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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Notas sobre os três tipos de eu, como construtor de pontes (ego pontifex)

1) Eis algo que me chamou a atenção: a questão do ego pontifex apontada na psicologia clínica do Szondi e que foi citada pelo professor Olavo de Carvalho.

2) Essa questão do eu como construtor de pontes pode ser explicada com base neste dizer de São Paulo: "Não sou eu mais que vivo para mim, pois é Cristo que vive em mim". Se Deus opera todas as coisas em todos, então existem três espécies de pontes: a ponte do vigário (pontifex maximus), a ponte do vassalo (que é a ponte régia) e a ponte do cristão comum que toma o país como um lar em Cristo (pontifex minimus).

3) Em todas as três pontes, o Cristo que está na pessoa por meio da Santa Eucaristia faz um determinado trabalho de tal modo que essa ponte ligue até o outro que deve ser descoberto, ainda que este não tenha nascido (afinal, o momento anterior da concepção indica uma ponte encoberta, prestes a ser revelada de modo a servir a Ele em terras distantes, segundo os planos de Deus).

4) Essas pontes se cruzam de modo a formarem uma rede sobre a qual as almas dos homens são pescadas de tal modo que o plano da salvação seja posto em prática, na conformidade com o Todo que vem de Deus. E este é o verdadeiro sentido da vida, quando se toma o país como um lar em Cristo - se meu eu não for uma ponte, não haverá solidariedade, pois o eu-nacional não constituirá nós-nacionais, onde eu é distribuído ao outro como um exemplo de virtude e santidade.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2017.

Olavo de Carvalho - Notas sobre perfeição e o sentido da vida

"A perfeição a que me refiro tem menos a ver com as virtudes morais ou teologais do que com a integração da psique em torno de um núcleo de autoconsciência. Duas noções que absorvi da psicologia clínica ajudam a esclarecer isso. Uma é o ego pontifex tal como descrito por L. Szondi: o ego como “construtor de pontes”, articulador das várias dimensões e tensões da psique. Szondi divide essas dimensões em: (1) hereditariedade e pulsões elementares; (2) ambiente social; (3) ambiente cultural; (4) espírito. As pulsões dividem-se em: (1) sexo; (2) carga e descarga de energia; (3) pulsão do ego; (4) contato social, cada uma subdividida num vetor positivo e num negativo. Ele compara o conjunto a um palco giratório cujo eixo é o ego. Este escolhe, a cada momento, a dimensão em que vai atuar (cognitivamente ou comportamentalmente), bem como as pulsões que vai liberar ou frear. A perfeição de que falo é a força integradora do ego, que tudo absorve e rege na máxima medida possível.

A isso se associava estreitamente a noção do “sentido da vida” tal como exposta por Victor Frankl: o apelo do espírito que unifica a psique através do ego.

A essas duas noções articulei a técnica da confissão permanente tal como aprendi em Sto. Agostinho. A filosofia tornava-se, assim considerada, a luta pela consciência e pela vida consciente, contra as forças anárquicas e obscuras de dentro (pulsões) e de fora (ambiente cultural e social). Uma versão modernizada e mais “técnica” da interminável luta socrática pela ordem da alma, que é a vocação inicial e primordial da filosofia. Remover tudo isso para o campo especializado da psicologia clínica e da "auto-ajuda", limitando a filosofia a "argumentos abstratos" e "estudo de textos", é talvez o maior crime que já se fez contra a filosofia desde o assassinato de Sócrates."

-- Olavo de Carvalho

Fonte: https://www.facebook.com/nicolas.candiotipiocoppi/posts/1507230826011559

Se devemos ter idéias de náufragos, então que seja tendo por fundamento a missão que recebemos em Ourique

1.1) Quando uma nação como a Espanha vai aos mares em busca de si mesma, a conseqüência mais funesta é haver um risco maior de naufrágio.

1.2) Se fosse como Portugal, que foi aos mares servindo a Cristo em terras distantes, a vítima de naufrágio terminaria derramando seu sangue ou se afogando por Cristo, a tal ponto que se tornaria um mártir, por morrer por uma causa santa, que faz o país ser tomado n'Ele, por Ele e para Ele.

2.2) A vã cobiça - fundada numa pretensa vã glória que faz o país ser tomado como se fosse religião, em que o rei tende a se tornar corpo temporal e espiritual da nação, rompendo com a idéia da vassalagem que deve ser dada a Cristo, o autor da soberania, por ser o Rei dos Reis - se converte numa luta pela sobrevivência, dado que o mar e a terra que eventualmente abriga o náufrago se tornam um vale de lágrimas, um lugar de sobrevivência, onde os eleitos tendem a valer mais que os condenados. E na sobrevivência o homem se torna lobo de seu próprio próprio semelhante.

3.1) Por essa razão as idéias dos náufragos devem ser pautadas na missão de servir a Cristo em terras distantes e não amor de si até o desprezo de Deus.

3.2) Quando o náufrago sobrevive, Deus deve ser louvado. E a terra que eventualmente abriga os náufragos deve ser tomada como um lar e depois comunicada à terra-mãe de modo a ser tomada como província.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2017 (data da postagem original).

Ao contrário do que o mundo pensa, em ciências humanas há também experimentação

1) Assim como nas ciências da natureza há a experimentação de modo a se descobrir leis da física, da química ou mesmo da biologia, nas ciências humanas nós também temos experimentação: ao lermos um livro, nós anotamos as principais idéias de um autor e nós colocamos em contraste com as idéias de um outro autor - ou de outras obras de um mesmo autor, caso haja um fundado de receio de que ele esteja se contradizendo.

2.1) Como já falei, é na escrita que se faz o debate atemporal de uma idéia de modo a se chegar à verdade, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus, uma vez que as idéias são um movimento da alma para a verdade - por isso, o caráter é atemporal. 

2.2.1) O debate fundado no tempo tem natureza política, pois as idéias tem consqüências práticas, de modo a se tomar o poder - nela o combate não se dá no campo das pessoas, pois são pessoas que fazem política e não as idéias. 

2.2.2) Quando se há um fundado receio de que o escritor está conservando o que é conveniente e dissociado da verdade, então ele precisa ser desmascarado logo antes que ele edifique má consciência sistemática, que é o verdadeiro jardins das aflições em que as pessoas trocam o senso de tomar o país como um lar em Cristo por tomar o país como se fosse religião, em que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2017.

Notas sobre um projeto de investigação que pretendo fazer depois


1) Uma coisa que pretendo fazer no futuro é um estudo cuidadoso de modo a fazer um diálogo da obra de Ortega y Gasset com a obra de Abraham Maslow, à luz da teoria dos círculos concêntricos.



2) Sinto que alguma coisa interessante pode sair desse estudo, se juntarmos um insight aqui e outro ali. Como diz São Paulo Apóstolo, devemos experimentar de tudo e ficar com o que é conveniente e sensato.



3.1) É por essas razões que prefiro trabalhar com obras, com textos escritos.



3.2) É na escrita que a voz atinge um caráter eterno, pois as gerações futuras poderão ouvir a voz que clama no deserto, anunciando a verdade - a mesma voz que os seus antecessores não ouviram, por conta de conservarem o que é conveniente e dissociado da verdade.



José Octavio Dettmann



Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2017.

Com base na teoria dos círculos concêntricos, o ensino primeiro deve se dar individualmente para só depois uma turma ser montada

1.1) Pela minha experiência, a melhor forma de passar o que sei é ensinando a cada um dos meus contatos individualmente. 

1.2) Afinal, o começo do ensino se dá quando nós compartilhamos as nossas solidões, uma vez que a nossa percepção passa a se voltar para a realidade quando estamos sozinhos da mesma forma que os náufragos em alto-mar, tentando sobreviver a este mundo que é um vale de lágrimas, uma vez que o país em que moramos - que deveria ser tomado como um lar em Cristo de modo a nos preparar para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu - está sendo tomado como se fosse religião, em que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele, pervertendo tudo o que há de mais sagrado e verdadeiro. Se o ouvinte se mostrar realmente interessado naquilo que conto ou ensino, então eu continuo passando o que sei, visto que sei que ele está amando e rejeitando as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento - da mesma forma como eu faço, já que tento imitar o verdadeiro Deus e verdadeiro homem da melhor maneira que posso.

2) Se eu tiver ao menos dois ou três pessoas realmente interessadas no que digo, então eu posso montar uma turma. A vantagem da turma é que eu faço as pessoas se encontrarem e formarem uma amizade, enquanto eles debatem entre si tudo o que ensinei, sem esquecerem de suas experiências pessoais. Afinal, o fundamento para se montar uma turma é amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, na conformidade com o Todo que vem de Deus.

3) Neste ponto, o professor se torna um corretor espiritual, distribuindo o conhecimento que porta para os que estão realmente interessados, por conta do amor ao saber, pois o verdadeiro ensino está no encontro dos que querem aprender com os que querem ensinar - isso cria um mercado moral e um poderoso sistema de capitalização moral.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2017.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ao contrário do que o mundo pensa, nacionalismo não é o antônimo de globalismo

1.1) Muita gente tende a tomar o nacionalismo como o oposto do globalismo. Fazem isso porque o horizonte de consciência é muito reduzido, a tal ponto que confundem tomar o Brasil como um lar com país tomado como se fosse religião. 

1.2) Isto é explicado não só por conta de o país estar fortemente descristianizado, amputado das suas razões de ser, uma vez que o Brasil é um desdobramento daquilo que houve em Ourique, em terras americanas. Ao matarem esta árvore e colocarem no lugar a árvore envenenada do quinhentismo e da independência, os frutos desta terra ficaram podres, fundados numa liberdade voltada para o nada. Não é à toa que sigo o conselho do professor Olavo: evito o mundo, o diabo e a carne.

2.1) O nacionalismo é na verdade a tirania do Estado tomado como se fosse religião em um só país. E isso prepara o caminho para o comunismo, que é essencialmente internacionalista.

2.2.1) Tal como cupins, eles destroem tudo o que é orgânico e bom, fundado na conformidade que vem de Deus e que faz o país ser tomado como um lar em Cristo - n'Ele, por Ele e para Ele, o que nos leva para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu.

2.2.2) Em seu lugar colocam tudo o que é mecânico, com o intuito de tudo ser controlado por meio de máquinas eficientes, criando uma espécie de solidariedade forçada, que é na verdade mais pastosa do que sólida. Digo pastosa porque ela é o estado intermediário entre o sólido e o líqüido - o sólido leva à solidariedade, ao orgânico, fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus; o líqüido, leva à liberdade voltada para o nada, uma vez que determinadas formas são assumidas de modo a se servir um conteúdo venenoso e destrutivo, relativizando e pervertendo tudo o que é sagrado e verdadeiro. Talvez o pastoso seja a síntese da tese, o líqüido, e a antítese, o sólido, pois o sólido deve desmanchar-se no ar - e o desmanche passa por meios intermediários, já que a conversão do cru para o cozido não se dá num passe de mágica.

2.3.1) Se a nação é um pequeno sistema, uma pequena máquina que se funda em si mesma de modo a atender aos fins do Estado tomado como se fosse religião, então o globalismo é uma grande máquina decorrente da associação dessas outras máquinas de modo a produzir algo totalitário e nefasto em larga escala.

2.3.2) Como a eficiência se funda numa economia de escala, então decisões totalitárias podem ser tomadas em escala global se os países forem todos reduzidos a uma máquina, sistematicamente falando.

2.3.3) O comunista se assemelha ao liberal, por conta de sua visão mecanicista - e a economia fica subordinada aos fins da política, a tal ponto que a propriedade privada é vista como uma concessão precária do Estado, que vê o trabalho do particular que colabora com os fins do governo como algo útil ao seu plano de dominação mundial. Em termos de Direito Administrativo puro, tomado em si mesmo, a propriedade privada é uma permissão de uso que o governo dá a bens sem destinação específica, os chamados bens públicos dominicais - e esta permissão pode ser encampada se houver conveniência e oportunidade.

3) Enfim, nacionalismo não é o oposto de globalismo; se tomarmos por base a teoria dos círculos concêntricos, é algo menor que prepara o caminho para algo maior. Como bem apontou Bertrand de Jouvenel, se há meios de se concentrar os poderes de usar, gozar e dispor dos bens em poucas mãos, então os abusos se multiplicarão. E todo dia novos mecanismos são criados com essa finalidade.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2017.