Pesquisar este blog

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Como transformar o pagamento de contas em fonte de renda e crédito barato

 Pagar contas sempre foi visto como uma obrigação inevitável da vida financeira. No entanto, com as ferramentas digitais disponíveis hoje, é possível transformar essa rotina em um verdadeiro investimento. O que antes era apenas despesa, agora pode se converter em cashback, milhas aéreas, dinheiro extra e até em um histórico de crédito fortalecido.

1. Pagamento de boletos com cartão de crédito

Tradicionalmente, boletos de serviços como água, luz, aluguel ou até compras online não geravam nenhum benefício. Mas com aplicativos como PicPay, Mercado Pago, RecargaPay e outros, já é possível pagar boletos utilizando o cartão de crédito. O que acontece nesse processo?

  • O valor do boleto é lançado como compra no cartão.

  • O cartão passa a pontuar normalmente.

  • Esses pontos podem ser transferidos para programas de milhas e, em promoções, até dobrados.

Assim, uma conta do dia a dia pode se transformar em viagens ou dinheiro vivo, caso as milhas sejam vendidas em plataformas especializadas.

2. A força das milhas como ativo financeiro

Milhas não são apenas para viajar. Elas são uma forma de ativo digital, que pode ser convertido em dinheiro através de empresas como MaxMilhas e HotMilhas.

  • Exemplo: R$ 2.000 pagos em boletos no cartão = pontos acumulados.

  • Em campanhas de transferência bonificada, esses pontos podem render o dobro em milhas.

  • As milhas, ao serem vendidas, podem retornar parte significativa do valor gasto, funcionando como um cashback oculto.

3. Score de crédito: um ganho colateral

Outro benefício muitas vezes ignorado é o impacto no score de crédito. Cada boleto pago no CPF do titular gera histórico positivo. E pagar em dia, de forma recorrente, reforça para bureaus como Serasa e Boa Vista a imagem de um consumidor confiável.

Um score elevado abre portas para:

  • cartões de crédito premium, com mais limite e mais benefícios;

  • juros menores em financiamentos e empréstimos;

  • maior facilidade de aprovação em crédito imobiliário ou automotivo.

Ou seja, além do retorno imediato em pontos e milhas, o consumidor constrói uma reputação financeira que lhe garantirá crédito mais barato no futuro.

4. Cashback direto no Serasa

O próprio aplicativo Serasa já oferece cashback apenas pelo pagamento das contas em dia. Assim, além de proteger sua reputação financeira e evitar dívidas, você ainda recebe uma recompensa financeira imediata.

Isso significa que:

  • pagar a conta dentro do prazo → aumenta o score;

  • pagar pelo app → gera cashback;

  • pagar via cartão (em apps parceiros) → ainda acumula pontos e milhas.

5. O círculo virtuoso do pagamento inteligente

Quando combinamos todas essas estratégias, criamos um ciclo extremamente vantajoso:

  1. Gerar boleto de uma compra (ex.: saldo da Steam, aluguel, conta de consumo).

  2. Pagar esse boleto via cartão em aplicativos parceiros.

  3. Acumular pontos no cartão.

  4. Transferir pontos para programas de milhas em promoções bonificadas.

  5. Vender milhas ou usá-las em passagens aéreas.

  6. Fortalecer o score de crédito com pagamentos em dia.

  7. Receber cashback direto do Serasa em algumas operações.

  8. Usar o score elevado para acessar melhores cartões e multiplicar os benefícios.

Conclusão

O brasileiro sempre foi criativo na gestão do dinheiro, e as ferramentas digitais ampliaram ainda mais esse horizonte. Hoje, pagar contas deixou de ser apenas uma obrigação e se tornou uma estratégia de geração de renda, economia e fortalecimento de crédito.

Com disciplina, cálculo e atenção às promoções de pontos e milhas, qualquer pessoa pode transformar boletos em viagens, cashback e crédito mais barato. É o tipo de inteligência financeira que, quando bem aplicada, muda a relação do consumidor com o próprio dinheiro. 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

O Brasil entre 2022 e 2025 - história do tempo presente

No final do mandato do presidente Jair Bolsonaro, o país viveu um período de grande tensão política. Em Brasília, diante de prédios estratégicos e quartéis, multidões se reuniam pedindo providências às Forças Armadas, preocupadas com o resultado das eleições presidenciais. A população demonstrava receio de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pudesse assumir o governo sem contestação, motivando protestos marcados pela presença de cidadãos reivindicando atuação militar para garantir a ordem.

O período imediatamente seguinte foi marcado por episódios de violência política. Em 8 de janeiro de 2023, manifestações extremas e ocupações de espaços institucionais resultaram em confrontos com forças de segurança, gerando repercussão nacional e internacional. A repressão desses eventos trouxe mudanças significativas na relação entre o poder civil e os militares, redefinindo o papel das Forças Armadas na política brasileira.

Nos anos seguintes, os desfiles militares realizados tradicionalmente em 7 de setembro, dia da Independência, passaram por um esvaziamento perceptível, refletindo o desgaste da imagem institucional e o receio de vinculação política explícita com o governo federal.

Ao mesmo tempo, o país assistiu a manifestações de cunho simbólico envolvendo bandeiras estrangeiras. Em grandes avenidas como a Paulista, cidadãos exibiam bandeiras de países aliados, como Estados Unidos e Israel, em atos que se declaravam em defesa da democracia e da liberdade. Essas manifestações representavam um diálogo implícito com a comunidade internacional, afirmando alianças ideológicas e culturais em um contexto de polarização interna.

Assim, a história recente do Brasil revela um tempo marcado por tensão política, manifestações populares intensas e redefinição de símbolos institucionais. O país se encontra diante de uma sociedade que combina mobilização civil, relações militares delicadas e presença simbólica de aliados externos, compondo um quadro complexo que continua a se desdobrar.

Liberdade, Obediência e Discernimento na Vida Cristã

 A vida cristã exige um equilíbrio delicado entre obediência, liberdade e responsabilidade pessoal. Obedecer aos pais, honrar Deus e manter-se fiel à própria vocação são dimensões que se entrelaçam, formando uma base sólida para o crescimento espiritual e moral.

Obediência filial e santificação

Mesmo que os pais não estejam armados ou não detenham poder direto, eles possuem autoridade moral legítima sobre os filhos nos méritos de Cristo. A obediência não depende da perfeição ou discernimento absoluto dos pais, mas do reconhecimento da ordem divina estabelecida por Deus. Cumprir suas orientações, mesmo quando aparentemente desconectadas da realidade, transforma-se em ato de santificação prática: cada gesto de respeito e paciência diante dos pais é uma oportunidade de agradar a Deus e fortalecer a virtude cristã. Essa obediência, porém, nunca deve violar a moral universal; agir contra o bem do próximo seria uma contradição da própria lei divina.

Liberdade pessoal como instrumento de vocação

A verdadeira liberdade cristã não consiste em agir sem limites, mas em agir conforme a própria consciência formada pelo amor a Deus e ao próximo. Orar por liberdade é pedir que se possa viver sem ser coagido ou distraído de sua vocação, permitindo que o trabalho intelectual e espiritual floresça. Relações pessoais e compromissos não podem se tornar obstáculos a esse propósito; devem, ao contrário, reforçar a capacidade de cumprir a missão de cada um.

Discernimento nos relacionamentos

O afastamento de relações que exigem atenção excessiva ou que conflitam com valores fundamentais demonstra maturidade e prudência. É necessário avaliar não apenas o afeto, mas também a compatibilidade ética, intelectual e espiritual. Um relacionamento que desvia a pessoa de sua vocação ou que se mostra contrário a princípios essenciais, como a fidelidade a Deus e à própria consciência moral, precisa ser repensado ou encerrado.

Integração de obediência, liberdade e responsabilidade

Esses elementos — obediência filial, liberdade pessoal e discernimento nos relacionamentos — não são antagônicos, mas complementares. Obedecer aos pais ensina humildade e respeito; buscar liberdade permite agir sem coerção, de acordo com a vocação; discernir nos relacionamentos garante que a vida afetiva e social não prejudique a vida espiritual ou intelectual. Juntos, esses princípios formam uma visão de vida coerente, onde cada ação é guiada pelo amor a Deus, pelo respeito ao próximo e pela fidelidade à própria vocação.

Em última análise, a vida cristã madura é aquela que combina respeito, liberdade e responsabilidade, permitindo que o indivíduo cresça espiritualmente enquanto realiza plenamente sua missão, sem conflitos que comprometam sua integridade ou o bem de terceiros.

O caráter medido pelas obras: amizade, responsabilidade e fundamentação cristã

O verdadeiro caráter de um homem não se revela apenas em palavras ou intenções abstratas, mas, acima de tudo, através de suas ações concretas. A ética cristã e a filosofia prática, desde Aristóteles até Santo Tomás de Aquino, enfatizam que o ser humano se manifesta plenamente quando cumpre suas funções morais e sociais: provê para sua família, serve à comunidade e honra a Deus. É nesse contexto que a avaliação do caráter se torna indispensável.

A ética do feito

Em uma sociedade marcada por relações interpessoais complexas, é imperativo considerar o que cada indivíduo efetivamente realiza. Boas intenções, sem concretização, não constituem caráter sólido. Como ensina a tradição tomista, a virtude se manifesta na ação: o homem virtuoso não apenas pensa o bem, mas o realiza em atos que beneficiam o próximo. Assim, ao examinarmos alguém, buscamos evidências concretas de sua contribuição para a vida social e espiritual, e não meras palavras vazias.

A responsabilidade social como critério de amizade

A amizade, segundo este ponto de vista, não é um laço superficial, mas uma relação fundamentada em confiança e reciprocidade moral. Antes de se estabelecer uma amizade verdadeira, é prudente observar a capacidade do outro de cumprir seu papel social. Um indivíduo que não provê para sua família ou que falha em honrar compromissos éticos básicos demonstra incapacidade de exercer responsabilidade, e portanto, não está apto a ser amigo de confiança.

Esta perspectiva reforça que a vida social possui um caráter funcional: cada pessoa deve contribuir para o bem comum. A amizade, longe de ser um mero prazer ou entretenimento, é uma extensão dessa responsabilidade prática e ética.

Afinidade Moral e Fundamentação Cristã

Além da ação concreta, a amizade verdadeira exige afinidade moral. A confiança recíproca só é possível entre aqueles que compartilham valores profundos e rejeitam conjuntamente aquilo que se opõe à virtude. Para o cristão, o fundamento desses valores é Cristo. Amizades fundamentadas nessa comunhão moral e espiritual são resistentes às vicissitudes do mundo, oferecendo apoio mútuo em um vale de lágrimas que caracteriza a existência humana.

Conclusão

Portanto, o caráter de um homem deve ser medido pelas obras que realiza, e a amizade, concedida com discernimento, depende da demonstração de responsabilidade social e de afinidade moral fundamentada em Cristo. O homem virtuoso é aquele que não apenas age bem, mas também inspira confiança e serve de exemplo, fortalecendo laços duradouros e contribuindo para o bem comum.

Referências Bibliográficas

  • Aristóteles. Ética a Nicômaco. Tradução de Mário da Gama Kury. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

  • Aquino, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 1991.

  • Agostinho, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 2003.

  • Santo Tomás de Aquino. Comentário à Ética de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2000.

Estado, Governo e Confiança: a monarquia como ordem natural contra o aventureirismo republicano

O Estado, por definição, é o braço armado institucional de um povo. Seu papel não é meramente burocrático ou administrativo, mas a defesa da sociedade contra inimigos internos e externos. Por lidar com a força, sua legitimidade não pode repousar em cálculos frios, mas em um vínculo fundamental de confiança. É por isso que o Chefe de Estado deve ser concebido como um pater familias, alguém que trata seus súditos como membros de sua própria casa, e como pater patriae, guardião da pátria como um todo.

Essa autoridade paterna não nasce da vontade humana, mas de Deus. Cristo mesmo, em Ourique, constituiu D. Afonso Henriques como o primeiro Rei de Portugal, inaugurando uma tradição em que o trono se ligava à cruz. Por isso, odiar o Estado é impossível para quem reconhece essa origem: fazê-lo seria como odiar as próprias armas, que em si não são más, mas instrumentos. O mal não está no Estado nem nas armas, mas nos tiranos que abusam deles, amando mais a si mesmos do que a Deus, conservando apenas o que lhes convém, ainda que dissociado da verdade.

O problema do aventureirismo republicano

A experiência republicana no Brasil mostra que, entregando o Estado a presidentes transitórios, produz-se uma sucessão de aventureiros. A cada quatro anos, a nação entrega seu braço armado a alguém que, em muitos casos, não tem raízes, nem compromisso histórico, nem responsabilidade dinástica. Daí os ciclos de crises, golpes e instabilidade. O presidente personifica o Estado como se fosse propriedade pessoal ou de partido, transformando-o em instrumento de facção.

Na monarquia, ao contrário, a autoridade do rei é hereditária e contínua, o que assegura estabilidade e um compromisso que vai além da conveniência imediata. O rei não pode “abandonar o barco” sem manchar sua dinastia; sua responsabilidade é histórica, e não eleitoral.

Estado e governo: a separação necessária

Outro problema criado pela República foi a confusão entre Estado e governo.

  • O Estado, enquanto braço armado, é pessoal: requer confiança, lealdade, fidelidade. Sua função é proteger, não oprimir.

  • O governo, enquanto administração da coisa pública, deve ser impessoal, servindo ao bem comum de modo equânime.

A monarquia sempre compreendeu essa separação: o rei encarna o Estado como autoridade paterna, enquanto os ministros e administradores exercem o governo como servidores do bem comum. Assim, aquilo que deve ser pessoal (o vínculo de confiança) é pessoal; e aquilo que deve ser impessoal (a administração) é impessoal.

Na República, essa ordem se inverteu. O governo tornou-se pessoal e faccioso, usado para distribuir favores, criar privilégios e sustentar clientelismos. Já o Estado, que deveria ser confiável, converteu-se em máquina impessoal, distante e burocrática, incapaz de gerar fidelidade genuína. O resultado é a degeneração simultânea da autoridade e da justiça.

Conclusão

Não é o Estado o inimigo. O inimigo é a tirania que o corrompe, quando o governante coloca a si mesmo acima da ordem divina e da sociedade. A solução não está em enfraquecer o Estado — como querem os esquerdistas desarmamentistas — nem em destruí-lo, como pretendem os revolucionários. A solução está em reordená-lo a Cristo, que em Ourique nos mostrou que a verdadeira autoridade é serviço paterno e responsabilidade diante de Deus.

A monarquia, ao distinguir o Estado do governo e fundar sua legitimidade na confiança e na tradição, oferece um caminho mais natural e estável para que o braço armado da nação seja exercido em justiça.

Bibliografia

  • Santo Agostinho. A Cidade de Deus. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2012.

  • São Tomás de Aquino. Suma Teológica, I-II, q.90-97 (tratado das leis). São Paulo: Loyola, 2001.

  • Leão XIII. Encíclica Diuturnum Illud (1881) – sobre a origem do poder civil.

  • Leão XIII. Encíclica Rerum Novarum (1891) – sobre o capital como fruto do trabalho acumulado.

  • Herculano, Alexandre. História de Portugal: Desde o Começo da Monarquia até ao Fim do Reinado de Afonso III. Lisboa: Bertrand, 1846-1853.

  • Mattoso, José. D. Afonso Henriques. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006.

  • Saraiva, António José. História Concisa de Portugal. Lisboa: Publicações Europa-América, 1978.

  • Schmitt, Carl. Teologia Política. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

Carlos Lacerda e Enéas Carneiro: Primeiros-Ministros em Potência do Brasil

A história política brasileira é pródiga em figuras carismáticas e inteligentes, mas raramente estruturada para aproveitar plenamente seus talentos. Carlos Lacerda e Enéas Carneiro são exemplos paradigmáticos: dois líderes com visão estratégica, coragem política e rigor intelectual que jamais encontraram na República espaço adequado para realizar seu potencial.

O contexto republicano e suas limitações

O presidencialismo brasileiro, adotado após 1889, concentra poder no Executivo, mas impõe um constante jogo de negociação com o Legislativo. Tal estrutura privilegia o curto prazo, clientelismo e marketing eleitoral, deixando pouco espaço para a execução de políticas estratégicas ou para a valorização de líderes excepcionais. Lacerda e Enéas, com sua originalidade e disciplina intelectual, encontraram nessa realidade obstáculos que limitaram sua efetiva contribuição ao país.

Carlos Lacerda: mobilização e estratégia política

Lacerda, jornalista e governador da Guanabara, destacou-se por clareza de raciocínio, persuasão e capacidade de mobilizar a opinião pública. Sua visão estratégica poderia, num sistema disciplinado como o imperial ou parlamentarista, ter se traduzido em programas de modernização administrativa, desenvolvimento regional e fortalecimento institucional, aproveitando plenamente suas habilidades de liderança.

Enéas Carneiro: visão geopolítica e planejamento

Enéas Carneiro, médico e político, possuía pensamento claro, foco em defesa nacional e compreensão geopolítica rara. Sua comunicação direta, frequentemente caricaturada, refletia compromisso sério com a segurança e a autonomia do país. Num contexto de governo que valorizasse planejamento estratégico e execução de longo prazo, suas propostas poderiam ter sido implementadas com efetividade, beneficiando o Brasil com políticas coerentes e duradouras.

Paralelo internacional: líderes estratégicos

Comparando com líderes históricos do mundo, Lacerda e Enéas poderiam ser vistos como “primeiros-ministros em potência”:

  • Otto von Bismarck (Alemanha, século XIX): mestre em negociação política e planejamento estratégico, uniu a Alemanha com visão de Estado e execução rigorosa. Lacerda, com sua oratória e capacidade de mobilização, poderia ter desempenhado papel similar no fortalecimento institucional do Brasil.

  • Winston Churchill (Reino Unido, século XX): conhecido por sua clareza de propósito, coragem política e visão de longo prazo em tempos de crise. Enéas, com seu foco estratégico e disciplina intelectual, lembraria a figura de Churchill na condução de políticas de defesa e geopolítica.

  • Margaret Thatcher (Reino Unido, final do século XX): implementou reformas profundas com firmeza e visão econômica, mostrando que líderes determinados podem transformar um país mesmo frente à oposição política. Lacerda e Enéas, em sistemas que valorizassem execução de políticas, teriam capacidades semelhantes de impacto.

Conclusão: inteligência nacional subutilizada

A análise das trajetórias de Lacerda e Enéas revela não apenas indivíduos excepcionais, mas também as limitações estruturais da República brasileira. A política de curto prazo e o clientelismo impediram que talentos estratégicos e visão de Estado fossem plenamente aproveitados.

Se o Brasil tivesse oferecido a Lacerda e Enéas um contexto institucional mais disciplinado, inspirado em modelos imperialistas ou parlamentaristas, talvez o país tivesse experimentado décadas de liderança coerente, políticas de longo prazo e fortalecimento institucional.

O estudo dessas figuras é, portanto, mais do que um exercício histórico: é um alerta sobre a necessidade de valorizar inteligência estratégica e visão de Estado, elementos essenciais para que o Brasil alcance seu pleno potencial como nação.

Referências Bibliográficas

  • CARLOS LACERDA. Carlos Lacerda: A Vida de um Lutador. Nova Fronteira, 2000.

  • ENÉAS CARNEIRO. A História e as Ideias de Enéas Carneiro. Editora Nova Fronteira, 2007.

  • OTTO VON BISMARCK. Otto von Bismarck: A Biografia. Editora Record, 2000.

  • WINSTON CHURCHILL. Winston Churchill: A Biografia. Editora Companhia das Letras, 2002.

  • MARGARET THATCHER. Margaret Thatcher: A Biografia. Editora Record, 2005.

A CRCC como braço operacional da Nova Rota da Seda

Introdução

A China Railway Construction Co., Ltd. (CRCC) é uma das maiores empresas de engenharia do mundo e representa, ao lado de outras estatais chinesas, um pilar fundamental da estratégia global da China conhecida como Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative – BRI). Enquanto bancos e fundos chineses garantem o financiamento, a CRCC é chamada a executar a dimensão material da estratégia: construir ferrovias, rodovias, portos e metrôs que conectam continentes inteiros.

No Brasil, ainda que o país não tenha aderido oficialmente à iniciativa, a presença da CRCC indica o interesse chinês em transformar o território nacional em ponto estratégico da integração logística global.

1. Origens e consolidação da CRCC

A CRCC nasceu nos anos 1940 como braço de engenharia do Exército Popular de Libertação, responsável por erguer as primeiras linhas férreas estratégicas da República Popular da China.

Com o avanço das reformas econômicas de Deng Xiaoping, a empresa ganhou autonomia e, em 2008, tornou-se uma corporação de capital aberto, listada em Xangai e Hong Kong.

Hoje, atua em mais de 90 países e regiões, sendo reconhecida pelo ENR (Engineering News-Record) como uma das líderes mundiais em obras de infraestrutura pesada.

2. A Nova Rota da Seda: uma estratégia global

Lançada em 2013, a BRI é mais que um projeto econômico: é um redesenho geopolítico que busca reposicionar a China como centro das rotas comerciais globais.

O plano se desdobra em corredores econômicos e logísticos que atravessam Ásia, África, Europa e chegam também à América Latina.

  • O cérebro financeiro: instituições como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e o China Development Bank.

  • O braço construtor: empresas como a CRCC, a CREC e a CCCC.

Neste arranjo, a CRCC é um dos instrumentos de concretização física da estratégia: onde a BRI se instala, sua presença é quase certa.

3. A CRCC como braço operacional da BRI

A atuação internacional da CRCC se alinha diretamente às prioridades da BRI:

  • Capilaridade: presença em projetos que vão de metrôs em Meca e Riad, a ferrovias em Angola, Etiópia e Nigéria.

  • Integração logística: participação em corredores econômicos que ligam a China ao Paquistão, à África Oriental e, potencialmente, à América Latina.

  • Soft power em concreto e aço: cada contrato é mais que uma obra; é um instrumento de influência chinesa sobre mercados e governos.

Em suma, a CRCC não apenas constrói infraestrutura, mas pavimenta a inserção global da China.

4. O Brasil no horizonte da CRCC

No Brasil, a CRCC tem atuado de forma estratégica:

  • Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL): interesse em concessões.

  • Ferrogrão (MT–PA): projeto essencial para escoamento da soja e do milho pelo Arco Norte.

  • Alta Velocidade (TAV Rio–SP–Campinas): envolvimento nas consultas técnicas do projeto, que acabou suspenso.

  • Parcerias em rodovias e portos: presença em leilões e estudos de viabilidade.

Ainda que o Brasil não seja membro formal da BRI, a atuação da CRCC mostra que a China enxerga o país como hub logístico no Atlântico Sul, crucial para conectar a produção agropecuária e mineral ao mercado chinês.

Conclusão

A CRCC é mais do que uma empreiteira chinesa: é um braço operacional da Nova Rota da Seda, responsável por transformar financiamentos em obras concretas, e planos geopolíticos em corredores logísticos.

No Brasil, sua presença indica que, mesmo sem adesão formal à BRI, o país já está sendo integrado à estratégia chinesa. Ferrovias, portos e rodovias tornam-se peças de um tabuleiro maior, onde a China busca consolidar seu papel como centro da economia mundial.

Assim, compreender a atuação da CRCC no Brasil é compreender como a infraestrutura local está sendo costurada ao projeto global chinês, num movimento que combina economia, geopolítica e poder.

Bibliografia

Referências internacionais

  • ALDEN, Chris; ALVES, Ana Cristina. China and Africa’s Development: Partnership or Rivalry? Zed Books, 2017.

  • CALLAHAN, William A. China Dreams: 20 Visions of the Future. Oxford University Press, 2013.

  • FALLON, Theresa. "The New Silk Road: Xi Jinping's Grand Strategy for Eurasia." American Foreign Policy Interests, v. 37, n. 3, 2015.

  • FERCHEN, Matt. "China, Latin America, and the Limits of Trans-Pacific Integration." Carnegie-Tsinghua Center for Global Policy, 2018.

  • HSU, Sara. China’s One Belt One Road Initiative. Routledge, 2017.

  • LE CORRE, Philippe; SEPULCHRE, Alain. China’s Offensive in Europe. Brookings Institution Press, 2016.

  • LIU, Wei. The Belt and Road Initiative: A Chinese World Order. China International Press, 2019.

  • NAKANO, Jane. "China’s Belt and Road in Latin America: Infrastructure, Energy, and Influence." Center for Strategic and International Studies (CSIS), 2020.

  • ROLLAND, Nadège. China’s Eurasian Century? Political and Strategic Implications of the Belt and Road Initiative. National Bureau of Asian Research, 2017.

  • WANG, Yiwei. The Belt and Road Initiative: What Will China Offer the World in Its Rise. New World Press, 2016.

Referências em português

  • ALVES, Ana Cristina. A Parceria Estratégica Brasil-China: desafios e perspectivas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013.

  • CARDOSO, Danielly Ramos Becard. A política externa da China e a América Latina: o Brasil e o México na estratégia chinesa. Brasília: FUNAG, 2010.

  • CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China). Belt and Road Initiative e o Brasil: oportunidades e desafios. Relatório Especial, 2019.

  • COSTA, Samir; IGLESIAS, Roberto (orgs.). China e América Latina: a construção de uma nova relação. Rio de Janeiro: IPEA, 2019.

  • FGV Energia. Infraestrutura e investimentos chineses no Brasil: perspectivas para a próxima década. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2020.

  • IPEA. Presença chinesa na infraestrutura da América Latina e Caribe. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Texto para Discussão nº 2524, 2020.

  • LEÃO, Rodrigo P. O papel da China na infraestrutura latino-americana: impactos para o Brasil. Brasília: IPEA, 2021.

  • PECEQUILO, Cristina Soreanu. China e Brasil: cooperação Sul-Sul e os novos rumos da ordem internacional. São Paulo: Editora Unesp, 2020.

  • SEVA, José Luís Fiori (org.). O poder global e a nova geopolítica das nações. São Paulo: Boitempo, 2007.

  • VEIGA, Pedro da Motta; RIOS, Sandra Polónia. O Brasil, a China e a América Latina: desafios de uma integração assimétrica. Rio de Janeiro: CINDES, 2015.