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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Da filosofia da pobreza, no sentido católico do termo (uma compilação de vários artigos meus)

1.1) Os austríacos falam em função empresarial pura - como se o mais sábio dos homens sempre seguisse a sua própria direção, o que é uma grande ilusão! 

1.2) De verdade em verdade, o homem cheio de si até o desprezo de Deus é um nada - ele não passa de uma mera biruta de aeroporto, uma vez que ele não tem como controlar os ventos da mudança dos tempos. Cabe a ele ajustar as velas, pois o Santo Espírito de Deus move as coisas soprando onde quer, uma vez que Cristo constrói impérios de cultura e destrói impérios de domínio fundados no homem, pelo homem e para o homem, enquanto animal que mente.

2.1) Se tivéssemos de falar em função empresarial mais pura, mais genuína, esta cabe à mendicância, pois você, como mendigo, está constantemente na dependência de Deus.

2.2.1) Se Deus, na qualidade de Cristo-príncipe, me der esmolas, é ganho sobre a incerteza. Por isso, na qualidade de mendigo, devo guardar o dinheiro, pois nunca se sabe o que virá pela frente. Com o dinheiro acumulado, é preferível comprar pouco a pouco os instrumentos necessários para que eu tire deles o pão de cada dia, como uma vara de pescar, por exemplo.

2.2.2) Mesmo que eu não saiba pescar, com o tempo eu desenvolvo a habilidade, uma vez que a necessidade faz o ser humano criar, amadurecer e se desenvolver, a ponto de eu prestar um serviço de melhor qualidade para os outros, uma vez que vejo a Cristo nelas. E quanto mais eu ficar dependente da graça de Deus, mais sou agraciado, a ponto de me santificar através desse trabalho e este se tornar um caminho digno de vida pelo qual expresso a minha sincera confiança no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

2.2.3) Como os seres humanos são paus para toda obra, é interessante ser polivalente, ser polímata, a ponto de ser capaz de atuar em todos os tipos de profissão, tais como foram os colonos que vieram de boa vontade de modo a servir a Cristo nestas terras distantes lavrando este solo, o que ensejou o povoamento do país e a santificação do trabalho de extrair pau-brasil, já que brasileiro é uma profissão que pode ser contada como profissão de fé, causa de nacionidade.

3.1) Esta é a melhor pedagogia que se tem: a pedagogia da pobreza, uma vez que o pobre é o banco de Deus.

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3.2.1) Para aprendermos a depender de Deus, precisamos aprender a viver na pobreza e a vida na pobreza é dura. E nós precisamos ser pobres crianças espirituais vivendo cada vez mais a vida na dependência de Deus, pois Ele criou todas as coisas por amor.

3.2.2) Uma vez moldados pela pobreza, somos elevados por Deus de modo a servir a Ele naquilo que é mais importante, a ponto de servir a Ele em terras cada vez mais distantes e tomá-las como nosso lar em Cristo tanto quanto o Brasil em que nascemos. E quanto mais humildes formos, mais somos agraciados por Deus. 

3.2.3) Se muito nos for dado, então muito nos será cobrado, pois tudo decorre de Deus, uma vez que nada se perde, nada cria - tudo se transforma. Dentre as esmolas, a melhor coisa que se tem a fazer é estabelecer uma economia organizada de modo a empregar outras pessoas de modo que tenham suas próprias economias, quando estas colaboram com sua atividade econômica organizada, destinada à salvação de muitos.

3.2.4) O Cristo-mendigo se torna um outro Cristo-príncipe de modo a encontrar outro Cristo-mendigo e assim ajudar outras pessoas. Eis o que é o mercado: um constante encontro - no passado, eu era mendigo e fui salvo por um Cristo-príncipe; hoje, eu sou príncipe e minha missão é ajudar outros Cristos que estão na qualidade de mendigos.

3.2.5) Quando uma pessoa me diz obrigado, ela está a me dizer que se sente obrigada a retribuir o mesmo favor que eu um dia prestei a ela. Ela está debaixo de meu amparo, já que minha autoridade aperfeiçoou a liberdade de muitos - não só dessa pessoa como também a dos parentes dessa pessoa, assim como também daqueles que um dia virão a partir dessa pessoa, pela linha descendente. Nesse sentido, quem me diz obrigado se sente necessariamente abrigado.

3.2.6) E este abrigo é produtivo, posto que ele se mantém constante ao longo das quatro estações do ano - mais ou menos como ocorre com uma árvore não envenenada que dá frutos numa estufa, onde ela dá frutos ao longo das quatro estações do ano, posto que a planta encontra na estufa condições melhores de crescer e prosperar do que naturalmente encontraria se exposta ao clima, pois nem sempre o clima é favorável ao seu desenvolvimento e cultivo.

4.1) As circunstâncias favoráveis de uma boa amizade são análogas às de uma estufa. Faça chuva ou faça sol, se o protetor vê no protegido a figura de Cristo, mais produtiva se torna a amizade, posto que devemos amar e rejeitar as mesmas coisas que o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem amou e rejeitou, pois a verdade é o fundamento da liberdade.

4.2.1) O verdadeiro sentido da lealdade está em prestar honras a todo aquele que imita a Cristo, tal como fazem os cavaleiros medievais, a base de toda a nobreza. Cristo faz dos nobres servos dos pobres, já que os pobres são o banco de Deus. Eis o verdadeiro fundamento da capitalização moral.

4.2.2) Na língua portuguesa, quando chamo alguém na chincha, isso quer dizer estou a chamando para uma conversa particular, reservada. Se sou do tipo discreto e reservado, então este hábito pode ser tornar uma árvore frondosa. De tanto conversar de maneira discreta e reservada, eu acabo cultivando um pé de chincha.

4.2.3) Se muitas pessoas estão abrigadas neste pé de chincha, então elas se sentem obrigadas a retribuir o mesmo favor que eu um dia prestei a elas, pois elas comeram do fruto dessa árvore, a ponto de se comprometerem a espalhar as sementes de sua espécie. Se essas pessoas são da classe mercantil, por exemplo, elas me oferecerão desconto nos produtos que vendem ou me dão o produto de graça, por conta dos favores que me devem. Eis uma verdadeira pechincha - trata-se de uma relação de crédito e débito em matéria moral.

5.1) A cultura da conversa discreta e reservada leva à cultura de negociação. Os protegidos, os que devem favores a mim, buscarão os meios para conseguir aquilo de que necessito, de modo que eu tenha o poder que tanto busco. Como tudo isto se funda numa cultura de confiança, numa cultura de catacumba, então isto é a base da sociedade política.

5.2) Afinal, relações sociais são relações de poder. Eu preciso passar um certo tempo investindo no relacionamento com membros de certas famílias cujos membros tonam minha atividade como filósofo muito útil para o bem comum da comunidade, que é em Deus fundado - e é nesse fundamento que eu exerço minha influência sobre essas famílias. Se eu tiver boas relações com os membros dessas famílias, elas se candidatam a cargos de destaque na sociedade, como o governo das cidades, o governo das províncias, o comando dos batalhões e regimentos que estão espalhados de modo a defender o país em caso de uma invasão estrangeira e até mesmo cuidam das relações com outras pessoas que se encontram em terras distantes por você. 

5.3) Por esse motivo, nunca se deve negligenciar este aspecto, que é o poder de uma boa amizade. Afinal, uma amizade é como uma planta - se você não cuidar dela, ela vai morrer. E o que é morto é improdutivo, pois não se reproduz.

6.1) Quando admiramos uma pessoa, nós a admiramos porque ela faz as coisas com excelência, uma vez que isso aponta para o alto, diretamente para Deus. Quando desprezamos alguém, nós a desprezamos porque ela vive a conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, o que volta nossos olhos para baixo, para a mansão dos mortos.

6.2) Santo Agostinho sempre nos fala para olharmos para o que a pessoa ama, de modo a conhecermos melhor. E o que ela ama é o que ela assume como profissão de fé, uma que vez isso representa o que ela pensa, acredita, representa e prevê - a base de toda opinião. Uma pessoa admirável dirá na maior parte das vezes coisas sensatas, ao passo que uma pessoa desprezível dirá coisas insensatas, vazias, das quais nada ou quase nada se aproveita.

6.3) Mesmo que eu nada saiba sobre política, ao menos eu posso aprender alguma coisa sobre o assunto ouvindo uma pessoa muito inteligente e sensata discorrer sobre o assunto - isso servirá de base para as minhas opiniões futuras. Quanto mais opiniões dessa mesma pessoa eu ouvir, mais eu a conheço. E quanto mais coisas sensatas ouvir de diferentes pessoas sensatas sobre o mesmo assunto, melhor, pois saberei ainda mais coisas. Com relação aos insensatos, padre Pio nos recomenda que fujamos deles, pois suas conversas são inúteis, improdutivas.

6.4.1) A vida contemplativa é uma vida ativa. Você ouve os sensatos, registra o que foi dito e medita sobre o que foi falado. O fundamento da ciência é provar do fruto das coisas e ficar com o que é conveniente e sensato pois isso nos aponta para a conformidade com o Todo que vem de Deus, para o verbo que se fez carne. Esta é, portanto, a ciência política. Tudo o que digno de nota vale a pena ser escrito - e para escrever, precisamos observar bem as coisas com impressões autênticas.

6.4.2) Em toda sociedade que ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, é conveniente que se ensine a todos da comunidade a ler e a escrever, incluindo os mendigos. Os mendigos mais inteligentes sempre manterão um diário de modo a manter o registro do quanto arrecadaram com esmolas e o nome de quem doou, assim como um lugar de referência onde esse doador, esse Cristo-príncipe, pode ser mais facilmente encontrado. Se ele prestar mais favores a esses bons príncipes, mais esmolas poderá obter (quem sabe, um emprego).

6.4.3) Se eu, na qualidade de mendigo, recebo esmola de um Cristo-príncipe, então eu devo favores a esse mesmo príncipe, de modo a conseguir mais esmolas ou quem sabe sair da condição de mendicância e ser elevado a príncipe, se for da boa vontade de Deus. 

6.4.4) Quando registro a esmola no meu caderninho e o nome de quem me doou, além do lugar habitual onde este Cristo-príncipe pode ser mais facilmente encontrado, isto cria um compromisso, uma ponte onde eu como devedor me integro ao meu credor - e isso leva à pedagogia da responsabilidade pessoal. Se eu servir a ele com excelência, eu sou alçado à condição de Cristo-príncipe (bogaty), por conta do constante trabalho acumulado. 

6.4.5) Quando um Cristo-príncipe ajuda a um Cristo-mendigo, a primeira esmola serve de prólogo para uma bela história de amor fundada no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Se o Cristo-mendigo souber ler e escrever, ele anotará o nome desse Cristo-príncipe a ponto de prestar mais favores a ele de modo a conseguir mais esmolas ou mesmo um emprego.

6.4.6) A primeira esmola, registrada no diário, serve de condão para se contar toda uma história onde o Cristo-mendigo ouve o chamado do Cristo-príncipe de modo a segui-lo na missão de estabelecer uma economia organizada de tal modo a se tomar o país como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, a ponto de o Santo Nome do Senhor ser publicado em terras distantes através dos produtos de excelente qualidade que são exportados para os confins da terra e que tornarão a vida de muitos mais útil e mais produtiva, posto que se funda na verdade, no verbo que se fez carne. Esse Cristo-mendigo, quando jovem, vira aprendiz, depois vira companheiro e depois mestre, a ponto de ser capaz de estabelecer uma economia própria e colaborar com o seu mestre de modo que esse legado civilizacional se expanda e perdure pelos séculos sem fim.

6.4.7) Se a primeira esmola serve de prólogo para contar uma história onde o eu do mendigo se reveste de príncipe de modo a ajudar outros mendigos, isso já tem o condão suficiente de se tornar autobiografia, pois isto é obra autêntica de santidade, pois a santificação através do trabalho é tema crucial para se tomar um país como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo e deixar um legado civilizatório duradouro.

7.1) Quando se ensina a sociedade inteira a manejar bem o lápis e o papel como ferramentas de trabalho, naturalmente surge a vocação intelectual. 

7.2) Cristo como sacerdote está recrutando dentre os que sabem ler e escrever os que escutam o seu chamado através das letras. A essas pessoas com vocação para as letras não posso recusar educação mais elevada, pois ela aponta para Deus.

7.3) A Igreja Católica sempre compreendeu essa importância porque nem todo mundo que sabe ler e escrever tem vocação para a vida intelectual, a capacidade de contar histórias que apontem para Deus ou que descrevam a sociedade de modo a fazer ciência de tal forma que isso aponte para Deus. 

8.1) Formar a elite, formar os melhores, significa prepará-los para servir a Cristo nesta terra e em terras distantes através do ofício de escritor, que é sagrado, quase um sacerdócio. Isso gera um império de cultura, a ponto de fazer desses escritores profetas, a pedra angular através da qual a fé em Cristo se expande de modo que o Santo Nome do Senhor seja publicado entre os povos mais estranhos. 

8.2) É através desses profetas, portanto, que o Império fundado em Ourique é movido - e nele vemos a ação do Divino Espírito Santo.

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9) Se tivermos de falar sobre uma pedagogia da pobreza, a verdadeira riqueza está no verdadeiro Deus feito homem, no príncipe que transforma os outros homens - então mendigos estigmatizados pelo pecado - em príncipes como ele.

10.1) A verdadeira função empresarial pura está em viver como se dependesse de Deus para tudo. Por isso, a mendicância é a base para tudo. 

10.2) Se não imitarmos os mendigos, não podemos ser bons empreendedores, pois o mercado nada mais é do que o constante encontro entre esses príncipes criados por Cristo com outros Cristos mendigos. Deus (Bóg) cria a figura do rico (bogaty) para ajudar o pobre (ubogi). Eis a economia da salvação - ela continua a trindade no plano operativo das coisas, já que é destinada à salvação de muitos.

10.3) Bóg é Deus, em polonês; bogaty é rico, em polonês e ubogi é pobre, em polonês. As três palavras possuem o mesmo radical nessa língua, o que torna o raciocínio perfeitamente claro de ser imaginado, se a pessoa tiver um pouco de conhecimento deste idioma. Quando progredi na língua de São João Paulo II, eu progredi também no meu conhecimento filosófico, em razão das nuances do polonês, comparadas com o português.

10.4) Este é o segredo para estudar esta língua. Você precisa servir a Cristo nestas terras tal como Crucificado de Ourique mandou nossos ancestrais pra cá. Eis o encontro de duas tradições cristocêntricas. Se São João Paulo II fala que devemos respirar a Igreja com dois pulmões, então respiremos o senso de tomar como um lar em Cristo dentro dessa forma, tomando tanto o Reino Unido Unido de Portugal, Brasil e Algarves quanto a Polônia como um mesmo lar em Cristo. Eis os dois pulmões do nacionismo.

11.1) Se formos levar as coisas a ferro e a fogo, então o catolicismo é essencialmente isto, pois viver a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus é essencialmente mendicância. 

11.2) Somos o que somos porque somos livres para fazer a vontade de Deus. E a vontade de Deus é fazer o bem, promover o bem comum, a Santa Criação; se vivemos contra a vontade de Deus, nós vivemos abaixo da condição humana, que é a de ser a primazia da Criação. Não foi para isso que fomos feitos - por essa razão é pecado. 

11.3) Fora da lei de Deus, somos o pior dentre os animais, como bem apontou Aristóteles. Por isso que ele disse que o homem é o animal que erra - entre a lei de Deus e o amor de si, ele escolheu o que era conveniente e dissociado da verdade. E foi por essa razão que Cristo foi enviado, de modo a corrigi-lo.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 2021 (data da postagem original).

Comentários: 

Lucas Saurin: ontem, dia 11 de fevereiro, foi meu aniversário e este texto foi o meu presente. Obrigado. (Assim, me reconheço abrigado por você, Cristo-príncipe, que deu a mim, Cristo-mendigo, uma esmola de conhecimento que tanto me fazia falta - e Deus providenciou isso através do seu sacerdócio de escritor).

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