O conceito de nacionidade que venho desenvolvendo parte de um princípio fundamental: é possível tomar várias terras como um mesmo lar em Cristo, desde que as raízes estejam firmes na verdade divina. Esse pensamento não se trata de um simples sentimento de cosmopolitismo ou de uma rejeição às raízes nacionais, mas de uma afirmação espiritual de que a pátria verdadeira é a Igreja, e que, ao servir a Cristo, alargamos as fronteiras do nosso pertencimento, tanto cultural quanto espiritual.
Essa ideia encontra respaldo na tradição católica, que desde os primeiros séculos da Igreja tem enfatizado a universalidade da fé. A Igreja não é limitada por fronteiras geográficas; ela é una, santa, católica e apostólica, reunindo todos os povos sob um mesmo credo. Portanto, tomar duas nações — no meu caso, Brasil e Polônia — como um mesmo lar em Cristo é um desdobramento natural dessa universalidade. É, acima de tudo, um ato de fidelidade ao chamado cristão de ser cidadão do Céu.
A cultura polonesa como parte do meu lar espiritual
A Polônia, com sua profunda devoção mariana e tradição católica inabalável, tornou-se para mim mais do que um objeto de estudo; tornou-se um lar espiritual. Essa identificação não se deu por acaso. Foi fruto de um processo de amadurecimento espiritual e cultural, que me levou a buscar o conhecimento da língua, da história e dos costumes poloneses. A Polônia é um país que sofreu perseguições históricas, mas permaneceu fiel à fé, dando ao mundo grandes santos como São João Paulo II.
Essa integração de culturas reflete um ponto importante da minha teoria da nacionidade: o verdadeiro lar está onde Cristo é servido. Não importa se é no Brasil, na Polônia ou em qualquer outro lugar. Se a fé está presente, ali também está o nosso lar. Esse pensamento não rejeita as raízes nacionais de nascimento, mas as amplia para além das fronteiras físicas, encontrando unidade na fé católica.
O Onomástico e a Humildade Cristã
Um dos frutos dessa teoria é a prática de celebrar, além do aniversário de nascimento, o dia do santo que dá o meu nome — o onomástico. No meu caso, o dia de São José, em 19 de março, tornou-se um segundo aniversário. Essa prática, muito comum na cultura polonesa, reforça um aspecto importante: a humildade e a mortificação pessoal.
Ao celebrar o onomástico, aprendemos que a nossa vida não é apenas um motivo de comemoração pessoal, mas uma oportunidade de meditar sobre o chamado à santidade. O aniversário moderno, muitas vezes, infla o ego e cria expectativas desordenadas de reconhecimento e presentes. Em contraste, celebrar o dia do santo padroeiro nos lembra de que a vida é um dom de Deus e que devemos buscar imitar as virtudes daquele santo.
Essa prática também é uma resposta cristã à secularização, que transforma o aniversário em um evento puramente mundano e individualista. Ao invés de focar no ego, o onomástico nos convida a focar na graça de Deus e na intercessão dos santos. É um gesto de humildade que nos faz reconhecer que o verdadeiro presente é a vida em Cristo.
O Mito da Fronteira e o Alargamento do Lar em Cristo
Ao combinar essa prática com o conceito do mito da fronteira, percebe-se um ponto interessante: as fronteiras não são apenas físicas, mas espirituais. O mito da fronteira, que desempenhou um papel importante na formação do imaginário político americano, pode ser reinterpretado à luz da fé católica. Em vez de alargar fronteiras em busca de terras e riquezas materiais, o cristão é chamado a alargar as fronteiras do conhecimento e do serviço a Cristo.
Nesse sentido, a teoria da nacionidade propõe que, ao tomar várias terras como lar em Cristo, rejeitamos o nacionalismo exacerbado e o globalismo vazio, substituindo essas ideologias por uma visão católica, em que o pertencimento está fundamentado na verdade divina. O que importa não é onde nascemos, mas onde servimos a Cristo. Assim, o brasileiro que se identifica com a cultura polonesa, ou com qualquer outra cultura católica, não está rejeitando sua identidade nacional, mas ampliando-a através da comunhão espiritual.
A Teoria da Nacionidade e o Bem Comum
Outro ponto relevante é que essa teoria não se limita a uma experiência pessoal. Ela traz implicações importantes para o conceito de Bem Comum. Quando tomamos duas ou mais terras como lar em Cristo, reconhecemos que o Bem Comum transcende as fronteiras nacionais. Ele não é exclusivo de um povo ou de uma nação, mas é algo que deve ser buscado em todas as partes do mundo onde Cristo é servido.
Esse pensamento se alinha com a doutrina social da Igreja, que enfatiza a dignidade da pessoa humana, a solidariedade e a subsidiariedade. Quando reconhecemos que somos parte de uma família universal em Cristo, somos chamados a trabalhar pelo bem de todos, não apenas daqueles que compartilham nossa nacionalidade.
Conclusão
A teoria da nacionidade que venho desenvolvendo é uma resposta espiritual ao problema da identidade nacional e da globalização. Ela propõe que o verdadeiro lar não está limitado por fronteiras físicas, mas é encontrado onde Cristo é servido. Tomar várias terras como um mesmo lar em Cristo é um ato de fidelidade à verdade divina e de rejeição ao individualismo e ao secularismo.
Celebrar o onomástico, ao invés de apenas o aniversário de nascimento, é um gesto concreto dessa teoria, que reforça a humildade e a mortificação pessoal. Essa prática, profundamente enraizada na cultura polonesa, é um exemplo de como diferentes tradições culturais podem ser integradas em uma visão cristã unificada.
Em última análise, a verdadeira pátria é o Céu, e a teoria da nacionidade nos lembra que somos chamados a alargar as fronteiras do nosso conhecimento e do nosso serviço a Cristo, tomando várias terras como lar em Cristo, por Cristo e para Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário