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quarta-feira, 20 de maio de 2020

Das três fases da verdadeira ciência econômica

1) Em Adam Smith, a economia clássica esbarrou no problema do valor, que era medido no valor do trabalho.

2) Na Alemanha, a questão do valor nunca foi separada da utilidade, a ponto de surgir uma escola na Áustria que explica o valor pautado nas necessidades do homem, dando um aspecto psicológico ou subjetivo à economia.

3.1) Mas o mundo centrado no homem, pelo homem e para o homem é o mundo do animal que mente, o que faz com que os preços tendam a ser arbitrários.

3.2) A verdadeira medida de todas as coisas é Cristo, uma vez que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Deus foi-nos igual a tudo, menos no pecado. Por isso Ele é a fonte de toda a justiça, uma vez que é a verdade em pessoa, o fundamento da liberdade.

3.3.1) É conhecendo o Cristo necessitado e suas circunstâncias que compreendemos as razões pelas quais o prestador de serviço aumenta e diminui de preço as coisas de modo a conquistar seus clientes. 

3.3.2) Quando ele aumenta o preço de seus produtos, devemos saber as razões pelas quais ele tomou esta decisão de negócio - se a decisão for justa, paguemos o que ele pede; se as razões forem injustas, isso caracteriza usura, e isso é pecado. O prestador de serviço que fizer isso deve ser repreendido de modo que não faça mais isso, dado que isso se trata de amor ao próximo, uma vez que devemos ver Cristo nessa pessoa.

4.1) O tripé da economia é este: valor, utilidade e justiça - e esses três elementos produzem uma trindade, um plano de salvação fundada no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem como a medida de todas as coisas. E esta trindade visa atender às três necessidades do homem: as necessidades do corpo, da alma e do espírito. 

4.2) Isso faz da economia, enquanto ciência auxiliar da política, uma ciência a serviço da trindade, uma vez que a política, quando organizada, promove a caridade, o que leva à continuação da trindade, a ponto de a cidade dos homens ser um espelho da Jerusalém celeste.

.José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.

Separando ciência econômica da ideologia: economia não é crematística

1) Algumas pessoas me apontaram um seguinte dado: deveria haver uma racionalidade maior dos agentes econômicos na hora de estabelecer o preço de seus produtos. Na maioria das vezes, vemos o preço aumentar de maneira irracional, tal como vemos no preço da gasolina.

2.1) Esse comportamento irracional é movido pela concupiscência e pela ganância. Platão criticava muito a sociedade de sua época por conta disso. Essa gente buscava a riqueza com prazer a ponto de gerar um sério problema ético. 

2.2) Eis o problema da crematística. Por isso que falo muito da economia - enquanto ciência auxiliar da política, no tocante à construção do bem comum - e da crematística como coisas diferentes. É preciso separar ciência séria da pseudociência, da ideologia. O que vemos hoje não é economia, mas pseudociência econômica, a crematística. E tudo isso é movido pela ética protestante e pela cultura da riqueza tomada como sinal de salvação, a qual Marx chamou de capitalismo.

3) A concupiscência nada mais é do que paixão desordenada pelos luxos e pela cobiça. E isso leva ao pecado e à prática da usura. Ela fala mais do homem cheio de si até o desprezo de Deus, a ponto de a economia acabar caindo num aspecto subjetivo, arbitrário. Isso diz muito do homem enquanto animal que mente, enquanto pior dos animais, separado do Direito e da Justiça.

4.1) A benevolência apela para duas das nossas maiores faculdades: a inteligência - que é a capacidade de aprender a realidade das coisas, uma vez que elas apontam para a realeza de Cristo - e a vontade, que é a capacidade de dizer sim  à verdade, uma vez que conhecemos as pelas quais as coisas foram criadas, baseadas no amor divino.

4.2) Na economia de benevolência, nós procuramos os motivos pelos quais os que ganham a vida prestando serviços à população aumentam ou diminuem os seus preços, de modo a conquistar os seus consumidores. Precisamos vê-los como uma espécie de Cristo que trabalha para ter o pão de cada dia. Ele é um Cristo necessitado dos favores da clientela, tanto quanto um mendigo. Para ele, o freguês sempre tem razão, pois ele vê nele um Cristo-príncipe. E esse Cristo-príncipe pode estar em qualquer classe social, até mesmo entre os mais pobres. 

5.1) Trata-se de uma questão cultural. E isso certamente afeta a maneira como se faz ciência econômica. 

5.2) Se buscamos a verdade, então busquemos uma economia pautada na ética cristã (leia-se católica); se buscamos conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, façamos da ciência econômica uma ideologia, a ponto de se nadar em dinheiro como se não houvesse amanhã, o que certamente não faz o menor sentido, já que o maior propósito da vida é a vida eterna.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.

Da doutrina do preço justo como limite que separa os juros da usura

1) O termômetro do preço quantificado não é o indicativo suficiente para se saber se o preço cobrado é justo ou não. É preciso conhecer os motivos determinantes do vendedor - e só possível tendo uma conversa honesta com essa pessoa.

2) Às vezes um produto é mais caro do que um similar numa outra loja em razão de uma circunstância particular do vendedor - e esta razão pode ser justa, como ter uma melhor condição para ajudar no sustento da família. E isso já é motivo, por caridade, para se preferir um bem deste vendedor, que é um Cristo necessitado, ao de um outro mais barato, movido pelo amor próprio até o desprezo de Deus.

3) A economia não é subjetiva, no sentido de que ela é voltada para o homem cheio de si até o desprezo de Deus, esse animal que mente. A economia é pessoal e circunstancial.

4.1) Uma pessoa é um indivíduo. E o verdadeiro indivíduo está sempre diante de Deus, confessando todos os seus atos e prestando conta a Deus de tudo o que faz, pois tudo pertence a Deus.

4.2) A vida de uma pessoa é medida pelas suas circunstâncias e pela incerteza. Por essa razão a economia tende a se voltar para o bem comum, o que prepara as pessoas para a vida eterna. Tende a ser, portanto, economia de utilidade pública, pois ajuda a edificar ordem pública, a ponto de um país ser tomado como um lar em Cristo.

5)  A doutrina do preço justo, fundada no fato de que não devemos servir a nosso irmão com usura, é o que faz com que saibamos discernir quais preços são justos e quais preços são vis. E isso no pede que a gente conheça as razões pelas quais meu irmão aumentou o preço de um determinado. E você deve tomar conhecimento dessa decisão.

6) O fato de o aumento e a redução de preços se fundar numa decisão é a prova cabal de que a lei da oferta e da demanda não é um mecanismo, pois estas coisas não se dão de modo automático. Há uma tendência de aumento ou redução de preços que pode ser seguida ou não pelos que oferecem os produtos - e para isso precisamos conhecer suas razões, o que os levou a tomar tal decisão e não a outra. Se forem justas, pagaremos o preço justo; se injustas, isso caracteriza usura, o que é odioso.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.

Comentários sobre justiça e economia no tocante à preferência de bens presentes a bens futuros

1) Numa sociedade materialista, a maioria das pessoas preferirá os bens do presente aos bens do futuro, uma vez que há uma tendência de esses bens do futuro não chegarem, em razão de algum risco.

2) Quem tem bens do presente tenderá a cobrar um preço maior hoje, de modo a estimular a produção de bens futuros do mesmo gênero, quantidade e qualidade que os vendidos do presente, uma vez vendidos os bens do presente, garantindo assim a fungibilidade dos bens.

3.1) A cobrança de um preço adicional com o intuito de estimular a produção de bens futuros tem um fator justo, visto que ela é benéfica para toda a sociedade. Mas esta informação tem que ser passada para o consumidor de modo que ele possa colaborar com a atividade do produtor - e isso se dá através da negociação, onde na conversa essa informação é passada. 

3.2) Se esta informação for incutida no preço sem que haja uma negociação, sem que haja uma conversa prévia de modo a se tomar conhecimento dos motivos determinantes que levaram um determinado produto a ter ser seu preço aumentado, então tal cobrança tende a ser injusta, visto que estou coagindo de maneira moral alguém a pagar por um preço que, a primeira vista, não parece ser justo, o que caracteriza usura.

4.1) No mundo moderno, o fato de muitos compradores comprarem um produto sem negociar revela uma crise nos contratos, uma crise na capacidade de negociar - e isso faz com que a justiça dessa cobrança seja servida com fins vazios, em razão da cultura da impessoalidade que há nas relações comerciais de massa.

4.2) A mera cobrança de preço pode acarretar surpresa e eventual conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, o que enseja processo. Eis aí a base para judicialização das relações de consumo, em razão dessa cultura de crise do contrato, fundada numa confiança precária.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.  

Dos rascunhos como armazéns de idéias a serem publicadas

1) Na economia, enquanto ciência da informação, há um custo de oportunidade decorrente do tempo que você leva para vender todos os bens de uma loja, de modo a esvaziar o estoque, e o tempo necessário para repô-lo ou preenchê-lo estrategicamente de modo a atender uma demanda futura. Esse descompasso pode levar a um eventual prejuízo.

2) A maior função do armazém é ser o lugar onde se faz a transição de um tempo para outro. Ali ocorre a troca intertemporal. É por conta disso que se resolve o problema do descompasso entre uma demanda forte e a capacidade de atender essa demanda por longos períodos até a sua posterior queda.

3) Quando escrevemos um determinado texto, nós temos um rascunho. Além de ser um lugar onde planejamos o texto que vamos escrever, sempre há um descompasso entre um pico de produção intelectual e a publicação de um texto. E o rascunho, neste aspecto, exerce a função de armazém, estocando uma idéia criada até a sua posterior publicação. Em economia criativa, isso é extremamente vital, uma vez que a ação do escritor e a ação do editor tendem a um descompasso.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.

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Da ciência e da técnica como ideologias e como causas da má consciência nacional

1) Toda boa consciência, para ser fomentada, precisa estar com a ciência, enquanto conhecimento acumulado das coisas que foram provadas e convenientemente guardadas de maneira sensata, uma vez que elas apontam para Deus. Por conta disso, esses alimentos espirituais provados e experimentados tendem a ser estocados numa despensa especial, capaz de resistir ao teste do tempo, o que faz com que biblioteca não seja muito diferente de uma geladeira, posto que tudo isso se funda na eternidade.

2) Toda má consciência, para ser fomentada, precisa que a ciência e a técnica sejam usadas à serviço da ideologia. Ela se funda na cultura de se conservar o que é conveniente e dissociado da verdade. É com esses alimentos espirituais estragados que se envenena a alma de um povo. E esses alimentos espirituais estragados são vendidos como se fossem banana na feira, nas livrarias, à luz do dia - o que é um grave crime contra a economia popular.

3) A raiz da ciência e da técnica como ideologias se dá com o divórcio da fé e da razão. Se a fé não decorre do verdadeiro Deus e verdadeiro homem, então esse saber produzido, estocado e acumulado será usado com fins vazios, a ponto buscar uma pretensa salvação vazia. E isso fomenta políticas revolucionárias, marcadas pelo salvacionismo, tal como já vimos ao longo da história da República.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.

Notas sobre uma qualidade e um defeito marcantes do povo brasileiro e como isso influi na questão do coronavirus

1.1) Uma qualidade de meu povo é indiscutivelmente o asseio. Até onde sei não há povo que se preocupe tanto com a higiene quanto o brasileiro. 

1.2) O hábito de comermos com guardanapo essas comidas de lanchonete, enquanto os demais povos comem com as mãos, já demonstra essa preocupação. Às vezes, isso chega a ser uma obsessão, a ponto de ser uma porta para neuroses. E num cenário de pandemia, isso pode ser fatal, pois é a porta de entrada para a tirania, como de fato está ocorrendo.

2) Um defeito marcante de meu povo é o desprezo pelo conhecimento. Se o amor pelo saber fosse combinado pelo amor ao asseio, o Brasil indiscutivelmente seria uma excelente civilização, a ponto de combinar o legado cultural indígena do asseio, que é próprio do corpo, aos cuidados da alma, através do amor pelos livros, uma das marcas da civilização européia. E isso criaria uma civilização sui generis, como a japonesa.

3) O desprezo pelo conhecimento, aliado à obsessão pelo asseio - coisa que foi fomentada pelas políticas higienistas da República Velha - fez com que as pessoas se preocupassem apenas com os aspectos aparentes da alma humana. Um bom escritor, se for capaz de remover esse verniz de conservantismo pretensamente civilizatório, de tradição inventada, verá que nada sobra. 

4) A grande verdade é que o culto ao asseio por si mesmo não é capaz de formar uma grande civilização. Ele precisa de um complemento de modo que isso torne a civilização ainda mais refinada do já que é - e isso se dá através do amor pelo saber, a ponto de casar o europeu com o indígena. E o mestiço, o híbrido disso, não será um horror metafísico, tal como pensam os gregos antigos, mas uma verdadeira porta de entrada para a virtude, fundada no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.