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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Sobre o belo na arte

1) Não entendo nada de arte. Não sou filósofo nem humanista: não passo o dia pensando nas grandes questões da humanidade. Como advogado, sou apenas uma espécie de tecnólogo: as pessoas me procuram com problemas reais e eu as ajudo a resolver. Pra mim um bom dia é aquele em que meu trabalho foi tão socialmente útil quanto o de um pintor ou de um padeiro.

2) Mesmo sem entender nada de arte, eu contemplo o Davi de Michelangelo, a Primavera de Botticelli ou ouço a 9ª Sinfonia de Beethoven e sei que aquilo é Belo. Não entendo nada de sfumato, mas sei que Da Vinci foi um gênio quando vejo a Mona Lisa. Nem Michelangelo, nem Da Vinci, nem Botticelli nem Beethoven tinham uma agenda político-ideológica em mente enquanto compunham suas obras primas. Nenhum desses artistas queria moldar a sociedade ou transformar o mundo, e contudo eles elevavam espiritualmente qualquer indivíduo que entrasse em contato com suas obras. Em todas essas obras eu sei que estou diante da vitória do gênio sobre a mediocridade, do avanço da técnica que é fruto do espírito humano, e cada uma delas me inspira a tentar ser melhor do que eu sou. 

3) Se a arte tem a ver com os valores estéticos da beleza, equilíbrio e harmonia, ela não deveria ter um "objetivo social". Uma das maiores perversões do marxismo cultural é justamente o de submeter toda a técnica humana aos objetivos da revolução. Para o progressista, tudo tem que ter uma "função social". Ninguém diria que o funk carioca é belo, ou que traduz uma técnica inovadora de se fazer música, mas o ritmo é adorado pela esquerda do Leblon justamente porque ajuda a destruir e subverter o próprio conceito do que seja "belo". Quem acha que até a biologia é "socialmente construída" sabe que sua primeira tarefa é DESCONSTRUIR tudo o que é fruto da tradição e da sabedoria acumulada por sucessivas gerações. Destroem um edifício pra erigir uma favela em seu lugar.

4) Isso não ocorre só nas artes. A Arquitetura ensinada nas faculdades há muito tempo deixou de ser a ciência da organização do homem no espaço para se tornar instrumento de "inclusão social". Há 3 meses, alunos do curso de Arquitetura da UFMG se recusaram a cumprir um exercício proposto por um professor porque ele “incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21”. O mesmo em relação ao Direito, em que seus "operadores" atualmente se vêem como verdadeiros justiceiros sociais de toga e beca, com teorias como a do Abolicionismo Penal ou termos como "interpretação conforme", nomes bonitos pra esconder o objetivo maior de rasgar a lei, caso ela se coloque à frente do que se entenda como "justiça social". A Psicologia, a Pedagogia, a História, tudo vira ferramenta nas mãos do engenheiro social, empenhado que está em destruir o que ele não entende na tentativa de implantar uma utopia que ele não conhece.

5) Todas essas premissas estão contidas na bisonha nota do Santander Cultural, ao anunciar a suspensão da exposição Queermuseu. Para eles, textualmente, o objetivo da Arte não é estético, e sim "promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo". O papel do artista não é retratar o Belo, é "gerar reflexão". A Arte, pra ser válida, deve ser "capaz de gerar inclusão". Tudo é politizado, tudo é passível de "conscientização". E a nota faz um mea-culpa num estranho tom passivo-agressivo, como se o problema não fosse o fato de que a exposição não tinha nenhum caráter artístico, ou que fazia apologia à pedofilia e à zoofilia, e sim os que "se sentiram ofendidos" (esses, nesse momento, são as 25 mil pessoas que classificaram a página com uma estrela são a "minoria reacionária" - os cerca de 2.000 que curtiram a exposição, aparentemente, são o "povo", a massa).

6) Isso não foi uma derrota, foi apenas um recuo estratégico. Como uma criança, o progressismo vai testando os limites dos adultos até tomar um tapão na cara. Eles sabem que dessa vez exageraram na dose, mas daqui a pouco voltam com alguma coisa ligeiramente mais palatável, que devagarinho vai educando as massas a romantizar o feio e a idolatrar o profano.

Rafael Rosset (https://www.facebook.com/rafael.rosset/posts/10211775975773117)

Facebook, 12 de setembro de 2017.

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