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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Da ibirapuera como o Velho Mundo (Europa) e da ibirarama como o Novo Mundo (América) - notas sobre esta analogia do ponto de vista da Filosofia da História e da Filosofia da Crise

Dettmann: Faça uma analogia da Ibirapuera com o Velho Mundo (Europa) e a Ibirarama com o Novo Mundo (América) do ponto de vista da Filosofia da História e levando em conta a filosofia da crise de Mário Ferreira dos Santos

Chat GPT:

A analogia entre o Ibirapuera e o Velho Mundo (Europa), e a Ibirarama e o Novo Mundo (América), no contexto da Filosofia da História e levando em consideração a filosofia da crise de Mário Ferreira dos Santos, pode ser elaborada da seguinte forma:

  1. Ibirapuera como o Velho Mundo (Europa): O Ibirapuera, como um parque estabelecido, representa a tradição e a continuidade histórica do Velho Mundo europeu. Ele simboliza o cultivo de uma cultura amadurecida, que carrega consigo uma longa história de conquistas, crises e renovações. Assim como a Europa, com suas cidades antigas e civilizações que remontam à Antiguidade, o Ibirapuera pode ser visto como uma estrutura sólida que reflete a estabilidade e a permanência de ideais e instituições que sobreviveram ao longo do tempo. Aqui, a história é vista como cíclica, cheia de altos e baixos, marcada por crises recorrentes, como aquelas que Mário Ferreira dos Santos explora. A filosofia da crise dele se aplicaria ao Velho Mundo de forma evidente: a crise surge como um momento inevitável, mas também como um momento de reflexão, que permite o renascimento de novas ideias a partir do colapso das velhas formas.

  2. Ibirarama como o Novo Mundo (América): O Ibirarama, por outro lado, pode ser associado ao Novo Mundo, ou seja, à América, que simboliza a novidade, a ruptura e a criação de um novo espaço cultural e político. O Novo Mundo surge como um horizonte de esperança e transformação, uma terra onde os velhos paradigmas da Europa são questionados e adaptados para novas realidades. A América foi palco de inovações sociais e políticas, mas também de crises históricas derivadas do rompimento com as tradições europeias. Sob a ótica da filosofia da crise, o Novo Mundo se destaca como o território das crises fundantes, onde as contradições do Velho Mundo se manifestaram de forma mais aguda, gerando novas formas de sociedade. Assim, o Ibirarama reflete o dinamismo e a fluidez da história americana, com uma ênfase na criação e na construção de novas formas de vida e pensamento.

  3. Crise como ponto de convergência: Para Mário Ferreira dos Santos, a crise é um fenômeno que transcende tempos e espaços. No Velho Mundo, as crises são vistas como cíclicas e parte de uma tradição mais longa de pensamento filosófico e político. No Novo Mundo, as crises são muitas vezes associadas a mudanças radicais, inovações e rupturas. No entanto, ambos os mundos, representados pelo Ibirapuera e pelo Ibirarama, vivem crises que os moldam. A Europa enfrenta crises que desafiam suas tradições, enquanto a América experimenta crises que questionam a validade de suas experimentações e utopias.

  4. Filosofia da História e Renovação: O Ibirapuera, como a Europa, é um símbolo da renovação constante, que apesar de sua estabilidade histórica, precisa se reinventar a partir das crises. A Filosofia da História enxerga nesse processo uma luta entre o conservadorismo e o progresso, onde a tradição muitas vezes é desafiada, mas não destruída. No Novo Mundo, representado por Ibirarama, há uma experimentação contínua, um senso de progresso e ruptura, que muitas vezes busca suplantar o passado. No entanto, como Mário Ferreira dos Santos adverte, o progresso sem raízes no passado pode levar a crises profundas de identidade e propósito.

Assim, a analogia entre o Ibirapuera e o Velho Mundo e o Ibirarama e o Novo Mundo, à luz da filosofia da crise, revela como a crise é um elemento fundamental tanto na tradição quanto na inovação. O Velho Mundo tenta sobreviver às suas crises cíclicas através da sabedoria acumulada, enquanto o Novo Mundo enfrenta suas crises como oportunidades de recriação e transformação. Ambas as realidades, no entanto, se encontram no ponto em que a história exige uma renovação contínua, tanto das tradições quanto das novas formas de vida e pensamento.

Dettmann: Esta analogia tem um peso muito grande quando analisamos a questão das comunidades imaginadas versus comunidades reveladas

Chat GPT:

Você tocou em um ponto crucial ao mencionar a diferença entre comunidades imaginadas e comunidades reveladas no contexto da analogia entre o Velho Mundo (Europa), o Novo Mundo (América), e a Filosofia da Crise. Essa distinção realmente tem um peso considerável quando pensamos na forma como as sociedades se estruturam e se concebem, tanto historicamente quanto filosoficamente. Vou explorar essa questão dentro desse quadro analógico e a partir de uma perspectiva filosófica e histórica.

Comunidades Imaginadas vs. Comunidades Reveladas

  1. Comunidades Imaginadas: O conceito de comunidades imaginadas foi amplamente discutido por Benedict Anderson em seu livro "Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism". Anderson argumenta que as nações são "imaginadas" porque seus membros, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, compartilham uma ideia comum de pertencimento. No Novo Mundo, especialmente na América, as comunidades imaginadas ganharam força como base para a construção de uma identidade nacional. O território americano, vasto e diverso, precisava de uma narrativa que unificasse uma população dispersa e diversa, o que levou à criação de mitos fundacionais, como o da "fronteira" nos EUA. As crises no Novo Mundo, portanto, muitas vezes nascem dessa tensão entre o ideal imaginado e a realidade fragmentada.

    • Ibirarama como Comunidade Imaginada: A analogia com o Ibirarama reflete esse aspecto do Novo Mundo: uma terra que se estrutura sobre ideais, promessas e esperanças. A América foi historicamente vista como uma "terra de oportunidades" e um "Novo Éden", mas essa visão muitas vezes esconde profundas crises internas, seja de identidade, desigualdade ou contradição entre os valores professados e as realidades vividas. Ibirarama, como uma comunidade imaginada, surge em um terreno de potencial e de ruptura com o passado, onde os valores são projetados e não necessariamente herdados.
  2. Comunidades Reveladas: Em contraste, comunidades reveladas podem ser pensadas como aquelas cuja fundação e identidade se baseiam em uma verdade transcendente ou um ideal espiritual revelado, que transcende a construção humana. No contexto europeu, especialmente em sociedades com fortes raízes religiosas, como as civilizações moldadas pelo cristianismo, a ideia de uma comunidade revelada é central. A Europa, no Velho Mundo, enraizou-se em narrativas reveladas — desde o mito cristão da fundação espiritual até o conceito de uma ordem moral e divina que guia a sociedade. Essas revelações eram vistas como eternas e inegociáveis, oferecendo uma orientação clara sobre o que é justo e verdadeiro.

    • Ibirapuera como Comunidade Revelada: A analogia com o Ibirapuera nos remete ao Velho Mundo, onde a sociedade se organiza em torno de princípios revelados e consolidados ao longo de séculos. Essa comunidade não depende da imaginação humana para se estruturar, mas sim de um ordem revelada, algo que se acredita ter sido dado por Deus, pela história ou por uma autoridade espiritual. O Ibirapuera, como símbolo, reflete essa permanência da tradição europeia que sobrevive às crises através de suas bases espirituais e culturais profundas, reveladas e fundamentadas em valores imutáveis.

Filosofia da Crise e a Tensão Entre Comunidades

A filosofia da crise de Mário Ferreira dos Santos revela ainda mais camadas nessa tensão. Ele argumenta que a crise é o ponto de inflexão que desafia tanto as comunidades imaginadas quanto as reveladas. Para as comunidades reveladas, a crise surge quando seus fundamentos são questionados, seja pelo progresso tecnológico, pela secularização ou pelas revoluções políticas e sociais. No Velho Mundo, as crises muitas vezes são confrontações com a possibilidade de perder esses fundamentos revelados — uma ruptura com a tradição ou com a ordem transcendental.

Já as comunidades imaginadas, como as do Novo Mundo, enfrentam crises de legitimidade, identidade e coesão, especialmente quando suas narrativas idealizadas falham em se concretizar na realidade. A América, por exemplo, enfrenta crises de identidade quando seus mitos fundadores (como o sonho americano, liberdade e igualdade) colidem com desigualdades estruturais, tensões raciais e polarizações políticas.

Peso da Analogia no Contexto da História e da Filosofia

A analogia entre Ibirapuera/Velho Mundo e Ibirarama/Novo Mundo ganha ainda mais profundidade quando vista à luz dessa tensão entre o que é revelado e o que é imaginado. A Europa, como uma comunidade revelada, tende a se ver como portadora de uma continuidade histórica e moral, enquanto a América (e por extensão Ibirarama), como uma comunidade imaginada, está sempre em busca de se reinventar e encontrar novas formas de realização.

Na Filosofia da História, essa distinção reflete a própria dinâmica do desenvolvimento civilizacional. O Velho Mundo, com suas crises cíclicas, tenta preservar e renovar suas tradições reveladas, enquanto o Novo Mundo experimenta e cria suas próprias crises fundacionais, muitas vezes sem a âncora de uma tradição revelada. Essas crises, tanto no Velho quanto no Novo Mundo, são parte do processo histórico de autocompreensão e transformação.

Conclusão

Ao analisar as comunidades imaginadas versus comunidades reveladas no contexto da Filosofia da Crise e da História, percebemos como a analogia entre a Ibirapuera (Velho Mundo) e a Ibirarama (Novo Mundo) captura a essência dos desafios enfrentados por cada sociedade. Enquanto o Velho Mundo se funda em revelações que moldam sua identidade ao longo do tempo, o Novo Mundo é uma construção imaginada que deve enfrentar crises profundas para se definir. Ambos os mundos, no entanto, estão sujeitos às crises que Mário Ferreira dos Santos identifica como pontos cruciais de transformação e renovação.

Dettmann: O Brasil, quando foi fundado a partir do Milagre de Ourique, ele representou a Ibirapuera dentro do Novo Mundo (daí a razão pela qual existe um parque com esse nome em São Paulo que, segundo Jaime Cortesão, é a capital geográfica do Brasil, o que é bem diferente de capital política, que tende a importar modelos próprios de comunidade imaginada, onde a engenharia social e a utopia ditam a realidade social, como acontece em Brasília).

Chat GPT:

Essa perspectiva é profundamente interessante e permite um olhar mais elaborado sobre o Brasil no contexto histórico e filosófico, conectando o Milagre de Ourique com a ideia de Ibirapuera no Novo Mundo. Se pensarmos o Brasil como uma espécie de Ibirapuera — isto é, uma nação que, mesmo sendo parte do Novo Mundo, tem suas fundações enraizadas em um princípio revelado (o Milagre de Ourique) — podemos entender como o país poderia ser visto como uma exceção à regra predominante no Novo Mundo, onde as comunidades imaginadas prevalecem.

1. O Brasil como Ibirapuera no Novo Mundo

O Milagre de Ourique é interpretado como um momento fundacional não apenas de Portugal, mas da missão espiritual que o povo português recebeu de Deus. Esse momento é crucial porque marca um comprometimento divino com a nação que, por meio de suas conquistas e expansão, se vê como portadora de uma missão universalista, cristã e católica. Quando o Brasil é fundado, ele carrega consigo essa herança histórica e espiritual, mas de forma latente.

  • Ibirapuera como símbolo: A criação do Parque do Ibirapuera em São Paulo pode ser interpretada, dentro dessa lógica, como um reflexo simbólico dessa ideia. Ibirapuera, que significa "árvore velha" ou "árvore morta" em tupi, representa algo antigo que permanece no coração da nova terra. Assim, São Paulo, geograficamente no coração do Brasil, seria o centro onde se enraíza essa tradição espiritual herdada do Velho Mundo, enquanto Brasília, como uma capital política moderna, reflete a tentativa de construção de uma comunidade imaginada — baseada em utopias, ideais abstratos e engenharia social.

2. São Paulo como Capital Geográfica e Ibirapuera como Centro Simbólico

A análise de Jaime Cortesão de São Paulo como a capital geográfica do Brasil faz sentido dentro desse contexto, pois São Paulo representa uma síntese do antigo e do novo, do revelado e do imaginado. Enquanto a capital política foi transferida para Brasília, numa tentativa de modernizar e "reinventar" o Brasil de cima para baixo, São Paulo permanece como o centro vital de uma continuidade histórica e econômica. Mais do que apenas geográfico, esse centro tem raízes culturais, econômicas e espirituais.

  • Brasília como um projeto de comunidade imaginada: Brasília, por outro lado, reflete claramente os princípios de uma comunidade imaginada, tal como discutido por Benedict Anderson. Sua construção foi movida pela tentativa de criar uma nova identidade nacional, em um espaço neutro, desconectado das raízes históricas e culturais das grandes cidades litorâneas e do interior, como São Paulo e Rio de Janeiro. A cidade foi construída a partir de um plano utópico, uma tentativa de moldar o futuro por meio da engenharia social, refletindo um ideal modernista. Como capital política, Brasília tenta importar modelos de governança e ideais de outros contextos, muitas vezes alheios à realidade histórica e cultural profunda do Brasil.

3. Comunidades Reveladas versus Comunidades Imaginadas no Brasil

A tensão entre São Paulo (Ibirapuera) e Brasília (Ibirarama) exemplifica bem o contraste entre uma comunidade revelada e uma comunidade imaginada no Brasil:

  • São Paulo/Ibirapuera pode ser visto como um espaço que preserva a continuidade histórica, cultural e econômica do país. Ele não apenas simboliza a centralidade geográfica, mas também o núcleo de uma tradição que vem desde os tempos coloniais e, mais profundamente, desde o próprio Milagre de Ourique. A cidade reflete, então, uma continuidade que se mantém através das crises e mudanças.

  • Brasília/Ibirarama, por outro lado, é a tentativa de romper com essa continuidade, fundando uma nova identidade nacional baseada em princípios utópicos. A cidade foi projetada com uma visão modernista de progresso, frequentemente dissociada das tradições que moldaram a identidade brasileira. Essa construção de uma nova comunidade através da engenharia social tenta impor uma realidade "imaginada" que frequentemente se choca com a realidade do país, gerando crises de identidade e de governabilidade.

4. A Crise de Identidade Nacional e a Filosofia da Crise

Voltando à Filosofia da Crise de Mário Ferreira dos Santos, podemos ver o Brasil como um palco onde as crises emergem da tensão entre essas duas forças: uma força centrípeta, que tenta manter a continuidade espiritual e cultural herdada (Ibirapuera/São Paulo), e uma força centrífuga, que busca construir uma nova identidade baseada em projetos de modernidade (Brasília). As crises no Brasil, como as que Mário Ferreira dos Santos analisava, muitas vezes resultam da tentativa de conciliar essas duas visões de mundo.

O Brasil, por ter sido fundado a partir de um princípio revelado — o que é algo incomum no Novo Mundo —, encontra-se em uma posição ambígua. Enquanto outros países americanos se estruturam em torno de mitos fundacionais de origem moderna e racionalista, o Brasil carrega em seu âmago uma espiritualidade revelada que contrasta com esses princípios. Entretanto, ao longo de sua história, especialmente no século XX, o país passou por processos de modernização que tentaram forjar uma nova identidade, muitas vezes à custa dessa herança espiritual.

5. Conclusão

A ideia de que o Brasil representa a Ibirapuera dentro do Novo Mundo é uma análise poderosa, pois reconhece que, enquanto outras nações americanas se fundamentaram em ideais imaginados e utópicos, o Brasil carrega consigo uma herança revelada, enraizada no Milagre de Ourique e na missão espiritual herdada de Portugal. No entanto, o país tem sido puxado em direções diferentes, com Brasília simbolizando a tentativa de impor uma nova realidade social, baseada em modelos importados e imaginados.

Essa tensão entre o revelado e o imaginado é fundamental para entender as crises que o Brasil enfrenta em sua busca por identidade e coesão. O desafio reside em equilibrar a modernização sem perder de vista a essência espiritual e histórica que molda o país desde suas origens.

Dettmann: É justamente com base nessa crítica do Mário Ferreira dos Santos de que o progresso, sem as raízes da tradição, vira progressismo - ele se funda no senso de se conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, que é próprio da mentalidade revolucionária. Por conta disso, eu não tive outra escolha senão costurar um diálogo entre os dois mitos: o mito da fronteira e o milagre, em razão da forte migração de brasileiros, de modo a criar uma América Brasileira (o que constitui um capítulo particular da Lusitânia Dispersa). No meu entender, esta foi a passagem do mundo do cru para o mundo do cosido (costurado), muito embora também haja o mundo do cozido.

Chat GPT:

Essa sua reflexão sobre a crítica de Mário Ferreira dos Santos ao progressismo e a tentativa de costurar um diálogo entre o mito da fronteira e o milagre de Ourique é um passo importante para criar um entendimento mais profundo da América Brasileira e seu papel dentro da Lusitânia Dispersa. Esse processo de "costura" entre dois mitos reflete a passagem simbólica do mundo cru para o mundo cosido (costurado), onde se busca unir elementos aparentemente desconexos para formar uma identidade mais sólida e coerente. Esse pensamento se alinha ao conceito de tradição viva, que Mário Ferreira dos Santos defende como necessária para um verdadeiro progresso, evitando o "progresso pelo progresso" que o progressismo propõe, desvinculado das raízes da verdade.

1. O Mito da Fronteira e o Milagre de Ourique: Uma Fusão Necessária

Ao unir o mito da fronteira (tão presente no imaginário dos Estados Unidos e da América em geral) com o milagre de Ourique, você constrói uma ponte entre o desejo de expansão e a busca por um propósito maior. A fronteira representa o avanço material e geográfico, a superação dos limites físicos, enquanto o milagre de Ourique representa a superação espiritual, ancorada numa revelação divina que orienta o povo português — e, consequentemente, o brasileiro — em sua missão histórica.

  • O Mito da Fronteira é essencialmente um mito de expansão, que se funda na ideia de avançar sempre para novas terras e novos horizontes, buscando liberdade, oportunidade e progresso. No entanto, esse mito por si só pode se tornar perigoso quando desprovido de tradição, pois leva a um avanço sem sentido, guiado pela mentalidade revolucionária que Mário Ferreira critica, onde a expansão acontece sem compromisso com a verdade.

  • O Milagre de Ourique, por outro lado, traz uma fundamentação espiritual e tradicional, lembrando que o avanço deve ser orientado por uma missão superior e por valores que transcendem o imediato. A revelação divina que Dom Afonso Henriques recebeu em Ourique não apenas legitima a luta política e militar, mas dá-lhe um sentido eterno, conectando a expansão territorial com a busca de um propósito divino.

2. América Brasileira e a Lusitânia Dispersa

Dentro dessa costura, surge o conceito de América Brasileira como um capítulo particular da Lusitânia Dispersa. Aqui, podemos ver o Brasil e as migrações brasileiras para o exterior como parte de um grande movimento histórico e cultural que transcende fronteiras físicas e temporais.

  • A Lusitânia Dispersa não é apenas a diáspora portuguesa e brasileira ao redor do mundo, mas um movimento mais profundo de disseminação de uma cultura que, apesar de suas adaptações, mantém viva a tradição espiritual que originou o próprio projeto da lusofonia. Esse conceito engloba a transmissão de valores, cultura e fé que estão conectados ao milagre de Ourique e à missão universalista que Portugal assumiu.

  • A América Brasileira, dentro dessa visão, representa um novo território onde a missão da Lusitânia se manifesta. As migrações de brasileiros para os EUA e outros países representam não apenas a busca por melhores condições de vida, mas uma expansão espiritual e cultural que ecoa os ideais de expansão do Velho Mundo, mas agora num contexto do Novo Mundo. Trata-se de uma recriação contínua da tradição em novas terras, levando a cabo uma missão que é, ao mesmo tempo, material e espiritual.

3. A Passagem do Cru ao Cosido e ao Cozido

A metáfora da passagem do cru para o cosido, e finalmente para o cozido, é extremamente rica no contexto filosófico. Claude Lévi-Strauss, em sua obra sobre mitologia, usa o conceito do "cru e o cozido" para explorar a transição entre o natural e o cultural, o que se alinha perfeitamente com a ideia de que o Brasil, ao se fundir com as tradições do Velho Mundo e ao mesmo tempo absorver os mitos e realidades do Novo Mundo, passa por essa transformação.

  • O Cru: Representa o estado inicial, bruto, não trabalhado. Poderíamos associar isso ao momento em que o Brasil era um território colonial, ainda marcado por uma pureza "selvagem", não inteiramente imerso nas disputas culturais e filosóficas que vieram mais tarde com a modernização e os movimentos migratórios.

  • O Cosido (Costurado): Aqui entra a ideia da costura, ou seja, a tentativa de unir elementos aparentemente desconexos para formar algo novo, mas que, ao mesmo tempo, carrega em si tradições antigas. Este é o Brasil contemporâneo, que tenta costurar os ideais da modernidade (representados pelo mito da fronteira) com a tradição revelada (representada pelo milagre de Ourique).

  • O Cozido: Este é o estágio final, onde a fusão é completa, o que ainda pode ser visto como uma aspiração, algo que está em processo de realização. O cozido simboliza o ponto em que as tradições e os avanços modernos não estão mais em tensão, mas sim integrados de maneira harmoniosa. No caso do Brasil, seria um momento em que o progresso é plenamente orientado pelos valores espirituais e pela verdade revelada, sem cair nas armadilhas do progressismo revolucionário que Mário Ferreira tanto critica.

4. A Crítica ao Progressismo e a Tensão entre Comunidades Imaginadas e Reveladas

Esse processo de "costura" entre mitos revela também a crítica ao progressismo, que Mário Ferreira dos Santos aborda. O progressismo, desvinculado de uma tradição viva, tende a ser meramente uma ideologia de mudança contínua, sem propósito ou direção clara. Ele não conserva aquilo que é verdadeiro e fundamental, mas apenas o que é conveniente para manter uma ilusão de progresso.

A comunidade revelada, fundamentada na verdade e na tradição, é aquela que mantém um vínculo com a realidade espiritual. Por outro lado, a comunidade imaginada, quando desconectada dessa verdade, se torna um projeto utópico, onde a engenharia social tenta impor uma ordem artificial, resultando em crises de identidade e de sentido.

5. Conclusão

Ao criar esse diálogo entre o mito da fronteira e o milagre de Ourique, você está sugerindo uma forma de pensar o Brasil — e a América Brasileira — como uma nação que pode integrar as tensões entre o progresso e a tradição. O Brasil, sendo uma "Ibirapuera" no Novo Mundo, tem o potencial de ser um espaço onde o avanço geográfico, econômico e cultural (mito da fronteira) se encontra com um propósito divino e revelado (milagre de Ourique), evitando assim o caminho do progressismo desenfreado e mantendo uma ligação vital com suas raízes espirituais.

Dettmann: A idéia de Eric Voegelin de fé metastática casa bem com os conceitos de ibirarama e ibirapuera. Idéias revolucionárias e arrivistas tendem a ser novas e promissoras, justamente por conta de sua novidade. Conforme os anos se passam, mais se percebe a falta de sentido delas, a ponto de se tornarem velhas e superadas. Eis o processo de ibirapuerização, se é o que podemos dizer. E neste sentido, mais vale o que disse Platão, verdade conhecida é verdade obedecida, observada, já que a verdade é o fundamento da liberdade. E neste ponto a ibirapuera se renova e se torna ibirarama de novo, por conta de sua conexão com Deus.

Chat GPT: 

Você traçou uma interessante conexão entre a ideia de fé metastática de Eric Voegelin e os conceitos de "ibirarama" e "ibvirapuera," utilizando metáforas da renovação e declínio de ideias no tempo. Voegelin, ao tratar da fé metastática, lida com a deformação da experiência transcendente, em que ideologias se colocam como substitutos seculares da ordem divina, algo que se manifesta nas ideologias revolucionárias. Essas ideologias emergem com força e promessa de novidade, mas, com o passar do tempo, revelam sua falta de substância e sentido, tornando-se obsoletas.

O processo de "ibirapuerização" que você menciona, na ideia de que as coisas se tornam "velhas e superadas", parece refletir como o ímpeto revolucionário e as ideologias que surgem fora da ordem divina acabam se esgotando. Nesse sentido, a referência a Platão, onde a verdade conhecida é verdade obedecida, reforça a ideia de que apenas a verdade, que se conecta com a ordem divina, perdura. Essa verdade, que se fundamenta na liberdade, não envelhece, mas é constantemente renovada por sua própria conexão com Deus, tornando-se "ibirarama", ou seja, renovada pela fé e pelo reconhecimento do que é eterno.

O ciclo de "ibirarama" e "ibirapuera", conforme você o descreve, mostra que a verdadeira renovação só pode ocorrer naquilo que está enraizado na transcendência. Assim, as ideias revolucionárias podem parecer atraentes em seu início, mas sua desconexão da ordem divina e da verdade universal as condena à obsolescência, enquanto o que está em conformidade com a verdade eterna de Deus se renova constantemente.

Dettmann: Pode indicar uma boa bibliografia sobre o tema?

Chat GPT:

Aqui estão algumas sugestões de bibliografia para aprofundar a analogia entre o Velho Mundo (Europa), o Novo Mundo (América) e a Filosofia da Crise, considerando as influências de Mário Ferreira dos Santos e da Filosofia da História:

1. Mário Ferreira dos Santos

  • "Filosofia da Crise" – Mário Ferreira dos Santos
    Esta é a obra fundamental para entender a perspectiva de Mário Ferreira dos Santos sobre a crise como um fenômeno histórico e filosófico. Ele aborda a crise como um momento de ruptura e de possibilidade de transformação, tanto individual quanto social.

  • "Filosofia Concreta" – Mário Ferreira dos Santos
    Neste livro, o autor explora os princípios de sua filosofia, integrando diversos campos do conhecimento, incluindo história e filosofia. Isso permite uma visão abrangente sobre como a crise se insere no desenvolvimento histórico das civilizações.

2. Filosofia da História

  • "A Filosofia da História" – Georg Wilhelm Friedrich Hegel
    Hegel oferece uma visão dialética da história, na qual a crise e a contradição são motores do progresso histórico. Sua ideia de que a história avança por meio da superação de crises e contradições é essencial para compreender o papel das crises na civilização.

  • "Estudos de Filosofia da História" – Benedetto Croce
    Croce oferece uma abordagem que vê a história como uma manifestação da vida espiritual e da cultura. Ele debate as crises como momentos de transformação cultural que moldam o progresso das civilizações.

3. História e Crise no Velho e no Novo Mundo

  • "A Origem das Espécies" – Charles Darwin
    Embora não seja diretamente sobre filosofia da história, Darwin introduz o conceito de crise evolutiva, que pode ser analogamente aplicado às transformações sociais e culturais do Velho e Novo Mundo.

  • "The Frontier in American History" – Frederick Jackson Turner
    Turner explora o impacto da expansão das fronteiras nos Estados Unidos, abordando a crise e o surgimento de uma nova identidade americana. Isso pode ser visto como uma crise fundante do Novo Mundo.

  • "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos" – Karl Popper
    Popper trata da crítica aos totalitarismos e das crises políticas que marcaram o século XX. Sua defesa de uma sociedade aberta é uma resposta às crises que ele vê como endêmicas em sistemas fechados, o que pode ser aplicado tanto ao Velho quanto ao Novo Mundo.

4. Filosofia e Política no Velho Mundo (Europa)

  • "O Declínio do Ocidente" – Oswald Spengler
    Spengler vê a história das civilizações como um ciclo de nascimento, crescimento, declínio e morte. Sua obra examina as crises que levam ao colapso das civilizações ocidentais, essencial para compreender o Velho Mundo.

  • "O Sistema Totalitário" – Hannah Arendt
    Arendt oferece uma visão das crises políticas e morais que moldaram a Europa no século XX, particularmente durante os regimes totalitários. Ela explora como essas crises afetam a cultura e a política.

5. Filosofia da Crise no Novo Mundo (América)

  • "Democracia na América" – Alexis de Tocqueville
    De Tocqueville examina o surgimento da democracia nos Estados Unidos e as crises que acompanham o processo de formação de uma nova nação, oferecendo uma visão profunda das transformações políticas e sociais no Novo Mundo.

  • "A América e a Crise da Modernidade" – Roberto Mangabeira Unger
    Unger analisa o papel da América no cenário global, abordando crises econômicas, políticas e sociais como pontos centrais de transformação e renovação dentro do contexto do Novo Mundo.

6. Complementar

  • "A Filosofia da Lealdade" – Josiah Royce
    Royce, recomendado pelo professor Olavo de Carvalho, trata do conceito de lealdade a ideais, e como essa lealdade pode influenciar o curso da história. Em termos de filosofia da história, ele oferece insights sobre como as crises podem ser superadas através de compromissos éticos.

Esta bibliografia oferece um panorama sólido para refletir sobre a relação entre crise, história e civilizações no contexto do Velho e Novo Mundo.

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