Pesquisar este blog

terça-feira, 20 de agosto de 2024

O que faço para garantir precisão e confiabilidade daquilo que pesquiso, uma vez que estou navegando num mar oceano de dados e de informações, o que pode me levar a infinitas possiblidades?

1) O segredo está na associação com gente digna, a ponto de resgatar neste mundo digital a idéia clássica da sociedade iniciática. Aristóteles já dizia que a amizade é a base da sociedade política. Se amigo é aquele que ama e rejeita as mesmas coisas tendo por fundamento o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, então aquele que comunga dos mesmos valores que Cristo crê que a verdade é o fundamento da liberdade, a ponto de o desenvolvimento civilizacional fundado no progresso econômico e social ser a expressão dessa liberdade bem servida nos méritos de Cristo.

2) Se o conhecimento for produzido por uma fonte cujo background nega essas verdades conhecidas, que devem ser observadas, ou tem um histórico de vida que não me é conhecido, eu simplesmente não sigo esta fonte, ainda que a pessoa diga eventualmente alguma verdade relevante que mereça ser compartilhada ou mesmo comentada, pois o que ela diz é mero acidente e não é essencial para se conhecer a verdade. A única utilidade que este tipo de fonte de caráter duvidoso pode oferecer é que você pode acumular dados para se produzir uma história sobre a experiência que você teve ao lidar com animais que mentem e que só sabem conservar o que é conveniente e dissociado da verdade. Todo saber fundado no conservantismo é um conhecimento destituído de sabedoria, dada a natureza revolucionária desses intenções animais, já que as coisas que eles fabricam jazem no maligno.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2024 (data da postagem original).

domingo, 18 de agosto de 2024

Diálogo entre José Octavio Dettmann e Marcelo Andrade sobre a identidade nacional brasileira fundada na santificação através do trabalho

Marcelo Andrade: Professor Dettmann, li seu texto sobre a origem do termo "brasileiro". Achei interessante sua perspectiva de que a conexão com o trabalho, especificamente a extração do pau-brasil, é algo positivo e até mesmo santificador.

José Octavio Dettmann: Agradeço, Professor Andrade. De fato, acredito que o trabalho é central na formação da identidade nacional, tanto no Brasil quanto em outros países, como a Polônia que citei no texto. O termo "brasileiro", originado da atividade que marcou o início da nossa história, carrega consigo essa valorização do labor.

Marcelo Andrade: Concordo plenamente que o trabalho é digno e honroso. Aliás, fiz um vídeo recentemente refutando as ideias de um professor que associava o termo "brasileiro" à exploração colonial e defendia que deveríamos usar outro gentílico.

José Octavio Dettmann: É lamentável que ainda persistam visões distorcidas sobre a nossa história, como essa que você mencionou. O Brasil nunca foi uma colônia no sentido de subordinação a Portugal, e o termo "brasileiro" carrega uma história rica e complexa que não pode ser reduzida a uma simples relação de exploração.

Marcelo Andrade: Exatamente! O professor em questão demonstrava um claro desconhecimento da história do Brasil e até mesmo uma visão preconceituosa em relação ao trabalho. É importante resgatarmos a verdadeira história e valorizarmos o trabalho como elemento fundamental da nossa identidade.

José Octavio Dettmann: Sem dúvida. O trabalho é a forma como nos santificamos, como cultivamos não apenas a terra, mas também a nossa alma. O termo "brasileiro" nos lembra dessa conexão vital com o labor e com a construção da nossa nação.

Marcelo Andrade: E é uma honra termos um gentílico único no mundo, que nos diferencia e nos remete à importância do trabalho para conquistarmos nosso lugar no mundo.

José Octavio Dettmann: Concordo. Devemos nos orgulhar de sermos brasileiros, de carregarmos em nosso nome a marca do trabalho e da busca pela santificação através do labor. Que possamos, como brasileiros e como poloneses, seguir o exemplo de Cristo e construir um lar para todos, baseado na verdade, na liberdade e no amor a Deus.

Marcelo Andrade: Amém! Que assim seja. Obrigado pela conversa, Professor Dettmann. Foi muito enriquecedor trocar ideias com você.

José Octavio Dettmann: O prazer foi meu, Andrade. Que continuemos a defender a verdade e a valorizar a nossa história e identidade. Até a próxima!

Postagem Relacionada:

https://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2024/08/analise-detalhada-dos-textos-quando.html

Análise detalhada dos textos "Quando a profissão se torna nacionalidade" (Dettmann) e "Portugal chegou ao Brasil para nos explorar" (Andrade)

Os dois textos abordam a questão da identidade nacional brasileira e a origem do termo "brasileiro", mas sob perspectivas distintas.

Quando a profissão se torna nacionalidade - notas sobre alguns aspectos comparados da História do Brasil e da Polônia, na tentativa de se tomar ambos os países como um mesmo lar em Cristo, por Cristo e para Cristo. 

O texto de José Octavio Dettmann apresenta uma reflexão filosófica e histórica sobre a formação da identidade nacional brasileira, comparando-a com a da Polônia. O autor defende que o termo "brasileiro" tem origem na atividade de extração do pau-brasil, primeira riqueza explorada na terra, e que essa conexão com o trabalho é algo positivo, representando a santificação pelo labor. Ele argumenta que o Brasil nunca foi uma colônia, mas sim uma terra que evoluiu para um reino, e critica a ideia de que a independência tenha sido um ato de "apatria", ou seja, de perda da pátria. Dettmann destaca a importância do trabalho na construção da identidade nacional, tanto no Brasil quanto na Polônia, e vê a data de 3 de maio, celebrada em ambos os países (Dia da Constituição na Polônia e antigo Dia do Descobrimento no Brasil), como um símbolo da união desses povos em Cristo.

Portugal chegou ao Brasil para nos explorar?

Este texto é uma transcrição de um vídeo em que Marcelo Andrade comenta outro vídeo, do Professor HOC, sobre a origem do termo "brasileiro". Andrade discorda da visão de HOC, que associa o termo à exploração colonial e defende que deveríamos usar outro gentílico. Andrade refuta essa perspectiva, argumentando que:

  • O termo "brasileiro" não se consolidou imediatamente após a chegada dos portugueses, e outros termos eram usados para designar os habitantes da terra.
  • A associação do termo com a exploração é falha, pois se assim fosse, deveria ter sido aplicado aos indígenas, que foram os primeiros explorados.
  • A visão de HOC demonstra desconhecimento da história do Brasil, que nunca foi uma colônia no sentido de subordinação legal a Portugal.
  • A conexão do termo com o trabalho não é negativa, mas sim motivo de honra, representando a necessidade de esforço para conquistar as coisas.

Conclusões

Ambos os textos defendem a legitimidade do termo "brasileiro" e sua conexão com o trabalho, embora com argumentações distintas. Dettmann aborda a questão de forma mais filosófica e histórica, comparando o Brasil com a Polônia e destacando a importância do trabalho na construção da identidade nacional em ambos os países. Andrade, por sua vez, foca em refutar os argumentos de HOC, demonstrando seu desconhecimento histórico e a falta de lógica em sua associação do termo com a exploração colonial. Em suma, ambos os textos rejeitam a visão negativa do termo "brasileiro" e enaltecem a sua relação com o trabalho como um valor positivo na formação da identidade nacional.

Postagem Relacionada:

https://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2024/08/dialogo-entre-jose-octavio-dettmann-e.html

Portugal chegou ao Brasil para nos explorar?

Marcelo Andrade:

(0:00) Bom dia, me pediram para fazer um react de um vídeo, acho que um curto vídeo, do Professor HOC, do Instagram. Vamos lá.

Professor HOC

(0:11) Nós não deveríamos ser brasileiros. Na verdade, nós não deveríamos nos chamar de brasileiros. (0:18) Os colonizadores que vinham para cá, extrair o pau-brasil, eles eram chamados de brasileiros? (0:22) E reparem que a palavra brasileiro tem a terminação "-eiro", que indica uma profissão, uma ocupação. (0:29) Assim como engenheiro, bombeiro, cozinheiro.

Ou seja, eles não vinham para cá para construir uma ação. (0:36) Eles vinham para cá para buscar uma matéria-prima e levar para Portugal. (0:39) Se nós analisarmos os nomes dados aos outros povos, como francês, português, chinês, (0:45) nós vamos perceber que são palavras terminadas em "-ês".

(0:49) E esse "-es", significa referente ou pertencente a um determinado local. (0:54) Por exemplo, um burguês era um habitante de um burgo. (0:58) E um freguês é o habitante de uma freguesia.

(1:01) Outra terminação é o "-ano", como em italiano, americano, angolano. (1:06) E nesse caso, ela indica quem se origina ou é relativo àquele local. (1:11) Tá, mas e como nós deveríamos nos chamar? (1:14) Em inglês, nós somos brazilians. Em italiano, nós somos brasilianos. (1:18) E em francês, brésilian. (1:19) Esse é um reflexo de que, por mais que internacionalmente sejamos vistos como uma nação, (1:26) nacionalmente, nós não construímos a nossa identidade.

(1:29) E você, como acha que deveríamos nos chamar? (1:31) Brazês? Brasilianos?

Marcelo Andrade:

(1:34) Bom, vamos lá. (1:35) O professor HOC, né, eu já assisti a alguns vídeos dele, (1:39) me parece uma pessoa, assim, bem inteligente, conservadora, etc. (1:43) Mas aí, nesse vídeo, ele derrapou, ele cometeu equívocos, (1:50) atendeu, seguiu os chavões da esquerda, né? (1:53) Então, é chato isso, né? (1:56) Bom, vamos comentar quais foram os erros aí dele nesse curto.

(2:01) Não sei se isso daí é um corte, se tem um vídeo maior, etc e tal. (2:05) Vou só comentar o que ele falou, né? (2:08) Então, ele critica lá o termo... (2:10) Não, inicialmente ele fala que repete a lenga-lenga, (2:13) e de que o Brasil foi colônia de exploração, né? (2:16) Eu já falei tanto contra isso, já escrevi livro contra isso, (2:20) então acho que nem preciso mais comentar. (2:22) Depois, aí, também tem um problema lógico aí no raciocínio dele: (2:26) ele associa, então, só porque tem a designação -eiro, né? (2:30) Gentílico do Brasil, que virou brasileiro. (2:32) Então, logo, aqui foi colônia de exploração. (2:36) Isso aí não tem lógica nenhuma.

(2:51) Não é porque o gentílico é escrito de um jeito ou de outro que (2:55) você vai saber a origem da pessoa, né? (2:57) Ele não provou logicamente isso. (3:00) Então, esse já é o primeiro erro, já daria pra refutar o vídeo dele, (3:05) porque não tem lógica nenhuma a sequência que ele fez lá. (3:10) Você não tem uma premissa maior, uma premissa menor, (3:12) e uma conclusão razoavelmente construída, né? (3:18) Então, isso aí já tá errado.

(3:20) O segundo ponto é que ele desconhece a história, né? (3:24) Então, primeiro, o termo brasileiro não se consolidou de imediato. (3:29) Aí dá a impressão, quando o Cabral pôs os pés aqui no Brasil, (3:32) chamou todo mundo de brasileiro, e é assim até 2024. (3:36) Não foi assim.

(3:36) Não foi assim por quê? (3:38) Porque naquela época, não tinha essa obsessão que tem no mundo moderno (3:43) de ficar querendo definir tudo, dando padrões, (3:49) colocando normas gramaticais pra tudo, (3:54) estabelecer gentílico de pronto, (3:57) e obrigando todo mundo a falar esse gentílico. (3:59) Não tinha. (4:00) As coisas antigamente eram feitas mais de modo orgânico, (4:03) tanto em pesos, como medidas, como em nomes.

(4:07) Então, um dado claro da história do Brasil é que (4:10) os nomes regionais se consolidaram antes do nome nacional, (4:15) ou seja, o nome paulista, ou ainda são, são paulista, (4:20) e pernambucano eram mais usados comumente do que o termo brasileiro, por exemplo. (4:25) Então, dado o tamanho do Brasil, os regionalismos eram muito fortes, né? (4:30) Então, esses nomes regionais eram mais comuns do que (4:34) um nome genérico para o Brasil. (4:38) Então, já começa o primeiro erro dele.

(4:41) Segundo erro é que o nome brasileiro não foi consolidado imediatamente. (4:49) Ele demorou. Ninguém sabe quando. (4:52) Uns dizem começo do século XVIII, outros dizem século XVII. (4:56) Não foi no começo. (4:58) E junto da designação de brasileiro, (5:01) que efetivamente aqueles que trabalhavam com o pau-brasil, (5:04) havia outros nomes para designar quem morava ou quem nascia no Brasil, (5:09) como, por exemplo, português do Além-mar, português da América, (5:14) brasiliano também foi usado, (5:17) brasis chegou a ser usado, (5:19) inclusive em 1822, quando o Brasil enviou representantes para as cortes portuguesas, (5:26) os próprios portugueses saudaram os brasileiros como (5:29) português do Além-mar ou português da América.

(5:32) Então, essa na realidade era a designação mais comum, (5:36) chamar de português do aquém do além-mar, (5:39) português da América, português da Índia, português de Macau, (5:43) porque Portugal via tudo como pertencente à mesma nação. (5:49) O Brasil não tinha status de colônia. (5:52) Aqui foi chamado de província, depois foi principado, (5:55), mais tarde Estado do Brasil, e por fim Reino Unido.

(5:57) Não havia essa condição de subordinação legal a Portugal, (6:04) conforme se ensina erradamente nas escolas. (6:06) Então, havia outras designações do nome, (6:10) que coloca o argumento do HOC por água abaixo. (6:14) Outro argumento que também coloca o argumento dele também por água abaixo, (6:20) que desmonta a argumentação dele é que, (6:22) se o termo brasileiro fosse associado à exploração, (6:26) ele teria que ter sido designado em relação aos índios, (6:30) porque os índios, supostamente, foram explorados pelos portugueses.

(6:35) Então, na lógica da colônia de exploração, lógica é tudo mentira, (6:38) na lógica da colônia de exploração, os primeiros explorados foram os índios. (6:43) Então, se o termo brasileiro é um termo que se refere à exploração, (6:48) deveriam ter usado brasileiro em relação aos índios, (6:51) só que não era usado. (6:52) Os índios eram chamados de brasilianos, (6:54) e os portugueses que viam morar aqui, (6:57) era mais comum serem chamados de brasileiros da América.

(7:02) E quem nasceu em São Paulo, nenhum nem outro, era só paulista. (7:05) Então, a argumentação dele não faz o menor sentido do ponto de vista histórico. (7:10) E, para enterrar o assunto, (7:13) tem uma certa visão preconceituosa em relação ao trabalho.

(7:19) Porque o trabalho não é uma coisa deletéria, o trabalho é uma honra. (7:23) Então, não é negativo você ter uma designação pedreiro, encanador, etc. (7:29) Tanto é que o grande santo da igreja São José, (7:33) ele é conhecido como São José Marceneiro, carpinteiro, perdão.

(8:04) Porque o dia 1º de maio, os comunistas tomaram de assalto esse dia (8:08) para fazer louvores ao socialismo e tal. (8:12) E aí, o Pio XII, para descomunizar o dia, instituiu o 1º de maio (8:16), dia de São José Carpinteiro, padroeiro dos operários. (8:22) Então, não é uma coisa negativa fazer associações com o trabalho.

(8:29) Não tem nada negativo nisso. (8:31) Aliás, é uma honra o Brasil ter um gentílico diferente de todos os países do mundo. (8:36) Significa que dá uma alusão ao trabalho, (8:38) porque a gente tem que trabalhar para conquistar as coisas.

(8:41) As coisas não vão cair do céu, o dinheiro não dá em árvore. (8:45) Precisa estudar, precisa trabalhar. (8:48) Então, o gentílico Brasil brasileiro, na realidade, é uma honra.

(8:52) Não é uma coisa deletéria. (8:54) É uma coisa que nos honra muito associar conceito de nacionalidade ao trabalho. (9:01) Então, parece que ele tem uma visão preconceituosa com quem trabalha (9:06) ou alguma coisa que designa uma atividade laboral.

(9:12) Isso aí não é nenhuma desonra, né? (9:15) Então, nós vemos por vários argumentos que o vídeo dele é totalmente sensível. (9:21) Do ponto de vista lógico, não tem pé nem cabeça. (9:24) Do ponto de vista histórico, o termo brasileiro não surgiu de imediato.

(9:28) Os índios não eram chamados de brasileiros inicialmente, mas brasilianos. (9:32) Os nomes regionais eram mais fortes. (9:34) Por fim, já mais depois até deu uma corrupção.

(9:39) Não tem nada de errado, né? (9:40) Então, nós vemos que por vários ângulos, histórico, lógica e mesmo a própria honra (9:50) de ser associado a um trabalho, realmente ele errou e errou feio. (9:54) Por isso que é importante estudar história. (9:56) História é a mestra da vida.

(9:58) Quando a pessoa estuda história, ela não vai cometer esse erro. (10:03) A pessoa que estuda história está mais preparada para entender o mundo que nós vivemos. (10:10) Então, por exemplo, para entender o termo brasileiro, a pessoa precisa saber história.

(10:14) Aí não cai nesses erros do HOC. (10:16) Então, se a pessoa conhecesse história, não saberia as origens dos gentílicos do Brasil. (10:22) Depois, não é só brasileiro que se fala, fala mineiro também e campineiro também.

(10:27) Não é nenhuma desonra que quem nasceu em Campinas seja chamado de campineiro e muito (10:32) menos quem nasceu em Minas Gerais ser chamado de mineiro. (10:36) Então, esses argumentos do HOC aí são muito frágeis, servem a chavões e servem no fundo (10:44) a uma visão muito preconceituosa contra o trabalho, o trabalho laboral. (10:50) Vai ver que pessoa muito intelectual e tal gosta de olhar tudo de cima para baixo (10:56) O mundo não é assim. 

(10:57) Então, vamos ficando por aqui e obrigado e até o próximo vídeo.

Marcelo Andrade

Postagens Relacionadas:

https://www.youtube.com/watch?v=8Iy5mFjiBcQ&t=13s

https://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2024/05/quando-profissao-se-torna-nacionlidade.html

https://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2024/06/sobre-o-processo-de-santificacao.html

Notas sobre um paralelo que pode ser traçado entre o "desconcerto" de Corção e o "absurdo" de Camus

“Quem pode ser no mundo tão quieto,
Ou quem terá tão livre o pensamento,
Quem tão experimentado é tão discreto,
Tão fora, enfim, do humano entendimento
Que, ou com público efeito, ou com secreto,
Lhe não revolva e espante o sentimento,
Deixando o juízo quase incerto,
Ver e notar do mundo o desconcerto?”

— Camões, Oitava 3, Lírica

É assim que Gustavo Corção inicia seu livro “O desconcerto do mundo”.

Perfuro-contundente, como gosto de adjetivar aquilo que incomoda, cutuca, arranha, exige esforço reflexivo.

Traço ousadamente linhas aparentemente paralelas entre o “desconcerto” de Corção e o “absurdo” de Albert Camus.

Aparentemente paralelas, porque uma e outra inclinam-se sutilmente, mudando em graus os seus cursos até se esbarrarem. Encontram o perfeito ponto de intersecção.

Como assim? O que o católico Corção tem a ver com o existencialista Camus!?”, indagará alguém, ao que responderei: tudo. O “homem desconcertado” de Corção é fundamentalmente o “homem revoltado” de Camus.

Sim, é verdade que ambos se diferenciam na ordenação dos afetos, porém se igualam em tudo o mais, sobretudo na busca do sentido muito além do próprio sentido.

O “homem desconcertado” e o “homem revoltado” são o homem inconformado em ser conformado. São o homem quieto externamente, mas que o tempo todo dialoga consigo mesmo e observa absurdos e desconcertos ao seu redor e intimamente.

São o homem que o mundo enxerga pelas lentes da literatura e que sabe que “com ela surge a reclamação pré-histórica, a queixa acumulada, represada, o gemido que ficara escondido nas belas figuras de animais e guerreiros… Pode-se dizer, sem risco de erro, que onde está o homem está o gemido”.

Um ótimo livro que eu já deveria ter lido há muito tempo. Faço-o agora com a alegria de ter encontrado já nas primeiras páginas um magnífico tesouro.

O gemido é o prenúncio discreto do escandaloso choro do recém-nascido e o arauto tímido do derradeiro suspiro do moribundo. É o companheiro fiel de todos nós. É o absurdo da vida e o desconcerto do mundo. É, enfim, o selo indelével que carregamos à eternidade.

Paulo Henrique Cremoneze

Postagem Relacionada:

https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7230914359483351040/

A Geopolítica das Olimpíadas

(0:00) Olimpíadas e geopolítica, muita gente me pediu para eu falar disso, eu já fiz um vídeo falando sobre o atentado terrorista de Munique, na Alemanha, (0:10) mas geopolítica se manifesta na Olimpíada ou as Olimpíadas são manifestações geopolíticas de muitas outras maneiras, (0:20) desde a escolha da sede, uso do soft power, mas hoje eu quero falar especificamente de um elemento geopolítico que está ligado com as Olimpíadas, (0:31) que é o nacionalismo. (0:33) Nós chegamos ao fim das Olimpíadas, dos Jogos de Paris, e se falou muito, o discurso de encerramento foi sobre como as nações estavam ali em paz, (0:45) apesar de todos os problemas que nós sabemos que o mundo tem hoje, geopoliticamente falando. (0:52) E realmente é curioso, e desse ponto de vista os Jogos Olímpicos representam um sonho almejado da geopolítica ou das relações internacionais, (1:04) que é a busca pela paz, a busca pela ordem, pela estabilidade, por justiça.

(1:11) De muitas maneiras, os Jogos Olímpicos conseguem representar isso. (1:17) A gente tem nações do mundo todo reunidas ali para competir de forma adversarial, mas com respeito e sem se matarem. (1:29) É uma competição pacífica no esporte, onde todos se enfrentam e se respeitam e mostram humildade.

(1:39) O que dizer daquele pódium da Simone Biles e da outra atleta americana reverenciando a Rebecca? (1:51) Aquela cena, aquela foto é muito forte. (1:54) Ela é uma foto que mostra, apesar da rivalidade, da competição, da animosidade, da disputa por poder, existe muito respeito. (2:05) Seria uma manifestação bonita da geopolítica, onde todos os competidores e adversários, no final das contas, se respeitam.

(2:17) Óbvio que o mundo fora do esporte não é assim, e por isso talvez os Jogos Olímpicos tenham essa relação com a paz, (2:28) de busca pela paz ou quase alcançando a paz. (2:32) Eu vou mais longe. (2:34) Um tema do final da cerimônia de encerramento falou sobre um ser de outro planeta que estivesse ali e vendo os Jogos Olímpicos.

(2:46) Vamos imaginar essa situação, onde a gente olhasse de fora da Terra e todos os povos da Terra estivessem reunidos praticando competições esportivas. (3:01) Claro que para nós, aqui de dentro, não enxergamos os Jogos dessa maneira. (3:07) É muito difícil a gente ter essa visão total do macro.

(3:12) A gente olha para os Jogos Olímpicos como uma manifestação das divisões que existem. (3:18) Afinal de contas, são os países que estão competindo ali, e o mundo está dividido entre várias pequenas ilhas, (3:27) cada um com o seu país, e você olha e fica pensando, a China ganhou aquilo, os Estados Unidos ganharam mais medalha, (3:35) nosso adversário agora é a Polônia, mas depois no outro esporte nós vamos enfrentar o Egito. (3:44) E a nossa visão, o nosso olhar, ele é recortado, ele não é um olhar, (3:48) todos os seres humanos estão aqui reunidos nesse lugar, de todos os grupos representados e competindo entre eles pacificamente.

(4:01) Talvez um alienígena que estivesse olhando isso de fora acharia interessante, (4:06) poderia até chegar à conclusão que nós somos uma espécie mais evoluída, mais organizada, (4:13) capaz de resolver as nossas diferenças sem se matar, mais justos, (4:21) enfim, uma série de qualidades que nem nós mesmos conseguimos enxergar nem neste momento específico, (4:28) porque a gente não consegue tirar a lente nacional. (4:33) Isso é muito interessante, é pura geopolítica, (4:38) porque nós partimos do nosso olhar para o mundo de acordo com o lugar que a gente veio. (4:46) Nada mais geopolítico do que isso, porque geografia é sobre lugar, (4:53) o lugar da onde você veio vai determinar para quem você vai torcer.

(5:01) E eu falo disso o tempo inteiro quando eu falo de geopolítica, que eu explico que existem dois amores. (5:08) O amor herdado, que você não escolhe, é dado para você. (5:13) O amor pelos nossos pais, você não escolhe, é dado, você recebeu, você herdou ele.

(5:19) E o amor adquirido, que é o amor que você escolhe, (5:22) o amor como, por exemplo, a pessoa que você quer escolher passar o resto da sua vida, (5:28) esse seria o amor adquirido. (5:29) Não em todas as sociedades, também já expliquei isso em várias sociedades, (5:33) você não escolhe com quem você casa, o casamento é arranjado. (5:38) Você aceita se casar não pelo amor adquirido, mas pelo amor herdado, (5:43) pelo amor à sua família, porque a sua família escolhe e você aceita, (5:47) porque você ama a sua família e aquele amor você não pode mudar.

(5:51) Ele não é racional. (5:53) É a mesma coisa com a nossa torcida, o nosso olhar para os Jogos Olímpicos. (5:58) Nós torcemos para o nosso país e a gente torce para o nosso país (6:03) não é porque ele é mais bonito, não é porque ele é mais justo, (6:07) porque ele é mais competente, porque ele é mais disciplinado, (6:10) porque ele tem mais força.

(6:13) A gente torce para o nosso país e todos os povos torcem para o seu próprio país (6:19) porque você nasceu ali, porque aquele é o seu país. (6:27) Essa não é uma escolha independente, não é uma escolha que você vai elencar valores, (6:32) critérios e falar assim, não, eu quero torcer para o melhor. (6:35) Não, você torce para o seu e você torce para ele porque ele é seu.

(6:42) Vejam, então a gente não consegue olhar para o mundo sem essa lente (6:47) e a gente assiste os Jogos Olímpicos com esse olhar, com essa visão, (6:53) com essa perspectiva o tempo inteiro e nós estamos aprisionados a ela. (6:59) Essa é uma lealdade conectada com a ideia do amor herdado. (7:05) A nossa nação, onde a gente veio, o lugar que a gente veio vai moldar quem somos (7:12) e parte da nossa identidade está ligada com essa identidade coletiva da nossa nação.

(7:20) Por isso que o nacionalismo é uma expressão do amor herdado. (7:26) Claro, eu posso mudar de nacionalidade, posso, eu adquiri, (7:31) mas mesmo assim, como eu sempre digo, você não vai apagar o lugar de onde você veio de verdade. (7:36) Você adquiriu um novo amor e aí é talvez a distinção entre Brasil e República Federativa do Brasil.

(7:44) Você nasceu no Brasil. (7:45) A nossa relação com a República Federativa do Brasil é bastante complicada, (7:50) mas a nossa relação com o Brasil é mais automática, ela é instantânea, ela é natural, ela é herdada (7:55) e por isso que a gente vai torcer para o Brasil. (7:59) Claro que essa lealdade, esse amor herdado, muitos falam que ele é incondicional, (8:06) que ele é uma disposição total e imediata de se sacrificar, de acreditar e torcer.

(8:12) Mesmo que a gente saiba que somos piores, nós estaremos torcendo. (8:17) Não acho que isso impede a gente de criticar, mas no dia seguinte a gente vai acordar (8:22) e vai torcer de novo para o nosso time, para o nosso país. (8:27) E essa manifestação do nacionalismo é muito forte.

(8:32) Parte da identidade nacional, que é isso que nos faz ser membros dessa comunidade imensa (8:38) de pessoas estranhas, na maioria delas, porque a gente não conhece a maioria dos brasileiros, por exemplo, (8:45) é o que nos une e o que nos faz andar junto. (8:49) Então essa identidade nacional é construída por vários elementos e o esporte é sim um elemento. (8:55) E eu sempre digo que no Brasil esse elemento é inclusive mais forte do que os outros elementos (9:00) que a gente precisaria, como a história, como termos heróis, como lideranças.

(9:05) Faltam muitos desses elementos na construção da identidade nacional brasileira. (9:10) E um dos elementos fortes, que talvez seja um dos únicos onde nós nos sentimos plenamente (9:17) ou totalmente focados em sermos brasileiros, é no esporte. (9:24) O esporte tem esse poder unificador, ele ajuda a construir identidades.

(9:28) Não é só aqui, mas aqui a nossa ênfase na nossa identidade nacional, o peso do esporte (9:34) na nossa identidade nacional é ainda maior do que nos outros lugares. (9:38) E infelizmente no Brasil ele termina no esporte, porque raramente ele ultrapassa o esporte. (9:46) O patriotismo brasileiro fica restrito e limitado só à ideia da hora que a gente está torcendo.

(9:52) E óbvio que isso afeta a nação, afeta a gente estar unido, a gente trabalhar junto, (9:57) a gente conseguir prosperar coletivamente em grande escala. (10:04) Uma outra discussão interessante sobre esse olhar dos Jogos Olímpicos e do nacionalismo (10:10) é uma pergunta se o patriotismo pode ser considerado uma virtude. (10:17) E muitos acreditam que sim.

(10:20) Eu acho que faz sentido a gente olhar como uma virtude, (10:23) porque você ser capaz de admirar, se sacrificar, torcer, gostar pelo seu grupo, (10:33) pelo grupo que você faz parte, é o que faz você prosperar. (10:38) O problema do Brasil é que a gente é incapaz de fazer isso em qualquer momento fora do esporte, (10:44) como eu estava explicando aqui para vocês. (10:46) Se a gente conseguisse fazer isso fora do esporte, a gente teria prosperado muito mais.

(10:51) Nações que são capazes de fazer isso fora do esporte em vários momentos, (10:55) como Alemanha, Japão e Estados Unidos, são nações muito prósperas, (10:59) porque elas conseguem construir mais coisas juntas. (11:05) Então o patriotismo é uma virtude. (11:07) O patriotismo no esporte também pode ser uma virtude.

(11:12) Dá alguns exemplos que manifestam a virtude máxima disso. (11:16) Um deles é o que aconteceu em 1971, no campeonato mundial de tênis de mesa. (11:23) A China estava jogando com os Estados Unidos, (11:25) e o jogador americano virou para o jogador chinês no final do jogo e falou assim, (11:28) olha, eu queria treinar com você, a gente pode treinar junto para eu aprender mais? (11:33) E ele ficou todo assustado, com medo, falou que não, e saiu correndo e contou para os técnicos.

(11:40) Os técnicos foram lá e contaram para oficiais do Ministério das Relações Exteriores, (11:44) e aquilo foi escalando até chegar no Mao Tse Tung, (11:47) e aí o Mao olhou e falou assim, não, ele está permitido de treinar com o americano. (11:53) Aquilo permitiu uma abertura de um canal de comunicação entre China e Estados Unidos, (11:59) é conhecido como a diplomacia do ping-pong e do tênis de mesa. (12:03) Então, nesse sentido, o esporte, o patriotismo no esporte, (12:07) abriu um espaço para uma diplomacia, para um canal de comunicação, (12:11) e isso mostra que o esporte, que o patriotismo no esporte pode sim ser uma virtude.

(12:19) A gente pode dizer que o patriotismo no esporte é uma linguagem do nacionalismo moralmente rica. (12:32) Claro que eu posso pensar em situações onde o patriotismo no esporte é nocivo e negativo, posso, (12:40) o próprio exemplo do atentado terrorista de 92 contra os atletas, de 72 contra os atletas israelenses. (12:49) Ali o patriotismo se manifestou, o patriotismo no esporte usou o esporte como uma arma de guerra, (12:58) matando, sequestrando e ferindo outros atletas.

(13:02) Uma outra situação que aconteceram nesses jogos em Paris, por exemplo, (13:07) você transformar o seu adversário em um vilão, pelo patriotismo. (13:13) Uma coisa é você torcer e tal, e querer que outro perca, (13:16) outra coisa é depois que acabou o jogo, acabou o resultado, (13:21) você usa as situações políticas para diminui-lo, para humilhar, (13:28) ou para usar aquilo de uma forma política. (13:32) Então quando a atleta brasileira ganhou da israelense, (13:37) muita gente ficou feliz pelo seu ódio a Israel, pelo antissemitismo, (13:44) ou por outras manifestações políticas diversas.

(13:49) Quando você transforma o seu adversário em um vilão, (13:52) aí então o patriotismo no esporte não se torna uma virtude, mas talvez um vício. (13:58) A gente tem muitas outras situações onde o nacionalismo ou o patriotismo (14:08) se manifesta no esporte de uma forma diferente. (14:11) Eu estou falando aqui para vocês que a gente não conhece os jogos olímpicos (14:16) sem ser pela lente dos países, o que é verdade, (14:21) mas se a gente olha para a Grécia Antiga, quem competia não eram países, (14:25) eram atletas e indivíduos.

(14:27) E hoje em dia os atletas e os indivíduos competem, (14:31) mas eles representam um outro grupo. (14:34) E a bandeira que vai subir é o hino daquele grupo, (14:37) e a torcida é por aquele grupo. (14:40) Então é menos sobre o indivíduo e mais sobre os países.

(14:45) Mas vejam que curioso, se o esporte é uma manifestação do nacionalismo, (14:51) ele ajuda a construir identidade nacional, (14:53) dá para pensar em várias situações onde o esporte está separado da nação (15:01) e mesmo assim não alterou a política. (15:06) Então talvez dá para se imaginar um momento que um jogo olímpico (15:12) ou um esporte de grande escala não vai ser só sobre nações. (15:18) A gente tem o time olímpico dos refugiados, (15:20) a Irlanda, que é uma nação independente, (15:25) ela tem o esporte unificado em grande medida com o Reino Unido.

(15:31) E a gente tem exemplos contrários, por exemplo, na Espanha, os bascos, (15:36) tem um time privado, interno, que se chama Atlético de Bilbao. (15:42) E esse time não pode ter jogadores que não forem de origem basca, (15:47) o que seria até preconceituoso. (15:50) Porque a Espanha não permite que ele tenha um time separado.

(15:55) Talvez, se ele tivesse um time separado, ele não ia precisar ter um time privado (15:59) com essas regras. (16:01) Já a Cataluña também poderia querer ter o seu time de futebol, (16:05) o seu competir autonomamente, (16:08) mas ela tem jogado com os seus jogadores na Copa dentro do time da Espanha. (16:14) E está tudo bem.

(16:41) A mesma coisa não, porque o Wales é parte, mas ela tem times separados. (16:49) E está tudo bem. (16:51) A gente chega num ponto até de existirem times (16:55) que não representam países, que eles não existem.

(16:59) Por exemplo, das Índias Ocidentais. (17:03) Isso é uma região de ex-colônias britânicas, (17:07) vulgo, a gente poderia definir como uma região do Caribe, (17:12) que tem 13 países e 19 áreas que são governadas por partes de outros. (17:19) E ali, esses países todos jogam juntos com um único time no críquete.

(17:26) E eles não são um país. (17:29) Então, percebe, a gente consegue criar times que competem (17:33) e a gente aceita a existência desses times, (17:36) mesmo eles não sendo países. (17:39) E certos países que já são independentes, como a Irlanda, (17:44) querem jogar com um outro país do qual eles faziam parte (17:47) e se libertaram politicamente.

(17:50) Às vezes o esporte consegue transcender a identidade nacional, o nacionalismo. (17:58) Outras vezes ele não transcende, mas ele se junta, (18:03) mesmo não sendo parte daquele lugar politicamente. (18:07) O que eu quero mostrar para vocês é que, claro, (18:11) eu comecei explicando aqui nesse vídeo que Olimpíada é sobre nação, (18:19) sobre nacionalismo.

(18:21) Mas existem situações onde essa regra é quebrada. (18:27) E isso é curioso. (18:28) Talvez isso seja uma representação, um exemplo dessas mudanças (18:34) dos nossos conceitos de Estado-nação, de nacionalidade e como isso funciona.

(18:41) Acho que o mais interessante é perceber aqui a ideia da nossa torcida. (18:47) E o que motiva a nossa torcida é a nossa relação com essa torcida. (18:51) E essa relação tem tudo a ver com a geopolítica.

(18:53) Porque você torce para quem você torce, porque você nasceu (18:59) ou porque você é daquele lugar. (19:01) E o lugar é a geografia. (19:04) A geografia é a parte da geopolítica que se conecta com a política (19:08) e, com isso, a política é o nacionalismo junto com a geografia.

(19:14) A gente tem Olimpíadas como uma manifestação pura de geopolítica. (19:21) Mas existem várias outras, como eu comentei com vocês, (19:23) depois eu faço outros vídeos explicando as outras. (19:27) Mas é interessante a gente pensar sobre isso.

(19:29) Imagina alguém vindo de fora e olhando para a terra, (19:32) todos os humanos reunidos ali, jogando e tal. (19:36) Parece que a gente vive em paz, que nós somos unidos (19:40) e que não existem as divisões que existem. (19:43) E mesmo entendendo as divisões dos países e das nações, (19:47) ainda assim a gente vai olhar e falar (19:50) que está tudo bem, são só rivalidades.

(19:54) Mas não é isso que está acontecendo na geopolítica, muito ao contrário. (19:57) É isso aí, gente.

Professor HOC

Postagem Relacionada:

https://www.youtube.com/watch?v=0YueW5v7JtM

A internet por um fio - sobre a guerra submarina que pode acabar com sua conexão

(0:01) Os atuais embates geopolíticos pelo poder tornam evidente a importância de proteger cada vez mais (0:08) as infraestruturas críticas de ataques. Uma dessas infraestruturas críticas, (0:15) que é pouco falada, mas desempenha um papel sensível no mundo, são os cabos submarinos. (0:25) Hoje nós vivemos em um mundo hiperconectado e os cabos submarinos são essenciais para (0:31) uma ampla gama de atividades vitais para a nossa sociedade moderna, desde transações financeiras (0:37) até comunicações globais ou cooperação científica internacional.

Somente no setor financeiro os cabos (0:44) submarinos transportam cerca de 10 trilhões de dólares em transferências financeiras diariamente. (0:51) Eles são comumente utilizados em redes internacionais de telecomunicações, interligam países e (0:56) continentes e são fundamentais para a utilização da internet da forma como conhecemos atualmente. (1:02) As primeiras conexões submarinas foram registradas em meados da década de 1850 entre Dover, na (1:09) Inglaterra, e Calais, na França, poucos anos após a invenção do telégrafo.

Em 1858 foi lançado ao (1:17) mar o primeiro cabo transatlântico ligando Londres à Terra Nova e Labrador, no Canadá. Na época eles (1:24) eram bem frágeis e protegidos por uma mistura de cânhamo, substância produzida com a folha da (1:30) cannabis, e uma borracha indiana. Desde então as conexões submarinas evoluíram, passaram a ser (1:36) feitas por fibra ótica e hoje podemos afirmar que os mais de 485 cabos submarinos existentes e (1:44) operantes são responsáveis pelo tráfego de mais de 95% dos dados intercontinentais.

O restante é (1:51) feito através de satélites que apresentam a mesma finalidade. Porém, os cabos submarinos ainda ganham (1:56) em termos de custo de instalação e manutenção, velocidade de transferência dos dados e quantidade (2:02) de dados transferidos. Eles são tão cruciais para a revolução digital quanto a expansão do poder (2:07) computacional e os avanços da inteligência artificial.

A construção desses cabos submarinos (2:13) remonta a tempos mais pacíficos. Além disso, eles ainda não representavam uma vantagem geopolítica (2:19) importante. O objetivo no início era apenas viabilizar serviços de comunicação mais ágeis.

(2:25) Por essa razão, eles não foram projetados para serem constantemente patrulhados e reparados. Porém, (2:31) hoje a realidade é outra. O advento da internet impulsionou a revolução das comunicações e alavancou (2:37) a importância dos cabos submarinos a um papel muito mais sensível e estratégico para a economia global (2:43) e para o sistema de comunicação mundial.

Não é apenas um volume crescente de dados atravessando (2:48) os cabos submarinos. A sensibilidade desses dados também está aumentando, envolvendo não somente (2:54) dados de pessoas privadas ou entes privados, como também de governos. Com isso, a proteção dos cabos (3:02) passou a estar diretamente relacionada à segurança nacional dos países.

Hoje, não estar conectado a (3:08) um cabo submarino significa não fazer parte do mundo. Um bom exemplo disso é o que ocorreu com (3:13) os residentes da ilha Matsu de Taiwan quando o navio chineses cortaram os dois cabos das ilhas (3:19) no início de fevereiro desse ano. Esse evento ficou conhecido como o bloqueio invisível e todos foram (3:25) afetados.

As empresas tiveram suas atividades afetadas sem acesso a seus sistemas, aeroportos (3:30) e hotéis também. Sem acesso à plataforma de comércio eletrônico, a logística básica foi (3:36) prejudicada para os negócios, como restaurantes e lojas. Durante 50 dias, os residentes ficaram (3:42) com acesso limitado à internet, utilizando um sistema de transmissão de rádio por micro-ondas (3:47) que fornecia também acesso limitado e lento à internet.

Mas os ilhéus de Matsu tiveram sorte. (3:54) Em 31 de março, as autoridades taiwanesas conseguiram que uma embarcação reparadora começasse a consertar (4:01) os cabos. Normalmente, a espera é muito longa porque a demanda pelos 60 navios de cabos do (4:08) mundo supera muito a oferta, especialmente porque alguns dos navios, além de fazerem reparos, (4:13) também fazem novas instalações.

Assim, fica evidente como os cabos submarinos passaram a (4:18) representar um tema sensível para os países. Ainda mais agora que o mundo enfrenta um cenário (4:22) de forte instabilidade nas relações internacionais entre grandes potências e com a invasão da Rússia (4:28) à Ucrânia, podendo então os cabos se tornarem um alvo para disputas geopolíticas. Um fator (4:34) importante que complica a proteção de cabos submarinos para os países é que eles são em (4:39) grande parte de propriedade de empresas de comunicações privadas.

Os cabos geralmente (4:44) são financiados por consórcios de empresas de telecomunicações, envolvendo também cada vez mais (4:50) grandes empresas de tecnologia. O mercado é dominado por quatro fornecedores principais. (4:55) A primeira é a Alcatel Submarine Networks, da França, subsidiária da Nokia.

A segunda é a (5:01) Subcom, com sede nos Estados Unidos. A terceira é a NEC, do Japão. E a quarta é a Huawei Marine (5:08) Networks, chinesa, que controla 10% do mercado submarino de cabos de internet no mundo.

Os (5:15) provedores, tais quais Amazon, Facebook, Google, Microsoft, estão aumentando sua participação e (5:23) transformando completamente o mercado de cabos submarinos, construindo a infraestrutura necessária (5:28) por conta própria. Por costume, nenhuma empresa operadora dos cabos está pensando na segurança (5:34) do sistema global ou considerando os grandes desafios geopolíticos futuros que podem ameaçá-los. Além (5:41) disso, os proprietários privados têm mostrado até agora uma grande relutância em assumir os custos (5:47) de aumentar as medidas de proteção.

A propriedade privada de cabos submarinos fez com que muitos (5:52) governos, até muito recentemente, não tivessem o mesmo papel ativo que em outras indústrias (5:57) estratégicas, como energia e transporte marítimo, por exemplo. Além disso, os cabos submarinos não (6:04) têm bandeira, ou seja, são em sua maioria propriedades privadas. Eles não são legalmente (6:10) associados a nenhum país em particular.

Isso complica o status dos cabos sob a lei internacional. (6:16) A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, por exemplo, não apresenta (6:22) disposições que proíbem os Estados de tratar os cabos submarinos como alvos militares legítimos (6:28) durante a guerra. Talvez o ponto mais preocupante relacionado a ataques contra a infraestrutura de (6:33) comunicação submarina seja que agentes mal intencionados não precisam ameaçar ou (6:38) perpetrar ataques em cabos ou infraestrutura de outros atores.

Eles podem simplesmente controlar (6:44) e dominar redes de cabos submarinos próprias para coagir e punir inimigos. Ao dominar uma rede, (6:50) os governos poderiam usar a vantagem tecnoeconômica e o controle desses cabos para alavancagem política. (6:58) Por exemplo, um Estado que domina uma rede pode ameaçar o livre acesso à internet para aqueles (7:04) a quem os cabos chegam.

Isso pode criar uma dependência entre os países que utilizam o (7:09) mesmo cabo, aumentando também a vulnerabilidade desses países. Outra preocupação que tem surgido (7:15) também se respeita a espionagem e os ataques cibernéticos. Por mais que sejam atividades mais (7:21) difíceis do que simplesmente cortar o cabo, por envolver a necessidade de se chegar a ter um (7:26) ponto estratégico no cabo, no fundo do mar, para instalar o material necessário para a espionagem, (7:31) ainda assim é um risco real que muito preocupa os países, levando o debate sobre a necessidade de (7:36) se aprimorar a tecnologia e as estratégias de monitoramento ou patrulhamento.

Essa questão (7:42) está relacionada à entrada no mercado de grandes instaladores e operadores de cabos estatais ou (7:48) afiliados ou financiados pela China, Rússia e outros estados autoritários. Países onde a diferença (7:54) entre público e privado é muitas vezes tênue. Isso significa que questões sobre segurança, (8:00) competição e domínio de cabos submarinos podem passar a ser propositalmente incorporadas às (8:07) políticas desses países.

A China, por exemplo, está explorando a vulnerabilidade das redes, (8:13) investindo nos cabos submarinos e financiando projetos como uma extensão submarina de sua (8:19) iniciativa do Belt and Road, que é a nova rota da seda. Isso passou a configurar como uma estratégia (8:25) de influência, pois os líderes chineses entendem bem a importância de controlar, (8:30) acessar e distribuir informações e inteligência para as populações. O Plano Estratégico Made (8:36) in China 2025 visa que a China controle 60% do mercado global de fibra ótica até 2025.

(8:45) Até o momento, das sete maiores empresas de cabos de fibra ótica do mundo, cinco são chinesas. O (8:51) país está expandindo continuamente a sua frota submarina e desenvolvendo seu próprio setor de (8:56) cabos submarinos. Além disso, oferece a outros países projetos de instalação de cabos a preços (9:02) baixos, uma estratégia que, por mais que pareça altruísta, levanta preocupações em relação à (9:07) dependência e à vulnerabilidade dos países em relação à China.

Na região do Pacífico, (9:12) muitas ilhas ainda não estão conectadas e sofrem com uma infraestrutura precária para a internet. (9:18) Lá, observamos uma corrida constante entre empresas americanas e chinesas para liderar (9:23) a instalação de cabos na região. A Micronese Oriental, por exemplo, abriu um processo de (9:28) licitação para ter seu próprio cabo submarino e o financiamento ficou com o Banco de Desenvolvimento (9:33) Asiático.

Essa licitação desagradou os Estados Unidos, que investem em cabos na região e não (9:39) querem a China interferindo no negócio. O governo dos Estados Unidos, que possui uma forte influência (9:44) pela região, disse que o cabo pode gerar ameaças à segurança caso instalados por uma empresa (9:49) chinesa. Por conta disso, os estados federados da Micronese recuaram e desistiram por hora de (9:56) usar o financiamento do Banco Asiático.

A competição entre Estados Unidos e China aumenta a perspectiva (10:01) de outros países usarem os cabos para se impor geopoliticamente. A Global Cloud Exchange da (10:08) Índia, por exemplo, é proprietária do cabo Falcon, que conecta Egito, Sudão, Arábia Saudita, Iêmen, (10:16) Oman, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait, Iraque, Irã, Índia, Sri Lanka e Maldivas. (10:23) Se, por exemplo, a reaproximação do Irã e da Arábia Saudita, mediada pela China, se desgastar, (10:30) um dos parceiros pode optar por inviabilizar o seu ponto de recepção do cabo ou optar pela (10:36) utilização de um outro cabo, prejudicando assim todos os envolvidos.

Todos esses fatos nos levam (10:42) a traçar três tendências que estão acelerando os riscos à segurança dos cabos submarinos. Primeiro, (10:48) à medida que o mundo continua a se digitalizar, muito mais cabos serão necessários nos próximos (10:53) anos. Espera-se que seu número cresça cerca de 30% ao ano e, com isso, a relevância dos mesmos (10:59) para o mundo também vai aumentar.

Segundo, o volume de dados enviado cresce diariamente, (11:05) assim como a sua sensibilidade. E terceiro, essa infraestrutura crítica será vista cada (11:10) vez mais por países autoritários como uma ferramenta para promover o seu poder e influência. (11:16) Dada a importância crítica dos cabos submarinos para a segurança transatlântica, garantir sua (11:22) total proteção deve ser uma prioridade coletiva.

Embora os cabos sejam gerenciados, (11:28) mantidos e protegidos de forma privada, os governos têm de promover avaliações de risco (11:33) nacional referentes aos projetos, garantir o compromisso do setor privado com a segurança (11:39) através de leis e desenvolver recursos nacionais de monitoramento e reparo dos cabos. Além disso, (11:46) o desenvolvimento de tecnologias emergentes, como a criptografia avançada e a inteligência (11:51) artificial, pode fortalecer ainda mais a segurança deles, impedindo ataques cibernéticos e garantindo (11:57) a integridade das comunicações. Para os próximos anos, esperamos que tanto os países quanto as (12:03) empresas que compõem o mercado se unam para proteger o que hoje conhecemos como a espinha (12:08) dorsal que sustenta a comunicação global.

Professor HOC

Postagem Relacionada:

https://www.youtube.com/watch?v=89GS_VkDUrs