas francas, configura uma rede de elisão fiscal que respeita a legalidade, promove cultura e financia mobilidade pessoal.

2. A compra como semente da liberdade

A aquisição do jogo SIM Isle: Missions in the Rainforest, da Maxis, por apenas US$ 4,00 em uma loja online¹, não é aqui um mero ato de nostalgia. Ao integrar-se a plataformas como a Coupert, que oferece cashback, essa compra já produz um pequeno reembolso que será usado em etapas subsequentes da operação logística.

Além do valor da mídia, acumula-se pontuação em programas como Livelo ou TudoAzul, sobretudo quando as compras são feitas durante eventos promocionais como Prime Day ou Black Friday. A acumulação desses pontos possibilita resgates em passagens aéreas de ida e volta entre o Rio de Janeiro e Tabatinga — cortesia indireta das promoções e da inteligência financeira.

3. A Zona Franca de Manaus como aliada do cidadão

Tabatinga (AM), localizada na tríplice fronteira Brasil–Colômbia–Peru, integra a Zona Franca de Manaus (ZFM), beneficiando-se de um regime aduaneiro especial. Ao redespachar o item adquirido inicialmente para um endereço nos Estados Unidos (Delaware, estado livre de sales tax), e depois reenviá-lo a Tabatinga, evita-se a incidência de tributos como ICMS e ISSQN, uma vez que a legislação da ZFM garante incentivos fiscais às remessas para a região².

Além disso, ao permanecer algum tempo em Tabatinga durante o inverno, o indivíduo não apenas usa o item — legitimando-o como bem de uso pessoal — como também o integra a seu acervo cultural, formando um elo material entre a cultura digital e a geopolítica nacional.

4. Backup e preservação: o cuidado com o bem cultural

Respeitando os princípios do direito autoral, o cidadão realiza um backup legítimo da mídia física adquirida, usando softwares como CloneCD. A cópia é feita com finalidade de conservação, conforme previsto em tratados internacionais³, enquanto o original é guardado em condições seguras.

Este gesto não é pirataria, mas zelo cultural, sobretudo porque envolve jogos antigos, muitas vezes considerados abandonware, e cujo valor histórico pode ser resgatado por colecionadores ou instituições.

5. Retorno ao Sudeste e o uso lícito do bem

Após o uso temporário em Tabatinga, o bem retorna ao Rio de Janeiro junto com seu proprietário, sem se configurar como importação irregular. Seu status de bem de uso pessoal adquirido no exterior e já utilizado o exime de novos tributos, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal⁴.

Não há comércio, não há evasão. Há apenas a circulação de um indivíduo com seus bens, dentro da letra e do espírito da lei.

6. O tempo como aliado: domínio público e memória digital

Conhecendo a legislação americana sobre obras criadas sob encomenda (work made for hire), sabe-se que o jogo publicado em 1995 entrará em domínio público em 2091, respeitado o prazo de 95 anos contados da data de sua publicação, conforme o §302(c) do Copyright Act⁵. Esse prazo é típico para obras feitas por empresas, nas quais o direito autoral não é ligado a uma pessoa física, mas à entidade contratante.

Até lá, o cidadão conserva legalmente a mídia, realiza backups pessoais e aguarda o momento em que o bem cultural passará a ser, de fato e de direito, um bem comum da humanidade. Este gesto se transforma em gesto de memória, no qual a liberdade de circulação cultural coincide com o direito à preservação.

7. Considerações finais

Este artigo não é um manual de fraude, mas um estudo de caso da autonomia do cidadão moderno. Num cenário de burocracia opressiva, políticas fiscais contraditórias e alienação tecnológica, é possível montar uma estratégia em que:

  • a compra online financia o transporte,

  • o transporte garante liberdade fiscal,

  • a liberdade fiscal possibilita cultura,

  • e a cultura retorna à sociedade como patrimônio.

A lógica é a mesma dos grandes navegadores e comerciantes do passado: usar o conhecimento das rotas, dos tempos e das leis para alcançar a liberdade — não como capricho individual, mas como missão civilizatória.

Notas

  1. Ver imagem do produto “SIM Isle: Missions in the Rainforest” disponível por US$ 4,00, conforme captura de tela.

  2. Ver Decreto-Lei nº 288/1967, que institui a Zona Franca de Manaus e regula seu regime fiscal.

  3. Conforme Art. 46, II, da Lei 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais), é lícito reproduzir uma obra, sem fins comerciais, para uso exclusivo do copista.

  4. STF, RE 723.651, julgado em 2016, que trata do não pagamento de imposto de importação sobre bens de uso pessoal.

  5. Ver U.S. Copyright Act, seção sobre public domain para obras publicadas antes de 1978.

Referências

BRASIL. Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a Zona Franca de Manaus. Diário Oficial da União, Brasília, 1 mar. 1967.

BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. Diário Oficial da União, Brasília, 20 fev. 1998.

ESTADOS UNIDOS. Copyright Act of 1976. Public Law 94-553. Library of Congress, 1976.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE 723.651. Rel. Min. Dias Toffoli. Julgado em 21 de setembro de 2016.