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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O Declínio das Livrarias Tradicionais e a Crise Cultural do Mercado Editorial Brasileiro

Em tempos recentes, as livrarias tradicionais têm perdido cada vez mais espaço para o comércio digital e para uma cultura de consumo superficial que privilegia títulos best-sellers e obras voltadas para o entretenimento instantâneo. Esse fenômeno, que já vinha se desenhando nas últimas décadas, foi profundamente acelerado pela pandemia, que alterou de forma drástica os hábitos de consumo das pessoas. O que antes era uma experiência cultural rica — visitar livrarias e sebos para explorar o vasto universo de ideias, histórias e reflexões — vem se tornando uma prática em extinção, especialmente nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro.

No entanto, essa mudança não se dá apenas pela praticidade das compras digitais, mas também pela decadência da curadoria editorial nas livrarias brasileiras. Ao visitar qualquer grande livraria, é difícil não sentir uma profunda frustração ao se deparar com estantes recheadas de livros de autoajuda repetitivos, romances juvenis sem profundidade e uma avalanche de títulos que seguem a cartilha da chamada "literatura woke" — obras que parecem mais preocupadas em reforçar slogans ideológicos do que em oferecer conteúdo literário ou filosófico de qualidade.

Essa situação faz com que muitos leitores, em busca de obras clássicas ou reflexões mais sólidas, abandonem as grandes livrarias e recorram aos sebos. Esses espaços, que já foram verdadeiros refúgios para os amantes da literatura e do conhecimento, estão desaparecendo, especialmente nos centros urbanos. No Rio de Janeiro, por exemplo, o centro da cidade, outrora repleto de sebos vibrantes, agora enfrenta um esvaziamento, fruto não só das mudanças nos hábitos de consumo, mas também da própria crise econômica e social que assola o país.

A decadência das livrarias tradicionais reflete, em grande parte, a indigência cultural do mercado editorial brasileiro. Em uma carta recente, escrita por Diogo Fontana, responsável pela Livraria e Editora Danúbio em Curitiba, ele observa que as livrarias brasileiras oferecem uma "salada mista de besteiras juvenis e vigarices de autoajuda" e que nosso setor livreiro é, provavelmente, o mais indigente do mundo. Fontana relata a experiência de visitar livrarias em pequenas cidades da Patagônia, no Chile, onde encontrou um acervo muito mais digno e interessante do que aquele disponível nas principais livrarias brasileiras. Essa comparação é, no mínimo, inquietante.

Por que o Brasil, um país com uma tradição literária tão rica, chegou a esse ponto? Parte da resposta pode ser encontrada na falta de interesse em preservar a memória cultural e em fomentar o pensamento crítico. Em vez disso, vemos uma priorização do consumo rápido, do entretenimento imediato e da cultura de massa. É mais fácil vender livros que reforçam narrativas simplistas e slogans da moda do que investir em obras que desafiam o leitor a pensar, refletir e crescer.

Por outro lado, há países que ainda preservam suas livrarias independentes e valorizam a tradição cultural. Na Polônia, por exemplo, as livrarias são lugares de encontro intelectual, onde a história e a identidade cultural são preservadas. Essa valorização do livro como um patrimônio cultural é algo que o Brasil parece ter perdido ao longo do tempo. Essa perda não é apenas econômica, mas profundamente espiritual e cultural.

Talvez, o que precisamos é de uma renovação no conceito de livraria, que volte a ser um espaço de formação intelectual e encontro cultural. Sebos, bibliotecas e livrarias independentes precisam ser valorizados, pois são os lugares onde o conhecimento profundo e duradouro pode ser encontrado. Enquanto o mercado editorial brasileiro seguir priorizando o lucro fácil e a moda do momento, continuaremos afastando leitores que buscam algo além do entretenimento raso.

Há ainda uma dimensão espiritual nesse problema. A leitura, para muitos, é um caminho de santificação e de aproximação da verdade. Quando buscamos conhecimento e sabedoria, estamos, de certa forma, cumprindo uma vocação maior: a de servir à verdade, que é o fundamento da liberdade. Nesse sentido, o desaparecimento dos sebos e a decadência das livrarias tradicionais representam uma perda significativa para aqueles que enxergam na leitura um ato de transformação pessoal e espiritual.

Em vez de nos conformarmos com esse cenário, talvez seja o momento de resgatar a importância da leitura como um ato cultural, espiritual e transformador. Assim como a cultura polonesa preserva seu patrimônio literário e espiritual, podemos aprender com esse exemplo e buscar formas de reconstruir nossa própria tradição de leitura. Afinal, as fronteiras do conhecimento e do serviço a Cristo não estão limitadas por espaços geográficos — elas se alargam sempre que buscamos a verdade e compartilhamos esse conhecimento com aqueles que nos rodeiam.

Que possamos, assim, contribuir para o renascimento de uma cultura de leitura que não se baseia em modismos e slogans, mas na busca sincera pelo conhecimento, pela verdade e pelo bem comum.

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