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sexta-feira, 21 de março de 2025

Uma conversa imaginada entre Arthur Schpenhauer, Josiah Royce e o papa Leão XIII sobre economia a serviço do bem comum e governo de representação

Arthur Schopenhauer, Josiah Royce e Papa Leão XIII discutem sobre a economia a serviço do bem comum e o governo de representação:

Schopenhauer:
Em primeiro lugar, gostaria de afirmar que a economia de mercado, tal como entendida pela maioria dos economistas, é um reflexo da vontade humana, da ânsia incessante e insaciável de prazer e poder. Essa vontade é, de fato, a força motriz de todas as ações humanas, e nela reside o conflito fundamental. A ideia de que a economia possa ser uma ferramenta para o bem comum me parece um tanto utópica, dado que a vontade humana é predominantemente egoísta. Se a economia de mercado for deixada completamente à mercê das forças do egoísmo, temo que ela possa apenas perpetuar as desigualdades e acentuar as diferenças entre as classes, ao invés de promover a concórdia.

Royce:
Concordo que a vontade humana, em seu estado mais puro, tende ao egoísmo e ao conflito. Contudo, acredito que a verdadeira questão está na formação de uma lealdade compartilhada, algo que pode superar essa tendência natural. O governo de representação, com base na lealdade cívica, não deve ser visto como uma mera ferramenta de poder, mas como um pacto moral entre cidadãos, em que o bem comum se torna o centro da ação pública. Quando a economia de mercado é dirigida por esse tipo de lealdade, ela pode, na verdade, funcionar como um meio para garantir que todos, independentemente de sua classe, possam se beneficiar do progresso econômico. A Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, fala exatamente disso, ao sugerir que a economia deve ser voltada para o bem-estar de todos, não apenas dos mais poderosos, e que o trabalho digno e a justa remuneração devem ser os pilares dessa estrutura.

Papa Leão XIII:
Tenho prazer em me juntar a esta conversa. O que Royce diz sobre a lealdade cívica é, de fato, a chave para um verdadeiro progresso social. Na minha Rerum Novarum, tento mostrar que a economia de mercado pode, sim, ser orientada para o bem comum, mas somente quando é regulada por uma moral que reconhece a dignidade humana em todas as suas formas. A verdadeira justiça social não reside em permitir que o mercado seja governado pelo egoísmo desenfreado, mas em garantir que o trabalho seja digno e que o fruto do trabalho seja compartilhado de maneira justa. A lealdade à comunidade, ao bem comum, deve ser o princípio norteador de todas as relações sociais e econômicas.

Schopenhauer:
É uma posição interessante, Papa Leão XIII, mas, ao meu ver, a vontade humana é de tal forma marcada pelo egoísmo que, mesmo com regulamentações, a natureza humana continuará a gerar desigualdades. Acredito que a economia de mercado é uma arena de conflito, onde as classes estão inevitavelmente em disputa. O mais que podemos esperar é uma espécie de equilíbrio instável, onde, por meio de alguma intervenção, as tensões sejam minimizadas. No entanto, se deixada ao natural, a economia de mercado tende a ser um campo de exploração.

Papa Leão XIII:
Compreendo sua perspectiva, Schopenhauer, e reconheço que o egoísmo humano é um obstáculo real. Contudo, é precisamente por isso que a intervenção do Estado e a aplicação da justiça são necessárias. A moralidade não é algo que se espera das ações puramente individuais, mas sim algo que deve ser cultivado e defendido através das instituições sociais e políticas. A Rerum Novarum não nega a realidade do egoísmo, mas chama a sociedade e o Estado a regularem a economia de maneira que sirva ao bem comum. A dignidade humana e os direitos dos trabalhadores precisam ser protegidos, o que só pode ser feito quando o mercado não for deixado completamente livre, mas acompanhado de uma orientação moral que garanta justiça e equidade.

Royce:
Exatamente, Papa Leão XIII. A verdadeira lealdade, como mencionei, não é simplesmente uma adesão passiva às normas, mas um compromisso ativo com o bem-estar de todos. A economia de mercado, sob esse princípio, não se tornaria uma mera arena de competição descontrolada, mas um meio para alcançar a prosperidade coletiva. Quando as relações econômicas são moldadas pela lealdade cívica e pela responsabilidade moral, as tensões entre as classes podem ser diminuídas. O mercado, por si só, não é a causa das desigualdades; é a falta de uma ética social que coloca a justiça no centro das suas práticas.

Schopenhauer:
Eu não posso deixar de ser cético em relação a esse idealismo. Mesmo que a moralidade seja aplicada, a economia de mercado, no final das contas, ainda é um jogo de interesses, onde os indivíduos buscam maximizar seus próprios ganhos. Acredito que, enquanto a regulamentação pode atenuar alguns dos piores excessos, ela não pode eliminar as desigualdades fundamentais que surgem da natureza egoísta do ser humano.

Papa Leão XIII:
Eu entendo seu pessimismo, Schopenhauer, mas o que proponho é um modelo de economia que não se baseia apenas nas forças do mercado, mas nas virtudes da solidariedade e da justiça social. O Estado tem o papel de garantir que os direitos de todos os cidadãos sejam respeitados e que a economia funcione para o bem de todos, e não apenas para os mais poderosos. Isso não é um ideal distante, mas uma necessidade urgente para a paz e a justiça. A economia de mercado pode ser uma força de harmonia, mas somente quando é regulada com base em princípios morais que colocam a dignidade humana e o bem comum como prioridade.

Royce:
E é aqui que a verdadeira lealdade, Papa Leão XIII, entra em cena. Se pudermos cultivar uma lealdade que reconheça a importância do bem comum, então a economia de mercado pode ser reformulada de maneira que promova a harmonia, ao invés da divisão. O governo de representação, sob essa luz, deve ser o guardião dessa moralidade e da justiça social, garantindo que a prosperidade seja compartilhada por todos, e não apenas pelas elites.

Schopenhauer:
Talvez eu esteja mais próximo de sua posição do que imaginava. Se, como sugere Royce, a lealdade moral pudesse ser fortalecida, e o Estado realmente interviesse para garantir a justiça social, talvez a economia de mercado pudesse servir, em algum grau, ao bem comum. Mas, como sempre, temo que a natureza humana seja um obstáculo difícil de superar.

Papa Leão XIII:
Não podemos subestimar os desafios, mas também não podemos abandonar a esperança. A economia pode, sim, ser uma força para o bem, se for conduzida com os olhos voltados para a dignidade humana e a solidariedade. A lealdade, a justiça e a intervenção moral são os pilares que sustentam uma sociedade verdadeiramente próspera e justa.

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