1) Quem lida com terra está sempre lidando com o manejo integrado de lavoura, pasto e floresta, a ponto de criar uma verdadeira trindade produtiva.
2) Se um produtor tivesse uma floresta, seria mais sensato que plantasse cedro-do-líbano e cedro-do-japão. Eu ouvi falar na wikipedia que o cedro-do-japão é imune ao caruncho. O cereal armazenado em celeiro com esse tipo de cedro não é atacado. Do mesmo modo, a despensa.
3.1) Vamos supor que alguém pedisse emprestado a esse produtor algumas árvores da floresta de modo a construir um celeiro à prova de caruncho.
3.2) Como essas árvores costumam levar muitos anos para crescer, naturalmente os juros exigidos, em razão do custo de oportunidade, serão muito altos. Mas eles são justos, uma vez que as árvores se reproduzem, apesar de ser lenta a reposição do estoque.
4.1) Uma vez construído o celeiro, o agricultor deve focar na colheita e vendê-la a um preço de modo a dar o dinheiro, em razão do serviço prestado. Ele precisará de várias boas colheitas para remunerar o esforço do criador da reserva florestal.
4.2) Se o empréstimo fosse pago em sementes, não valeria à pena, a não ser que o criador da reserva florestal tivesse gente na família dedicada a produzir gêneros agrícolas em grande quantidade, mas esta circunstância é muito rara, em razão da constante especialização econômica. Por isso mesmo, o dinheiro, enquanto tiver natureza fiduciária, será o meio mais prático para se pagar quitar a dívida, coisa que se fundou em razão do princípio da confiança, por conta da natureza produtiva do empréstimo.
4.3) Seria mais sensato que o agricultor pudesse lastrear como moeda as melhores sacas de sua colheita e assim pagar pelo empréstimo das árvores. Essa moeda seria trocada no mercado por reais ou dólares.
5.1) Se a reputação do criador da reserva florestal for boa, então o cedro-do-japão - que permite a construção de celeiros à prova de caruncho - passa a servir de lastro para uma moeda forte, pois garante a segurança do armazenamento da colheita, preservando a qualidade do produto a ponto de gerar bons preços no mercado agrícola.
5.2.1) Por força disso todas as eventuais moedas fiduciárias criadas pelos agricultores de modo a servir de garantia de eventual empréstimo contraído se tornam acessórios que seguem a sorte desse principal, que pode ser transformado em madeira num tempo razoável, por meio da indústria.
5.2.2) Como essas árvores crescem mais lentamente, então essas moedas tendem a valer mais que o dólar, que, por sua vez tende a ser um papel sem valor, se houver eventual governo tirânico, tal como há na Venezuela, se o Estado for tomado como se fosse religião, a ponto de tudo estar nele e nada estar fora dele.
5.3) No caso do cedro-do-líbano, que é muito bom para se fazer embarcações comerciais, ele acaba tendo mais valor ainda, uma vez que o transporte de mercadorias acaba sendo crucial na satisfação ou não satisfação de eventual demanda - e isso influi no preço dos produtos. Como o cedro-do-líbano se reproduz e o ouro não, então ele acaba servindo de lastro para outras commodities, possibilitando a cobrança de juros, em razão do longo prazo para ser produzido.
6) Eis algumas coisas que podem decorrer da economia florestal e a cobrança de juros de longo prazo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2018.
Comentários:
José Octavio Dettmann:
1) Certa ocasião, eu aprendi que a cobrança de juros na Babilônia era justa porque as plantas e os animais se reproduzem, ao passo que a cobrança de usura era vedada porque a cobrança recaía sobre metal, que não se reproduz, o que tende a uma quebra da confiança.
2) Como os bens tendem a se reproduzir, a tendência é que a moeda fiduciária acabe servindo de garantia de empréstimo, a ponto de ser uma moeda forte, dependendo da credibilidade do produtor da commodity, bem como por conta do tempo para se ter aquele bem.
3.1) Moeda lastreada em madeira-de-lei - como cedro-do-líbano, por exemplo - tende a ser uma moeda forte.
3.2) O cedro se reproduz, embora de modo lentamente, e é crucial para a produção de construções e embarcações, o que incentiva à industrialização.
3.3) A cobrança de juros altos, em razão da demora para se ter esse produto, seria justa, pois essa madeira leva muito tempo para ficar disponível no mercado. Não seria usura, porque o metal não se reproduz.
4.1) A moeda lastreada em cedro puxaria todas as outras moedas fiduciárias, que acabam virando acessórios que seguem a sorte desse principal.
4.2.1) Essas moedas podiam ser entre si conversíveis, em razão da troca temporal que se dá entre os produtos.
4.2.2) Uma moeda cujo lastro leva pouco tempo para se reproduzir tende a ser trocada por uma outra cujo lastro leve um tempo razoável para se reproduzir, a qual por sua vez, tende ser trocada por outra cujo tempo para se reproduzir leva ao menos uma ou duas gerações na Terra.
Arthur Rizzi:
1.1) Eu venho percebendo que uma moeda não precisa ser lastreada num único bem apenas, mas em um conjunto de bens reproduzíveis cuja média de preços pode servir de patamar de câmbio. Por exemplo: nióbio, soja e produtos manufaturados.
1.2) Se houvesse uma média de preços entre primários e industrializados que pudesse servir de câmbio entre os produtos, então poderíamos evitar maxidesvalorização e maxi-apreciação
2.1) Como bens primários têm crescimento menor de produtividade em escala (e aqui retomemos Smith) e tem menor potencial de divisão do trabalho, então é útil que se associe isso à produção industrial para que uma crise de primários não gere deflação.
2.2) Isso demandará alguma intervenção do governo na taxa de câmbio de longo prazo, pois, como o Delfim Netto chama atenção, a primarização de uma economia, a ponto de fazer do Brasil um exportador de commodities agrícolas, leva à desindustrialização. Com um processo deflacionário e uma desvalorização cambial, produtos manufaturados tornam-se exportáveis. Eles recuperam a economia levando à apreciação cambial, e isso dura até um novo boom de primários e, consequentemente, a uma nova crise da indústria, tornando a economia completamente dependente desse processo.
José Octavio Dettmann
1.1) Podemos falar da agricultura e pecuária associada ao artesanato. A agricultura e pecuária fornecem matéria-prima para os artesãos. E indústria nada mais é do que artesanato automatizado e sistematizado.
1,2) O tempo para se ter uma colheita de matérias-primas é razoável e o tempo para beneficiá-las em um produto acabado é relativamente curto, se a indústria for eficiente. E esse tempo para se produzir tal commodity pode ser trocado por algo que exija longo prazo a ser produzido, como a plantação de madeira-de-lei.
2) Se uma mesma família se dedicar à agricultura e à indústria de maneira associada, feita de modo a beneficiar os próprios produtos, então os juros devidos em razão do empréstimo de madeiras-de-lei - que foi feito para se fazer um armazém à prova de caruncho - tendem a ser mais facilmente compensados, pois algo que leve muito tempo para produzir tende a ser trocado por algo que leve um tempo razoável para se produzir. E se houver relação de confiança entre os dois produtores, a tendência é haver uma baixa na taxa de câmbio.
3) O lado bom dessa questão, coisa que os críticos da teoria da moeda fiduciária não percebem, é que isso promove a integração entre as pessoas.
Arthur Rizzi:
1) O problema da moeda fiduciária hoje é que, por ser lastreada em tudo, dá a impressão de que não é lastreada em coisa alguma.
2) Quando tudo é lastro, na verdade nada é lastro - é como se a verdade fosse relativa, que ela não existisse. Isso torna a economia muito subjetiva, a ponto de o homem ser a medida de todas as coisas. E isso faz a confiança ser servida com fins vazios.
José Octavio Dettmann:
1) Não é à toa que o lastro deve se pautar no produto de alguém que se santificou através do trabalho, pois a pessoa imitou a Cristo sem medida, por ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
2) Como essas pessoas são raras, então que este seja o parâmetro, pois isso faz o país ser tomado como um lar em Cristo.