Pesquisar este blog

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Geopolítica do Mapa Cor-de-Rosa: a tentativa de Portugal de unificar Angola e Moçambique

Resumo O presente artigo examina a tentativa de Portugal de unir Angola e Moçambique sob um território contínuo durante o final do século XIX, um projeto conhecido como "Mapa Cor-de-Rosa". Abordamos o contexto histórico, os interesses econômicos e geopolíticos envolvidos, bem como a oposição britânica que resultou no fracasso do plano. Analisamos também os impactos dessa disputa na configuração territorial africana e no declínio do império colonial português.

Introdução Durante o século XIX, a corrida imperialista pela África levou as potências europeias a disputarem vastos territórios do continente. Portugal, uma das nações com presença colonial mais antiga na África, buscava consolidar suas colônias e expandir sua influência. A proposta do Mapa Cor-de-Rosa representava um dos últimos grandes projetos expansionistas portugueses, visando conectar suas duas principais colônias africanas: Angola e Moçambique.

O Contexto Histórico Portugal, que havia perdido o Brasil em 1822, viu-se enfraquecido economicamente e buscava novas fontes de riqueza. A Revolução Industrial intensificou a necessidade de colônias como fornecedoras de matérias-primas e como mercados consumidores. Neste contexto, a exploração africana se tornou uma prioridade. Desde o século XV, Angola servia como fonte de mão de obra escravizada e de recursos minerais, enquanto Moçambique destacava-se pelo comércio de ouro, marfim e pela sua posição estratégica no Oceano Índico.

O Projeto do Mapa Cor-de-Rosa Em 1885, Portugal apresentou oficialmente o Mapa Cor-de-Rosa, uma proposta de ligação territorial entre Angola e Moçambique através dos territórios que hoje correspondem a Zâmbia, Zimbábue e Malaui. A justificativa portuguesa baseava-se em direitos históricos e na presença de expedições luso-africanas na região.

Porém, essa estratégia encontrou forte oposição da Grã-Bretanha, que possuía seu próprio projeto de ligação territorial entre a Cidade do Cabo, na atual África do Sul, e o Egito. A proposta portuguesa era um obstáculo direto a essa expansão britânica.

A Conferência de Berlim e o Ultimato Britânico A Conferência de Berlim (1884-1885), organizada pelas potências europeias para regulamentar a ocupação da África, reforçou o princípio da ocupação efetiva para validar reivindicações territoriais. Portugal, sem controle direto sobre a área pretendida, viu sua proposta ameaçada. Em 1890, a Grã-Bretanha emitiu um ultimato exigindo a retirada portuguesa da região, sob pena de rompimento de relações diplomáticas e possíveis ações militares. Portugal, sem apoio internacional e sem força para resistir, aceitou a exigência britânica, pondo fim ao projeto do Mapa Cor-de-Rosa.

Consequências Geopolíticas A derrota diplomática causou grande humilhação nacional em Portugal e aprofundou a crise política interna, contribuindo para a queda da monarquia em 1910. Na África, a fragmentação territorial consolidou as fronteiras atuais, reforçando a presença britânica na região e isolando as colônias portuguesas.

Conclusão A tentativa de Portugal de unificar Angola e Moçambique reflete não apenas a dinâmica imperialista da época, mas também a vulnerabilidade do império português diante das potências europeias. O fracasso do Mapa Cor-de-Rosa demonstrou a dependência de Portugal em relação à diplomacia britânica e marcou um dos episódios mais críticos da história colonial portuguesa.

Bibliografia

  • Clarence-Smith, G. (1985). The Third Portuguese Empire: A Study in Economic Imperialism, 1825–1975. Manchester University Press.

  • Newitt, M. (1995). A History of Mozambique. Indiana University Press.

  • Oliveira Marques, A. H. de. (1972). História de Portugal. Editorial Presença.

  • Pakenham, T. (1991). The Scramble for Africa: White Man’s Conquest of the Dark Continent from 1876 to 1912. Avon Books.

  • Wheeler, D. & Opello, W. C. (2010). Historical Dictionary of Portugal. Scarecrow Press.

Nenhum comentário:

Postar um comentário