Vivemos numa época em que muitos afirmam com naturalidade que "opinião política não é essencial numa relação". Essa afirmação, ainda que pareça inofensiva, revela uma grave incompreensão do que seja, de fato, a política e sua conexão intrínseca com o bem, a verdade e o amor. Essa visão estreita da política, reduzida a debates partidários ou a preferências ideológicas, ignora a sua verdadeira natureza: a política como a arte de ordenar a vida comum em direção ao bem comum, à luz da verdade do ser humano — e essa verdade é revelada plenamente apenas em Cristo, o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
Negar o papel essencial da verdade na vida política é, em última instância, separar a vida social de sua fonte vital: a amizade com Deus. Santo Tomás de Aquino ensina que a política deve ser expressão da justiça e da caridade; e nenhuma justiça subsiste sem a verdade, assim como nenhuma caridade é verdadeira se não brota do amor a Deus. Portanto, a amizade com Cristo não é um adereço da vida política, mas o seu princípio organizador mais elevado.
Essa verdade tem implicações diretas nas relações humanas, inclusive no casamento. Quando a relação matrimonial é concebida apenas como afeto entre duas pessoas ou como contrato de convivência, ela perde sua dimensão sacramental e política. A Igreja ensina que o matrimônio cristão é actum trium personarum — um ato de três pessoas: o homem, a mulher e Deus. Somente nessa configuração trinitária o amor conjugal se torna imagem da comunhão entre as Pessoas divinas e, ao mesmo tempo, célula vital da sociedade justa.
Neste sentido, o casamento não é apenas uma escolha privada, mas um ato profundamente político, no mais alto sentido da palavra. Por meio dele, a sociedade se renova, se estrutura e se orienta para o bem comum. A família, nascida do casamento, é a primeira comunidade política — e, portanto, a primeira escola de justiça, de verdade e de amor.
Ao dizer que opinião política não é essencial numa relação, o que se está, sem perceber, é amputando a relação de sua vocação mais profunda: servir à verdade e construir uma vida comum ordenada a Deus. Toda relação humana digna e duradoura deve nascer da busca pela verdade e pelo bem comum. E é impossível conhecer plenamente essa verdade sem conhecer Aquele que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
É por isso que a amizade com Cristo é o alicerce da verdadeira política e também da verdadeira união entre as pessoas. Ele é a Pedra Angular sobre a qual se constrói a Cidade de Deus, em oposição à cidade dos homens fundada na vontade de poder, no relativismo e na conveniência.
Assim, longe de ser uma questão secundária ou descartável, a comunhão na verdade política — isto é, na ordenação da vida segundo a verdade de Deus — é indispensável para qualquer relação autêntica. Pois sem ela, mesmo o amor humano se torna instável, sujeito às forças da desordem e do egoísmo, quando não da tirania.
A restauração da política começa no coração convertido, na família que reza unida e nos lares que espelham, ainda que imperfeitamente, a Trindade Santa. O matrimônio cristão é, portanto, mais do que um símbolo: é um campo de batalha onde se luta pela restauração da ordem, da justiça e da civilização fundada em Cristo.