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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Notas sobre distrbutivismo e o programa de desestatização das empresas públicas

1) O grande erro do conceito de privatização está no sentido de que um determinado bem público deixe de ser patrimônio exclusivo da União de modo a passar para o patrimônio exclusivo de alguém, que geralmente é ligado aos mesmos grupos políticos que controlam o Estado, a ponto de tomá-lo como se fosse religião.

2) Esse empresário acaba se tornando uma espécie de representante de classe da oligarquia política que vai gerindo com eficiência a empresa de modo a gerar receita para esse grupo, na forma de propina, tal como ocorre com a Odebrecht e o Estado brasileiro. Afinal, a riqueza é sinal de salvação, uma vez que o capital não tem pátria.

3.1) Para você tirar uma empresa do controle do Estado totalitário, o primeiro passo é passá-lo para o controle do público não estatal, a comunidade. É preciso tirar do domínio exclusivo da União, em que tudo está na União e nada pode estar contra ela ou fora dela, e passar a incluir toda a população que toma este país como um lar em Cristo e que com seus impostos sustenta a União, os Estados e os Municípios.

3.2.1) Ou seja, o controle acionário da Petrobras, por exemplo, deve ficar diretamente na mão da população comum, na qualidade de acionistas públicos da companhia ou pequenos acionistas. Toda a população do país deve ser ouvida no tocante às decisões que a empresa toma, uma vez que a Petrobras é símbolo nacional. 

3.2.2) Plebiscitos devem e precisam ser feitos sempre que a empresa toma uma determinada decisão de negócios em favor do povo brasileiro. Quando você inclui o verdadeiro proprietário dos bens do país, a ponto de dar-lhe os poderes de usar, gozar e dispor dos bens que são seus por direito, então você pratica distributivismo. Afinal, o povo brasileiro é o verdadeiro dono das empresas públicas e das empresas de economia mista. Então, que todo o poder fique na mão dele e não da União.

3.3) Para se evitar que o controle acionário caia na mão de grandes acionistas, é preciso que a União, os Estados e os municípios em conjunto protejam esse controle acionário exercido diretamente pelo povo brasileiro, evitando que ele fique na mão de uma grande companhia, seja ela nacional ou estrangeira. Afinal, é dever do Estado proteger os direitos difusos, que são direitos comunitários, fundados no fato de se tomar o país como um lar em Cristo

3.4.1) Se a empresa fica na mãos da comunidade, a empresa não perde seu caráter público, pois se houver uma lesão aos acionistas minoritários, então caberá a Defensoria Pública da União proteger esses acionistas das lesões decorrentes do prejuízo que pode decorrer em razão de se ter muito poder em poucas mãos, coisa que é feita pelos 49% dos acionistas, os grandes acionistas da companhia. A corrupção na Petrobras causa danos difusos, que afetam a todos aqueles que controlam diretamente os poderes de usar, gozar e dispor dos bens da empresa - e eles tendem a ser ainda mais graves para os pequenos acionistas. Por isso, uma ação coletiva, fundada em direitos difusos, pode ser proposta na justiça federal - e qualquer do povo, qualquer acionista, pode entrar no processo de modo a cobrar o ressarcimento dos prejuízos.

3.4.2) Quando se passa o controle da Petrobras para o controle direto do povo brasileiro, ocorre um verdadeiro distributivismo, uma vez que todos os cidadãos do Brasil passam a ter controle direto da companhia, pois qualquer pessoa do povo terá o direito de usar, gozar e dispor daquilo que lhe pertence, no caso esta empresa pública - e esse interesse da nação como um todo precisa ser protegido pelo poder público, uma vez que a Petrobras é símbolo nacional e a justiça precisa ser acionada como tentativa de legítima defesa em face do interesse nacional prejudicado - no caso, o interesse do pequeno acionista, que toma o país como um lar em Cristo. 

3.4.3) Com o direito de propriedade pulverizado na mão do povo, isso faz com que o crime de corrupção se torne um verdadeiro crime de lesa-pátria, a ponto de atingir um grau maior de reprovação do que antes havia, quando a empresa estava nas mãos da União. Se todo o povo tiver ações da empresa, então os executivos serão mais rigidamente controlados, pois o menor prejuízo será exigido na justiça.

4.1) Considerando que o patrimônio da Petrobras é de trilhões e a população está em torno de 200 milhões pessoas, então cada ação com direito a voto teria em torno de uns mil e poucos reais por habitante. E se a empresa for bem gerida, a população terá muito mais renda na mão. 

4.2.1) Seria o maior programa desestatização e democratização da propriedade privada jamais visto - seria algo sem precedentes. Se houver um governante católico, disposto a aplicar o que a Santa Madre Igreja nos ensina, então isso é dar a qualquer pessoa do povo os poderes de usar, gozar e dispor daquilo que é seu por direito - e isso é o verdadeiro empoderamento. 

4.2.2) A empresa não deixaria de ser pública - ela apenas deixou de ficar nas mãos do Estado, que não pode ser tomado como se fosse religião. A empresa estará nas mãos da comunidade - dos pequenos acionistas que tomam o país como um lar em Cristo. 

4.2.3) Como os pequenos acionistas costumam ser lesados nas grandes companhias de capital aberto pelos grandes acionistas - em razão da concentração dos poderes de usar, gozar e dispor em poucas mãos - então cabe ao poder público, através da Defensoria Pública da União, proteger os hipossuficientes, pois qualquer ato de corrupção e de gestão fraudulenta prejudica os direitos difusos da companhia, uma vez que o controle acionário, os 51 %, está pulverizado nas mãos do povo. 

4.3.1) Como esta idéia tem conseqüências tremendas, então a desestatização de empresas através do distributivismo levaria a restaurar a relação da economia com a política. 

4.3.2) As reuniões de acionistas, se o país for do tamanho do Brasil, terão a dimensão de uma verdadeira democracia plebiscitária, justamente aquilo que nosso povo necessita, evitando assim que tudo fique na União, a ponto de nada estar fora ou contra ela. 

4.3.3) Isso é converter as falidas estruturas do fascismo getulista em democracia fundada no fato de se tomar o pais como um lar em Cristo, a ponto de amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por fundamento, sobretudo por conta da missão de servir a Cristo em terras distantes. 

4.3.4) Seria o casamento da aristocracia com a democracia, criando uma verdadeiro cidade dos homens que imite a Jerusalém divina, a verdadeira politéia. 

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2018 (data da postagem original).

Por que o termo "burguesia" é inadequado para descrever a realidade da classe empresarial de nosso tempo?

1) Quando estava com meus 18 anos e no terceiro ano do segundo grau, eu havia percebido que o manual de História que eu usava era bem fora da realidade - ele chamava de "burguês" todo e qualquer empresário, seja ele pequeno, médio ou grande.

2.1) Por que digo que termo "burguês" é um termo muito fora da nossa realidade?

2.2) Em primeiro lugar, as cidades não são fortificadas, uma vez que as fortificações hoje não protegem a cidade contra cercos, até porque o bombardeio pode vir do céu, por meio dos aviões, que podem ser tripulados ou não. Além disso, há foguetes intercontinentais que podem mascarar a sua assinatura térmica. O míssil pode vir da China e acabar acertando o Rio de Janeiro, sem que se perceba pelo radar.

2.3.1) Em segundo lugar, as cidades de uma mesma região metropolitana estão muito integradas uma às outras, a ponto de haver uma conurbação, a ponto de haver problemas urbanos em comum, o que pede uma política integrada de segurança pública, exercida por meio de uma polícia metropolitana ou por meio leis que valham para toda aquela região metropolitana, coisa que nosso odioso federalismo mequetrefe não nos permite fazer.

2.3.2) Essa conurbação faz com que não percebamos onde termina o município do Rio e onde começa a Baixada Fluminense, por exemplo. Como não há marcos naturais, por conta do crescimento desordenado, então a selva de pedra a perder de vista faz com que percamos tal referência.

2.4.1) Outro ponto que faz com que o conceito burguês desapareça é que a noção de atividade econômica organizada pode ser feita ainda no momento em que você trabalha de maneira subordinada a outra pessoa.

2.4.2) Um empregado com grande capacidade de iniciativa tende a se organizar e criar uma economia própria quando bem serve a seu patrão, a tal ponto que pode acabar se tornando seu sócio, por conta do princípio da confiança, ou acabar criando uma empresa de modo desenvolver uma solução para o patrão. E essa empresa tende a aproveitar o mesmo espaço físico onde a empresa do patrão está instalada, criando uma economia mais complexa por conta do direito de vizinhança, uma vez que atividades econômicas organizadas, capitaneadas por pessoas diferentes, estão compartilhando um mesmo espaço físico, a ponto de criar uma verdadeira comunhão de direitos e deveres sobre a coisa que eventualmente ocupam. Isso cria uma relação entre o direito civil e direito empresarial de tal forma que precisa ser tratada num sistema único, como o Código Civil de 2002.

3.1) Enfim, tanto pela realidade geográfica quanto pela complexidade das relações sociais o termo "burguês" é fora da realidade, por ser inadequado para descrever uma realidade muito complexa.

3.2) A inexistência de muralhas indica que o mundo é vasto, que há muitas possibilidades a serem exploradas, ainda que em terras distantes - e o mundo em que vivemos decorre mais daquilo que decorre de Ourique, que globalizou a fé cristã.

3.3) Além disso, a própria inexistência de muros indica que o mundo não pode estar mais dividido entre eleitos e condenados, tal como há na cosmovisão protestante. É preciso descobrir os outros e bem servi-los de modo a vivermos a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus, fazendo com que nos santifiquemos por meio do trabalho.

3.4.1) A mentalidade burguesa, enquanto resquício, é própria de quem vive a vida preso a uma redoma, cercado a uma muralha, iludido numa falsa sensação de segurança - e isso promove a mesquinharia. É mais fácil ver isso nos condomínios em que vivemos, que são verdadeiras pequenas cidades fortificadas. Isso certamente cria uma má consciência das pessoas.

3.2) Se os condomínios forem construídos observando o princípio da amizade como a base da sociedade política, então essa má consciência certamente será eliminada, uma vez que essas pequenas cidades são mais bem geridas por todos aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, o que prepara as pessoas para servirem à cidade como um todo, no cargo de vereador.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2018.

Notas sobre a questão da pluralidade de domicílios em matéria de eleição municipal

1) Meu irmão é do Rio de Janeiro e por conta do trabalho ele já tomou vários lugares do Brasil e mesmo de fora do Brasil como um lar tanto quanto o Rio de Janeiro, o lugar onde ele nasceu e foi criado.

2) Em eleições municipais, ele teria direito a votar em um vereador por Santo André, uma vez que seu domicílio de trabalho se dá no Estado de São Paulo. Mesmo que volte ao Rio de Janeiro de modo definitivo, ele teria direito de votar num vereador daquele município, uma vez que ele contribuiu para a economia local com a sua força de trabalho.

3) No Chile, como ele trabalhou por dois anos no país, então ele tomou o lugar como um lar por dois anos, a ponto de criar vínculos com a realidade local, coisa que não pode ser desprezada para a efeito de aquisição de nacionalidade e assim adquirir direitos políticos.

4.1) Por conta de trabalhar em vários lugares e por conta de ter tomado vários lugares como um mesmo lar, meu irmão poderia votar para vereador no Rio, vereador em Santo André, vereador em Santiago, prefeito no Rio, prefeito em Santo André e prefeito em Santiago. 

4.2) Como a força de trabalho dele contribuiu para a economia desses três lugares, então ele deveria ser ouvido pelos políticos locais, pois seria responsável para construção de pontes nesses três locais - e de certo modo, a experiência dele serviria de base para que Brasil e Chile fosse tomados como um mesmo lar.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2018.

Meditações sobre o sistema proporcional - o caso dos deputados federais

1) Certa ocasião, eu ouvi falar que na Europa, quando se vota em um determinado deputado para o Parlamento Nacional, você indica três opções. Se o primeiro nome já tiver sido eleito, seu voto vai para o segundo nome; se o segundo nome estiver eleito, vai para o terceiro nome.

2) Aqui no Rio de Janeiro, eu votei na Chris Tonietto para o cargo de deputado federal; como ela foi eleita, meu voto poderia ir para a Sara Winter ou mesmo para o Carlos Dias, que seriam minha segunda ou terceira opção.

3.1) Na França, por exemplo, se um deputado federal representa uma causa nacional, como a questão do direito à vida contra o aborto, então meu voto poderia ir para outro deputado federal, ainda que de outro estado, pois tal causa extravasa as divisões político-administrativas dos estados.

3.2) Vamos supor que Caio Bellote Delgado Marczuk tivesse se candidato ao cargo de deputado federal por Minas. Como a Chris Tonietto foi eleita, então meu voto iria para ele, partindo do princípio de que o deputado federal representa os interesses da nação como um todo - no caso, o direito à vida. Mesmo sendo de outro estado, ele me representa melhor do que um comunista eventualmente domiciliado em meu estado, pois esta graça de defender aquilo que decorre da conformidade com o Todo que vem de Deus é maior do que a lei que regula a representação política nos estados.

4) Enfim, estas são algumas coisas que poderiam ser implementadas, se houvesse uma reforma séria no sistema eleitoral, no tocante ao sistema proporcional.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2018 (data da postagem original).

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Sobre o princípio de se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento - um comentário sobre isso

1) Olavo de Carvalho costuma reportar a Santo Tomás de Aquino, quando diz que o verdadeiro amigo é aquele que ama e rejeita as mesmas coisas que você.

2) Se você não estiver revestido de Cristo - que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a verdadeira medida de todas as coisas fundadas na conformidade com o Todo que vem de Deus -, então amar e rejeitar as mesmas pode se fundar sobre qualquer coisa que seja conservada de maneira conveniente e dissociada da verdade, a ponto de a unidade não ser cabível em um lugar onde o mundo é dividido entre eleitos e condenados, uma vez que tal proposta será servida com fins vazios. Afinal, jamais haverá unidade onde há consenso momentâneo fundado no amor de si até o desprezo de Deus, onde o Estado será tomado como se fosse religião, em que tudo estará no Estado e nada estará fora dele ou contra ele.

3) Não é à toa que o verdadeiro Deus e verdadeiro homem trouxe a espada para estabelecer de maneira definitiva o limite entre o que deve ser conservado por conta da dor de Cristo e o que é conservado por conta da insensatez das pessoas, que insistem em escolher o que é conveniente e dissociado da verdade, a ponto de esse pecado fundado na estupidez e na soberba clamar aos céus.

4) E é com base nesse limite estabelecido por Cristo que você deve estabelecer laços de sangue com todos aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. Se encontro uma mulher que conserva a dor de Cristo e é sensata, então eu devo me unir a essa mulher, ainda que eu não me sinta atraído por sua beleza física. O amor à verdade precisa ser maior que a concupiscência carnal - e é aí que se faz uma aliança a três fundada no casamento.

5.1) Quando me uno a alguém por conta de sua sensualidade, sem levar em conta se essa pessoa de fato é esquerdista, então a tendência é a aliança temporal se desmanchar, uma vez que se fundou em bases precárias.

5.2) A maioria das famílias estão divididas, portanto desestruturadas, porque não se uniram com base no fato de se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, mas por critérios fundados na matéria (seja a riqueza do pretendente, seja por conta do sex appeal da pretendida). E isso só reforça a cultura do divórcio, uma vez que não há unidade na luta contra o mal que se abate sobre a polis - e a divergência política é uma das causas de divórcio.

6.1) Enfim, não haverá nobreza se não houver famílias formadas a partir do princípio de que devemos nos unir amando e rejeitando as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, na conformidade com o Todo que vem de Deus - e esse princípio deve e precisa ser a razão que constitui a polis.

6.2) Os laços de amizade precisam se converter em laços de sangue - só assim é que o país será tomado como um lar em Cristo. Onde não houver famílias unidas neste fundamento, o Estado será tomado como se fosse religião, pois tudo estará no Estado e nada estará fora dele ou contra ele.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2018.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

A santificação através do trabalho leva ao renascer das guildas

1.1) Se o texto escrito serve para distribuir a experiência e a tradição entre os ausentes - no caso, o diálogo entre os mortos e os não-nascidos - e entre os que estão vivos, mas que estão distantes, então de maneira análoga ao texto escrito nós temos o princípio da associação, que deriva do direito de vizinhança e do principio da sociabilidade, através do diálogo que estão vivos e presente no mesmo lugar, em Cristo. Basta haver uma comunhão de interesses fundados no fato de se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento e por conta da santificação através do trabalho que se começa a haver a cultura da guilda.

2.1) Se eu como escritor tiver vizinhos que queiram percorrer o mesmo caminho de honras que meus pais seguiram como professores, então eu devo apresentar esses meus vizinhos aos meus pais de modo que aprendam com eles os segredos da profissão, a ponto de ouvir suas histórias, suas experiências de vida bem como suas técnicas de transmissão de conhecimento aos alunos.

2.2) E neste ponto, o vizinho passa a ser tomado como filho espiritual do meus pais na profissão, ampliando assim a noção de família, pois ter um irmão na profissão que fez o nome da minha família, mesmo que eu siga um caminho diferente daquele que foi percorrido pelos meus pais, é uma forma de manter vivo o legado deles, já que experiência na profissão é um bem intangível que deve ser transmitido a quem bem honrá-lo, ainda que não haja gente do próprio sangue disposta a seguir a mesma vocação, o mesmo chamado.

2.3) Quando isso é feito de maneira sistemática, o senso de tomar o país como um lar em Cristo se torna mais evidente, pois se torna uma necessidade descobrir os outros, uma vez que o costume de compartilhar os caminhos de honra entre os que nos são próximos é bom em si mesmo a ponto de ser observado por todos da comunidade, uma vez que da integração entre pessoas de fora da família que queiram seguir o mesmo caminho que meus pais seguiram surge a responsabilidade de servir a Cristo em terras distantes, a ponto de levar o nome da família a outros mares por nunca dantes navegados, já que a cada tempo, a cada geração surgem novos desafios e desses desafios surgem novas circunstâncias.

3.1) Da associação de várias famílias em torno de uma tradição de excelência,  fundada na santificação através do trabalho, surge uma guilda.

3.2) Na guilda, os associados tomam-se uns aos outros como parte da família.

3.3) Se eu, que sigo um caminho diverso ao dos meus pais, crio um nome de excelência na minha profissão, então há uma relação quase familiar entre a guilda de professores e a guilda de escritores - e isso se estende a toda e qualquer profissão que eventualmente surja ao longo do tempo. 
 
3.4) É por conta desse solidarismo familiar que se dispensa a necessidade de uma regulação estatal da profissão, uma vez que todos estão servindo a Cristo na própria terra ou em terras distantes, aumentando ainda mais o bom nome da guilda. E isso é uma forma extraordinária de multiplicação da nobreza, pois é o feliz casamento da aristocracia com a democracia.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 9 de outubro de 2018 (data da postagem original).

Meditação sobre a questão de honrar pai e mãe: o caso das heranças perdidas, por conta de não se seguir a mesma profissão do pai ou da mãe

1) Vamos supor que você é de uma família de médicos e resolva ser escritor.

2) Mesmo que você não tenha vocação para ser médico, é conveniente e sensato que você documente a experiência profissional dos seus pais num livro de modo que essa experiência seja passada para as futuras gerações.

3.1) Narrar a história da vocação de seus genitores, mesmo que você não siga o caminho deles, é a melhor forma de honrar pai e mãe, ao mesmo tempo em que você santifica sua profissão de escritor.

3.2) Além disso, por meio dos escritos, esta história pode ser distribuída a toda e qualquer pessoa que esteja na comunidade. Se uma pessoa de fora da família tiver o dom para ser médico e amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, então essa pessoa acabará se tornando filho espiritual de seus pais a ponto de seguir o exemplo deles e continuar o legado na medicina no seu lugar, enquanto você continua seguindo o caminho do jornalismo.

4.1) Descobrir pessoas, ainda que de fora da família, para continuar a tradição de seus ancestrais, mesmo que você não tenha o mesmo dom que eles para isso, é dar uma destinação útil a uma tradição nobre - assim essa tradição não será perdida, por conta da falta de herdeiros na família para continuar esse caminho.

4.2.1) Afinal, compartilhar tradições com aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento é um tipo de comunitarismo, sem mencionar que isso ajuda a combater a crescente atomicidade social decorrente do fato de os filhos não seguirem a carreira dos pais, fazendo todo esse legado, em termos de histórias e experiência profissional, ser jogado na lata do lixo.

4.2.2) Se houver uma pessoa de fora que continue a tradição da família na medicina, então essa pessoa de fora é filha espiritual dos ancestrais que foram médicos e continuará o culto doméstico decorrente de fazer da medicina uma profissão santa, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus - e isso, em certo sentido, é um tipo de adoção, pois isso é fazer do seguidor da tradição da família uma espécie de irmão.

4.3.1) É da atomicidade social decorrente de cada um perseguir seus próprios objetivos fundados no amor de si até o desprezo de Deus que a herança ancestral em uma profissão diversa que a sua vai sendo jogada na lata do lixo - e essa experiência poderia ser melhor servida a outra pessoa que atende ao mesmo chamado que seus pais.

4.3.2) Não passar essa experiência na forma de livro é desonrar pai e mãe, cujo pecado, por conta da omissão, clama aos céus. E mesmo que você não seja escritor, você precisa contratar gente que faça esse trabalho, nem que seja entrevistando seus pais em idade provecta de modo a se fazer uma biografia sobre eles. É preciso evitar a cultura da perda de uma chance por conta disso.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 9 de outubro de 2018.