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sábado, 16 de novembro de 2019

Notas sobre a questão do recall eleitoral, tendo por base o comportamento recente da deputada Joice Hasselmann

1) Um dos princípios da república romana era de que nenhum homem seria escravo de outro homem.

2.1) O recente comportamento da deputada Joice Hasselmann é a negação deste princípio.

2.2) Ela ficou tão rica no amor de si que está negando o lema do governo: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Por conta disso, ela não só está quebrando a confiança que foi nela depositada, através de seus mais de um milhão de votos, como também está agindo cada vez mais fora daquilo que é próprio do decoro parlamentar.

3.1) Por conta desse comportamento temerário, a idéia de um recall de modo a moderar o mau comportamento do parlamentar seria uma idéia razoável e prudente.

3.2.1) O mandatário não é proprietário do mandato, do poder que recebeu através dos votos - este poder pertence ao povo. Por conta disso, este poder deve ser exercido tal como se exige de todo e qualquer sacerdote: que morra para si de modo que o Cristo que há nele esteja presente em meio a nós.

3.2.2) Hasselmann é fruto de uma ordem fundada na pós-verdade, onde se conservou de maneira conveniente e dissociada da verdade a idéia de que o cristianismo é uma árvore velha e superada, que deve ser abatida de modo a se colocar qualquer coisa no lugar. Por conta disso, está à esquerda do Pai, ainda que se diga de direita, nominalmente falando.

3.2.3) Ela se enquandra, portanto, naquilo que venho sempre definindo por conservantista, o pior agente político que há - tal como o líqüido, conserva de maneira conveniente a forma de seu recipiente, mas não se sujeita à rigidez da verdade, da conformidade com o Todo que vem de Deus, a fonte de tudo o que é mais sólido. O conservantismo do líqüido prepara o caminho para a anarquia gasosa, uma vez que tudo o que é sólido deve se desmanchar no ar, segundo essa vil lógica.

4.1) O instituto do recall não substitui a comissão de ética.

4.2) O comitê de ética de cada casa do parlamento deveria funcionar como uma espécie de corregedoria ou controle interno, a serviço do interesse do eleitorado, visto que os deputados e senadores todos são oriundos do povo, dado que também são eleitores. Mas, como ainda está vigente a falsa cultura de que o mandato é propriedade do político - o que edifica liberdade com fins vazios -, as comissões de ética não passam de agências que defendem os mais puros interesses corporativistas, visto que os parlamentares se tornaram uma classe ociosa que está de costas para os interesses de seus eleitores, o que faz do Poder Legislativo o mais improdutivo dos poderes da República, este regime político que nasceu na calada da noite e que acabou de vez com o senso de tomar o país como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, a ponto de fazer do Brasil uma ordem social cada vez mais revolucionária e anticristã.

5.1) Eis aí algumas considerações que podemos fazer acerca do recall - em tempos de rede social e de povo cada vez mais vigilante com relação à conduta de seus representantes, trata-se de poder moderador feito de baixo para cima.

5.2) Isso não elimina a necessidade de um poder moderador feito de cima para baixo - certas questões fundadas no bem comum podem gerar conflito entre os poderes e o soberano deve ser chamado para sanar de vez estes problemas, a ponto de dizer o que deve ser feito, tendo por conta o Sagrado Magistério da Igreja e a missão de servir a Cristo em terras distantes, tal como foi estabelecido em Ourique, visto que o soberano é vassalo de Cristo, tal como foi D. Afonso Henriques.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2019.

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