1) No sistema de saúde, se olharmos do ponto de vista prático, nem o sistema público e nem o privado funcionam.
2) Eles não funcionam porque atendem a uma lógica de ordem pública, voltada para a satisfação dos interesses de Estado, fundados nas razões de Estado, coisa que busca poder absoluto, sem se submeter à autoridade de Deus; como a saúde é vista como sendo um dos pilares da civilização, então o hospital mantido pelo Estado se tornou a referência por excelência. O sistema de saúde privado existe como uma forma de completar as eventuais falhas do sistema público, do ponto de vista da eficiência econômica - por isso, esse sistema é tolerado, pois é conveniente para o Estado a existência desses hospitais. No final, o sistema de saúde se torna único, pois se pauta num cientificismo que busca arrogar para si o estado de exatidão em algo que não é exato.
3) Ora, a medicina é baseada em evidências e não em exatidão. E os indivíduos, em suas circunstâncias pessoais e profissionais, descobrem as coisas, tomando por base evidências que observam. E tudo isso leva em conta a individualidade desse médico, desse pesquisador, seja por conta de seus métodos de diagnóstico, as próteses que ele usa, os medicamentos que prescreve, assim como a que corrente da medicina ele faz parte. E como isso não é ciência exata, os medicos vivem o tempo todo em embate.
4) O cientificismo, base da medicina de ordem pública, nada mais é do que uma fogueira das vaidades. Por isso que nunca dá certo - e não é à toa que a classe médica formada nessa linha médica é toda totalitária, pois tomam o país como se fosse religião.
5) Se a medicina é humana, então a investigação médica deve levar em conta que o outro é um espelho de meu próprio eu. E essa investigação leva em conta o fato de que tomo o meu país como se fosse um lar e que meus pacientes são como se fossem meus irmãos em Cristo. Eis aí porque a individualidade do médico edifica um verdadeiro personalismo, fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus. Trata-se de um serviço privado, cuja sucessão se torna complicada, difícil de ser satisfeita. É mais comum encontrá-la em pessoas da família do médico ou em alunos que passaram pela escola de medicina que ele construiu, de modo a passar sua técnica aos outros.
6) Eis os fundamentos da verdadeira medicina que se perdeu e que precisa ser resgatada. Se eu não descobrir o outro, então eu não posso ser médico.
Róger Badalum