1) Para Platão toda arte derivava de imitação direta da natureza. Se a natureza é bela, então bela é a arte que copia a natureza.
2.1) Os gregos pensavam que é do belo que vem a noção de verdade, já que isso aponta para Deus.
2.2) Como a obra de Deus é bela, perfeita e acabada, então a conformidade com o Todo que vem de Deus aponta para a verdade, já que Deus se fez carne e passou a habitar em nós, por meio da Santa Eucaristia.
3.1) Aristóteles falava que a mimesis não é só cópia, mas também emulação - simulação de algo que decorre da realidade.
3.2) Na peças de teatro, os dramas emulam situações reais ou possíveis de ocorrer dentro das possibilidades humanas, concretas ou futuras. Como a tragédia é cópia da natureza humana, da experiência humana decorrente a partir da queda de Adão, então a arte dramática tem fundamento edificador, enquanto a comédia tende a ser voltada para o divertimento.
4.1) Quando Deus disse a Adão e Eva para serem fecundos, de modo a ter domínio sobre todas as criaturas criadas por Deus, Ele fez de Adão e Eva modelos de excelência para toda a humanidade.
4.2) Quando eles perderam a amizade com Deus, esta imitação ficou imperfeita, marcada pelo pecado original, dado que muitos passaram a conservar o que é conveniente e dissociado da verdade.Todo um caminho precisou ser pavimentado até a chegada do segundo Adão, Jesus Cristo. Os que morreram na amizade com Deus e que falaram em nome d'Este, os profetas, todos eles falaram desse Messias que viria.
5.1) Quando este Messias chegou, percebeu-se desde cedo que Ele seria um enorme sinal de contradição no mundo.
5.2) Quando este modelo foi contraposto ao primeiro modelo, que foi corrompido pelo pecado, criou-se uma relação triangular e o verdadeiro Messias foi rejeitado por todos os insensatos, por todos os que conservaram o que era conveniente e dissociado da verdade: o modelo antigo, adâmico. Ele atraiu para si o ódio e a maldição de muitos, sendo preterido por Barrabás a ponto de ser crucificado por um crime que nunca cometeu, que é o de ser Rei dos Judeus.
5.3.2) No Antigo Testamento, o cordeiro sacrificado no lugar de Isaac já era uma prefiguração do Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
5.3.3) Quando o Deus verdadeiro que decorre do Deus verdadeiro foi sacrificado na Cruz, no dizer de René Girard, ele acabou se tornando o novo modelo pelo qual os homens passaram a imitar, renovando definitivamente toda a criação. Todos os que vivem a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus passaram a ser livres em Cristo ao conservar a memória da dor de Cristo, já que a Páscoa significa a libertação decorrente da escravidão do pecado, a passagem definitiva do Senhor para este propósito salvífico.
5.3.4) Todos os homens que imitam a Cristo tornam-se virtuosos - e esse modelo é copiado a partir dos homens virtuosos em Cristo. Assim, a cópia do verdadeiro homem, que é também verdadeiro Deus, é distribuída a todos a ponto de Deus fazer Santa Habitação em cada ser humano. E nesse ponto, meu colega Haroldo Monteiro está certo em dizer que a vida vivida em conformidade com o Todo que vem de Deus é a verdadeira religião da humanidade.
5.3.5) Quando se conserva o que é conveniente e dissociado da verdade, o egoísta distribui o seu modelo a outro indivíduo e assim sucessivamente.
5.3.6) Quando o mundo está repleto de conservantistas, o modelo é deixado de lado. O vício é tomado como se fosse virtude - e para que a pessoa tenha sucesso, basta parecer ser o que não é, emulando o contrário do vício, que é a virtude.
5.3.7) Eis aí o efeito do protestantismo no mundo, a mais pérfida das heresias contra a Cristandade. É da ética protestante que vem a riqueza como sinal de salvação - e daí vem a cultura de liberdade para o nada que temos hoje em dia, a ponto de relativizar a verdade em pessoa, que é Jesus Cristo.
6.1) No mundo português, podemos ver uma inversão disso.
6.2) D. Afonso Henriques foi escolhido como vassalo de Cristo de modo a servir a Cristo em terras distantes. O Brasil foi fundado por desdobramento daquilo que houve em Ourique.
6.3.1) A partir de 1822, D. Pedro resolve romper com esse modelo, a ponto de ser como Adão.
6.3.2) O Brasil se tornou uma nação anticristã e passou a viver na conformidade com o Todo que vem da maçonaria, vivendo uma mentira que nos foi ensinada como se fosse verdade, já que a História do Brasil é a falsificação sistemática de nosso passado, feita à revelia da documentação portuguesa.
6.4.4) Todo esse caminho que foi pavimentado vai fazer o país abraçar cada vez mais o protestantismo, a ponto de ser uma cópia perfeita dos Estados Unidos da América.
6.4.5) Com base na mentira, o nosso imaginário vai sendo colonizado, a ponto de perder o amor pela verdade - o país não será tomado como se fosse um lar em Cristo por força de Ourique, mas como religião, em que tudo está no Estado e nada está fora dele ou contra ele. E o exercício desse governo totalitário será na forma do governo do povo, pelo povo e para o povo - e foi dessa forma que Jesus foi preterido por Barrabás.
6.4.6) Será que alguém terá que morrer no Brasil a ponto de se restaurar o que foi rompido em 1822? Alguém precisa servir de cordeiro para ser imolado, de modo que aquela verdade negada seja restaurada?
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 21 de abril de 2018.