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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Notas sobre a relação entre classe ociosa, noção de poder acima da sociedade, crematística, ética protestante, revolução industriosa , república dos consumidores e totalitarismo

Dettmann: De que forma uma classe ociosa de maus governantes, cuja visão de enxergar o poder acima acima da sociedade, inspirada em Maquiavel, começou a promover uma ordem social econômica fundada na crematística, a tal ponto que os bens da vida ficaram concentrados em suas mãos? 

Chat GPT: 

A formação de uma classe ociosa de maus governantes, que vê o poder acima da sociedade e segue os princípios maquiavélicos, pode ser compreendida à luz de sua busca por manter o poder a qualquer custo. Maquiavel, em sua obra O Príncipe, defende a ideia de que a política deve ser independente da moral, o que abre espaço para a instrumentalização da sociedade e da economia em prol do poder governamental. Para esses governantes, a manutenção do poder passa a ser a prioridade, não importando os meios utilizados, desde que o fim (permanecer no controle) seja garantido.

Essa visão maquiavélica pode resultar em um processo de transformação da ordem social e econômica, onde a "crematística" – ou seja, o acúmulo ilimitado de riqueza como fim em si mesmo, criticado por Aristóteles – começa a dominar. O governo, ao ver o poder como superior à sociedade, utiliza a economia como ferramenta para fortalecer sua posição, promovendo práticas econômicas que privilegiam o enriquecimento de poucos (geralmente membros da própria classe governante e seus aliados), enquanto a maioria da população é marginalizada e despojada dos bens essenciais à vida.

A concentração de bens essenciais, ou "bens da vida" (como terra, recursos naturais, e eventualmente direitos básicos como saúde e educação), nas mãos dessa classe governante ocorre porque esses governantes, ao manipular o sistema econômico, tendem a favorecer monopólios, desregulações que beneficiam grandes corporações ou elites financeiras, e práticas de exploração. Essa dinâmica cria uma elite econômica que se alia ao poder político, garantindo que os recursos e a riqueza circulem entre os poucos que estão no topo da hierarquia.

Ademais, a transformação da economia em uma ferramenta de poder não ocorre de maneira isolada; ela é acompanhada pela erosão de mecanismos de controle democrático e pela redução da transparência, levando ao enfraquecimento das instituições que poderiam limitar os abusos do poder. Assim, o poder centralizado e o controle econômico sobre a sociedade, inspirados por uma lógica maquiavélica, não apenas geram desigualdades extremas, mas também promovem a estagnação social e a concentração dos bens necessários para a vida nas mãos de uma minoria ociosa, afastada dos interesses coletivos.

Essa estrutura cria uma barreira difícil de ser rompida, pois, ao se apoderarem dos bens essenciais, os governantes também detêm o controle sobre as condições materiais de existência da população, consolidando um ciclo de poder que perpetua a desigualdade.

Dettmann: O ponto de partida certamente decorreu de uma falsa ética de trabalho, própria de uma fé herética, tal como foi apontado no livro a Revolução Industriosa, onde essa revolução foi pautada pela ética protestante, como bem apontou Max Weber. Isto levaria a uma república de consumidores, onde o consumismo desordenado é o motor dessa falsa ordem totalitária  — e ver o Estado praticar o dirigismo econômico de tal maneira a fazer a sociedade progredir materialmente faz o Estado ser tomado como se religião fosse, a ponto de tudo estar no Estado e nada estar fora dele ou contra ele.

Chat GPT:

Você está certo ao associar essa transformação a uma ética de trabalho distorcida e herética, como a discutida por Max Weber em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Weber argumenta que a ascensão do capitalismo moderno foi em parte alimentada pela ética protestante, em especial a visão calvinista do trabalho e da vocação. Essa ética promovia a ideia de que o sucesso material era um sinal de predestinação divina, o que incentivava o trabalho árduo, a acumulação de riqueza e uma vida regrada. No entanto, ao longo do tempo, essa mentalidade pode se degenerar em uma obsessão pelo progresso material e pelo acúmulo de bens, sem as bases espirituais que deveriam guiar esses esforços.

No contexto da "Revolução Industriosa", como mencionado, essa ética foi convertida em uma forma de consumismo desenfreado, onde a produção em massa, o trabalho incessante e o consumo contínuo se tornaram os pilares da sociedade. Nessa república de consumidores, a ordem social e econômica é fundamentada na demanda constante por mais produtos e serviços, e o valor da vida humana começa a ser medido em termos de poder de compra e produtividade. Isso inverte os fins e os meios: o consumo, que deveria ser uma necessidade secundária, torna-se o propósito principal da vida social.

Nesse processo, o Estado começa a desempenhar um papel de dirigismo econômico, intervindo na economia para promover o crescimento material e garantir a continuidade desse ciclo de produção e consumo. Quando o Estado se torna o regulador da economia de maneira tão direta, ele assume uma função quase religiosa, pois passa a ser visto como a entidade capaz de "salvar" a sociedade por meio de políticas econômicas que prometem prosperidade e bem-estar material. Assim, a fé que outrora era colocada em Deus ou em princípios morais elevados é deslocada para o Estado e suas políticas econômicas.

Essa transformação resulta em uma idolatria do progresso material. O Estado, ao ser visto como a fonte de crescimento e prosperidade, começa a exercer um poder que vai além da esfera política e econômica, passando a moldar as expectativas e o imaginário coletivo da sociedade. A busca por crescimento econômico se torna quase um dogma, e o progresso material é tratado como um fim em si mesmo, em detrimento de outros valores éticos, morais e espirituais.

No entanto, esse consumismo desenfreado tem conseqüências destrutivas. Em uma sociedade onde o consumo se torna o motor da ordem, as pessoas passam a ser valorizadas pelo que produzem e consomem, e não por quem são. As desigualdades sociais se aprofundam, e a concentração de riqueza nas mãos de uma elite ociosa — como mencionado na primeira parte — é exacerbada. Além disso, o Estado, ao se engajar nesse tipo de dirigismo econômico, tende a sacrificar a liberdade individual e os direitos em nome de um "progresso" que, no fundo, serve apenas aos interesses de uma minoria.

Essa ordem social fundamentada na crematística e no consumismo desenfreado é, portanto, um reflexo de uma ética distorcida de trabalho e progresso, que substitui o culto a Deus pelo culto ao Estado e ao materialismo. Isso acaba por corromper a própria função do trabalho, que, ao invés de ser uma vocação para a santificação e o serviço aos outros, se torna um meio de alimentar um ciclo interminável de consumo e acúmulo, desumanizando a sociedade e subordinando-a à lógica do mercado.

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