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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Notas sobre o problema dos termopólios na sociedade greco-romana

1) É preciso ter um pouco de imaginação moral de modo a se compreender a questão do distributivismo. E isso só se faz estudando o mundo Greco-Romano, antes do advento da Cristandade.

2) Nessas sociedades, havia o termopólio. Os pobres não tinham cozinha em suas casas. E não ter cozinha em casa gera luta de classes, conflito sistemático de interesses qualificado pela pretensão resistida (secessio plebis). Matéria de ordem pública.

3.1) Historicamente, os romanos sempre foram pragmáticos. A solução adotada foi criar termopólios, os predecessores dos restaurantes.

3.2) Os pobres recebiam sua ração diária de grãos vinda do Egito e faziam a comida nos termopólios. Esses restaurantes tinham ofertório para o deus do comércio (Mercúrio) e para Baco (o deus do vinho). Havia quartos também, onde os viajantes podiam dormir.

3.3) Em muitos casos, esses termopólios eram lugares de prostituição. Como eram lugares de encontro da classe marginalizada, a atividade mercantil corria solta. Isso era interessante para a manutenção do poder, já que dinheiro não tinha cheiro, mas não era uma solução justa, que agradava a Deus.

4) A solução justa veio da conversão dos romanos ao cristianismo. Como justiça implica concórdia entre as classes, a solução foi criar uma cultura onde todas as casas, sejam de ricos e pobres, tenham cozinha, pois é na cozinha que costumamos encontrar a família reunida.

5.1) Engana-se quem pensa que o problema seja a desigualdade. O problema está na concentração dos poderes de usar, gozar e dispor dos bens da vida em poucas mãos.

5.2.1) A desigualdade de dons é algo que está nos planos de Deus - há gente que sabe escrever, gente que sabe pintar, gente que sabe construir casas - as pessoas precisam confiar umas nas outras de modo que possam progredir juntas.

5.2.2) Essa desigualdade nunca vai acabar - o que precisa ser coibido é a concentração dos poderes de usar, gozar e dispor em poucas mãos, a ponto de inviabilizar a liberdade do mais pobre, para que ele não seja sujeito de arbítrio do mais rico.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 28 de junho de 2018 (data da postagem original).

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