Pesquisar este blog

terça-feira, 11 de julho de 2017

Santo Tomás de Aquino sobre a questão de judaizar a fé cristã

“E esta afirmação é verdadeira. Por isso, repreende-os asperamente, para que sejam sãos na fé, não deem ouvidos a fábulas judaicas nem a mandamentos de homens que se afastam da verdade.” (Carta a Tito I, 13.14)

O modo de alcançar a sanidade é evitar os erros dos judeus, donde diz: “não deem ouvidos às fábulas judaicas”, porque na lei havia duas classes de ensinamentos de fé, isto é, certas verdades acerca do que havia de se crer, também, alguns mandamentos da religião, que haviam de se observar, sobre o culto de Deus. Aos primeiros chama fábulas; aos segundos, mandamentos de homens, e não de Deus, donde, aparentemente, como dizem os maniqueus, condena o Antigo Testamento; mas o que diz das fábulas pode referir-se às suas narrações, que, por estarem à margem da doutrina da lei, como o talmude, são fabulosas (1 Tm I); ou a mesma doutrina, que a um tempo foi verdade, agora, como a entendem eles, é a fábula e trufa; assim aquele de Isaías VII: “eis que uma virgem conceberá” foi verdade, mas agora, já porque o dizem eles que está ainda por se cumprir, é fabuloso, o mesmo por mandamentos de homens podem entender-se não os que estão na lei de Moisés, senão as tradições dos anciãos. Mas por ser mandamentos de homens, não se deve obedecê-los? Certamente, conquanto não apartem da verdade de Deus. Por isso acrescenta: “nem a mandamentos de homens que se apartam da verdade” (2 Tm IV). De modo semelhante em Mc VII e Mt XV: “em vão me honram ensinando doutrinas e mandamentos de homens”. Ou digamos que os mandamentos, que estão na lei de Deus, foram transformados em mandamentos de homens; pois quando se observam em sinal da verdade futura são mandamentos de Deus; mas quando querem ser observados depois que nosso corpo já está morto para a lei são mandamentos de homens. (...)
 
“Para os limpos todas as coisas são limpas”, dá em especial razão do dito, colocando um exemplo na diferença de alimentos segundo a lei, que certos fulanos queriam impor como obrigatória, por isso mostra essa diferença de alimentos a respeito de bons e a respeito de maus, diz pois: “não deem ouvidos às fábulas judaicas” no tocante a manjares, porque para os limpos todos os alimentos são limpos, mas poderia alguém inferir: logo o adultério para os limpos é limpo, respondo que não: porque o fato mesmo de ser adultério é imundo; e para os limpos é limpo o que de si não é imundo, a propósito São Mateus: “não é aquilo que entra pela boca, que mancha o homem” (XV, 11). Logo tudo o que não entra pela boca é limpo. Mas a objeção é dupla: uma a que toca o Levítico dizendo que “todo animal que tem unha mas sem ser fendida, e que não rumina, será impuro” (XI, 26) respondo, segundo Santo Agostinho contra Fausto: Alguma coisa é imunda, ou segundo a natureza da coisa, ou segundo a significação: ponhamos por caso se este nome, néscio, se toma segundo o que soa, como uma voz qualquer, neste sentido não é imundo, senão bom: mas se se toma segundo a significação de falta de sabedoria, então se tem imundícia, as ações daquele povo eram feitos proféticos; donde o porco não é imundo no sentido de certa coisa, mas porquanto significa ao homem que se revolve na lama dos deleites carnais, mas cessaram com o advento da verdade, e usam os homens dos alimentos segundo sua própria natureza.
 
(...)
 
“Principalmente dos circuncisos”, que obrigam aos homens a judaizar, “guardai-vos desses cães, guardai-vos desses maus operários, guardai-vos desses mutilados”, (Fp III, 2) e o remédio é que não se deve ter nenhuma relação com eles; porque se se lhes tolerasse, corromper-se-ia o povo e imputar-se-ia ao pastor, “vós não subistes contra (o inimigo), nem vos opusestes como um muro em defesa da casa de Israel” (Ez XIII, 5). Por isso diz: “a quem deveis repreender”. Em seguida descreve suas inclinações e aflições, pelo dano que causam, pelas falsidades que ensinam, pela ganância que cobiçam, o dano está em que “transtornam famílias inteiras”; pois a doutrina católica publicamente se propõe na Igreja, mas os hereges às escondidas; por isso buscam esconderijos (Pv IX), e por isso andam de casa em casa para seduzir principalmente as mulheres (2 Tm III); “ensinando o que não convém”, isto é, vãs e inúteis; nem buscam a conquista espiritual, senão o temporal: por isso acrescenta: “pelo amor de uma torpe ganância”, ou seja, temporal, ou da própria glória, “até julgaram que a nossa vida era um divertimento e a nossa existência um mercado lucrativo, e que importava ganhar por quaisquer meios mesmo ilícitos” (Sb XV, 12).

Santo Tomás de Aquino (Comentário à Carta de Tito)

Comentários finais:

Agradeço ao colega Tiago Tomista pelo envio desse material.

Um comentário: