José Octavio Dettmann: Estive meditando sobre o comportamento alarmista da direita quanto às declarações do Papa Francisco. Vem sempre um ou outro me pedindo opinião. Eu me abstenho de opinar, pois pouco sei sobre isso.
Thomas Dresch: Pois é! Esse é um problema grave. O professor Olavo está agindo muito mal, com relação ao Papa. Eu já falei com ele sobre isso, pois a opinião política dele está prevalecendo sobre a opinião metafísica que ele ensina - e isso é um erro ontológico grave, pois o Papa não é uma pessoa qualquer e ele merece o devido respeito, por conta do fato de este ter sido escolhido pelo Espírito Santo para ser o vigário de Cristo.
José Octavio Dettmann: Sim. O comportamento do Olavo acaba levando a uma má consciência sistemática, por conta do enorme prestígio que ele tem. Como muitos não passam de macaquinhos, eu fui forçado a me afastar do Olavo. O pior é que ele dá mais atenção a essa gente do que a mim.
Thomas Dresch: Exatamente, pois existe toda uma onda mimética que o segue.
José Octavio Dettmann: Por isso que atualmente eu só consigo debater com os melhores alunos do Olavo, os que não são levados pela mentalidade de manada.
Thomas Dresch: O problema é que o Olavo, paradoxalmente, fez de si mesmo uma instituição, mesmo ele sendo avesso a isso.
José Octavio Dettmann: É como se virasse uma seita.
Thomas Dresch: Não é nesse sentido a que me refiro. Eu me refiro à pessoa do Olavo mesmo. Ele não ouve os conselhos dos alunos. Isso é um problema de personalidade, pois é típico de homem velho fazer isso. Embora ele seja marcado pelo vício da teimosia, isso não diminui a sua genialidade. O problema está no fato de que a manada não enxerga isso, pois toma o Olavo como se fosse uma instituição - e isso acaba gerando efeitos ambíguos. Embora a onda educacional seja muito boa, o efeito hipnótico não é.
José Octavio Dettmann: Ele é bem intolerante à crítica, mesmo que em certas coisas ele esteja profundamente errado. Eu já percebi muitos erros crassos na análise dele. E quando os demonstro, o meu mural acaba sendo evacuado, pois foi como se tivesse praticado iconoclastia.
José Octavio Dettmann: Um que está imitando o Olavo nos vícios é o Fábio Salgado de Carvalho. Ele está se tornando cada vez mais arrogante e prepotente. Ele não ensina as pessoas com caridade; ele ralha os semelhantes, quando cometem o erro de separar sujeito e vírgula.
Thomas Dresch: Isso é complicado. O Mateus, meu amigo e interlocutor, estava com esse mesmo vício e conseguiu se livrar. Afinal, Já te mostrei alguma coisa dele.
José Octavio Dettmann: Quando a pessoa não está pronta para atuar na rede, ela não deve agir na rede. Principalmente se esta tem defeitos graves que podem induzir a isso que o Olavo está promovendo com suas falhas. Para o Olavo, a rede foi um plus. Para ele, isso não é necessário; mas para mim a rede foi uma necessidade. Não só tive de aprender a escrever de maneira clara e concisa como também a tornar a cada linha de meu texto densa e profunda, de modo a causa uma séria impressão no leitor.
Thomas Dresch: O facebook só é útil dentro de um limite de 12 linhas. Não é à toa que o Olavo o toma como se fosse uma escola de concisão e um espaço para exercer a arte do aforismo. Quanto ao fato de o facebook ser uma escola de concisão, isso é bom, pois não há mais tempo para se escrever tratados longos. O tempo urge.
José Octavio Dettmann: Há um vício na maioria que deveria ser corrigido. Eles deveriam escrever da forma como faço: numerando os argumentos, pois fica até mais fácil para destacar o argumento errado e corrigir. Maior exemplo disso é este caso que me aconteceu: quando o Bisotto criticava minhas análises, ele fazia menção ao número do argumento errado - e isso ajudava.
Thomas Dresch: Isso é uma boa idéia.
José Octavio Dettmann: Eu quando leio um parágrafo cujos argumentos não estão numerados, eu vejo um verdadeiro mar textual sem fim. E chega a ser um tormento para a alma.
José Octavio Dettmann: Pior do que isso é escrever em juridiquês ou em economês. Eu vejo isso com freqüência nos textos do Leonardo Faccioni. Ele é ótimo, mas poderia escrever de maneira mais simplificada.
Thomas Dresch: Mas tu escolhes por ordem de importância?
José Octavio Dettmann: Eu organizo pelo que vem a minha cabeça. Sai do jeito como a inspiração me mandou escrever. Eu ainda não organizei os textos confrontando texto a texto. É como se estivéssemos na pizzaria. Quando vocês lêem, é como comer pizza fresca, recém-saída do forno.
Thomas Dresch: Isso é uma outra vantagem do facebook.
José Octavio Dettmann: Sim e isso tem haver com uma outra capacidade que eu tenho. Um amigo meu dizia que tenho um senso de empiria monstruoso. E muita coisa que escrevi se funda em muita meditação e em muita empiria. Eu tive uma ou outra leitura, mas não muita. Então, eu consigo falar aqui as coisas razoavelmente bem e sem falar bobagem. E tem gente que lê mais de 80 livros por ano e só fala bobagem.
José Octavio Dettmann: Alguns mesmos já me disseram que sou uma pessoa muito preparada. Por isso que consigo dizer as coisas aqui sem cometer um erro grave. É uma constante na minha vida perguntarem se li esse ou aquele livro - e a informação desse livro eu só fui conhecer a partir da pessoa que me pergunta. Acham que sei mais do realmente sei - e vejo que sou de um tipo raro, pois o tipo mais comum de gente que se encontra por aí é a pessoa que lê demais e que não sabe nem sintetizar uma idéia, pois está muito presa ao preciosismo intelectual. Na minha época de adolescente, eu li bastante - depois disso, eu li bem pouco. Passei pela faculdade lendo poucos livros e nem por isso me tornei um ignorante.
Thomas Dresch: Sim. Muitos procuram a vanglória do intelectualismo. Além disso, não percebem que conhecimento vem compactado, pois é uma conversa que puxa ainda mais conversas. Eu passei a vida inteira lendo e sei bem o que é.
José Octavio Dettmann: A maior prova disso que eu estou ouvindo as aulas do Olavo agora. Estou na terceira aula. Muita coisa de cada aula aproveito - eu já escrevi vários artigos com base na primeira aula. Se tivesse de escrever com base nas 300, eu iria escrever muito mais do que já escrevi. E olha que já escrevi quase 2 mil textos.
José Octavio Dettmann: Online, estou sempre lendo e meditando. Se eu não escrever, eu esqueço tudo. É como se fosse uma confissão. A confissão do pensador, do filósofo deve ser pública, de modo a que outras sejam testemunhas. Por isso que a rede social me é tão importante - se eu fizesse na rua, me achariam um louco. Pelo menos aqui não tem isso - por isso que faço aqui o que não posso fazer na rua: pregar em praça pública.
Thomas Dresch: É bem isso. Além do mais, aqui no face o alcance do que se fala é bem maior. Trata-se de uma caixa de ressonância.