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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Comentários de um meus leitores sobre o livro A Teoria da Classe Ociosa, de Thorstein Veblen

Erick Ferreira: Bom dia, caríssimo!

José Octavio Dettmann: Bom dia, meu caro!

Erick Ferreira: Aquele livro A Teoria da Classe Ociosa é um livro bem complexo, não no sentido de que é difícil entender, mas no sentido de que ele toca em questões muito problemáticas, coisa que muitos pensadores se recusam a fazê-lo. Confesso que não conhecia esse livro, embora o autor já me fosse conhecido. Pensei que você tinha escrito algo a respeito.

José Octavio Dettmann: Na verdade, escrevi algumas coisas baseadas nesse autor. Ele me serviu de base para muitas reflexões.

Erick Ferreira: Acho que vou ler esse livro até o fim. Achei-o muito interessante - acho até que ele se aproxima um pouco de abordagens como a de Belloc e Leão XIII.

Erick Ferreira:

1) A primeira consideração que fiz sobre a classe ociosa foi a seguinte: ela é a força motriz do desenvolvimento de uma nação, uma vez que a vida livre se dá de dentro pra fora, do interior para o exterior, da liberdade de expressão para a liberdade de movimento.

2.1) Parece que o Veblen esqueceu de apresentar os filósofos como o principal grupo dessa classe.

2.2) A maior prova disso é que num país como o Brasil, onde há muito servilismo, há pouco desenvolvimento - falo isso não no sentido meramente pragmático do termo. A verdade é que, onde há o império do trabalho braçal, a mente atrofia.

2.3) Esse é um dos grandes paradoxos do desenvolvimento, pois estamos acostumados a dizer que o trabalho é a fonte da riqueza, como diz até mesmo o Papa Leão XIII. No entanto, onde há muito trabalho, no sentido braçal do termo, não há muito desenvolvimento. Os selvagens vivem ocupados - isso até o Lévi-Strauss demonstrou. O homem civilizado, não - ele pára, medita.

2.4.1) Os dias de descanso do cristianismo levaram muitos a praticarem a contemplação e isso foi uma das chaves do desenvolvimento, uma vez que isso se tornou parte da nossa cultura.

2.4.2) Imagine uma sociedade onde o trabalho ocorra de segunda a segunda, todo santo dia e sem dia de descanso? Isso leva à escravidão, uma vez que a riqueza nessa sociedade se tornou sinal de salvação (ou uma espécie de maldição!).

2.4.3) A indústria cultural acabou destruindo essa cultura de contemplação. Quando as pessoas têm tempo livre, elas acabam desperdiçando esse tempo precioso com entretenimento fútil, vazio, ao invés de estudar e meditar, estudando ou lendo coisas que elevem o espírito até o encontro de Deus.

José Octavio Dettmann:

1) A filosofia, para ser bem feita, necessita da contemplação. Trata-se de ócio produtivo, nunca improdutivo. Para pensar, meditar, você precisa ter tempo livre para isso.

2) O trabalho, enquanto atividade voltada para a promoção do bem comum e de salvação de muitos, precisa ser organizado e isso precisa ser pensado. Não há um bom trabalho, não há uma boa obra - no seu sentido salvífico - sem método - e isso passa pelo filósofo, que é também um teólogo em potência.

José Octavio Dettmann:

1) Fico feliz que tenha gostado do livro! Eu digitalizarei mais livros pra você.

2.1) Eu vou digitalizar pra você o livro Pluto ou Um Deus chamado dinheiro, de Aristófanes.

2.2.1) Foi daí que Aristóteles cunhou o termo "crematística", baseado no personagem Crêmio, que busca a riqueza como sinal de redenção.

2.2.2) Como o fim do homem é ele mesmo, então ele busca a felicidade em si mesmo.

2.2.3) Em Calvino, ele é predestinado ou eleito. E isso leva ao retorno do barbarismo, pois pleno emprego é escravidão.

3) Uma das chaves de leitura possíveis é ler este livro do Veblen junto com A Ética Protestante e O Espírito do Capitalismo, de Max Weber, pois um dos efeitos da ética protestante é criar essa classe, do sentido crematístico do termo.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de maio de 2019.

Comentários:

Edmundo Noir: O ócio é uma faca de dois gumes. Existe o ócio criativo e ócio que leva ao pecado, pois mente vazia é oficina do diabo. É necessário certa educação para o bom uso do tempo livre e das sadias diversões.

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