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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A verdade sobre o modelo de concorrência perfeita

1) O modelo de concorrência perfeita é só um modelo - um esquema abstrato feito ao se tomar um determinado fato como se fosse coisa. Tal descrição se funda num reducionismo a termos mais simples, sem imaginar a guerra cultural que ocorre lá fora.

2) A realidade é que a concorrência é imperfeita, pois os homens são imperfeitos - há empresários criminosos e empresários honestos. Uns buscarão o monopólio através de práticas criminosas - os honestos, eventualmente, terão o monopólio, seja porque no momento não há concorrente, ou seja porque ele é tão confiável, tão prestativo e tão honesto que, para se entrar nesse mercado, o concorrente terá que fazer um serviço melhor do que ele ou aproveitar as eventuais falhas dele.

3) O modelo de concorrência perfeito atende a uma realidade fundada numa economia massificada, onde os homens são substituíveis uns pelos outros. Ele parte do pressuposto que o homem é uma folha de papel, tal como pensado por Locke - e os acordos feitos por homens desse naipe são presumidamente justos, conforme o bom direito - supondo que tudo isso esteja dentro da lei da boa razão.

4) Os liberais estão fora da realidade. E nós devemos estudar a realidade, antes de estudarmos as coisas.

Da associação dos trabalhadores no âmbito da economia monopsônica


1) Uma associação é criada a partir da união de pessoas que possuem interesses em comum. Os verdadeiros interesses em comum fazem pessoas a amar e a rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento - além disso, elas colocam na sua atividade todos os verdadeiros fundamentos cristãos por trás daquilo que fazem.

2) Se uma associação de trabalhadores de uma determinada cidade se une sob esses fundamentos, então essa entidade representará esses trabalhadores - e no âmbito da associação, eles debaterão qual é o preço mínimo a ser pago por trabalhador dessa classe laboral. E se essa associação de trabalhadores for virtuosa e justa, fundada na tradição de servir, ela terá tanta força moral que seu preço terá força de lei, por se dar na carne. Como a lei que se dá na carne reage bem a estrutura da realidade, então esse mínimo pode ser reajustado conforme as circunstâncias, mas sempre tendo por fundamento os valores cristãos.

3) Uma economia monopsônica só pode funcionar bem se tiver fundada em valores cristãos. Numa economia onde os homens são substituíveis uns pelos outros, o salário mínimo será inflacionário, pois pouco importa se o trabalhador é honrado ou desonrado, todos receberão o mesmo salário, o que é injusto, pois cada homem é um ser - e por único, ele é infungível. E o salário deve proporcional à produtividade desse profissional.

Exame de um caso

1) Quando se tem apenas uma única empresa no mercado, de modo a atender a demanda, temos monopólio. E quando se tem um vendedor e vários compradores, a tendência é ocorrer um leilão de demanda, o leilão inglês

2) O monopólio, se for acidental, ele leva a uma economia monopsônica - esse prestador único será necessariamente o único tomador dos serviços de mão-de-obra qualificada. Neste caso, ocorrerá o leilão de oferta, o leilão holandês.

3) Aquele que está disposto a pagar mais o faz porque sabe que o produto ofertado é de qualidade e que o empresário está disposto a servir a todos aqueles que pedirem o seu produto. Trata-se de uma economia pessoal, disposta a oferecer produtos em grandes quantidades. 

4) A força da demanda cria a emergência para se tomar o primeiro serviço ofertado pela mão de obra qualificada. Trata-se, pois, de economia de larga escala com forte cunho personalista.

Notas sobre o uso do leilão holandês

O leilão holandês é usado nas seguintes situações:

1) Quando o produto é perecível. Isso pode acontecer com flores e com alimentos - mas há casos onde o produto é perecível, por conta das constantes atualizações da legislação: como o caso dos manuais jurídicos ou dos vade mecums da vida.

2) Quando o comprador é único e vários são os vendedores. É o que vemos nas licitações.

3) Quando há economia monopsônica - no âmbito das relações trabalhistas, o salário vai sendo diminuído até chegar ao mínimo, o preço da praça - e se ele não está disposto a pagar por esse mínimo, é porque não houve acordo, por achar que os preços não são justos ou porque ele não tem necessidade de adquirir mais mão-de-obra. 

4) Dentro da lógica do leilão holandês, o comprador monopsônico  bate o botão geralmente no primeiro preço, na hora em que mais precisar, pois a demanda de trabalho é muito grande, na proporção em que seus serviços são muito necessários para outros mercados. Quando ele precisa, ele paga o primeiro preço que parecer mais justo, pois a necessidade é a mãe da justiça, da conformidade com o Todo que vem de Deus. Se o comprador monopsônico for maldoso, a ponto de esperar deliberadamente até que preço caia no preço mínimo da praça, ele tenderá a falir, pois a marca estará associada a práticas imorais, fora da conformidade com o Todo que vem de Deus. Além disso, se dentro de um determinado tempo ele não tomou uma decisão, é porque ele não chegou a um acordo com o preço que está disposto a pagar pelos serviços desses trabalhadores. E a demora em se chegar a um acordo levará ao prejuízo econômico do comprador monopsônico.

Notas sobre a aplicação do leilão holandês na venda de alimentos

1) No Canal Rural, mostrou-se como funciona o leilão holandês, praticado no mercado de flores de Holambra.

2) Quando uma flor é ofertada, o primeiro que bater o botão compra. Com o passar do tempo o preço tende a descer até haver um comprador. Se não houver um comprador, quando o tempo esgotar, o produto é descartado - não importa se o lote está em condições perfeitas, a flor vai para o lixo.

3) Se levarmos isso para o caso de alimentos, isso chega a ser temerário. Se alguém não comprar um determinado lote de alimentos que está em condições perfeitas, esse alimento vai ser desperdiçado.

4) Como o leilão é voltado para quem ama o dinheiro, para que o toma como se fosse um deus, então isso vai contra o ensinamento dos dois últimos papas: de que não se deve especular com comida. Seja no leilão inglês ou no holandês, o que ocorre é especulação.

Notas sobre política


1) Facção é uma palavra composta por aglutinação - ela deriva de fazer uma ação.

2) Fazer uma ação implica servir a todos os que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. E política implica servir de maneira organizada a todos aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, o que leva a promover a caridade como sendo a base da ordem do dia, que se funda na eternidade, na conformidade com o Todo que vem de Deus.

3) Vários são os grupos que empreendem servindo ao próximo - várias são as facções, por conta da diversidade de atividades que são desempenhadas, mas una é a verdade. As facções estão geralmente relacionadas às atividades econômicas organizadas que fazem com que o país seja tomado como se fosse um lar em Cristo - e cada facção é sucedida por outra, desde que amparada na verdade sagrada. O mandato político se dá em ciclos (no sentido romano do termo, isso se chama revolução, pois cada época tem sua circunstância e vários são os desafios que devem ser encarados de modo a que o país seja tomado como se fosse um lar em Cristo).

4) Da mesma forma que existem facções que agem para o bem, há as facções que agem para o mal. Elas pregam a revolução no sentido germânico do termo, que é sinônimo de derramamento de sangue - e para que isso se edifique na imaginação das pessoas, esses grupos corrompem o significado de todas as coisas verdadeiras, ao pregar a mentira como se verdade - e vão repetindo isso até isso se tornar verdade. Se tudo esta no Estado e nada pode estar fora dele, a política para eles é no sentido maquiavélico do termo: pisar em todo mundo de modo a conquistar o poder e nele se manter a todo custo. Tais facções devem ser banidas e proibidas, pois tomam o país como se fosse religião. E quando não tomam o país como se fosse religião, elas tomam a economia como se fosse religião, pois amam muito ao dinheiro do que ao próximo.

5) Enfim, todos os que fazem ações voltadas para a esquerda do pai - seja no seu grau mais básico, seja no seu grau mais radical - devem ser banidos.

Comentários de Róger Badalum:

Santo Agostinho já nos alertava para o fato de que somente a substância boa é corruptível. É que, se não fosse boa, seria privada de qualquer bem, por ser incorruptível - e deixaria de existir. Logo, as substâncias corruptíveis que existem são boas! Cabe a nós desmascararmos as facções que apossaram de nossas substâncias boas!

Postagens relacionadas:

01) Da Amizade como a base para a sociedade política: http://adf.ly/c8q6A

02) A ordem se edifica a partir dos poucos que te ouvem: http://adf.ly/c8q9b

03) Comentários sobre a política em Aristóteles: http://adf.ly/bmJVe

04) Sobre os quatro significados do mito da caverna de Platão: http://adf.ly/cBUUu

05) Da associação dos trabalhadores no âmbito da economia monopsônica: http://adf.ly/1PrpTO

06) A nacionidade leva à coalizão dos batizados: http://adf.ly/1PrpyY

Novas notas sobre a diferença entre empréstimo e investimento

1) Tempos atrás, São Tomás de Aquino estabeleceu a diferença entre empréstimo e investimento.

2) O investimento tem caráter produtivo - por essa razão, uma remuneração justa é devida, por força do dinheiro que foi aplicado na atividade investida e do tempo que foi dispendido na organização dessa atividade de modo a se obter os resultados desejados.

3) O investimento numa atividade econômica organizada tem caráter de servir a ordem pública. Por essa razão, é perfeitamente possível exigir a devida remuneração do dinheiro investido na atividade mercantil. Essa ordem faz o bem sem olhar a quem - por isso mesmo, é lícito por força da lei natural exigir os frutos decorrentes desse investimento.

4) Quando você empresta dinheiro a um amigo, de modo a que ele possa pagar uma dívida, esse dinheiro teve caráter produtivo, por força da caridade. Como isso se funda numa ordem privada, não é ético você exigir do seu amigo a remuneração do investido, sob pena de fazê-lo seu inimigo, já que você ama mais o dinheiro do que a ele. Se esse seu amigo tem Deus no coração, além de devolver o dinheiro que foi emprestado a ele, ele voluntariamente te dará alguma coisa a mais, que pode ser diversa de dinheiro (isso no direito se chama dação em pagamento).

5) Quando a Igreja condena o empréstimo com caráter não produtivo, ela necessariamente condena a cultura do dinheiro que chama dinheiro. Não é certo você fazer empréstimos de maneira impessoal, sem se envolver nos riscos da atividade produtiva. Pois o não envolvimento em algo implica que você não quer a amizade dessa pessoa, pois você não é capaz de ver o Cristo na pessoa que pede a sua ajuda. E ao seu irmão você não deve emprestar com usura.

5) O direito de hoje em dia veda a dação em pagamento como alternativa ao pagamento dos impostos justamente porque não crê na fraternidade universal. O direito de hoje em dia está contaminado pelas ideologias do amor ao dinheiro, do pragmatismo e da aliança da oligarquia econômica com a ordem burocrática, que adota práticas muito semelhantes àquelas praticadas nas indústrias.