1) É possível perfeitamente traçar um paralelo entre a produção de vinho na França e a produção de café na Colômbia.
2.1) O traço em comum entre elas é que a agricultura se tornou mais do que uma produção, mas um verdadeiro estilo de vida - um chamado à santidade, tal como a vida intelectual - e isso deixa marca de consciência histórica, fazendo com que os herdeiros dessa atividade economicamente organizada continuem a atividade de seu fundador, estabelecendo assim uma tradição de excelência.
2.2) Apreciar tanto do vinho quanto do café é aproveitar das delícias da vida - e isso tem profunda relação com a personalidade de quem produziu esses produtos, uma vez que uma das delícias dessa vida é a personalidade, uma vez que o sujeito vê na produção desse bens uma vocação e ele vai se santificando por meio desse trabalho, a ponto de servir seus semelhantes naquilo que melhor sabe fazer.
2.3) Do encontro entre produtor e consumidor, nós temos um mercado - como esse mercado leva à promoção das virtudes do belo, então a produção de riquezas que fazem o país ser tomado como um lar em Cristo - a ponto de nos preparar para a pátria definitiva, que se dá no céu - pode ser tomado como uma verdadeira arte do belo e neste ponto a produção desses luxos está relacionada a dar o melhor produto aos melhores da sociedade, uma vez que isso é dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E dar sistematicamente a cada um o que é de direito é distribuir - e isso tem profunda relação com a justiça.
3.1) Como Jesus angularizou o ato de dar, a ponto de ser maior do que o ato de receber, o intelectual que consome os produtos do cafeicultor colombiano e do proprietário de um château francês se sente no dever de defender essas culturas fundadas no fato de se tomar esses países como um mesmo lar em Cristo, uma vez que ele está amando e rejeitando as mesmas coisas que os seus produtores: tendo por Cristo fundamento.
3.2) O casamento da atividade intelectual com essas culturas de luxo produz um tipo de indústria cultural que é feita de tal modo a atrair gente com o intuito de conhecer esses tipos de cultura e querer organizar um tipo de produção em seus próprios países para que estes sejam notabilizados por isso, pela produção como uma cultura e estilo de vida, incentivando não só o turismo interno como também internacional.
3.3) Trata-se de um tipo de distributivismo, que leva ao surgimento de novos negócios. Não se trata de competição, fundada na riqueza como sinal de salvação, mas de colaboração, uma vez que visa a promover o belo, fundado na santificação através do trabalho.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2018 (data da postagem original)