A criação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e sua posterior privatização marcam momentos cruciais na história econômica e industrial do Brasil, refletindo mudanças significativas no panorama político, social e econômico do país ao longo do século XX e início do século XXI.
A Origem e os Primeiros Passos
No início do século XX, a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) foi inaugurada, conectando as montanhas de Minas Gerais ao litoral do Espírito Santo. Em 1908, a cidade mineira de Itabira se tornou um ponto estratégico devido às extensas jazidas de minério de ferro na região. Essa riqueza mineral atraiu o interesse do grupo inglês Brazilian Hematite Syndicate (BHS), que adquiriu o monopólio das jazidas locais e criou, em 1911, a Itabira Iron Ore Company (IOC). A EFVM passou a ser controlada pela IOC, cuja meta era extrair, transportar e exportar o minério de ferro através do Porto de Vitória.
Em 1919, o controle da IOC foi vendido ao empreendedor americano Percival Farquhar. Entretanto, sua intenção de exportar minério bruto enfrentou forte oposição do então governador de Minas Gerais, Arthur Bernardes, que exigia a criação de uma indústria siderúrgica no estado. Com a ascensão de Bernardes à presidência do Brasil em 1922, a exportação de minério bruto foi inviabilizada, levando à paralisação das atividades da IOC.
Nacionalização e Criação da CVRD
Com a Revolução de 1930 e a chegada de Getúlio Vargas ao poder, surgiu uma política voltada à nacionalização dos recursos minerais. Durante o Estado Novo, a IOC perdeu suas concessões, e, em 1942, através dos Acordos de Washington, o governo brasileiro adquiriu as jazidas de Itabira com o apoio dos governos britânico e americano, interessados nos minérios para a indústria bélica durante a Segunda Guerra Mundial.
Em junho de 1942, a Companhia Vale do Rio Doce foi criada como uma sociedade anônima de economia mista, incorporando a EFVM e as minas de Itabira. A CVRD iniciou suas atividades com uma produção anual de 40 mil toneladas de minério de ferro, sendo responsável por explorar, comercializar e exportar essa riqueza mineral.
Crescimento e Internacionalização
A década de 1950 marcou o início da expansão internacional da CVRD, que passou a atender siderúrgicas na Europa Ocidental, no Japão e no Leste Europeu. A chegada de Eliezer Batista à presidência da companhia em 1961 trouxe uma abordagem inovadora, como o conceito de “distância econômica”, que otimizou o transporte de minério para o mercado japonês, combinando navios de grande capacidade que transportavam petróleo no retorno.
A inauguração do Porto de Tubarão em 1966 consolidou a presença da CVRD no mercado internacional, firmando contratos de longo prazo com siderúrgicas japonesas e alemãs. Na década de 1970, a descoberta das vastas reservas de minério na Serra dos Carajás, no Pará, abriu um novo capítulo para a empresa, culminando na construção da Estrada de Ferro Carajás e do terminal portuário de Ponta da Madeira, no Maranhão, em 1985.
Privatização e Nova Era
Na década de 1990, a CVRD liderava o mercado global de minério de ferro. Em 1997, o governo brasileiro privatizou a companhia, vendendo 41,7% de suas ações por 3,3 bilhões de reais em um leilão polêmico e judicialmente contestado. Sob controle privado, a Vale expandiu sua atuação, diversificando para setores como cobre e metais para transição energética.
Na década de 2000, a Vale realizou aquisições estratégicas, como a compra da Inco em 2006, fortalecendo sua posição em metais básicos e consolidando-se como uma das maiores mineradoras do mundo. Em 2007, a empresa mudou oficialmente seu nome para Vale S.A., refletindo sua presença global.
Hoje, a Vale é um símbolo de como o Brasil transformou seus recursos naturais em uma indústria de relevância internacional, atravessando períodos de nacionalização, estatal e privatização para se consolidar como uma das maiores empresas de mineração do mundo.
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