Introdução
A interconexão entre a geopolítica dos transportes e a geopolítica dos portos desempenha um papel fundamental na dinâmica do poder global. Enquanto a primeira se concentra na infraestrutura terrestre, incluindo ferrovias, rodovias e gasodutos, a segunda aborda a influência do acesso ao mar e do controle das rotas oceânicas. A interação dessas duas perspectivas permite a formulação de estratégias globais integradas, combinando os conceitos de maritimidade e continentalidade em um modelo geopolítico holístico.
Maritimidade e Continentalidade: Duas Perspectivas Geopolíticas
A dicotomia entre maritimidade e continentalidade tem sido um dos pilares das teorias geopolíticas. A maritimidade, promovida por potências navais como os Estados Unidos e o Reino Unido, enfatiza o controle dos oceanos como chave para a hegemonia global. Alfred Mahan (1890) argumentou que o poderio naval e o controle dos chokepoints (estreitos estratégicos) são essenciais para a dominação global. A dependência do comércio marítimo, que representa cerca de 80% do fluxo de mercadorias no mundo, reforça essa estratégia.
Por outro lado, a continentalidade baseia-se na ideia de que o controle de vastos territórios internos e de suas rotas terrestres é crucial para a segurança e projeção de poder. Halford Mackinder (1904) formulou a teoria do "Heartland", segundo a qual quem controlar a Eurásia dominará o mundo. Esse pensamento tem sido aplicado por potências continentais como a Rússia e a China, que investem pesadamente em ferrovias e corredores terrestres para reduzir sua dependência do mar.
A Integração entre Geopolítica dos Transportes e Geopolítica dos Portos
Para um modelo geopolítico holístico e globalizante, é necessário combinar infraestruturas marítimas e terrestres. Algumas estratégias de integração incluem:
Intermodalidade Logística: A interconexão entre ferrovias, rodovias e portos permite que mercadorias transitem de forma eficiente. A China, por meio da Belt and Road Initiative (BRI), tem integrado ferrovias e portos europeus, como o de Pireu (Grécia), facilitando a entrada de seus produtos na Europa.
Controle de Chokepoints e Rotas Alternativas: O controle dos estreitos de Ormuz, Malaca e Suez é essencial para as potências navais. No entanto, as potências continentais têm criado alternativas, como a Ferrovia Transiberiana e a Rota do Ártico, para mitigar riscos geopolíticos.
Infraestrutura Resiliente e Segurança Energética: Oleodutos e gasodutos terrestres reduzem a dependência do transporte marítimo, como o Corredor de Transporte Norte-Sul (INSTC), que conecta a Rússia, o Irã e a Índia.
Estratégias de Dupla Via: China e Rússia adotam um modelo híbrido, investindo tanto em portos como em corredores terrestres. A China expande sua influência nos mares por meio da COSCO Shipping e de bases navais, enquanto a Rússia desenvolve sua malha ferroviária transcontinental.
Conclusão
A combinação da geopolítica dos transportes com a geopolítica dos portos permite a formulação de uma estratégia globalizante e resiliente. O futuro da competição geopolítica dependerá da capacidade dos Estados de integrar essas perspectivas, garantindo maior flexibilidade e segurança em um mundo multipolar.
Bibliografia
MAHAN, Alfred T. The Influence of Sea Power upon History, 1660-1783. Boston: Little, Brown, and Company, 1890.
MACKINDER, Halford J. The Geographical Pivot of History. The Geographical Journal, vol. 23, no. 4, 1904, pp. 421-437.
SPYKMAN, Nicholas J. The Geography of the Peace. New York: Harcourt, Brace and Company, 1944.
DUGIN, Alexander. Foundations of Geopolitics. Moscow: Arktogeia, 1997.
KAPLAN, Robert D. The Revenge of Geography. New York: Random House, 2012.
COHEN, Saul B. Geopolitics: The Geography of International Relations. Lanham: Rowman & Littlefield, 2015.
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