1) Nos Princípios de Economia Política de Menger, nós encontramos o seguinte raciocínio:
1.1) Os bens de primeira ordem estão instrumentalmente conexos ao atendimento das necessidades humanas mais concretas. São os bens de consumo, como o pão nosso de cada dia.
1.2) Os bens de segunda ordem são os bens instrumentalmente conexos à produção dos bens de primeira ordem. Estes bens, combinados a outros bens complementares, produzem aquilo de que necessitamos. Exemplo: para se fazer o pão, nós precisamos de farinha, água, mão-de-obra qualificada e todo um complexo de bens organizado de tal modo a produzir pão e saciar a necessidade da população por este alimento. Enfim, estes bens de segunda ordem são os bens industriais, uma vez que você converte toda uma infinitude de bens em um que atenda de imediato às necessidades da massa.
1.3) Os bens de terceira ordem são os bens instrumentalmente conexos à produção de bens de segunda ordem. Exemplo disso é o trigo. O trigo é produzido nos campos através do trabalho do agricultor, que, por sua vez, se vale de todo um maquinário e de toda uma mão-de-obra qualificada de tal modo a produzir a commodity. Essa commodity, por sua vez, é vendida para os moinhos, que convertem o grão em farinha. Esses bens são, pois, as matérias-primas.
2.1) No mundo moderno, como cada agente tende a se especializar num ponto da cadeia produtiva, a tendência é atender necessidades em larga escala. Trata-se, pois, de uma economia de ordem pública, que, por sua vez, tende a ser regulada, seja pela politica cambial, seja pela política tributária, seja por políticas de fomento agrícola ou industrial - ou até mesmo de bens de consumo duráveis.
2.2) Por conta disso, cada agente da cadeia, dentro dessa mesma lógica massificada, se torna uma espécie de facção, a tal ponto que os interesses de uma classe econômica entram em choque com os da outra, de modo a fomentar lutas de classe. Exemplo disso é o interesse dos exportadores em face dos pequenos produtores, que produzem de modo a atender o mercado interno - como estas facções tendem a entrar em conflito, a tendência é o grupo mais poderoso economicamente tomar o poder e impor a sua vontade sobre o menor grupo. Eis aí os males da República, o regime próprio das guerras de facção, onde todos têm a sua própria verdade e esta não é conforme o Todo que vem de Deus - coisa essa que só pode ser combatida com o poder moderador exercido pela monarquia, que olha para as classes como membros de uma mesma família e que tomam o país como se fosse um lar em Cristo. Afinal, a Família Imperial é uma família e coordena todas as outras famílias que constituem a pátria.
3.1) Se a economia fundada na escala causal e na abstração tende à impessoalização e à massificação, então ela leva necessariamente a conflitos de interesses qualificados pela pretensão resistida, pois o indivíduo, a menor unidade dessa cadeia, será um ser ambicioso que toma como se fosse um Deus o dinheiro e se organizará de tal modo a que consiga o máximo de dinheiro que puder, de modo a formar um grande conglomerado e controlar toda a economia ao seu redor, podendo até mesmo controlar o governo, que será uma sucursal dos seus caprichos - e quem se opuser a tal pretensão será eliminado.
3.2) É o que vemos na Nova Ordem Mundial, onde temos um conjunto de indivíduos associados, notadamente os mais ricos e poderosos dentro de seus segmentos, se unindo em torno de uma associação, o clube Bildenberg, e ditando toda a agenda mundial, matando todo o senso de se tomar os países como se fossem um lar em Cristo - e no lugar disso, temos a Terra tomada como se fosse religião de Estado dessa gente. Eis a ingaia ciência.
3.3) Se o individualismo metodológico nos leva a esse tipo de problema, então tende a edificar heresia, pois está viciado nos elementos decorrentes da modernidade.
3.4) Se os indivíduos podem ter o método que quiserem de modo a que fiquem ricos e poderosos, base para se edificar liberdade para o nada, então pouco importa se os meios são lícitos ou ilícitos, se estão ou não em conformidade com o Todo que vem de Deus. E isso terminará levando à judicialização dos contratos, que, por sua vez, tenderá a judicializar ainda mais todos os menores aspectos da sociedade, a ponto de criar uma sociedade totalitária e sem liberdade.
3.5) Se isso for conservado conveniente, então esse tipo de ordem vai contra a verdade estabelecida por Aquele que veio ao mundo para nos salvar, uma vez que não podemos ter dois senhores: o Deus verdadeiro e o Deus do dinheiro. Eles são mutuamente excludentes.
4) Se o Deus do dinheiro for escolhido como ponto de referência, então toda a ordem será fundada numa solidariedade mecânica, pois todos são forçados ou até mesmo incentivados a conservarem o que é conveniente e dissociado da verdade de Cristo. E o problema da lei só se preocupará apenas com a questão da coerção, com o problema da obediência, já que a sinceridade - a observação da lei eterna, dentro da carne de cada um - se tornará uma questão irrelevante, meramente filosófica, pois a metafísica, base para o conhecimento da verdade, será ignorada.
4.5) O fato de vivermos numa sociedade onde a solidariedade é mantida somente através da coerção da lei, fundada no fato de se conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, nos leva a sermos insolidaristas. E maior prova disso são os vícios que afetam nossa terra em particular: o Brasil. Este país foi onde as piores idéias da modernidade sempre prosperaram - Marx, Comte, Kant e Kelsen são deuses por aqui e ai de quem ousar refutá-los em público.
4.6) Enfim, eis aí as sérias implicações fundadas no individualismo metodológico, que tem bases neokantianas. Toda a vida humana se reduz a um sistema mecanicista de produção de riquezas - e produzir por produzir tende a ser contraproducente. Kierkgaard dizia que a vida humana não pode ser reduzir a um sistema, embora o pensamento sistemático seja desejável. Pois o pensamento humano se pauta por emoções - e jamais por cálculos frios. As emoções se fundam no reagir a todas as circunstâncias e ela leva em conta todas as tensões próprias da realidade.
5.1) Se o individualismo metodológico puro é insensato, pois se baseia na noção de indivíduos atomizados, então devemos adotar uma economia voltada para a família.
5.2) Se a família é a base da Igreja doméstica, o grau irredutível de tudo aquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, então ela é a referência para tudo, pois ela é a fábrica por excelência de indivíduos virtuosos.
5.3) Se o pai é produtor de matérias-primas, é natural que seus filhos aprendam o o ofício com os pais e os ajudem na produção das riquezas, coisa que não é fácil. Cada indivíduo da família vai se especializar numa função de modo a colaborar com a família naquilo que ela tem de melhor. E a economia familiar tende a se diversificar.
5.4) Da interação com outras famílias, dentro da mesma circunstância local, nós temos uma vizinhança - e do conjunto das vizinhanças, uma cidade.
5.5) Da parceria entre uma família produtora de matérias-primas com uma que é artesã, temos uma indústria têxtil que produz bens para atender a escala local.
5.6) A parceria se dá de modo permanente por conta do casamento, pois as famílias servem à sua terra, de modo a que ela seja tomada como se fosse um lar em Cristo. Pois a profissão é um serviço fundado num chamado da alma, uma vocação.
5.7) As famílias tendem a ser naturalmente grandes, por conta da diversidade dos dons dos indivíduos. Numa família com muitos filhos é mais provável que você encontre um sucessor da atividade iniciada pelo pai de família - e os demais filhos que escolheram outras carreiras tendem a ajudar o sucessor do pai no tocante à produção de bens complementares, de modo a que a economia familiar se organize melhor.
5.8) Alguns membros da família podem se fixar num outro ponto da escala produtiva, de modo a que produção se diversifique e que passe a ter custos menores - e a família acaba se tonando uma empresa por excelência, já que cada membro da família será proprietário dos meios de produção complementares à produção de bens terceira ordem, que é produção principal, iniciada pelo pai, base de toda a tradição familiar. Dentro do âmbito da família, a economia tende a ser personalista e cada aspecto da produção tende a ser colonizado por cada membro da família, no sentido de ser tomado como se fosse um lar, já que devemos servir a Cristo em terras distantes, assim como em atividades distantes. E pouco a pouco o sistema mecânico se torna um sistema orgânico, dentro daquilo que é conforme o Todo que vem de Deus.
5.9) Se esse processo se repetir por gerações sucessivas, então cada membro da família será proprietário dos meios de produção necessários a atender a população, desde a terceira à primeira ordem. E no final, os custos de produção serão todos mitigados, pois dentro da família tende a haver uma cultura de liberdade, de negociação - e os conflitos tendem a ser resolvidos por meio de acordos familiares, por meio da figura do pai de família, que tende a moderar os conflitos.
6) O individualismo metodológico familiar lida permanentemente com o problema das vocações e das sucessões. E as pessoas, dentro de uma família estruturada, tendem a amar e a rejeitar as mesmas coisas, tendo por Cristo fundamento - e tenderão a associar com outras pessoas por conta de valores em comuns e nunca por amor ao dinheiro. Se Cristo não for o centro permanente da ordem econômica familiar, então o indivíduo atomizado, o homo oeconomicus, assume o seu lugar e tudo o que é feito por ele, fundado no amor ao dinheiro, se torna pouco a pouco religião de Estado totalitário.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 2016 (data da postagem original).