1) No Brasil, o desprezo pelo conhecimento se dá justamente porque as pessoas se formam em carreiras que dão mais dinheiro ou que dão mais status - como o direito, a engenharia ou a medicina. E as carreiras, por conta disso, se tornam carreiras servis, perdendo a sua essência intelectual.
2) Eu não optei pelo Direito como os meus outros colegas optaram - eu escolhi isso porque era a minha vocação, pois acreditava que ali encontraria a vida intelectual. Eu acabei encontrando a vida intelectual, mas não foi no Direito. Eu a encontrei foi com o professor Olavo de Carvalho, no facebook.
3) Dentro do meu propósito, eu encontrei o sucesso, pois sempre desejei sinceramente o conhecimento. E tendo-se posse do conhecimento, as demais coisas são dadas por acréscimo. Tornei-me católico e agora estou batalhando como escritor, na iniciativa privada. Deus proverá uma condição material melhor para mim no futuro, no seu devido tempo.
4) Buscar a carreira dos pais por ser o caminho mais cômodo de ser bem-sucedido é prova cabal da crise da vocação. O filho não entra no direito por conta do ideal da justiça, mas para ser bem-sucedido, para ser tão safado ou tão malandro quanto o pai foi um dia - e isto é a desgraça. É a prostituição da inteligência pelo vil metal - não é à toa que a carreira jurídica se tornou uma carreira servil, a ponto de perder toda a sua essência de ser ciência humana.
5) Quando optei entrar nesse mundo, eu não tive um predecessor que me guiasse nesse caminho. Por isso, comi o pão que o diabo amassou. Se meus filhos desejarem a vida intelectual, eu os prepararei para a vida intelectual, para continuarem a guerra cultural que ando trilhando aqui, apesar das dificuldades financeiras; se eles quiserem resolver os problemas financeiros, que escolham a carreira jurídica, pois este é o caminho que eu conheci. E verdade conhecida é verdade obedecida.
6.1) O maior desafio que eles terão de lidar é conciliar a vocação intelectual com as exigências que são próprias da preparação para esses concursos. A vocação intelectual vai ter que ficar de lado um tempo.
6.2.1) Eu não fui capaz de fazer isso porque lidei com concursos ideologizados e ainda estava em fase de formação. Se os meus filhos estiverem devidamente vacinados contra a ideologia desses concursos, eles poderão dar a resposta que o examinador deseja ouvir e a aprender a emular o comportamento que esses caras esperam, sem participar da experiência revolucionária.
6.2.2) Quando se lida com psicopatas, você precisa aprender a pensar como um psicopata, mas sem participar da experiência de ser psicopata. E para que possam ocupar o espaço público do tribunal ou do cartório, certamente eles vão precisar de pai ou mãe voltados para a vida intelectual de modo a orientá-los acerca de como sobreviver a esses ambientes culturalmente hostis. E isso é possível somente com sólidas orientações de pai ou mãe com pendão para a filosofia.
7) Eis aí o maior desafio da segunda geração: a tomada do espaço público num ambiente culturalmente hostil.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2021 (data da postagem original).
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