1) Quando se toma o fato social como se fosse coisa, você tende a reduzir a sociologia a um método de catalogação das estruturas sociais, sejam elas humanas ou anti-humanas.
2) O homem é criatura e seu destino é viver em conformidade com o todo que vem de Deus - quando se nega que a história da humanidade é uma luta constante de modo a que Deus nos salve do pecado original e dos vícios da desobediência, a história torna-se apenas uma mera catalogação, pois o materialismo histórico esvazia todos os fundamentos metafísicos sobre os quais se versa a vida humana, desvinculando a história de seu agente principal, assim como de toda a verdade que decorre de Cristo Jesus, que é o juiz de todos nós, por todos os séculos e séculos.
3) E é por conta desse materialismo, desse determinismo e do fato de a história se reduzir a um método que vise a mera catalogação das estruturas que Claude Lévi-Strauss disse que a história pode levar a qualquer caminho - a tal ponto que história deixa de ser narrada ou investigada e passa a ser justificada ideologicamente.
4) Eis aí porque não levo a antropologia de Claude Lévi-Strauss a sério, muito menos a sociologia de Dürkheim. Mas tem muita gente que se diz de direita, sobretudo liberal, que adora o pensamento desses dois.
Debate que decorreu, após a publicação deste artigo:
Tiago Barreira:
1) O único a acertar nas ciências sociais, ao longo do século XX, foi Voegelin. A história da humanidade está inerentemente ligada a busca da ordem e a de um destino cósmico para o homem em geral, de modo a estar em conformidade com o Todo que vem de Deus. Isso foi o que ele apontou, na sua História das Idéias Políticas.
2) Isso é o mesmo que afirmar que a história humana é a história da queda e ressurreição da humanidade, sob a intervenção de Cristo. Ele pode não ter chegado ao cerne da questão, já que ele era agnóstico - no entanto, do ponto de vista da ciência em geral, trata-se de uma dedução lógica do pressuposto do plano divino da salvação, com o qual se harmoniza perfeitamente este entendimento.
3) Enfim, do mesmo modo que a escola austríaca se harmoniza com a doutrina social da Igreja, o pensamento de Voegelin se harmoniza com a doutrina histórica católica.
José Octavio Dettmann:
1) É por via deste fundamento que se pode tomar o país como um lar e não como se fosse religião, pois a concepção de se tomar o país como se fosse religião leva a uma falsa fé, que sempre entrará em metástase.
2) Autores do século XX e mesmo do Século XIX estão todos errados, com base nesta concepção.
2.1) Pasquale Mancini está errado, ao tomar a nação como um dado irredutível, a mônada racional de toda a ciência - quando isto é tomado como se fosse coisa, a nação passa a ser tomada como se fosse uma segunda religião;
2.2) Lévi-Strauss está errado, quando diz que a história não está atrelada ao agente humano e nem a algum objeto em particular, além de estar totalmente errado quando diz que a história se reduz a um mero catálogo de coisas e que pode nos levar a qualquer lugar, uma vez você podendo justificar esse fundamento, ao tomar o fato social como se fosse coisa, como se isso tivesse sua própria lógica, sua própria verdade;
2.3) Dürkheim está igualmente errado, ao dar causa ao fato de que devemos tomar os fatos sociais como se coisa e que essas têm sua própria verdade, a ponto de que não podemos emitir nenhum juízo de valor sobre eles.
2.4) Enfim, ao examinarmos o que esses três pensadores têm em comum, eles estão completamente errados. É o que pude analisar, até agora.
3.1) De Hegel, temos o fato de que o Estado é o ápice de todas as realizações humanas e que ele deve ser tomado como se fosse coisa. Eis aí a Teoria Geral do Estado - se o Estado for tomado como se fosse religião, pode-se concluir que tudo está no Estado e nada pode ser afastado dele.
3.2) Do positivismo de Comte, temos a ciência política, em que o fenômeno do poder é analisado como se fosse coisa. E sobre essa coisa não podemos fazer juízos de valor, de tal modo a que o processo de se tomar o país como se fosse religião leve as coisas de modo a que o Estado seja o ápice de todas as realizações humanas - e é assim que se constrói o caminho de modo a estarmos fora da conformidade com o Todo que vem de Deus.
3.3) Já a teoria do governo constitucional anglo-saxão tende a tomar esta realidade estatuída pela experiência inglesa e norte-americana como se fosse coisa perfeita e acabada, virtuosa por si mesma, a tal ponto de lamentarem a experiência dos outros povos que não nasceram no contexto anglo-saxão. Além de isso ser tomado como se fosse coisa, tendem a tomar esta experiência como se fosse religião, ignorando as experiências de outros lugares, de modo a que tomemos o lugar como um lar e assim estarmos em conformidade com o Todo que vem de Deus. De certo modo, lembra muito a teoria do Estado alemã, pois nasceu de uma cultura em que o Rei rompeu com Roma.
4) A concepção de país tomado como se fosse um lar e a noção de que a teoria deve se radicar no próprio país, de Ortega y Gasset, são os caminhos pelos quais podemos desenvolver uma teoria geral pela qual podemos aprender e coletar o maior número possível de experiências, de modo a que o exemplo de um possa ser bem aplicado, se ele for conforme o Todo que vem de Deus, ou rejeitado, se essa experiência nos afastar de Deus, observadas as circunstâncias particulares pelas quais tomamos o país como um lar. E para se tomar o país como um lar, devemos nos universalizar primeiro, de modo a servir a Cristo nestas terras e em terras distantes.
5) Sem se tomar o país como um lar, não é possível avaliar os problemas da alma de um povo e suas dificuldades, neste processo difícil de se tomar o território que ocupa como um lar, a ponto de não cair no pecado de se tomar o país como se fosse religião. Pois não é possível fazer uma sociologia ou uma antropologia decente se a noção de país tomado como se fosse um lar não for levada a cabo, em seu extremo - e essa experiência só pode ser sentida e vivida como se fosse um cidadão daquela terra.
6) Se essa ciência visa a aperfeiçoar a cidadania da pátria, então é preciso revestir-se com as circunstâncias daquela terra, pois a visão do insider é muito mais precisa do que a outsider, que toma o fato social como se fosse coisa. Pois só quem sofre, quem vive, conhece a origem, a causa desses problemas, já que é dever de quem toma o país como um lar conhecer a origem da pátria e para onde ela deve ir, de modo a que o país se conserve no rumo de ser tomado como se fosse um lar, em Jesus Cristo.
7) Como cientista social, devemos sentir a dor do outro, de modo a compreendê-la em toda a sua inteireza. Se não houver essa aproximação, a ponto de amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, não se pode chegar a verdade, que decorre de Deus. Sem cruz, não há sociologia ou antropologia, muito menos psicologia.
Tiago Barreira:
1) Toda ciência social tem esse problema de isolar um fato de qualquer sentido moral, por conta da neutralidade axiológica. Tomar o fato social como coisa dá sempre esse problema.
José Octavio Dettmann:
1) Quando se troca a concepção de país tomado como se fosse religião pela concepção de país tomado como se um lar, o direito perde sua faceta materialista e territorialista e passa a se preocupar mais é com a lealdade e com a integridade das pessoas, de modo a que possam a tomar o país como se fosse um lar, assumindo caráter universalista. O direito, enfim, passa a ser mais natural, pois se preocupa com os problemas da alma, das coisas que se dão na carne. O cerne do direito deixa de ser a coerção e passa a ser a adesão, de modo a se estar em conformidade com o Todo que se dá em Deus.
2) Se olharmos bem, este é o verdadeiro caráter constitucional das coisas, pois Deus ordenou e constituiu as coisas de modo a que ficassem em conformidade com o Todo que decorre D'Ele, já que as coisas foram criadas por inspiração e amor. Enfim, o foco do Direito volta a ser preocupação da aliança do altar com o trono, de modo a que a lei de Deus não seja traída.
3) Isso vai levar cabalmente ao retorno do jusnaturalismo - mas um jusnaturalismo mais fundado ao concreto, voltado para a realidade, e não aquele jusnaturalismo do século XVIII todo abstrato, do qual os liberais são herdeiros.
Notas Finais:
1) Para o debate, a fonte que pode ser tomada como referência é o Curso de Teoria Geral do Estado, do Professor Olavo de Carvalho
2) Para o artigo, as fontes são o Belonging in the Two Berlins, de John Borneman; Do Pensamento Selvagem, de Claude Lévi-Strauss; A conferência Da nacionalidade como fundamento do direito das gentes, de Pasquale Mancini, constante nas preleções dele de Direito Internacional; As Regras do Método Sociológico, de Émile Dürkheim, além do artigo Para onde vão as nações e o nacionalismo, de Katherine Verdery, da coletânea Um Mapa da Questão Nacional, publicada pela Contraponto, em 2000.
Debate que decorreu, após a publicação deste artigo:
Tiago Barreira:
1) O único a acertar nas ciências sociais, ao longo do século XX, foi Voegelin. A história da humanidade está inerentemente ligada a busca da ordem e a de um destino cósmico para o homem em geral, de modo a estar em conformidade com o Todo que vem de Deus. Isso foi o que ele apontou, na sua História das Idéias Políticas.
2) Isso é o mesmo que afirmar que a história humana é a história da queda e ressurreição da humanidade, sob a intervenção de Cristo. Ele pode não ter chegado ao cerne da questão, já que ele era agnóstico - no entanto, do ponto de vista da ciência em geral, trata-se de uma dedução lógica do pressuposto do plano divino da salvação, com o qual se harmoniza perfeitamente este entendimento.
3) Enfim, do mesmo modo que a escola austríaca se harmoniza com a doutrina social da Igreja, o pensamento de Voegelin se harmoniza com a doutrina histórica católica.
José Octavio Dettmann:
1) É por via deste fundamento que se pode tomar o país como um lar e não como se fosse religião, pois a concepção de se tomar o país como se fosse religião leva a uma falsa fé, que sempre entrará em metástase.
2) Autores do século XX e mesmo do Século XIX estão todos errados, com base nesta concepção.
2.1) Pasquale Mancini está errado, ao tomar a nação como um dado irredutível, a mônada racional de toda a ciência - quando isto é tomado como se fosse coisa, a nação passa a ser tomada como se fosse uma segunda religião;
2.2) Lévi-Strauss está errado, quando diz que a história não está atrelada ao agente humano e nem a algum objeto em particular, além de estar totalmente errado quando diz que a história se reduz a um mero catálogo de coisas e que pode nos levar a qualquer lugar, uma vez você podendo justificar esse fundamento, ao tomar o fato social como se fosse coisa, como se isso tivesse sua própria lógica, sua própria verdade;
2.3) Dürkheim está igualmente errado, ao dar causa ao fato de que devemos tomar os fatos sociais como se coisa e que essas têm sua própria verdade, a ponto de que não podemos emitir nenhum juízo de valor sobre eles.
2.4) Enfim, ao examinarmos o que esses três pensadores têm em comum, eles estão completamente errados. É o que pude analisar, até agora.
3.1) De Hegel, temos o fato de que o Estado é o ápice de todas as realizações humanas e que ele deve ser tomado como se fosse coisa. Eis aí a Teoria Geral do Estado - se o Estado for tomado como se fosse religião, pode-se concluir que tudo está no Estado e nada pode ser afastado dele.
3.2) Do positivismo de Comte, temos a ciência política, em que o fenômeno do poder é analisado como se fosse coisa. E sobre essa coisa não podemos fazer juízos de valor, de tal modo a que o processo de se tomar o país como se fosse religião leve as coisas de modo a que o Estado seja o ápice de todas as realizações humanas - e é assim que se constrói o caminho de modo a estarmos fora da conformidade com o Todo que vem de Deus.
3.3) Já a teoria do governo constitucional anglo-saxão tende a tomar esta realidade estatuída pela experiência inglesa e norte-americana como se fosse coisa perfeita e acabada, virtuosa por si mesma, a tal ponto de lamentarem a experiência dos outros povos que não nasceram no contexto anglo-saxão. Além de isso ser tomado como se fosse coisa, tendem a tomar esta experiência como se fosse religião, ignorando as experiências de outros lugares, de modo a que tomemos o lugar como um lar e assim estarmos em conformidade com o Todo que vem de Deus. De certo modo, lembra muito a teoria do Estado alemã, pois nasceu de uma cultura em que o Rei rompeu com Roma.
4) A concepção de país tomado como se fosse um lar e a noção de que a teoria deve se radicar no próprio país, de Ortega y Gasset, são os caminhos pelos quais podemos desenvolver uma teoria geral pela qual podemos aprender e coletar o maior número possível de experiências, de modo a que o exemplo de um possa ser bem aplicado, se ele for conforme o Todo que vem de Deus, ou rejeitado, se essa experiência nos afastar de Deus, observadas as circunstâncias particulares pelas quais tomamos o país como um lar. E para se tomar o país como um lar, devemos nos universalizar primeiro, de modo a servir a Cristo nestas terras e em terras distantes.
5) Sem se tomar o país como um lar, não é possível avaliar os problemas da alma de um povo e suas dificuldades, neste processo difícil de se tomar o território que ocupa como um lar, a ponto de não cair no pecado de se tomar o país como se fosse religião. Pois não é possível fazer uma sociologia ou uma antropologia decente se a noção de país tomado como se fosse um lar não for levada a cabo, em seu extremo - e essa experiência só pode ser sentida e vivida como se fosse um cidadão daquela terra.
6) Se essa ciência visa a aperfeiçoar a cidadania da pátria, então é preciso revestir-se com as circunstâncias daquela terra, pois a visão do insider é muito mais precisa do que a outsider, que toma o fato social como se fosse coisa. Pois só quem sofre, quem vive, conhece a origem, a causa desses problemas, já que é dever de quem toma o país como um lar conhecer a origem da pátria e para onde ela deve ir, de modo a que o país se conserve no rumo de ser tomado como se fosse um lar, em Jesus Cristo.
7) Como cientista social, devemos sentir a dor do outro, de modo a compreendê-la em toda a sua inteireza. Se não houver essa aproximação, a ponto de amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, não se pode chegar a verdade, que decorre de Deus. Sem cruz, não há sociologia ou antropologia, muito menos psicologia.
Tiago Barreira:
1) Toda ciência social tem esse problema de isolar um fato de qualquer sentido moral, por conta da neutralidade axiológica. Tomar o fato social como coisa dá sempre esse problema.
José Octavio Dettmann:
1) Quando se troca a concepção de país tomado como se fosse religião pela concepção de país tomado como se um lar, o direito perde sua faceta materialista e territorialista e passa a se preocupar mais é com a lealdade e com a integridade das pessoas, de modo a que possam a tomar o país como se fosse um lar, assumindo caráter universalista. O direito, enfim, passa a ser mais natural, pois se preocupa com os problemas da alma, das coisas que se dão na carne. O cerne do direito deixa de ser a coerção e passa a ser a adesão, de modo a se estar em conformidade com o Todo que se dá em Deus.
2) Se olharmos bem, este é o verdadeiro caráter constitucional das coisas, pois Deus ordenou e constituiu as coisas de modo a que ficassem em conformidade com o Todo que decorre D'Ele, já que as coisas foram criadas por inspiração e amor. Enfim, o foco do Direito volta a ser preocupação da aliança do altar com o trono, de modo a que a lei de Deus não seja traída.
3) Isso vai levar cabalmente ao retorno do jusnaturalismo - mas um jusnaturalismo mais fundado ao concreto, voltado para a realidade, e não aquele jusnaturalismo do século XVIII todo abstrato, do qual os liberais são herdeiros.
Notas Finais:
1) Para o debate, a fonte que pode ser tomada como referência é o Curso de Teoria Geral do Estado, do Professor Olavo de Carvalho
2) Para o artigo, as fontes são o Belonging in the Two Berlins, de John Borneman; Do Pensamento Selvagem, de Claude Lévi-Strauss; A conferência Da nacionalidade como fundamento do direito das gentes, de Pasquale Mancini, constante nas preleções dele de Direito Internacional; As Regras do Método Sociológico, de Émile Dürkheim, além do artigo Para onde vão as nações e o nacionalismo, de Katherine Verdery, da coletânea Um Mapa da Questão Nacional, publicada pela Contraponto, em 2000.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2015 (data da postagem original).
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