1) Na época de Lima Barreto, costumava-se dizer que "livro não se empresta".
2) Considerando que muitos sequer agradecem à caridade prestada, a ponto de dizer que o nascido nesta terra é ingrato - o que leva à apatria, a desconectar a terra àquilo que se fundou em Ourique -, então eu só vou ser liberal com quem é leal para comigo; com os que nunca me ajudaram ou com os que nunca me emprestaram o ouvido, eu venderei caro tudo aquilo que sei ou que coleciono, de modo que me dêem o devido valor.
3.1) Se é verdade que devo dar de graça aquilo que de graça recebo, então devo dar de graça a quem internalizou dentro de si a idéia de amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, mas a quem conserva o que é conveniente e dissociado da verdade a solução é oferecer essa vantagem a quem está realmente buscando e cobrar um preço justo por isso, no regime de oferta e demanda, já que dar de graça algo a um conservantista é favorecer uma marca típica da apatria que há nesta terra: querer vantagem em tudo. Foi por causa disso que o Brasil se tornou anticristão, ao seceder de Portugal e daquilo que se fundou na missão de servir a Cristo em terras distantes.
3.2.1) Essa cultura do jeitinho é vilania e precisa ser combatida - e isso não se dá fazendo riqueza um sinal de salvação, mas internalizando Cristo de modo a amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Ele fundamento.
3.2.2) Se a pessoa vê nobreza nos meus atos, então a pessoa abrirá a carteira dando o que achar justo, pois reconhece que meu trabalho é digno, dando liberdade para fazer meu trabalho dentro dos limites da doação: eis o distributivismo.
3.2.3) Se digitalizo os livros que compro de modo a difundir o que sei a quem realmente está interessado, então premiar o esforço da digitalização seria algo justo.
3.2.4) Ao invés de a pessoa pegar um livro físico emprestado e não me devolver, ela adquire uma cópia de um livro que tenho na biblioteca e lê pelo tempo que quiser. Seria mais ou menos no formato daquele que me empresta o caderno para querer estudar por ele.
3.2.5.1) Se o livro estiver livre de direitos autorais, aí eu abro isso que faço para o público, já que em ambiente público você pode fazer comércio, assumindo todos os riscos inerentes da atividade - e aí a cultura de permissão, de licença para fazer isso, vale, pois você sai de uma ordem privada para a ordem pública.
3.2.5.2) Do contrário, prefiro fazer isso para os que me são mais próximos, já que o que se faz na vida privada não pode ser violado - como ofereço o que digitalizo para os mais próximos, então seria descabido um processo por violação de direitos autorais, por conta de invasão de privacidade, já que isso seria considerado bagatela, penalmente irrelevante.
3.2.5.3) Não pode haver cultura de permissão onde o ambiente é o da intimidade, pois a intimidade traz em si a liberdade, a liberdade interior - se houvesse essa permissão, órgãos como o ECAD seriam totalitários, instigando a violação sistemática das casas, toda vez que a pessoa resolvesse ouvir música no seu tempo de lazer ou ler um livro que ela mesma digitalizou de sua biblioteca.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 12 de abril de 2018.