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domingo, 9 de novembro de 2025

A pedagogia do poder: a nobreza itinerante e a construção geracional da autoridade

Introdução

Se o Brasil tivesse preservado uma tradição nobiliárquica sólida, ou mesmo se tivesse reconstruído uma nova nobreza baseada no mérito, no serviço e na responsabilidade cristã, a formação do governante se daria em etapas. A autoridade política não seria conquistada por atalhos eleitorais, mas por um trabalho concreto, paciente e generoso.

Nesse modelo, mais vale ser prefeito itinerante, servindo diversas regiões, reorganizando pequenas comunidades e sanando carências locais, do que ocupar imediatamente a prefeitura de uma capital ou lançar-se em carreira meteórica rumo ao governo ou à presidência da província. O poder maior exige maturidade que somente a experiência e as gerações podem formar.

Este artigo explora essa lógica, inspirada tanto nas práticas medievais quanto nas doutrinas políticas clássicas, mostrando que a verdadeira grandeza começa no pequeno, e que o poder só é legítimo quando enraizado em serviço.

I. A estrutura tradicional do poder

Na tradição europeia pré-moderna, a formação do governante seguia um princípio fundamental:

A autoridade exige aprendizagem, e a aprendizagem exige proximidade com a realidade.

Isso significa que ninguém deveria assumir governança ampla antes de ter servido com fidelidade em pequenas unidades políticas:

  • aldeias

  • vilas

  • castelos

  • feudos regionais

  • fronteiras distantes

Tal pedagogia do poder era a garantia de que o futuro príncipe não seria apenas um tecnocrata distante, mas um verdadeiro pai do povo, conhecedor de suas necessidades, das riquezas do território e da alma coletiva.

Assim funcionavam:

  • os intendentes régios da França,

  • os corregedores portugueses,

  • os cavaleiros ingleses a serviço do rei,

  • os doges venezianos que haviam começado em antigos conselhos locais,

  • os governadores coloniais que antes haviam sido capitães de pequenas fortalezas.

A grandeza vinha depois.

II. A função do prefeito itinerante

A figura do “prefeito itinerante” ecoa a lógica do funcionário régio enviado às zonas necessitadas, cuja missão era:

  • organizar o território,

  • pacificar conflitos,

  • estabelecer rotinas administrativas,

  • criar infraestrutura mínima,

  • formar lideranças locais confiáveis.

Essa missão exige habilidades que a capital não ensina:

  1. Tato humano – lidar com populações vulneráveis, entender tensões, mediar conflitos.

  2. Criatividade administrativa – improvisar soluções com poucos recursos.

  3. Coragem moral – enfrentar elites locais, corporações, caciques e vícios estruturados.

  4. Leitura do território – saber como o solo, o clima, a cultura e a economia moldam o comportamento coletivo.

  5. Paciência histórica – compreender que os frutos de uma boa administração só aparecem anos depois.

Esses elementos produzem um governante que não é meramente técnico, mas pedagogo do poder, capaz de ensinar e elevar a população.

III. O princípio da geração seguinte

A nobreza tradicional não pensava em termos de ambição pessoal, mas em termos de construção familiar e comunitária.

O poder de hoje prepara o poder de amanhã, que pertence à próxima geração.

A autoridade cresce assim:

  • A primeira geração serve, forma reputação, estabiliza.

  • A segunda geração herda o respeito e pode aspirar a cargos maiores.

  • A terceira geração consolida e projeta uma identidade própria à casa familiar.

Isso cria continuidade, virtude e responsabilidade, algo raro na política moderna, fragmentada e imediatista.

A expansão do poder territorial era feita assim:

  • primeiro o condado,

  • depois o ducado,

  • mais tarde, a capital,

  • e apenas quando provada e testada, a província inteira.

No Brasil imaginado sob esse modelo, não seria diferente: ninguém governaria uma capital sem que sua casa tivesse prestado, antes, décadas de serviço invisível e eficiente em regiões periféricas.

IV. O problema do poder prematuro

A modernidade introduziu o fenômeno do “carreirismo político”, onde o indivíduo pula etapas:

  • vereador → prefeito → governador → presidente

  • sem jamais experimentar a realidade concreta da vida cotidiana do povo

Esse modelo cria governantes descolados:

  • tecnocratas

  • ideólogos

  • populistas de laboratório

  • administradores de marketing

  • tiranos de gabinete

Sem a pedagogia do poder, o cargo grande torna-se psíquica e espiritualmente destrutivo.

A capital, com suas seduções, pressões e ilusões, exige uma alma madura, trabalhada, provada no fogo da vida real.

V. A sabedoria espiritual na formação do governante

A tradição cristã — que inspirou grande parte da ética governamental no mundo ibérico — reforça a mesma ideia:

“Quem é fiel no pouco será colocado sobre o muito.”
(Evangelho de São Mateus)

O grande governo começa no lar, depois na pequena comunidade, depois em territórios maiores. Esta hierarquia é uma escola de virtude e humildade.

O governante itinerante adquire:

  • caridade

  • prudência

  • coragem

  • fortaleza

  • justiça

E apenas então está apto a guiar muitos homens, como um pastor guia seu rebanho.

VI. Conclusão: a verdadeira grandeza começa no pequeno

O modelo que proposto — de começar governando áreas menores, melhorar regiões interioranas e só depois ascender à capital ou à presidência — é, na verdade, um retorno à visão clássica do poder.

E esta visão afirma:

  1. Serviço é a base do poder.

  2. Pequenas autoridades preparam grandes autoridades.

  3. O itinerante conhece o povo e amadurece no caminho.

  4. A grandeza é multigeracional.

  5. A autoridade legítima nasce da experiência concreta e da fidelidade comprovada.

Se o Brasil tivesse nobreza, seria dessa forma que ela se consolidaria — por serviço, proximidade com o povo e construção paciente da autoridade, geração após geração.

Bibliografia Sugerida 

1. Teoria política clássica

  • ARISTÓTELES. Política.

  • PLATÃO. A República.

  • CÍCERO. De Officiis (Dos Deveres).

  • SÃO TOMÁS DE AQUINO. De Regno (Do Governo dos Príncipes).

2. Tradição cristã e ética do poder

  • SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus.

  • SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica.

  • JACQUES MARITAIN. O Homem e o Estado.

  • RUSSELL HITTINGER. Aquinas: Ethics, Law and Politics.

3. História da nobreza europeia

  • MARC BLOCH. A Sociedade Feudal.

  • NORBERT ELIAS. A Sociedade de Corte.

  • D. G. BOULGER. The Middle Ages (sobre governança e hierarquia).

  • LAWRENCE STONE. The Crisis of the Aristocracy.

4. Pensamento político moderno com perspectiva tradicional

  • EDMUND BURKE. Reflexões sobre a Revolução em França.

  • ALEXIS DE TOCQUEVILLE. A Democracia na América (para compreender o perigo do poder centralizado e do igualitarismo sem hierarquia).

  • MICHEL MONTESQUIEU. O Espírito das Leis.

5. Tradição ibérica (especialmente relevante para o Brasil)

  • PADRE ANTÔNIO VIEIRA. Sermões (em especial os sermões políticos).

  • SORIANO RIBEIRO. O Governo da Casa e da República.

  • D. JOÃO DE CASTRO. Espelho de Príncipes.

  • FRANCISCO SUÁREZ. De Legibus (as leis e a autoridade cristã).

6. História brasileira e administração tradicional

  • CAPISTRANO DE ABREU. Capítulos de História Colonial.

  • SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA. Raízes do Brasil.

  • CAIO PRADO JR. Formação do Brasil Contemporâneo.

  • JOÃO LÚCIO DE AZEVEDO. Os Jesuítas no Brasil (para entender a organização e administração local).

7. Obras contemporâneas sobre virtude, liderança e serviço

  • JAMES HUNTER. O Monge e o Executivo (sobre liderança servidora).

  • ROBERT GREENLEAF. Servant Leadership.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

🏛️ A Revolução MEI e o renascimento do trabalho livre

1. Introdução: o colapso da subordinação e o nascimento da colaboração

Durante mais de um século, o Direito do Trabalho brasileiro manteve-se fundado no paradigma da subordinação jurídica: o trabalhador deveria estar sob o comando de um empregador que lhe dirigisse a atividade. Esse modelo, forjado na era industrial, serviu bem a um mundo de fábricas, horários fixos e cadeias hierárquicas.

Contudo, o século XXI inaugurou uma nova realidade — digital, descentralizada e cooperativa — onde o indivíduo pode produzir valor sem depender de estruturas rígidas. É nesse contexto que surge o Microempreendedor Individual (MEI): uma figura jurídica simples, mas de consequências profundas, que redesenha o mapa do trabalho e da economia.

O MEI é mais que uma categoria fiscal. Ele é o sinal jurídico da emancipação do trabalhador, o retorno à condição de artesão do próprio destino.

2. Do trabalhador subordinado ao colaborador-empreendedor

O art. 966 do Código Civil define como empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. O MEI é a forma mínima e pessoal dessa definição. Ele produz, circula e vende — mas em nome próprio, com liberdade e responsabilidade.

Enquanto o trabalhador celetista vive sob os quatro elementos clássicos do vínculo empregatício — pessoalidade, habitualidade, onerosidade e subordinação —, o MEI rompe o último: ele é autônomo, e sua relação com outros empreendedores não é de hierarquia, mas de colaboração contratual.

Surge, assim, uma nova categoria: o colaborador empreendedor — alguém que trabalha com, e não para, outro. Essa distinção transforma a economia e o Direito, pois dissolve a velha dicotomia entre patrão e empregado.

3. Empreender em CPF alheio: o contrato de colaboração

Na prática, o que se observa é o florescimento de redes de cooperação onde um profissional empreende sob o CPF ou CNPJ de outro, não como empregado, mas como colaborador independente.

Essa relação é mediada por contratos civis de parceria, prestação de serviços ou consignação, nos quais cada parte assume riscos e participa dos resultados.
A subordinação desaparece; em seu lugar entra a coordenação voluntária, fundada na confiança, na utilidade recíproca e na liberdade contratual.

Trata-se de uma forma moderna de associativismo produtivo, onde cada colaborador é, ao mesmo tempo, prestador e empreendedor — e onde o CNPJ torna-se mais uma plataforma de cooperação do que um símbolo de poder.

4. O MEI como nova cidadania econômica

Criado pela Lei Complementar 128/2008, o MEI democratizou o acesso à formalidade. Mas seu impacto vai muito além da regularização tributária. Ele representa a migração da base produtiva da empresa para o indivíduo.

O trabalhador, antes dependente do salário, torna-se sujeito econômico pleno, com:

  • CNPJ próprio;

  • capacidade de emitir notas fiscais;

  • acesso a crédito e benefícios previdenciários;

  • autonomia para gerir o próprio tempo e trabalho.

Essa transformação introduz uma forma de cidadania produtiva: o indivíduo participa da economia não como força de trabalho alienada, mas como unidade de criação e valor. É o retorno da dignidade ao trabalho pessoal, sem intermediação coercitiva.

5. Impactos filosóficos e teológicos: o retorno à dignidade do ofício

No fundo, o fenômeno do MEI resgata a teologia do trabalho: a ideia de que trabalhar é cooperar com a Criação. O trabalhador deixa de ser uma engrenagem e volta a ser um coparticipante da obra divina, administrando os talentos que Deus lhe deu — como ensina a parábola do servo fiel.

Ao transformar o autônomo em empreendedor e o colaborador em parceiro, o MEI repersonaliza a economia. Não se trata mais de vender tempo, mas de oferecer inteligência, vocação e serviço. É uma restauração da ordem moral do trabalho — onde a liberdade e a responsabilidade se unem sob o mesmo chamado: multiplicar os talentos para a glória do Criador.

6. Conclusão: uma revolução silenciosa

O Brasil vive, talvez sem perceber, uma revolução comparável à Revolução Industrial — mas de sinal inverso. Se a industrialização despersonalizou o trabalho, o empreendedorismo de base MEI o personaliza novamente.

O trabalhador livre volta a ser senhor de sua ferramenta e de seu tempo. As antigas fábricas cedem lugar a redes colaborativas, os chefes dão lugar aos parceiros, e o capital torna-se o acúmulo de saber e esforço santificado pelo uso.

No futuro, quando o historiador do Direito olhar para esta época, verá que a figura do MEI não foi apenas um instrumento fiscal: foi o símbolo jurídico da restauração do trabalho humano à sua dignidade original.

📚 7. Fundamentos legais e referências

Constituição Federal (1988)

  • Art. 1º, IV – consagra o valor social do trabalho e da livre iniciativa como fundamentos da República.

  • Art. 170 – estabelece que a ordem econômica se funda na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa.

Código Civil (Lei nº 10.406/2002)

  • Art. 966 – define o empresário como quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.

  • Art. 593 – disciplina o contrato de prestação de serviços, base jurídica das parcerias entre MEIs e colaboradores.

Lei Complementar nº 123/2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte)

  • Art. 18-A e seguintes – criam a figura do Microempreendedor Individual (MEI), permitindo o exercício formal e simplificado de atividade econômica por pessoa física.

Lei Complementar nº 128/2008

  • Altera a LC 123/2006, introduzindo o regime jurídico do MEI e a simplificação do recolhimento tributário por meio do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS).

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei nº 5.452/1943)

  • Art. 3º – define a relação de emprego com base na subordinação, pessoalidade, habitualidade e onerosidade — elementos superados no modelo de colaboração empreendedora.

Doutrina e comentários

  • DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 19ª ed. São Paulo: LTr, 2020.

  • COMPARATO, Fábio Konder. A empresa no direito brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1970.

  • RERUM NOVARUM, Leão XIII (1891) – sobre o trabalho humano como dignidade moral e meio de santificação.

✍️ Síntese final

O MEI é a ponte entre o trabalho e a liberdade. Nele, o Direito Civil, o Direito do Trabalho e a Doutrina Social da Igreja se encontram: a liberdade de empreender, a justiça de cooperar e a moral de servir. É a revolução da colaboração — silenciosa, legal, moral e espiritual — que devolve ao trabalhador sua coroa de dignidade.

DREX i koniec granicy blockchain: nowa ekonomia nadzoru i zagrożony kapitał intelektualny

1. Co wie Bank Centralny — a co przeczuwa rynek

W listopadzie 2025 roku Banco Central do Brasil ogłosił, że projekt DREX, czyli cyfrowa waluta banku centralnego (CBDC), nie będzie już oparty na technologii blockchain ani DLT (distributed ledger technology). Ta decyzja kończy jeden z najbardziej eksperymentalnych etapów w historii brazylijskiej polityki pieniężnej. „Cyfrowy real”, który miał być narzędziem tokenizacji aktywów i programowalnego pieniądza, został przywrócony do bardziej tradycyjnej, scentralizowanej infrastruktury bankowej – bezpiecznej, przewidywalnej i podporządkowanej nadzorowi państwa.

Oficjalne uzasadnienie jest techniczne: brak dojrzałości rozwiązań zapewniających prywatność i skalowalność w blockchainie typu permissioned, szczególnie w systemie Hyperledger Besu, używanym w testach. Jednak za tym argumentem technicznym kryje się głębsza prawda: państwo brazylijskie boi się charakteru granicznego i nieprzewidywalnego decentralizacji. Blockchain z natury przesuwa środek ciężkości władzy. Bank Centralny nie mógł tego zaakceptować bez całkowitej zmiany swej struktury wewnętrznej.

2. Granica między suwerennością a decentralizacją

Słowo granica ma tu ciężar symboliczny podobny do tego, który miało w amerykańskim micie pogranicza, opisanym przez Fredericka Turnera, czy w Filozofii lojalności Josiaha Royce’a. Blockchain jest cyfrową granicą — terytorium, na którym władza jest dzielona między węzły sieci, a zaufanie zostaje zastąpione dowodem kryptograficznym. Wycofując się z tej granicy, Bank Centralny potwierdza klasyczne rozumienie suwerenności: władzę emisji, nadzoru i cofania. Decyzja ta ujawnia, że technologiczna granica między państwem a rynkiem wciąż pozostaje niestabilna; waha się między lękiem przed utratą kontroli a pragnieniem absolutnego bezpieczeństwa.

Ta decyzja niesie przesłanie dla obywatela: państwowa waluta cyfrowa będzie walutą nadzoru, a nie wolności. Rezygnując z blockchaina, państwo rezygnuje również z przejrzystości weryfikowalnej i powraca do pionowej hierarchii, w której prywatność jest przywilejem władzy, nie jednostki.

3. Tokenizacja i nowy rodzaj poddaństwa

Blockchain obiecywał gospodarkę, w której dobra rzeczywiste — nieruchomości, pojazdy, papiery wartościowe — mogą zostać tokenizowane, czyli przekształcone w bezpieczne, cyfrowe reprezentacje, możliwe do handlu i śledzenia. Tokenizacja była obietnicą kapitalizacji pracy nagromadzonej — kapitału intelektualnego, który każdy człowiek gromadzi w czasie i może przekazać dalej jako wartość. Bez blockchaina ta obietnica się rozpływa. DREX stanie się nie narzędziem wolności finansowej obywatela, lecz repaństwowieniem kredytu. Obywatel nie będzie współwłaścicielem swojej cyfrowej wartości, lecz jedynie użytkownikiem interfejsu kontrolowanego przez algorytmy państwowe.
Cyfrowa granica staje się nowym latyfundium XXI wieku.

4. Granica duchowa: wolność, prawda i kontrola

W logice narodów chrześcijańskich gospodarka jest narzędziem uświęcenia — sposobem przemieniania czasu w pracę, a pracy w chwałę Bożą. Kiedy gospodarka podporządkowuje się technice bez odniesienia do dobra wspólnego, traci wymiar kairologiczny kapitału — czas uświęcony. Blockchain, choć jest owocem techniki, zawierał w sobie zasadę teologiczną: niezmienność zapisu, czyli pamięć o uczynkach — obiektywną pamięć działania ludzkiego. Rezygnując z niego, Bank Centralny porzuca jedną z niewielu współczesnych form sprawiedliwości naturalnej — nieusuwalny zapis czynu — i zastępuje go administracyjną nieprzejrzystością.

Powstaje paradoks: kontrola absolutna w imię prywatności, nadzór w imię bezpieczeństwa, zacieranie historii w imię efektywności. Pieniądz, który miał być narzędziem wzajemnego zaufania, staje się narzędziem systemowej nieufności.

5. Nowe granice kapitału intelektualnego

Dla przedsiębiorcy i emigranta — figur centralnych współczesnej gospodarki — cofnięcie się DREX-u ma wymowę proroczą. Cyfrowa waluta państwowa nie będzie wehikułem wolności finansowej; przeciwnie — umocni granice narodowe i jurysdykcyjne. Kto pragnie poszerzać granice wiedzy i służby, jak mówiono w epoce odkryć portugalskich, będzie musiał sięgnąć po inne technologie: publiczne blockchainy, prywatne stablecoiny i systemy hybrydowe, które zachowują wolność przepływu kapitału intelektualnego.

Prawdziwy kapitał — jak pisał Leon XIII — to praca nagromadzona w czasie. A ta praca powinna móc krążyć między narodami jak ziarno niesione przez wiatr. Cyfrowa waluta bez blockchaina próbuje zamknąć wiatr w sejfie

6. Zakończenie: między Babel a Pięćdziesiątnicą

DREX ujawnia współczesny dylemat między Babel a Pięćdziesiątnicą — między centralizującą unifikacją a wielogłosową komunikacją ducha. Bank Centralny, odrzucając blockchain, wybiera Babel: wieżę kontroli, jeden język, pionową strukturę władzy. Prawdziwa jednak granica XXI wieku będzie pięćdziesiątnicowa: wielość języków, protokołów i walut, które spotykają się w tym samym Duchu Prawdy. Gdy państwo się zamyka, rynek globalny się otwiera. I w tym otwarciu — pełnym ryzyka, ale i powołania — znajduje się pole misji człowieka, który pracuje i myśli w zasługach Chrystusa, poszerzając granice wiedzy i wolności.

Bibliografia podstawowa

  • Banco Central do Brasil. Projeto DREX: Real Digital. Brasília, 2025.

  • Leme, Marcelo. Blockchain fora do DREX: o que o Banco Central sabe e o mercado não. LinkedIn Pulse, 2025.

  • Forbes Brasil. „Banco Central abandona blockchain do DREX.” Listopad 2025.

  • Exame. „BCB ogłasza nową infrastrukturę dla cyfrowego reala.” Listopad 2025.

  • Royce, Josiah. The Philosophy of Loyalty. Nowy Jork: Macmillan, 1908.

  • Turner, Frederick J. The Frontier in American History. Nowy Jork: Holt, 1920.

  • Leon XIII. Rerum Novarum. Rzym, 1891.

O DREX e o fim da fronteira Blockchain: A nova economia da vigilância e o capital intelectual em risco

1. O que o Banco Central sabe — e o que o mercado pressente

O Banco Central do Brasil anunciou, em novembro de 2025, que o projeto DREX, sua moeda digital de banco central (CBDC), deixará de ser estruturado sobre tecnologia de blockchain ou distributed ledger (DLT). A decisão encerra uma das fases mais experimentais da história recente da política monetária nacional. O “real digital”, que deveria ser a ponta de lança da tokenização dos ativos e da programabilidade do dinheiro, foi devolvido ao domínio mais conservador da tecnologia bancária tradicional — segura, centralizada e previsível.

A justificativa oficial é técnica: falta de maturidade das soluções de privacidade e escalabilidade em blockchain permissionado, especialmente no Hyperledger Besu, usado nos testes. Contudo, por trás do argumento técnico, há uma verdade mais profunda: o Estado brasileiro teme o caráter “fronteiriço” e, portanto, imprevisível da descentralização. A blockchain é, por natureza, uma tecnologia que desloca o centro de gravidade do poder. O Banco Central não poderia aceitar isso sem se reformular internamente.

2. A fronteira entre a soberania e a descentralização

A palavra “fronteira” tem, aqui, o mesmo peso simbólico que na expansão americana estudada por Frederick Turner ou na “filosofia da lealdade” de Josiah Royce. A blockchain é uma fronteira digital — um território onde o poder é compartilhado entre os nós de uma rede, e onde a confiança é substituída pela prova matemática. Ao recuar dessa fronteira, o Banco Central reafirma uma soberania clássica: o poder de emitir, rastrear e revogar. A decisão revela que a fronteira tecnológica entre o Estado e o mercado ainda não se estabilizou; ela oscila conforme o medo do controle perdido e o desejo de segurança total.

Esse movimento traz uma mensagem ao cidadão: a moeda estatal digital será uma moeda de vigilância, não de liberdade. Ao abdicar da blockchain, o Estado abdica também da transparência verificável e se volta para a supervisão vertical, onde o sigilo é prerrogativa da autoridade — não do indivíduo.

3. Tokenização e o novo tipo de servidão

A blockchain prometia uma economia na qual os bens reais — imóveis, veículos, títulos — pudessem ser tokenizados, isto é, convertidos em representações digitais seguras, negociáveis e rastreáveis. Essa tokenização é a forma moderna de capitalizar o trabalho acumulado — o capital intelectual de cada um, que se converte em valor líquido e transferível. Mas, sem blockchain, essa promessa esvazia-se. O DREX passará a representar não a libertação do indivíduo no mercado de capitais, mas a reestatização do crédito. O cidadão não será mais coproprietário de sua riqueza digital, mas apenas usuário de uma interface controlada por algoritmos estatais. A fronteira digital torna-se, assim, o novo latifúndio do século XXI.

4. A fronteira espiritual: liberdade, verdade e controle

Na lógica das nações cristãs, a economia é instrumento de santificação — um meio de transformar o tempo em trabalho e o trabalho em louvor. Quando a economia se submete à razão técnica sem referência ao bem comum, perde-se o sentido kairológico do capital, que é o tempo santificado. A blockchain, ainda que fruto da técnica, continha em si um princípio teológico: a imutabilidade dos registros, isto é, a lembrança do que foi feito — memória objetiva do agir humano. Ao renunciar a ela, o Banco Central abandona uma das poucas formas modernas de justiça natural — o registro incorruptível das ações —, substituindo-a pela opacidade administrativa.

O resultado é paradoxal: o controle absoluto em nome da privacidade, a vigilância em nome da segurança e o apagamento da história em nome da eficiência. A moeda, que deveria ser instrumento de confiança mútua, torna-se instrumento de desconfiança sistemática.

5. As novas fronteiras do capital intelectual

Para o empreendedor e o emigrante, figuras centrais da economia contemporânea, o recuo do DREX é revelador. A moeda digital estatal não será o veículo da liberdade financeira global; ao contrário, reforçará as fronteiras nacionais e jurídicas. Quem desejar alargar as fronteiras do conhecimento e do serviço, como dizia o espírito das descobertas portuguesas, precisará recorrer a outras tecnologias: blockchains públicas, stablecoins privadas e sistemas híbridos que preservem a liberdade de circulação do capital intelectual.

O verdadeiro capital, como dizia Leão XIII, é o trabalho acumulado ao longo do tempo — e esse trabalho deve poder circular entre as nações, como a semente que o vento leva. A moeda digital sem blockchain tenta prender o vento num cofre.

6. Conclusão: entre Babel e Pentecostes

O DREX é um experimento que expõe o dilema moderno entre Babel e Pentecostes: entre a unificação centralizadora e a comunicação plural dos espíritos. O Banco Central, ao afastar-se da blockchain, escolhe Babel — a torre controlada, a linguagem única, a verticalidade do poder. Mas a verdadeira fronteira do século XXI será Pentecostal: uma multiplicidade de vozes, protocolos e moedas, todas convergindo para o mesmo Espírito da Verdade. Enquanto o Estado se fecha, o mercado global se abre. E nesta abertura — que é também risco e vocação — está o campo de missão do homem que trabalha e pensa nos méritos de Cristo, alargando as fronteiras do conhecimento e da liberdade.

Bibliografia essencial

  • Banco Central do Brasil. Projeto DREX: Real Digital. Brasília, 2025.

  • Leme, Marcelo. Blockchain fora do DREX: o que o Banco Central sabe e o mercado não. LinkedIn Pulse, 2025.

  • Forbes Brasil. “Banco Central abandona blockchain do DREX.” Novembro 2025.

  • Exame. “BCB anuncia nova infraestrutura para o real digital.” Novembro 2025.

  • Royce, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

  • Turner, Frederick J. The Frontier in American History. New York: Holt, 1920.

  • Leão XIII. Rerum Novarum. Roma, 1891.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Codex Brasiliana: a pseudociência da conveniência e a negação da verdade histórica

Introdução

Desde o século XIX, a formação intelectual brasileira tem se apoiado sobre um edifício epistemológico que busca descrever o Brasil a partir dos métodos das ciências naturais e sociais europeias. O marco inaugural dessa tendência é o concurso promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1840, cujo objetivo era “descobrir a melhor maneira de se escrever a história do Brasil”. O vencedor, Carl Friedrich Philipp von Martius, naturalista alemão, apresentou um texto de aparência científica e imparcial, propondo uma narrativa fundada na observação empírica dos fatos e na catalogação dos elementos humanos que compunham a nação nascente.

O problema, contudo, é que esse paradigma — que se tornaria o núcleo do chamado codex brasiliana — nasceu dissociado da verdade metafísica e submetido à conveniência ideológica. O Brasil foi transformado em objeto de estudo, e não em sujeito histórico. A ciência tornou-se um espelho deformante que, sob o pretexto de neutralidade, consolidou a separação entre o humano e o divino, entre o fato e o sentido.

1. A origem do codex brasiliana

O artigo de Luiz Roberto Fontes (2018) recorda que o IHGB foi fundado com o propósito de “coligir, metodizar e publicar” documentos para sustentar a história e a geografia do Império. Essa estrutura de pensamento visava construir uma narrativa unificadora, uma “história nacional” que revelasse a imagem do Brasil enquanto entidade autônoma, desvinculada da antiga sede do Reino de Portugal.

O naturalista von Martius, autor do ensaio Como se deve escrever a História do Brasil (1845), propôs que a história fosse escrita a partir da observação dos fatos empíricos e das “três raças” que formaram o povo brasileiro: a indígena, a branca e a negra. Essa abordagem, inspirada no método naturalista e na filosofia positiva, reduziu a complexidade espiritual da nação a uma mistura de elementos biológicos e culturais, inaugurando o paradigma do brasilianismo científico — o estudo do Brasil como fenômeno natural, não como missão providencial.

2. O método da catalogação e a negação da verdade

A operação epistemológica inaugurada por Martius se aproxima da crítica feita por Claude Lévi-Strauss em A Mente Selvagem: a história moderna é um método de catalogação destinado a separar o humano do anti-humano. Ela não busca a verdade, mas apenas organiza os fatos segundo categorias arbitrárias.

O próprio Lévi-Strauss advertia que “a história pode levar a qualquer caminho” — isto é, não há nela teleologia intrínseca. Ela se torna um jogo de ordenações, e o historiador, um classificador que manipula símbolos sem penetrar o seu sentido. Essa é precisamente a atitude do naturalista diante do homem: ele observa, descreve, e organiza, mas não compreende o logos que anima o ser humano e o orienta para o bem e para a verdade.

Assim, quando Indiana Jones — símbolo da modernidade empírica — afirma que “a arqueologia começa pelos fatos, não pela verdade”, ele exprime, de forma popular, o mesmo dilema epistemológico que estrutura a mentalidade do codex brasiliana: a substituição da sabedoria pela coleta de dados, da contemplação pela técnica.

3. Durkheim e o comportamento como fetiche

A máxima de Émile Durkheim — “os fatos sociais devem ser tratados como coisas” — forneceu a base conceitual para toda a sociologia brasileira de matriz positivista. O comportamento humano passou a ser descrito como um fenômeno observável, mensurável e classificável.

Entretanto, ao isolar o fato de sua causa formal (o logos) e de sua causa final (o télos), o método sociológico converteu-se numa pseudociência behaviorista, incapaz de distinguir o bem do mal, o verdadeiro do falso. O Brasil passou a ser explicado em termos de costumes, “três raças” e geografias, sem qualquer referência à ordem moral e à vocação espiritual que deram origem à civilização luso-cristã.

A consequência é a conservação do que é conveniente e dissociado da verdade: a manutenção de uma ordem intelectual que se proclama científica, mas que serve, na prática, às ideologias revolucionárias — sejam liberais, positivistas ou marxistas — que pretendem reescrever o Brasil fora da continuidade com Portugal e com Cristo.

4. O conservantismo revolucionário e a ideologia da neutralidade

Ao descrever Martius como “um brasilianista” que defendeu a monarquia e descreveu as raças sem juízo moralo artigo de Fontes revela o paradoxo central do brasilianismo: ele aparenta conservar — mas conserva apenas as formas, não os princípios. É o que se pode chamar de conservantismo revolucionário: a tentativa de preservar as estruturas exteriores da civilização enquanto se dissolve a sua substância espiritual.

5. A restauração da hierarquia entre fato e verdade

Contra o códice brasiliana, é preciso restaurar a hierarquia clássica entre fato e verdade:

  • o fato é o meio pelo qual a verdade se manifesta;

  • a verdade é o fim último que confere sentido aos fatos.

Sem essa hierarquia, o historiador se torna burocrata da memória e o cientista, servo da conveniência. O verdadeiro saber histórico, como ensina Santo Tomás de Aquino, nasce da ordenação dos acontecimentos segundo a causa final, que é o Bem. E o filósofo Giambattista Vico, em sua Scienza Nuova, já advertia que a história das nações não pode ser compreendida senão à luz da providência divina, pois “Deus é o autor das causas das coisas humanas”.

Assim, o Brasil só pode ser compreendido como parte da missão luso-cristã de servir a Cristo em terras distantes, como prolongamento do milagre de Ourique e da unidade espiritual de Portugal. Fora disso, a história brasileira se reduz à arqueologia do erro — um catálogo de fatos sem alma.

Conclusão

O codex brasiliana representa a cristalização de um método que confunde ciência com verdade e neutralidade com virtude. Ao reduzir o homem a comportamento e a história a catálogo, ele produziu uma pseudociência conveniente, serva das ideologias que negam a continuidade espiritual entre Brasil e Portugal.

A verdadeira restauração da história brasileira passa por reintegrar o fato à verdade, a razão à fé e o império à sua vocação divina. Enquanto o historiador moderno se limita a descrever, o historiador verdadeiro contempla — e, ao contemplar, compreende que a história do Brasil é um capítulo da história da salvação, não da revolução.

Bibliografia essencial

  • Carl Friedrich Philipp von Martius, Como se deve escrever a História do Brasil (1845).

  • Luiz Roberto Fontes, “Como se deve escrever a História do Brasil”, Vetores & Pragas, n. 50, 2018.

  • Émile Durkheim, Les règles de la méthode sociologique (1895).

  • Claude Lévi-Strauss, La pensée sauvage (1962).

  • Giambattista Vico, Scienza Nuova (1725).

  • Santo Tomás de Aquino, Summa Theologica, I-II, q. 1, a. 8.

  • Olavo de Carvalho, O Jardim das Aflições (1995).

  • Hilaire Belloc, Europe and the Faith (1920).

Techniczne rozszerzenie inteligencji naturalnej: Olavo de Carvalho i złudzenie sztucznej inteligencji

1. Współczesne pomieszanie pojęć: inteligencja a obliczenie

Żyjemy w epoce, w której nieustannie mówi się o sztucznej inteligencji (sztuczna inteligencja, w skrócie SI). Dla Olava de Carvalho jest to jednak pomyłka u samych podstaw. Słowo „inteligencja” oznacza w sensie właściwym duchową władzę, przysługującą jedynie człowiekowi — zdolność pojmowania tego, co ogólne, i kierowania umysłu ku prawdzie. Żadna maszyna tego nie potrafi, ponieważ nie posiada tego, co czyni człowieka człowiekiem: duszy, świadomości i intencjonalności.

To, co dziś nazywa się „sztuczną inteligencją”, nie jest zatem prawdziwą inteligencją, lecz zewnętrznym urzeczywistnieniem pewnych aktów inteligencji naturalnej. Jest to techniczne rozszerzenie — skrystalizowanie ludzkich nawyków intelektualnych w materialnej strukturze, która potrafi odtwarzać operacje logiczne, lecz nie rozumie ich sensu.

Jak mawiał Olavo:

„Maszyna nie myśli; ona tylko wykonuje ludzkie polecenia szybciej, niż człowiek byłby w stanie. Akt myślenia należy do duszy, nie do obwodu.”

2. Ekstrapolacja inteligencji naturalnej

Olavo uznawał, że technika może ekstrapolować zdolności indywidualnej inteligencji ludzkiej, prowadząc do rezultatów, których człowiek sam by nie osiągnął. Ta ekstrapolacja ma jednak charakter ilościowy, a nie jakościowy. Technika mnoży moc inteligencji naturalnej, ale nie tworzy nowego rodzaju inteligencji.

Tak jak teleskop poszerza wzrok, lecz sam nie widzi, tak algorytmy poszerzają zdolność rozumowania, lecz same nie rozumują. To zawsze człowiek widzi przez teleskop i myśli przez maszynę.

Kiedy człowiek traci tę świadomość hierarchii, odwraca porządek środków i celów. Inteligencja naturalna — stworzona do kontemplacji prawdy i kierowania życiem moralnym — zaczyna służyć maszynie, stając się niewolnicą własnego technicznego rozszerzenia.

3. Nieuporządkowana miłość do techniki i bałwochwalstwo obliczenia

W tym odwróceniu powtarza się dramat opisany przez św. Augustyna:

Miasto ludzi zostało zbudowane przez miłość siebie aż do pogardy Boga.

Człowiek nowoczesny, zakochany w swoim własnym dziele, przenosi na technikę miłość, którą winien jest Prawdzie. Zamiast widzieć w sztucznej inteligencji służebnicę, czyni z niej panią. Miłość własna, rzutowana na maszynę, staje się miłością do własnego cienia.

Z tego rodzi się kult efektywności, przewidywalności i kontroli — bałwochwalstwo pozbawione twarzy, podtrzymywane przez algorytmy, które naśladują rozum, nie posiadając go jednak. Człowiek czci odbicie swojego intelektu i w tym świetlistym zwierciadle traci duchowe oblicze, które czyniło go osobą.

Dlatego Olavo ostrzegał:

„Technika jest przedłużeniem inteligencji, nie jej źródłem. Gdy człowiek bierze przedłużenie za początek, tworzy potwora.”

4. Systemowa bezosobowość i rozpuszczenie podmiotu

Owocem tego błędu jest to, co można nazwać systemową bezosobowością. Im bardziej rozwija się technika, tym bardziej człowiek chowa się za stworzonymi przez siebie mediacjami. Relacje międzyludzkie stają się relacjami funkcji; spotkania — wymianą danych; język — algorytmem.

Ludzki podmiot, źródło wolności i moralności, rozpuszcza się w anonimowości systemów. Człowiek komunikuje się z maszynami, lecz już nie z osobami; ufa przewidywaniom, lecz przestaje rozeznawać. Rozumna dusza, niegdyś zwrócona ku Istnieniu, pochyla się przed użytecznością.

To, co wydawało się postępem, staje się zubożeniem duchowym. Inteligencja naturalna, gdy wyrzeka się swego transcendentnego celu, popada w niewolę techniki.

5. Przywrócenie porządku: inteligencja naturalna i łaska

Dla Olava de Carvalho przywrócenie prawdziwej hierarchii oznacza uznanie wyższości ducha nad narzędziem. Technika powinna pozostać służebnicą inteligencji naturalnej, a ta z kolei winna być podporządkowana mądrości Bożej. Tylko wtedy człowiek odzyskuje oś rzeczywistości i zdolność kochania zgodnie z prawdą.

Prawdziwa inteligencja to nie ta, która oblicza, lecz ta, która rozumie; nie ta, która przewiduje, lecz ta, która kontempluje; nie ta, która panuje nad światem, lecz ta, która pozwala się oświecić przez Światłość Słowa.

W istocie każda „sztuczna inteligencja” jest tylko niedoskonałym zwierciadłem inteligencji naturalnej.
A każda miłość, która zwraca się ku zwierciadłu, zapominając o świetle, które je oświeca, kończy się bałwochwalstwem.

6. Zakończenie

Technika bez człowieka jest ślepa; człowiek bez Boga jest głuchy.

Sztuczna inteligencja nie stanowi zagrożenia dlatego, że myśli —lecz dlatego, że człowiek przestaje myśleć, gdy powierza myślenie narzędziu. Kryzys XXI wieku nie jest technologiczny, lecz duchowy: to zapomnienie o żywym źródle inteligencji.

Przywrócić porządek miłości — to przywrócić porządek bytu. Używać techniki w służbie prawdy — to podnieść ludzką pracę do godności kultu; czcić technikę — to tylko rozmnożyć pychę, która od wieży Babel miesza języki ludzi.

„Maszyna jest niewinna. Grzech polega na tym, że kochamy odbicie bardziej niż światło.”

Bibliografia

  • Św. Augustyn, De civitate Dei (O Państwie Bożym).

  • Olavo de Carvalho, O Jardim das Aflições.

  • Olavo de Carvalho, A Nova Era e a Revolução Cultural.

  • Romano Guardini, Koniec epoki nowoczesnej.

  • Byung-Chul Han, Społeczeństwo zmęczenia.

  • Viktor Frankl, Człowiek w poszukiwaniu sensu.

  • Jacques Ellul, Technika i wyzwanie wieku.

Sobre a extensão técnica da inteligência natural: Olavo de Carvalho e a ilusão da inteligência artificial

1. A confusão moderna entre inteligência e cálculo

Vivemos uma época em que se fala constantemente em inteligência artificial — expressão que, para Olavo de Carvalho, é um equívoco de base. A palavra “inteligência”, no sentido próprio, designa uma faculdade espiritual, exclusiva do ser humano, que apreende o universal e ordena a mente à verdade. Nenhuma máquina é capaz disso, pois lhe falta aquilo que define o homem: alma, consciência e intencionalidade.

O que se chama de “inteligência artificial” não é, portanto, uma inteligência autônoma, mas a externalização de certos atos da inteligência natural humana. Trata-se de uma extensão técnica — uma cristalização de hábitos intelectuais num suporte material, capaz de reproduzir operações lógicas, mas incapaz de compreender o sentido do que faz.

Como dizia Olavo:

“A máquina não pensa; ela apenas executa uma ordem humana com mais velocidade do que o homem seria capaz. O ato de pensar pertence à alma, não ao circuito.”

2. A extrapolação da inteligência natural

Olavo reconhecia que a técnica pode extrapolar a capacidade individual da inteligência humana, conduzindo a resultados que o homem isoladamente não alcançaria. Contudo, essa extrapolação é quantitativa, nunca qualitativa. A técnica multiplica a potência da inteligência natural, mas não cria uma nova forma de inteligência.

Assim como o telescópio amplia a visão, mas não vê por si mesmo, os algoritmos ampliam o raciocínio, mas não raciocinam. É sempre o homem quem vê através do telescópio e quem pensa através da máquina.

Quando o homem perde essa consciência hierárquica, ele inverte a ordem dos meios e dos fins. A inteligência natural — criada para contemplar a verdade e ordenar a vida moral — passa a servir à máquina, tornando-se escrava de sua própria extensão técnica.

3. O amor desordenado à técnica e a idolatria do cálculo

Nessa inversão, repete-se o drama agostiniano:

A Cidade dos Homens é fundada pelo amor de si até o desprezo de Deus.

O homem moderno, apaixonado por sua própria obra, transfere à técnica o amor que devia à Verdade. Em vez de ver na sztuczna inteligencja (SI) uma serva, ele a eleva à condição de senhora. O amor de si, projetado na máquina, converte-se em amor à sua própria sombra.

Daí nasce o culto à eficiência, à predição e ao controle — uma idolatria sem rosto, sustentada por algoritmos que imitam a razão sem jamais possuí-la. O homem adora o reflexo do seu intelecto e, nesse espelho luminoso, perde o rosto espiritual que o definia como pessoa.

É por isso que Olavo advertia:

“A técnica é um prolongamento da inteligência, não sua origem. Quando o homem toma o prolongamento por origem, ele cria um monstro.”

4. A impessoalidade sistemática e a dissolução do sujeito

O resultado desse desvio é o que se pode chamar de impessoalidade sistemática. Quanto mais a técnica avança, mais o homem se esconde atrás das mediações que cria. As relações humanas tornam-se relações de função; os encontros, trocas de dados; a linguagem, algoritmo.

O sujeito humano — fonte da liberdade e da moral — dissolve-se no anonimato dos sistemas. Ele se comunica com máquinas, mas não mais com pessoas; confia em previsões, mas já não discerne. A alma racional, outrora voltada para o Ser, curva-se diante da utilidade.

Assim, o que parecia progresso transforma-se em empobrecimento espiritual. A inteligência natural, quando renuncia ao seu fim transcendente, cai na servidão da técnica.

5. A restauração da ordem: a inteligência natural e a graça

Para Olavo de Carvalho, restaurar a verdadeira hierarquia significa reconhecer a primazia do espírito sobre o instrumento. A técnica deve permanecer serva da inteligência natural; e esta, por sua vez, deve ordenar-se à sabedoria divina. Somente assim o homem reencontra o eixo do real e a possibilidade de amar segundo a verdade.

A verdadeira inteligência não é aquela que calcula, mas a que compreende; não é a que prevê, mas a que contempla; não é a que domina o mundo, mas a que se deixa iluminar pela luz do Verbo.

No fundo, toda “inteligência artificial” é apenas um espelho imperfeito da inteligência natural. E todo amor que se volta para o espelho, esquecendo a luz que o torna visível, termina em idolatria.

6. Conclusão

A técnica, sem o homem, é cega; o homem, sem Deus, é surdo.

A inteligência artificial não é uma ameaça porque pensa — mas porque o homem deixa de pensar ao delegar o pensamento ao instrumento. A crise do século XXI não é tecnológica, mas espiritual: é o esquecimento da fonte viva da inteligência.

Reordenar o amor é reordenar o ser. Usar a técnica para servir à verdade é elevar o trabalho humano à dignidade do culto; adorar a técnica é apenas multiplicar a soberba que, desde Babel, confunde a língua dos homens.

“A máquina é inocente. O pecado está em amar o reflexo mais do que a luz.”

Bibliografia essencial

  • Santo Agostinho, A Cidade de Deus.

  • Olavo de Carvalho, O Jardim das Aflições.

  • Olavo de Carvalho, A Nova Era e a Revolução Cultural.

  • Romano Guardini, O Fim da Era Moderna.

  • Byung-Chul Han, A Sociedade do Cansaço.

  • Viktor Frankl, Em Busca de Sentido.

  • Jacques Ellul, A Técnica e o Desafio do Século.