1) Olavo fala que o Brasil necessita de ficcionistas imaginários, isto é, de pessoas capazes de contar histórias verossímeis ou verdadeiras que retratem a realidade ou a possibilidade de realidade da experiência humana neste país, de modo a que este seja tomado como se fosse um lar - ou então retratar o mal daquilo que comumente se faz, que é tomá-lo como se fosse religião de Estado, causa de toda essa cultura de fingimento, de pose e de afetação sistemática que nos é conhecida.
2) Se a literatura brasileira necessita resgatar o fundamento de se tomar o país como um lar, base pela qual se conhece a verdade em Cristo, que nos leva à memória da pátria no Céu, isso é sem dúvida uma análise correta. O problema é como sedimentar a consciência reta, de modo a fazer o país ser tomado da forma como é devida: como um lar e não como se fosse uma religião.
3) A atividade de ficcionismo imaginário necessita de outra atividade complementar: a do raciocínio histórico especulativo, coisa que é feita por quem é bom em fazer ensaios dissertativos.
4) Quando o historiador não dispõe de provas documentais, justamente pelo fato de que os arquivos estão sob o controle de agentes ideológicos, a melhor forma de se poder contar ou retratar a realidade é tomar por base o que se possui de concreto, o que seguramente se sabe, e ficar meditando, de maneira lógica e concreta, sobre os fatos e as possíveis implicações que disso podem decorrer. É mais ou menos o que eu faço nos meus escritos.
5) A história especulativa dá margem a muitas possibilidades - e elas são extremamente úteis à literatura de ficção, pois dessas possibilidades você pode compor histórias sobre isso, que serão usadas para serem compartilhadas, de modo a que as experiências necessárias fomentem a idéia de que o país deve ser tomado como um lar.
6) Se a língua não for trabalhada como ferramenta a serviço da nacionidade, o governo tenderá a manipular a moeda cultural, de modo a que a se destrua a cultura vigente do país até o povo ficar estúpido e tomar o país sistematicamente como religião, onde o Estado totalitário ou o ditador é o seu Deus.
7) Na falta do monumento concreto, do documento, você vai ter de retratar uma possível imagem do monumento, do documento. E a análise deve ser a mais fiel possível e deve ser sempre em conformidade com o todo. Eis o segredo da verossimilhança histórica.
8) O historiador que não dispõe do acesso ao documento concreto, ele terá de ser um tanto poeta. Ele terá de ser um fingidor - ele deve fingir a dor que deveras sente. Mas não uma falsa dor, mas, sim, uma possível dor verdadeira que pode ocorrer a qualquer um nós, quando se perde o contato com a verdade, que é o fundamento da liberdade.
9) Eis aí a questão quando lidamos com a tirania. Nós precisamos ensinar ao leitor a importância de assumir o papel do outro - isso é fundamental, de modo a sermos bons cristãos. Isso é uma coisa que se perdeu faz muito tempo.