2) A primeira delas é aquela troca mencionada por Mises no livro "Ação Humana". Ela se dá no mundo exterior, quando se troca a isca pelo peixe.
3) Interagir com o ambiente, com o mundo externo, é um tipo de heteronomia. É na verdade uma troca reflexiva - a pesca, do ponto de vista da troca, é um tipo de espelho, onde a oferta da isca revela a demanda pelo peixe e o peixe aceita o alimento, servindo-se de cordeiro de sacrifício, de modo a que eu possa atender às minhas necessidades fisiológicas - de certo modo, um tipo de publicidade. Enfim, o peixe morre para que eu possa viver. É assim que se deu com Cristo, que se tornou alimentou espiritual, através da eucaristia. Ao salvar quem creu nele, ele foi um pescador de almas. E quem creu nele a vida toda acabou encontrando a vida eterna, à direita do pai, como de fato se deu com os santos, que são o modelo de vida reta que devemos seguir.
5) A mesma forma ocorre com o tecelão, vivendo da sua profissão: ele tece tecendo a si próprio, seu destino.
6) Quando se trabalha em troca de alimento, você forja o seu destino. Pois o trabalho enobrece o homem.
7) O outro tipo de troca autística ocorre da forma como mencionei num artigo anterior. Quando se busca o conhecimento disperso pelo mundo afora, ele leva ao planejamento das coisas. As memórias e os dados externos da realidade são comparados e convertidos em signos, que são trocados, através da palavra, causa da negociação e da edificação das coisas. Essa troca ocorre no mundo interior, dentro de mim, onde minha consciência explora todas as possibilidades até chegar a verdade, que nos leva ao caminho de Deus.
8) Toda troca autística que se dá dentro de mim leva à execução de uma vontade.
9) Essa vontade responde a estímulos fisiológicos, de modo a se alimentar e sobreviver; a estímulos externos, de modo a se evitar um perigo; ou à curiosidade, que decorre de se investigar as coisas que decorrem da criação do pai. Existe ainda a necessidade de se falar as coisas, de modo a que o bem seja edificado ao nosso redor. E isso é caridade, quando se serve aos outros, e prudência, quando se serve a si próprio, de modo a dizer sim a Deus.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 28 de abril de 2023 (data da postagem original).