1) Quando você tem três fazendas, você precisa estar atento a uma grande quantidade de informações, de modo a que você possa tomar a melhor decisão possível, para o bem de cada uma delas. Por conta das circunstâncias, já que cada bem se encontra em lugares diferentes, tomar uma decisão sensata e correta pode ser difícil e ela tende a ser equivocada, pois há muitas variantes e muitas coisas a se levar em conta. Esse microgerenciamento inviabiliza a produção de riquezas - por isso que o centralismo não funciona, pois ele não leva em conta as circunstâncias locais, já que não tem ninguém que esteja próximo para cuidar daquilo que é preciso. Por isso também não foi possível um sistema similar ao comunismo na Idade Média.
2) Quando se tem três fazendas para se gerenciar, você deve preparar seus filhos de modo a que possam assumir o comando de cada uma delas e que possam prosperar com as suas próprias forças, pois a verdadeira riqueza vem da vocação, fundada no fato de servir a todos os que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. Além de prepará-los para a sucessão, você ensina a eles a como cuidarem bem do que será um dia deles. Isso é distributivisimo fundado na generosidade e na própria autoridade de ser pai, coisa que é conforme o Todo que vem de Deus. E a função de pai é ser líder, pois é preciso preparar os filhos para a vida em liberdade, em conformidade com o Todo que vem de Deus.
3) Agora, quando se preza mais o dinheiro do que a vocação agrícola, você delega qualquer tipo de pessoa que tenha um MBA em administração de empresas de modo a que a fazenda possa lhe trazer mais dinheiro - e a teleogia da delegação libertária está centrada nisto: no amor ao dinheiro, que é tomado como se fosse um deus, a razão de ser de todas as coisas- e ao se delegar a fazenda a especialistas técnicos em produção de riqueza, eis que surge a economia de escala e a otimização dos custos. A infungibilidade fundada nas circunstâncias dos lugares se converte em dinheiro, em algo fungível - e a fazenda só valerá pelo que produz e não porque foi algo conquistado e batalhado pelos ancestrais que legaram esse bem a você. E o homem com isso vai perdendo os seus laços com a terra em que nasceu, pois o difícil trabalho de tomá-la como se fosse um lar foi perdido, por conta da ganância.
4) Para se converter bens infungíveis em bens fungíveis, você precisa de técnica e planejamento. E tudo é pensado e racionalizado em termos simples e repetitivos, tal como ocorre numa fábrica. Todo esse conhecimento, em vez de gerar sabedoria, só emburrece, aliena - e as pessoas tendem a viver as suas vidas na avareza, na vaidade, na pose, na ostentação, na cobiça, na soberba e na ganância.
5) O agronegócio, que substitui a economia agrícola familiar, é a fazenda administrada sob o prisma de uma fábrica. Pela oferta e demanda a comida produzida vira objeto de especulação - e o que é fora do padrão considerado bom é rejeitado e descartado. E isso foi condenado tanto por Bento XVI quanto pelo papa Francisco, pois é liberdade voltada para o nada, pois visa a se ter mais dinheiro e não para se enobrecer através do trabalho, da vocação, coisa que necessita da infungibilidade e da natureza diversa das circunstâncias de modo a que se possa prosperar.
6.1) Alimento em abundância, gerado pelo agronegócio, é crucial para se alimentar os exércitos de homens massificados das grandes cidades, de modo a que não haja uma revolução, por conta da carestia. Pois um dos grandes problemas ao longo da história da civilização é manter uma população numerosa tranqüila e satisfeita, tendo tudo o que precisa de modo a atender as suas necessidades massificadas, sejam elas concretas ou imaginárias, já que cada um tem a sua verdade. Não é à toa que o capitalismo adota métodos pragmáticos próprios dos romanos, pois se trata de uma economia de ordem pública, que visa a atender às necessidade do Estado Totalitário, onde o presidente é tomado como se fosse um Deus e o país é tomado como se fosse religião. E isso é algo tão nefasto quanto o comunismo, pois o amor ao dinheiro nega aquilo que é conforme o Todo que vem de Deus. Trata-se de um comunismo às avessas em sua versão mais light, mais próspera.
6.2) Do ponto de vista do poder, a economia fundada na fungibilidade faz concentrar as coisas em poucas mãos, pois é mais fácil administrar algo padronizado do que coisas diferentes por conta de suas diferentes circunstâncias e que precisam de cuidados específicos. Quanto mais você acumula riqueza derivada de algo simples e repetitivo, mais poder você tem - e menos você precisa pensar em microgerenciamento, o que forçaria a delegar poder a terceiros, a distribuir e repartir as coisas.
7) O poder totalitário só é possível porque o eixo da economia deixou de ser a terra, pois cada lugar da Terra tem a sua circunstância e o seu clima. Como o dinheiro é fungível, ele pode circular. E quanto mais você o tem, mais poder você terá. E aí começam os abusos, por conta da assimetria do poder.