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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O valor do contato por e-mail frente à arbitrariedade das redes sociais

Vivemos em uma época em que as redes sociais assumiram um papel central nas interações humanas. A facilidade de adicionar alguém, enviar uma mensagem instantânea ou simplesmente “seguir” um perfil gera a ilusão de proximidade, mas muitas vezes esconde a arbitrariedade e a superficialidade desse gesto. Um clique não traduz necessariamente interesse real, respeito ou intenção autêntica de estabelecer diálogo.

Diante desse cenário, o contato feito por e-mail adquire uma dignidade especial. Enquanto as redes sociais banalizam a comunicação, transformando-a em uma sequência de notificações efêmeras, o e-mail exige intenção. Ele supõe escolha consciente do interlocutor, redação de uma mensagem, organização de ideias e, sobretudo, respeito pelo espaço do outro.

Responder a um e-mail não é o mesmo que aceitar um convite de conexão. O convite é impessoal, padronizado e muitas vezes disparado em massa. Já o e-mail, quando enviado de forma discreta e autêntica, carrega consigo a marca da individualidade: foi escrito especificamente para você. É como bater à porta com cortesia, ao invés de forçar a entrada pela janela.

O cuidado em verificar a identidade do remetente — por exemplo, consultando seu perfil no LinkedIn — reforça a prudência necessária neste processo. Esse gesto simples garante que o contato seja legítimo e demonstra que reciprocidade e confiança não devem ser oferecidas sem critério. Assim, o e-mail se torna não apenas uma via de comunicação, mas também um espaço onde se estabelece o primeiro teste de seriedade e boa-fé.

Portanto, preferir o e-mail às redes sociais não é mero capricho ou formalismo antiquado: é uma escolha consciente pela qualidade do diálogo. É uma forma de resgatar o respeito mútuo, a clareza da palavra escrita e a valorização do tempo alheio. Quem opta por escrever um e-mail em vez de “adicionar” está, em essência, dizendo: “quero conversar com você, não apenas colecionar seu nome na minha lista de contatos”.

E essa diferença, por si só, já separa o gesto trivial do gesto significativo.

Delaware, Oregon, Tabatinga e a Tagpeak: a evolução dos programas de fidelidade do detaxe à moeda privada

A ideia de que programas de fidelidade, cashback e milhas seriam uma forma de detaxe disfarçado ganha força quando observamos sua gênese histórica. A estratégia da Sears, nos Estados Unidos, e a popularização dos programas de milhagem pelas companhias aéreas criaram um mecanismo de devolução parcial do gasto ao consumidor, como se parte do tributo fosse reabsorvida em forma de pontos. Em países de alta carga tributária indireta, como o Brasil, isso se apresenta ainda mais evidente: o consumidor sente que está sendo “compensado” pelo imposto embutido na transação.

No entanto, essa explicação se mostra parcial quando analisamos territórios em que o tributo simplesmente não existe.

Delaware e Oregon: a prova negativa do detaxe

Nos Estados Unidos, Delaware e Oregon não possuem sales tax. Se programas de pontos e cashback fossem estritamente uma forma de devolução de imposto, seria lógico que nesses estados não houvesse pontuação. No entanto, cartões de crédito e programas de recompensas continuam operando normalmente, oferecendo milhas, pontos e cashback.

Isso demonstra que a fonte real dos programas de fidelidade não é apenas o imposto, mas também as taxas de intercâmbio cobradas dos lojistas (merchant fees), o spread financeiro e a engenharia bancária que sustenta a emissão de pontos como moeda privada, independente da base tributária.

Tabatinga: a Zona Franca como laboratório

Tabatinga, no Amazonas, dentro da Zona Franca, oferece outro exemplo de “prova negativa”. Ali, ICMS e ISSQN não incidem sobre o consumo local, desde que o produto seja adquirido para uso dentro da própria ZLC. Ainda assim, cartões de crédito e programas de fidelidade continuam premiando o consumo com pontos e milhas.

Mais uma vez, a lógica tributária não esgota a explicação: programas de fidelidade funcionam como transferência de parte do custo financeiro do lojista para o consumidor fiel, criando uma moeda paralela que independe do tributo.

A Tagpeak: a fase madura da moeda de fidelidade

Plataformas como a Tagpeak representam a evolução natural desse modelo:

  1. Transformação do simbólico em real: pontos e milhas se tornam ativos digitais negociáveis, desvinculados de qualquer tributação.

  2. Mercado próprio de ativos de consumo: os pontos funcionam como moeda paralela, capaz de circular, ser trocada ou valorizada.

  3. Independência tributária: mesmo em estados ou territórios sem impostos, os ativos mantêm valor, evidenciando sua autonomia.

Essa trajetória pode ser resumida assim:

  • Sears e cashback inicial (anos 80) → devolução parcial de imposto; moeda privada simbólica.

  • Cartões e milhagem aérea (anos 90–2000) → moeda privada emergente, circulação parcial.

  • Tagpeak (2020s) → ativos digitais fiduciários, negociáveis, plenamente independentes.

Moeda fiduciária e não-estatal: Hayek em prática

Aqui entra a conexão com Friedrich Hayek e sua tese da desestatização do dinheiro. Segundo Hayek:

  • O dinheiro não precisa ser emitido pelo Estado para funcionar como meio de troca, unidade de conta e reserva de valor.

  • O que importa é a confiança coletiva e a aceitação do ativo.

As plataformas de fidelidade, especialmente Tagpeak, demonstram isso na prática:

  1. Fiduciária: seu valor depende da confiança na plataforma, não de lastro físico ou tributo.

  2. Não-estatal: emitida e gerida por entidades privadas, sem intervenção governamental direta.

  3. Portabilidade e circulação autônoma: ativos digitais circulam independentemente de fronteiras ou impostos, criando um mercado paralelo sustentável.

Em termos históricos, podemos visualizar a linha de evolução:

  • Sears e cashback inicial → moeda privada limitada.

  • Cartões e milhagem aérea → moeda privada emergente, parcialmente simbólica.

  • Tagpeak e ativos digitais → moeda fiduciária e não-estatal plenamente funcional.

Conclusão

Delaware, Oregon e Tabatinga são provas negativas da tese de que cashback e milhas seriam apenas detaxe disfarçado. A Tagpeak mostra que o modelo evoluiu: a fidelidade não é mais compensação fiscal, mas moeda privada fiduciária, integrando-se a uma economia de ativos digitais.

O consumidor, antes limitado à sensação de ganho simbólico, agora acessa um ativo real, negociável e independente, revelando a maturidade de um conceito que começou como devolução parcial de imposto e hoje se consolida como capital digital.

Bibliografia

  • BREALEY, Richard A.; MYERS, Stewart C.; ALLEN, Franklin. Principles of Corporate Finance. McGraw-Hill, 2020.

  • EVANS, David S.; SCHMALENSEE, Richard. Paying with Plastic: The Digital Revolution in Buying and Borrowing. MIT Press, 2005.

  • HAYEK, Friedrich A. Denationalisation of Money: The Argument Refined. Institute of Economic Affairs, 1976.

  • OLEGARIO, Rowena. A Culture of Credit: Embedding Trust and Transparency in American Business. Harvard University Press, 2006.

  • REICHHELD, Frederick F. The Loyalty Effect: The Hidden Force Behind Growth, Profits, and Lasting Value. Harvard Business School Press, 1996.

  • SILVEIRA, Fernando Antônio Rezende. Zona Franca de Manaus: Impactos Econômicos e Desafios. IPEA, Texto para Discussão nº 1743, 2012.

  • TILLY, Chris. “The Sears Credit System and the Transformation of Consumer Credit in the Twentieth Century.” Business History Review, vol. 85, n. 4, 2011.

  • U.S. Department of Commerce. Sales Tax Rates by State 2024. Washington, DC.

  • ZONA FRANCA DE MANAUS. Legislação Básica da Suframa. Disponível em: http://www.suframa.gov.br

Livelo e a tradição dos programas de cashback como detaxe disfarçado

1. Detaxe tradicional vs. detaxe moderno disfarçado de fidelidade

O detaxe tradicional é um mecanismo para turistas recuperarem parte dos impostos pagos em compras durante a visita a um país, mediante apresentação de passaporte e comprovação de trânsito. É burocrático, restrito e muitas vezes desconhecido — mesmo por pessoas com formação em Direito Tributário, como você observou.

A Livelo, ao se apresentar como programa de fidelidade, permite que qualquer pessoa com CPF participe, de forma simples e acessível. No entanto, a lógica interna — pontos concedidos sobre o valor tributável da compra — funciona como um detaxe digital disfarçado, adaptado ao contexto brasileiro.

2. A tradição histórica: Sears, Discover e os rebates dos anos 1980

Nos Estados Unidos, a Sears adotou uma estratégia semelhante nos anos 1980: diante do avanço dos cartões de crédito, lançou o cartão Discover — com isenção de anuidade e programa de recompensas em dinheiro — para atrair e reter clientes Reddit.

Essa estratégia representava, antes de tudo, um rebate direto sobre compras, movido pela lógica de restauração parcial dos gastos — e, em última instância, dos tributos embutidos no preço. Foi o ponto de partida para os modernos programas de fidelidade e cashback.

3. A evolução digital: de Ebates a Rakuten e Ibotta

Com o advento da internet, surgiram plataformas como Ebates (atual Rakuten Rewards), fundadas em 1999, que oferecem cashback em compras online por meio de links afiliados — um canal para devolver parte da comissão ao consumidor WikipediaWildfire.

Da mesma forma, apps como Ibotta, lançados na década de 2010, permitiram ao usuário acumular cashback ao escanear recibos ou fazer compras nas lojas parceiras Wikipedia.

4. Cashback moderno: incentivos financeiros com retorno prático

Estudos apontam que estratégias de cashback geram lealdade e retorno financeiro para os varejistas — os consumidores recebem de volta algo que parecem ganhar, quando, na verdade, estão recuperando uma parte do que já foi gasto (e tributado) ScienceDirectACM Digital Library.

Além disso, a revolução digital intensificou esse mecanismo, tornando-o mais imediato, eficiente e atraente via apps e plataformas online FasterCapitalFintech News.

5. Conectando tudo: Livelo como evolução brasileira de uma tradição global

A Livelo encaixa-se nessa sequência histórica:

Etapa Contexto e Lógica
Rebates da Sears (1980) Competir com cartão de crédito e devolver parte dos gastos em forma de recompensas
Cashback digital (anos 2000–) Plataformas como Ebates/Rakuten e apps como Ibotta popularizam o cashback
Livelo (Brasil) Programa de fidelidade que, como cashback/disfarçado de detaxe, devolve pontos sobre valor tributável

6. A força da comunicação: fidelidade como embalagem, detaxe como essência

O uso da linguagem de "pontos pelo consumo" torna o conceito viral e acessível para o público em geral. Seria impensável a Livelo anunciar-se como programa de detaxe, pois os brasileiros conhecem pouco ou nada desse termo, tornando a comunicação excludente.

A forma — “programa de fidelidade” — atrai, enquanto o conteúdo — “pontuação proporcional à tributação” — permanece oculto. Essa estratégia é, ao mesmo tempo, inovadora e pedagógica, mas também silencia a lógica fiscal por trás das recompensas.

Referências bibliográficas e webgráficas

  • A história do Discover Card da Sears, que introduziu o cashback no mercado americano, fomentando a competição com os cartões de crédito tradicionais Reddit.

  • A origem dos programas de cashback digital com Ebates (Rakuten Rewards) e sua evolução como plataforma de recompensa ligada a afiliados WikipediaWildfire.

  • Expansão dos apps como Ibotta, que tornaram o cashback uma experiência móvel, prática e escalável Wikipedia.

  • Estudos acadêmicos mostrando os benefícios financeiros do cashback para varejistas e o papel destes programas na fidelização de clientes ScienceDirectACM Digital Library.

  • Análises sobre a evolução dos programas de fidelidade e cashback na era digital — sua adesão ao e-commerce e a influência nas expectativas dos consumidores FasterCapitalFintech News.

Livelo: o detaxe brasileiro disfarçado de programa de fidelidade

Os programas de fidelidade são apresentados como uma forma de recompensar o consumidor pelo relacionamento com determinada marca ou plataforma. Mas, olhando mais de perto, a lógica que sustenta a Livelo revela algo muito mais sofisticado: ela funciona, na prática, como um detaxe digital.

1. O que é o detaxe tradicional

O detaxe é um mecanismo existente em diversos países, permitindo que turistas estrangeiros recuperem parte dos impostos pagos em compras realizadas durante a viagem. Para isso, o consumidor precisa apresentar passaporte, preencher formulários e comprovar que está em trânsito internacional.

Trata-se de um sistema burocrático e restrito: pouquíssimos brasileiros já usaram esse recurso, e até mesmo pessoas que estudaram Direito ou trabalham com tributação muitas vezes nunca ouviram falar em detaxe.

2. Como a Livelo reinventa o detaxe

A Livelo, ao contrário, é simples: qualquer pessoa com CPF pode acumular pontos em compras feitas em lojas parceiras, como a Amazon. A diferença essencial está no que gera ou não gera pontos:

  • Produtos tributáveis, como eletrônicos ou roupas, geram pontos porque embutem ICMS e outros impostos no preço.

  • Produtos isentos, como livros, em regra não geram pontos, pois não há imposto a “reembolsar”.

Isso significa que os pontos da Livelo funcionam como uma restituição indireta de impostos pagos pelo consumidor, convertidos em vantagens futuras. Em outras palavras, um detaxe digital adaptado ao contexto brasileiro.

3. Por que se apresentar como programa de fidelidade

Aqui entra o ponto decisivo: se a Livelo se apresentasse diretamente como um programa de detaxe, seria vista como algo elitista, técnico e distante da realidade da maioria. O termo “detaxe” ainda é desconhecido no Brasil, e até quem estuda Direito Tributário pode passar anos sem ouvir falar nele.

Já o conceito de programa de fidelidade é simples, acessível e massificável. Todo mundo entende “juntar pontos” e “trocar por recompensas”. Assim, a Livelo traduz um mecanismo complexo em uma linguagem que faz sentido para o grande público.

O resultado é um paradoxo:

  • De um lado, a Livelo populariza o detaxe ao disfarçá-lo como fidelidade, permitindo que qualquer brasileiro com CPF participe, sem burocracia e sem precisar viajar.

  • De outro, ela mantém oculta a lógica tributária que está no coração do sistema, fazendo com que o consumidor não perceba que sua pontuação está ligada diretamente aos impostos embutidos nos produtos.

4. Implicações para o consumidor

Essa ambiguidade gera consequências práticas:

  • O consumidor acredita que toda compra gera pontos, mas se frustra quando compra livros (isentos de imposto) e nada recebe.

  • O programa poderia servir como uma forma de educação tributária, mostrando como os impostos impactam o consumo, mas a narrativa de “fidelidade” evita esse aprendizado.

  • Ainda assim, ao simplificar a ideia e apresentá-la de forma palatável, a Livelo alcança milhões de pessoas que nunca teriam acesso a um sistema de detaxe tradicional.

5. Conclusão

A Livelo é mais do que um programa de fidelidade: é um detaxe digital, massificado e adaptado à cultura brasileira. Seu mérito está em tornar acessível, via CPF e compras online, aquilo que em outros países é privilégio de turistas em trânsito.

Ao mesmo tempo, ao se apresentar apenas como fidelidade, perde-se a chance de revelar ao consumidor que, por trás dos pontos, está um mecanismo de restituição tributária.

No fim das contas, a Livelo é a prova de como a forma de comunicar pode ser tão importante quanto o conteúdo: um detaxe disfarçado que, sob a roupagem de programa de fidelidade, conseguiu se tornar parte da vida cotidiana de milhões de brasileiros.

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Por que livros na Amazon podem não gerar pontos na Livelo: a relação com impostos

Nos últimos anos, programas de fidelidade e de cashback, como a Livelo, se tornaram ferramentas importantes para consumidores que desejam obter vantagens extras em suas compras. No entanto, muitos usuários notam algo curioso: compras de livros, especialmente na Amazon, frequentemente não geram pontuação. A explicação pode estar relacionada à isenção de impostos sobre os livros no Brasil.

1. A base da pontuação em programas de fidelidade

Programas como a Livelo costumam calcular a pontuação com base no valor tributável da compra, ou seja, aquele que efetivamente contribui para impostos como ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) ou ISS (Imposto sobre Serviços). Em outras palavras, produtos que geram receita tributável são mais “valiosos” para o programa, enquanto produtos isentos podem não contabilizar pontos ou gerar apenas uma fração do esperado.

2. Livros e isenção de impostos

O Brasil possui uma política de incentivo à leitura: livros físicos e digitais são isentos de ICMS e, em alguns casos, de IPI. Isso significa que, ao comprar um livro, você está pagando apenas pelo valor do produto, sem a incidência do imposto que normalmente alimenta a base de cálculo para programas de pontos.

Por isso, mesmo que a Amazon registre a compra, a Livelo pode não reconhecer valor suficiente para gerar pontos, ou pode considerá-la “fora do escopo tributável”.

3. Implicações práticas para o consumidor

  • Compras de livros podem não pontuar: comprar 10 livros de R$ 50 cada pode não gerar nenhum ponto, enquanto a mesma quantia em eletrônicos ou eletrodomésticos pontuaria normalmente.

  • Formatos diferentes podem ter tratamento distinto: livros digitais (Kindle) e físicos podem gerar pontuação diferente dependendo da política do programa.

  • Promoções e formas de pagamento também influenciam: usar boleto ou cartão de crédito pode resultar em variações na pontuação.

4. Como testar a hipótese

Para confirmar essa teoria, o consumidor pode realizar o seguinte experimento:

  1. Comprar um livro e registrar se os pontos foram creditados na Livelo.

  2. Comprar outro produto de valor similar que gere ICMS.

  3. Comparar a pontuação recebida em ambos os casos.

Essa comparação simples ajuda a evidenciar a relação direta entre tributação e geração de pontos.

5. Conclusão

A isenção de impostos sobre livros é um fator estrutural que afeta diretamente a geração de pontos em programas como a Livelo. Ou seja, a próxima vez que uma compra de livro não pontuar, não se trata de um erro do programa, mas sim de uma consequência da política tributária brasileira. Para os consumidores que desejam maximizar pontos, é importante considerar quais produtos realmente contribuem para a base tributável do programa de fidelidade.

Cem Dólares, Cem Obamas, Cem Trumps: reflexões sobre valor e riqueza

No mundo financeiro, o valor de uma moeda é sempre relativo. Todos conhecem o dólar americano como padrão de referência: é a moeda que todos querem, símbolo de estabilidade e poder econômico. Mas o que acontece quando começamos a brincar com as palavras e substituímos “dólares” por nomes famosos, como Obamas ou Trumps? A brincadeira não é apenas humorística — ela revela algo profundo sobre percepção, liquidez e riqueza real.

Quando alguém diz que ganhou “cem Obamas”, está implicitamente equiparando o dólar americano, desejado e universal, ao dólar jamaicano, pouco valorizado e praticamente irrelevante fora de seu país. Na prática, isso nos lembra que nem toda moeda tem o mesmo valor para todos, e que a simples contagem de unidades monetárias não traduz poder de compra ou influência econômica. Cem dólares podem significar liberdade e oportunidades; cem Obamas podem significar apenas uma referência nominal sem impacto real.

Por outro lado, ao dizer que você ganhou “cem Trumps”, a analogia muda completamente. Aqui, o que está em jogo não é a moeda circulante, mas riqueza tangível e duradoura, algo comparável a barras de ouro. Segundo Lombardi, isso vale mais do que dinheiro. A metáfora não é exagerada: Trumps, enquanto símbolo de patrimônio consolidado e real, representam ativo seguro, valorização histórica e proteção contra volatilidade. É a diferença entre riqueza líquida e riqueza sólida — entre dinheiro que se move e ativos que permanecem.

Essas comparações nos levam a uma reflexão mais ampla: o que é realmente riqueza? Ela não se mede apenas pela quantidade de unidades monetárias, mas pelo valor real que esses ativos oferecem ao longo do tempo. Moedas de circulação diária podem subir e cair, mas ouro, imóveis, empresas bem estruturadas e investimentos tangíveis tendem a preservar seu valor, independentemente da instabilidade econômica.

No fundo, a brincadeira com Obamas e Trumps é uma metáfora para a vida prática: a busca por liberdade e segurança financeira não se limita ao acúmulo de dinheiro, mas envolve a capacidade de discernir o que tem valor duradouro. Saber distinguir entre riqueza passageira e riqueza real é, em última análise, um exercício de sabedoria.

Em suma, dizer que você ganhou cem dólares é falar da moeda que todos desejam; cem Obamas é um lembrete de moedas pouco valorizadas; e cem Trumps é afirmar que você possui algo sólido, confiável e duradouro — o verdadeiro significado de riqueza.

Boletos, independência e a crítica alemã à economia inglesa

Diz-se, com frequência, que a independência começa quando surgem os boletos para pagar. Esse ditado popular esconde uma verdade profunda: a autonomia individual se expressa na capacidade de assumir responsabilidades financeiras e arcar com os próprios compromissos. Contudo, essa realidade também nos permite compreender a crítica alemã à economia clássica inglesa, que nunca separou totalmente o valor da utilidade das coisas.

Na tradição inglesa, o valor era tratado sobretudo como uma abstração de mercado: um número resultante da relação entre oferta e demanda. Essa concepção tende a esvaziar a ligação entre valor e vida prática, reduzindo o ato econômico a um cálculo de equivalência. Já os pensadores alemães — de Hegel a Marx, passando por toda uma tradição filosófica e histórica — buscavam reconectar o valor à realidade concreta, à utilidade efetiva, ao trabalho e à experiência cotidiana.

O boleto ilustra bem esse dilema. Ele é, em essência, apenas uma obrigação: um papel ou código que traduz em números a dívida contraída para manter serviços básicos ou consumir bens. Sem um retorno imediato, pagar boletos pode parecer um fardo, uma alienação de valor que não gera satisfação visível. Nesse sentido, a experiência do boleto ecoa a crítica alemã: ele revela o vazio do valor puramente abstrato, desconectado da utilidade direta.

É aqui que o cashback entra como elemento transformador. Ao oferecer vantagens, pontos ou dinheiro de volta, ele reconcilia o pagamento com a utilidade concreta. O ato de pagar deixa de ser mera submissão a uma obrigação financeira e passa a se revestir de sentido: há um retorno palpável, uma compensação que integra o indivíduo ao circuito econômico de forma mais equilibrada.

Mais do que isso, o cashback inaugura um novo tipo de cultura. Um dos fundamentos da cultura é fazer da necessidade liberdade: desde os rituais e tradições antigas até a vida moderna, o homem transforma aquilo que é imposto (trabalho, deveres, necessidades) em algo que amplia suas possibilidades e sentido de vida. Nesse contexto, o cashback não elimina a necessidade — o boleto ainda precisa ser pago — mas a ressignifica: pagar passa a ser também uma oportunidade de ganho, de escolha e de participação em um ciclo virtuoso.

Podemos dizer que:

  • Independência moderna = boletos pagos, ou seja, assumir deveres.

  • Cashback = retorno de utilidade, que dá sentido e vantagem ao gasto.

  • Cultura do cashback = transformar necessidade em liberdade, educando o consumidor a buscar valor e utilidade mesmo na obrigação.

  • Crítica alemã = valor deve estar ligado à vida prática, e não apenas a abstrações do mercado.

No fim das contas, o pagamento de boletos deixa de ser mero ato mecânico ou obrigação chata: ele se torna um espaço de liberdade e participação, onde a necessidade se reconcilia com a vantagem. A cultura do cashback é, portanto, uma manifestação moderna de um princípio antigo: a civilização avança quando aprendemos a extrair liberdade e sentido das obrigações cotidianas.