1) Em simuladores de economia de mercado, como o The Guild 2 ou Saelig, nós vemos o seguinte: você é um fazendeiro que está a produzir trigo; esse trigo, se processado por meio da mão do moleiro, vai ser convertido em farinha; essa farinha, por sua vez, será usada na produção de pães, na padaria.
2.1) Padeiro, moleiro e agricultor não se conhecem - e cada um está visando seus próprios interesses.
2.2) Como existe uma cultura em que cada um enxerga seus próprios interesses a ponto de serem incapazes de descobrir (no intuito de valorizar) o trabalho do outro, eis que surge o mercador, para servir de intermediário.
2.3.1) Como o mercador também enxerga seus próprios interesses, ele faz do encontro uma sujeição (a tal ponto que existe uma diferença gritante entre o preço que o mercador está disposto a pagar pela oferta do produto no mercado e o preço pelo qual ele se dispõe a dar o produto se houver demanda a partir do mercado, que ele controla por meio de uma oferta que se destina a toda a comunidade, que passa a ficar subordinada aos interesses do mercador). É como se fosse uma economia de licitação, mas pautada na flexibilidade dos costumes, uma vez que os preços flutuam em razão da ação do tempo e das circunstâncias.
2.3.2) Trata-se de uma economia de governo, de manipulação, o que leva à atomicidade das classes (a ponto de gerar conflitos de interesse qualificados por uma pretensão resistida, o que extravasa e muito o âmbito da ordem privada). É o que vemos.
3.1) O que não se vê é que o agricultor tem sua família, assim como o moleiro e o padeiro. Por isso, quem toma o país como um lar deve tomar todas as classes da sociedade como parte da família e criar um ambiente de concórdia entre essas três famílias, tal como vemos neste microcosmo que prepara nossa visão para algo maior e mais sistemático.
3.2) Essa pessoa deve fazer com que com que agricultor, moleiro, padeiro entrem num acordo de modo que uns trabalhem em função dos outros para que possam ganhar mais e repartir os lucros advindos do trabalho coordenado. Se fossem sócios, por amarem e rejeitarem as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, receberiam sua participação em partes iguais 100/3 => 33%, uma vez que entre irmãos em Cristo não há diferenças, a não ser nos dons que Deus deu a cada um de modo a facilitar o trabalhos dos outros cujos dons completam o trabalho do agricultor. Como o agricultor, o moleiro e o padeiro têm seus empregados - e esses empregados recebem sua participação nos lucros, descontados o pró-labore de seus respectivos chefes.
4) Se isso é assim numa pequena escala, a mesma coisa ocorre numa escala sistemática, macroscópica.
5.1) Nos tempos antigos, a melhor forma de ocorrer uma joint venture era o agricultor ter filhos.
5.2.1) Digamos que o agricultor tenha dois filhos em que o filho A case com a filha do moleiro e o filho B se case com a filha do padeiro.
5.2.2) Com isso, o negócio fica na mão de uma família que decorre da união dessas três por força do casamento - afinal, na economia familiar não há concentração de bens em poucas mãos, mas uma divisão de tarefas de modo que os descendentes desta união acabem supervisionando o trabalho de seus subordinados e acabem, por sua vez, trabalhando em conjunto de modo que a família unida possa prosperar mais e melhor.
5.3) Trata-se de uma economia de comunhão e, ao mesmo tempo, é uma economia de salvação, pois é na família que se encontra a Igreja doméstica, a base para se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. Afinal, a sociedade decorre da comunidade, pois pressupõe esforço conjunto em obras que visam à promoção do bem comum - e é pelo bem comum bem constituído que se toma o país como um lar em Cristo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 29 de julho de 2017.
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