1) No multiculturalismo, a razão de ser um país ser tomado como fosse um lar em Cristo não é levada em conta, até porque o país o foi esvaziado de seu mitologema cristão, a ponto de negar seu papel em relação à Cristandade de modo a adotar um papel mais "inclusivo".
2) Para quem preza as coisas materiais, o país será tomado como um lar - fundado no governo do homem, pelo homem e para o homem - com base na quantidade coisas de alto valor agregado que você pode comprar desse país, sem o entrave odioso da burocracia. É com base no hedonismo e no materialismo que o senso de tomar o país como um lar, sem Cristo, pode ser manipulado num sistema social em que o prazer e o divertimento dão causa a que o país seja tomado como se fosse religião, no longo prazo. E é por meio do prazer e dos divertimentos que ninguém nega sua escravidão. Eis o admirável mundo novo!
3) Onde se ama o dinheiro tal como um Deus, a ponto de este ser apontado como um sinal de salvação predestinada, ocorre a perversão do senso de tomar o país como um lar em Cristo, uma vez que isto decorre da ética protestante e do espírito do capitalismo. Essa perversão é aquilo que Borneman chamou de nationness (que foi traduzido por "nacionidade" no livro Um Mapa da Questão Nacional e que não tem nada a ver com nacionidade da forma como eu entendo).
4.1) Se a riqueza é um sinal de salvação, então pouco importa a ontologia de uma nação tomada como um lar a partir do seu batismo em Cristo. Pouco importa o seu mitologema e seu papel civilizatório perante a Cristandade.
4.2) E é neste ponto que todas as nações são iguais a ponto de serem trocadas uma pelas outras, pois o que importa, para quem preza o dinheiro mais do que a Deus, é onde se sente bem, fundado num prazer desordenado.
4.3) Não é à toa que muitos trocarão suas lealdades com prazer porque as pessoas pensam com o bolso. E é por pensarem no bolso que vão querer adquirir a nacionalidade de outro país a ponto de querer fazer da nacionalidade de um país próspero um produto cobiçado, tal como um produto qualquer no supermercado que pode ser vendido como se fosse de boa qualidade, mas que, na verdade, não presta pra nada. E é neste ponto que o serviço consular não é muito diferente de um supermercado.
5) Tem-se a impressão de que as pessoas se sentem cidadãs do mundo, mas na verdade isso não passa de apatria sistemática. É este um dos efeitos do globalismo, enquanto subproduto da liberdade voltada para o nada que o livre comércio promove.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2017.
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