1.1) Na economia de ordem pública, fundada no fato do príncipe, ocorre o fenômeno da mão da invisível, já que Deus age em todas as pessoas o tempo todo de modo que as coisas funcionem muito bem.
1.2) Se o príncipe age como um vassalo de Cristo e chama todo o povo sujeito à sua proteção e autoridade a colaborar com ele de modo a promover e desenvolver o bem comum e assim fazer a cidade ser tomada como um lar em Cristo, então esta será uma boa maneira, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus, de preparar a todos para a pátria definitiva, que se dá no Céu, pois todos serão santos. Assim a riqueza não estará nas mãos do príncipe, mas de todo o povo - e isso é um exemplo de distributivismo.
2.1) A maior prova disso é que podemos ver um servidor autônomo bem-sucedido estimular, pelo seu bom exemplo, a todos a seguirem seu caminho, seja buscando autonomia de modo a completarem o seu serviço naquilo que é capaz de fazer ou a trabalharem junto com ele, de modo que possam aprender a serem bons servidores como ele. E com isso a atividade autônoma torna-se uma atividade econômica organizada, a tal ponto que o alvará que autoriza a atividade economicamente organizada se torna acessório que segue a sorte do principal: a autonomia, geralmente realizada dentro das residências onde moram os autônomos, com as suas respectivas famílias.
2.2.1) A reputação conta muito, em termos de hierarquia fundada em santa servidão. Se uma pessoa tem reputação de bem servir a seus semelhantes, então mais liberdade a ela pode ser concedida a ponto de ter o direito de organizar mais filiais da sua atividade dentro da cidade ou abrir empresas voltadas para atividades de outra natureza que complementem a atividade dele.
2.2.2) Se esse bom servidor é um produtor de roupas e é casado com uma mulher da classe dos fazendeiros, por exemplo, então a família terá o controle dos bens complementares de modo a converter matérias-primas (lã, couro) em bens de consumo, em bens de primeira ordem (roupas para todas as classes da cidade, do mais pobre para o mais nobre), bens esses destinados a atender necessidades humanas de vestuário, algo que é bem básico. E ao ter os meios de ação necessários para atender as necessidades das pessoas, então essa família poderá ser chamada a influir no destino da cidade, a ponto de discutir os problemas locais e ocupar um cargo por força de bem servir a seus semelhantes. E aí essa família passa a ser servidora pública, na classe dos agentes políticos.
2.2.3) E enquanto bem servirem a seus semelhantes, eles terão direito de possuírem mais bens de modo a servirem a ainda mais gente, a ponto de servirem a não só a sua cidade, mas também a outras cidades da região de modo que possam tomar por seu soberano também o príncipe da cidade onde o povo colabora com ele na promoção do bem comum. Assim, o principado vira reino.
3.1) Afinal, quem é recompensado com mais autonomia tem mais é que ser cobrado por força dessa mesma autonomia, dado que organizar a economia da cidade de modo que ela seja tomada como um lar em Cristo não pode se fundar no amor de si até o desprezo de Deus.
3.2) Se isso acontecesse, jamais haveria nação muito menos solidariedade, por força daquilo que há de mais sólido: a nobreza, um serviço fundado na verdade, na conformidade com o Todo que vem de Deus.
3.3) Se o egoísmo fosse virtude, como querem os que buscam liberdade fora da verdade em Cristo, o que haveria seria dominação, uma danação - uma espécie de União Soviética que tende a morrer sozinha quer por força do egoísmo de seus governantes, quer pelo egoísmo de seus cidadãos, que não colaborarão em nada para o bem comum, a não ser pondo filho no mundo para que o Estado tomado como se fosse religião possa criar e doutrinar, o que é um desastre.
3.4) Enfim, seria a consagração da apatria - se o povo não for tomado como parte da família do príncipe, ele será tomado como um escravo. E para o povo ser livre, ele precisa de um príncipe que imite o exemplo de D. Afonso Henriques, que imitou o exemplo de Cristo a ponto de ser chamado para ser seu vassalo na missão de servir a Ele em terras distantes, tal como se deu em Ourique.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 18 de abril de 2018.